A GUERRA DO PARAGUAI EM DEBATE
A Guerra do Paraguai já foi vista
de muitas maneiras. A explicação tradicional dizia que
era resultado das
ambições de Solano López. Nas décadas de 1960 e 1970, historiadores de esquerda
formularam uma nova interpretação, que atribuía ao imperialismo britânico a
causa do conflito.
Também essa visão vem sofrendo críticas, como a exposta a
seguir.
Para o revisionismo (isto é, para os historiadores
das décadas de 1960 e 1970), o Brasil e a Argentina teriam sido manipulados por
interesses da Grã-Bretanha, maior potência capitalista da época, para aniquilar
o desenvolvimento autônomo paraguaio, abrindo um novo mercado consumidor para
os produtos britânicos e fornecedor de algodão para as indústrias britânicas
(...).
Esses argumentos não têm base nos fatos. O mercado
consumidor paraguaio era diminuto, pela falta de poder aquisitivo da população
e, ainda assim, aberto a importações. Quanto ao algodão, a Guerra do Paraguai
se iniciou quando a Guerra de Secessão nos Estados Unidos já terminara sem que,
durante os quatro anos desse conflito, a Grã--Bretanha tivesse tomado qualquer
iniciativa para obter algodão paraguaio. (...)
Durante a guerra, os aliados obtiveram empréstimos de
banqueiros ingleses. O capital não tem ideologia e busca a melhor remuneração
associada ao menor risco. Fazer empréstimos ao governo de Solano López seria,
pela lógica empresarial, uma atitude arriscada, pois, desde o segundo semestre
de 1865, era evidente a impossibilidade de o Paraguai vencer a guerra. (...)
A Guerra do Paraguai foi fruto das contradições
platinas, tendo como razão última a consolidação dos Estados nacionais na
região. Essas contradições se cristalizaram em torno da guerra civil uruguaia,
iniciada com o apoio do governo argentino aos sublevados, na qual o Brasil
interveio e o Paraguai também. Contudo, isso não significa que o conflito fosse
a única saída para o difícil quadro regional.
A guerra era uma das opções possíveis, que acabou por
se concretizar, uma vez que interessava a todos os envolvidos. Seus
governantes, tendo por base informações parciais ou falsas do contexto platino
e do inimigo potencial, anteviram um conflito rápido, no qual seus objetivos
seriam alcançados com o menor custo possível. Aqui não há “bandidos” ou “mocinhos”,
como quer o revisionismo infantil, mas sim interesses.
Adaptado de: Doratioto, Francisco. Maldita Guerra.
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