TEODORO GARCIA
Um filho da Andaluzia no Brasil
Essa é uma foto do
meu pai, Teodoro, quando ele tinha aproximadamente 25 anos. Ele fazia
aniversário em maio e, estivesse vivo, em 2014, ele estaria completando 115 anos . Em sua
homenagem, hoje, resolvi compartilhar, neste blog, algumas lembranças que dele guardo.
Infelizmente, não são muitas. Lembro que era uma pessoa simples, de poucos hábitos, e que gostava de pitar seu cigarro de palha, que eu muitas vezes preparei para ele. Era um homem honesto e apegado à casa e à família. De seu casamento com minha mãe nasceram onze filhos.
Infelizmente, não são muitas. Lembro que era uma pessoa simples, de poucos hábitos, e que gostava de pitar seu cigarro de palha, que eu muitas vezes preparei para ele. Era um homem honesto e apegado à casa e à família. De seu casamento com minha mãe nasceram onze filhos.
Não tinha medo do desconhecido. Tanto que saíra da Espanha, sozinho,
quando tinha apenas de 20 anos para vir para o Brasil. Do porto de Santos, foi
diretamente para o interior do estado de São Paulo, e ali passou a maior parte
de sua vida, ocupando-se dos mais diversos afazeres. Entre outros, foi cortador
de lenha para ferrovias, cultivou a terra, plantou roça e trabalhou em engenho
de açúcar. Era o que se pode chamar de um “homem trabalhador”. Para ele, todos
os dias eram dias de trabalho. Não tinha exceção.
Por volta dos 50 anos de idade, mudou-se com a família para o estado do
Paraná e se estabeleceu como pequeno comerciante. Na casa que ele mesmo ajudou
a construir, edificou, na frente, um pequeno salão e ali montou um empório,
onde se vendia de tudo, de fumo de corda a sabonete. Com esse pequeno armazém,
ele alimentou a numerosa família, mesmo que nessa época alguns dos filhos já
tivessem saído de casa para cuidar da própria vida.
O curioso é que se dedicasse ao comércio mesmo não sabendo ler nem escrever. Apesar dessa limitação, ele identificava as mercadorias, fazia contas e era suficientemente esperto para não se deixar enganar. Nunca foi capaz de ler um livro, mas reconhecia a importância do saber e fez questão que os filhos frequentassem a escola.
O pai não tinha religião, não frequentava nenhuma igreja e não revelava
nenhum interesse por esse assunto. O máximo que se podia ouvir dele era a
máxima “Yo no creo en brujas, pero que las hay las hay”. Mas não era ateu, não.
Na verdade, ele tinha lá sua própria maneira de se relacionar com o sagrado. Me
lembro de haver entrado no armazém uma ou outra noite, já quase na hora de
dormir, e vê-lo com os cotovelos apoiados no balcão e o rosto enfiado nas mãos,
mantendo um monólogo de cunho religioso. Nessas ocasiões, dava para perceber,
na sua fala (misturando espanhol e português como era o seu costume), que fazia
agradecimentos a Deus pelas graças recebidas.
Portanto, para ele, a morada de Deus estava em todas as partes, mesmo
ali, cercado de mercadorias, iluminado pela luz bruxuleante de uma lamparina a
querosene (a luz elétrica só chegou mais tarde). Não necessitava de templos nem
de uma religião organizada. Nem de intermediários: a relação que ele mantinha
com o divino era uma coisa pessoal. Creio que ele podia fazer isso porque era
uma pessoa de coração puro, absolutamente em paz com sua consciência. Acho que
essa maneira de encarar a religião foi uma influência importante que dele
recebi.
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