terça-feira, 29 de julho de 2014

JAPÃO  

DA  PROSPERIDADE À RECESSÃO

A Segunda Guerra Mundial deixou em ruínas a economia japonesa: em 1946, por exemplo, a produção industrial do país caiu para um sétimo do que fora em 1941. Mas o auxílio estadunidense (incluindo os gastos durante a ocupação militar), aliado ao esforço dos próprios japoneses, garantiu a recuperação econômica. O início da Guerra da Coreia (1950-1953) também ajudou nesse processo, pois foram crescentes as encomendas às indústrias japonesas no período. Conhecida como “milagre japonês”, a recuperação da economia se apoiou principalmente no rápido desenvolvimento de setores industriais, como a construção naval e a produção de equipamentos eletrônicos e fotográficos. Mas setores tradicionais, como a indústria têxtil e a siderúrgica, também cresceram.


Em menos de vinte anos, o Japão não só conseguiu alcançar os mais adiantados países ocidentais, como também chegou a ultrapassá-los. Na década de 1960, superou os suíços na produção de relógios e os alemães na produção de aparelhos fotográficos. Na década de 1980, deixou para trás os Estados Unidos na produção de aço, robôs e automóveis. Em 1997, seu PIB se tornou o dobro do PIB da Alemanha e o segundo maior do mundo - atrás apenas dos Estados Unidos. (Em 2010, o PIB do Japão foi superado pelo da China, que se tornou, portanto, a segunda maior economia do mundo.)
Uma das características do modelo econômico japonês foi a intervenção do Estado na coordenação e na implementação de projetos nacionais de desenvolvimento. As autoridades estatais passaram a orientar e coordenar as empresas, ajudando-as com políticas de comércio, tecnologia e crédito. Com esse apoio, as empresas se capacitaram para competir com sucesso no mercado mundial.
Ao mesmo tempo, o país deixou de ter gastos militares, já que os termos da rendição de 1945 para os estadunidenses proibiam a reorganização das forças armadas. Isso permitiu ao Estado japonês canalizar os saldos favoráveis de sua balança comercial tanto para investimentos produtivos quanto para o aumento dos salários reais, melhorando o padrão de vida da população. Esse processo foi acompanhado de elevados investimentos em pesquisas tecnológicas. Em consequência, o Japão conseguiu assumir uma posição de liderança nos setores de tecnologia da informação, no momento em que estes se tornavam essenciais na economia globalizada.
Mas nenhuma explicação do “milagre japonês” estará completa se não se levarem em conta as características peculiares do seu sistema de trabalho. Eis algumas delas:
·        o trabalhador japonês é solidário com a empresa onde trabalha, com a qual tem um pacto: ele se compromete a permanecer fiel à empresa durante toda sua vida ativa e a empresa se compromete a não demiti-lo;
·        o salário se compõe de duas partes — uma fixa, outra variável. Esta última depende dos resultados econômicos obtidos pela empresa. Os sindicatos acompanham com atenção os índices de aumento da produtividade e dos lucros e negociam com os patrões o montante adicional do salário a ser pago;
·        quando decidem pressionar os patrões, os trabalhadores japoneses primeiramente recorrem a um ato simbólico, que pode consistir, por exemplo, na colocação de uma faixa em torno da cabeça. Apenas nos casos mais graves eles entram efetivamente em greve, com a paralisação do trabalho.
Essas características das relações de trabalho no Japão levam o trabalhador a se sentir uma espécie de “sócio menor” da empresa, comprometido com seu sucesso. Para isso, ele é capaz de fazer sacrifícios, que chegam ao extremo da redução voluntária dos dias de descanso.
Depois de mais de trinta anos de crescimento quase ininterrupto, no fim da década de 1980 a economia japonesa começou a apresentar sinais de esgotamento e rapidamente caminhou para a recessão, quer dizer, uma redução acentuada das atividades econômicas.



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