GUERRA DO PARAGUAI
II – Segunda parte: as causas do conflito
Não é fácil explicar os porquês dessa guerra. Mas podemos
começar dizendo que até 1864 o Brasil mantinha relações normais com o governo
paraguaio, dirigido por Francisco Solano López. Sabemos que as hostilidades
foram iniciadas pelo próprio governo paraguaio. Podemos admitir que Solano
López tinha como certo que, mais cedo ou mais tarde, haveria uma guerra com os
vizinhos e para ela ele vinha se preparando, de maneira silenciosa mas
decidida. E foi a intervenção do Brasil no Uruguai que o fez vislumbrar que a
hora havia chegado.
De fato, ainda em junho de 1864, o ministro das Relações
Exteriores do Paraguai enviara notas tanto para José Antônio Saraiva, que se
achava em missão diplomática junto ao governo do Uruguai, quanto para o governo
brasileiro, oferecendo a mediação de López para a solução do litígio entre o
Brasil e o Uruguai. Em resposta datada de 24 de junho, Saraiva dispensou a
oferta do ministro paraguaio, alegando que esperava resolver diretamente os
problemas com o governo de Aguirre.
No final de agosto, o governo paraguaio manifestou-se
novamente. Desta vez para protestar contra o ultimatum de Saraiva, e contra qualquer ocupação do território
uruguaio por tropas brasileiras. Uma medida como essa seria considerada “como
atentatória do equilíbrio dos Estados do Prata, que interessa à República do Paraguai”.
Novo protesto foi feito no mês seguinte. Como nenhum deles foi atendido, López
decidiu iniciar as hostilidades contra o Brasil: no dia 11 de novembro,
capturou, nas imediações de Assunção, o navio brasileiro Marquês de Olinda. A
bordo se achava o novo governador da província do Mato Grosso, Frederico
Carneiro de Campos, e estava a caminho para assumir o cargo. Ele foi feito
prisioneiro (viria a morrer numa prisão paraguaia), bem como os demais
passageiros e toda a tripulação do navio. Em seguida, o embaixador brasileiro
recebeu uma carta em que o governo paraguaio comunicava o rompimento das
relações com o Brasil.
No mês de dezembro, López ordenou a invasão do Mato
Grosso. Suas tropas não tiveram dificuldade para ocupar e saquear uma grande
parte do sul da província, até Corumbá. No mês seguinte, López solicitou ao
governo argentino autorização para atravessar o território daquele país para
atacar o sul do Brasil. Seu objetivo era unir-se aos blancos do Uruguai. O presidente argentino, Bartolomeu Mitre, negou
a autorização, declarando-se neutro. Diante disso, no mês de abril, López
ordenou a invasão da província argentina de Corrientes por um exército de 25
mil homens, capturando dois navios e ocupando a cidade do mesmo nome.
Em face dessa agressão, Mitre decidiu abandonar a
neutralidade, e o Brasil pôde então contar com o apoio da Argentina, e também
do Uruguai, em cujo governo agora se encontrava Venâncio flores, que, como
vimos no texto anterior, era aliado brasileiro. No dia 1º. de maio de 1865, os
três países assinaram o Tratado da Tríplice Aliança para fazer a guerra contra
Solano López. Os objetivos textualmente expressos nesse tratado eram: 1)
derrubar Solano López; 2) acertar definitivamente as questões de fronteira
ainda pendentes com o Paraguai; 3) assegurar a livre navegação dos rios Paraná
e Paraguai.
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Bartolomeu Mitre |
Acreditava-se naquele momento que a guerra seria rápida.
Os dois lados tinha essa convicção. López estava otimista: tinha uma confiança
ilimitada no soldado paraguaio e não acreditava no poder militar do Brasil. Por
outro lado, o otimismo dos aliados (Tríplice Aliança) pode ser avaliado pela
proclamação de Mitre ao falar a uma multidão em Buenos Aires, no dia 16 de
abril: “Em 24 horas aos quartéis, em três
semanas em Corrientes, em três meses em Assunção”.
Mas as coisas aconteceram de maneira totalmente diferente.
Somente um ano depois, em abril de 1866, os aliados conseguiram por os pés em
território paraguaio. E levaram outros três anos para avançar até Assunção, e
mais um ano para encerrar a guerra, o que se deu no dia 1º. de março de 1870,
com a morte de Solano López.
Durante a guerra, o Brasil dobrou sua frota naval,
passando de 45 para 94 navios de guerra. Além das forças navais, organizou três
corpos de Exército. O primeiro Corpo do Exército foi aquele que realizou a
intervenção no Uruguai, e dali passou para o território argentino. Foi durante
muito tempo comandado pelo general Manuel Luís Osório. O Segundo Terceiro Corpo.
O número de homens em armas aumentou rapidamente. Ao
iniciar a campanha contra o Paraguai, o Brasil contava com 10.857 soldados. Na
travessia do Passo da Pátria (divisa entre Argentina e Paraguai, esse número
havia subido para 33.122 homens, alcançou 45.283 em agosto de 1867 e chegou ao
total de 48,5 mil, em maio de 1868. No decurso dos 5 anos da guerra, foi
preciso mobilizar cerca de 200 mil homens. Desses, 139 mil foram levados para
os campos de combate, sendo que 33 mil morreram, principalmente de doenças .
Muitos, recrutados à força, preferiam desertar, originando o refrão “Deus é
grande, mas o mato é maior”, que o senso de humor característico de nossa gente
logo cunhou.
A guerra, que todos imaginavam rápida, consumiu cinco
longos anos. Como os demais envolvidos, o Brasil fez um grande esforço para
armar, municiar, alimentar, vestir e dar assistência médica aos seus soldados.
Esse esforço implicou em despesas enormes. Uma parte das despesas –cerca de
10% - foram cobertas por dois
empréstimos externos, ambos tomados aos ingleses. O primeiro, no início da
guerra, no valor de 5 milhões de libras esterlinas. O segundo, no final da
guerra, no valor de 3 milhões de libras, e se destinava a liquidar as despesas
deixadas pelo conflito. O restante das despesas –cerca de 90% - foi coberto com
recursos obtidos internamente, principalmente através do aumento dos impostos.
Tantas despesas, porém, não chegaram a alavancar um
crescimento industrial do país, porquanto quase tudo foi importado. Mas houve
que visse um lado positivo na guerra. Na opinião do Visconde de Ouro Preto: “Os
sacrifícios foram grandes, mas [...] diversos serviços públicos importantes
como estradas de ferro, telégrafos elétricos, colonização, navegação, etc.,
tiveram notável desenvolvimento. O comércio de importação e exportação cresceu mais
de 30%”.
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