quinta-feira, 24 de julho de 2014

A  GUERRA  DO  PARAGUAI  EM  DEBATE

A Guerra do Paraguai já foi vista de muitas maneiras. A explicação tradicional dizia que 
era resultado das ambições de Solano López. Nas décadas de 1960 e 1970, historiadores de esquerda 
formularam uma nova interpretação, que atribuía ao imperialismo britânico a causa do conflito. 
Também essa visão vem sofrendo críticas, como a exposta a seguir.

Para o revisionismo (isto é, para os historiadores das décadas de 1960 e 1970), o Brasil e a Argentina teriam sido manipulados por interesses da Grã-Bretanha, maior potência capitalista da época, para aniquilar o desenvolvimento autô­nomo paraguaio, abrindo um novo mercado consumidor para os produtos britânicos e fornecedor de algodão para as indústrias britânicas (...).
Esses argumentos não têm base nos fatos. O mercado consumidor paraguaio era diminuto, pela falta de poder aquisitivo da população e, ainda assim, aberto a importações. Quanto ao algodão, a Guerra do Paraguai se iniciou quando a Guerra de Secessão nos Estados Unidos já terminara sem que, durante os quatro anos desse conflito, a Grã--Bretanha tivesse tomado qualquer iniciativa para obter algodão paraguaio. (...)
Durante a guerra, os aliados obtiveram empréstimos de banqueiros ingleses. O capital não tem ideologia e busca a melhor remuneração associada ao menor risco. Fazer empréstimos ao governo de Solano López seria, pela lógica empresarial, uma atitude arriscada, pois, desde o segundo semestre de 1865, era evidente a impossibilidade de o Paraguai vencer a guerra. (...)
A Guerra do Paraguai foi fruto das contradições platinas, tendo como razão última a consolidação dos Estados nacionais na região. Essas contradições se cristalizaram em torno da guerra civil uruguaia, iniciada com o apoio do governo argentino aos sublevados, na qual o Brasil interveio e o Paraguai também. Contudo, isso não significa que o conflito fosse a única saída para o difícil quadro regional.
A guerra era uma das opções possíveis, que acabou por se concretizar, uma vez que interessava a todos os envolvidos. Seus governantes, tendo por base informações parciais ou falsas do contexto platino e do inimigo potencial, anteviram um conflito rápido, no qual seus objetivos seriam alcançados com o menor custo possível. Aqui não há “bandidos” ou “mocinhos”, como quer o revisionismo infantil, mas sim interesses.

Adaptado de: Doratioto, Francisco. Maldita Guerra.

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