terça-feira, 22 de julho de 2014

SABER MAIS PARA ENSINAR MELHOR.

Vou começar com uma frase do historiador francês Marc Bloch: “Todas as ciências são interessantes. Mas cada sábio quase só encontra uma cuja prática o diverte. Descobri-la, para a ela se consagrar, é o que se chama propriamente de vocação.”

Gosto dessa frase porque, mesmo não sendo um sábio, eu também encontrei no estudo e no ensino da História a minha vocação.
Até onde minha lembrança alcança, sempre gostei de História. No início, eu ouvia as histórias contadas por minha mãe; depois, no Ginásio, eu me encantava com as aulas da dona Neuzinha.

Todos nós, professores, estamos convencidos da importância do estudo da História.
Mas que motivos têm os mais jovens para querer saber o que veio “antes”?
Certa vez, uma aluna da primeira série do Ensino Médio justificou o desinteresse pela História, dizendo algo assim: Ah, professor, eu só tenho quinze anos e não sei por que tenho de aprender essas coisas que aconteceram há tanto tempo! É provável que alguns de vocês já tenha ouvido algo semelhante. É verdade que os jovens têm dificuldade para perceber a importância do conhecimento do passado, mas também pode ser verdadeiro que o conteúdo que eu estava ensinando, e/ou a forma como eu estava ensinando, não estavam motivando aquela jovem.

No último livro que Marc Bloch escreveu, pouco antes de morrer num campo de concentração nazista, durante a 2ª. G. Mundial, ele se propõe responder à questão “para que serve a História”, que seu próprio filho, ainda criança, lhe havia feito.
Mesmo que julgássemos a história incapaz de outros serviços, seria certamente possível alegar em seu favor que ela distrai (...) Pessoalmente (..) a história sempre me divertiu muito (BLOCH, 1997: 77)

O francês Georges Snyders, autor do livro Alunos felizes, conta que certa vez um aluno da 6ª. série questionou a validade do ensino de História, dizendo que
entendia ser necessário aprender gramática para não cometer erros de gramática quando datilografava as cartas do patrão. Também entendia ser preciso aprender matemática para não cometer erros nas contas do patrão. Mas não entendia por que era preciso aprender História.
O professor, então, lhe explicou que era preciso aprender História para entender porque seu patrão tinha se tornado patrão. (Snyders, Georges. Alunos felizes. 2. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993, p. 192.)

Não há dúvida de que a História pode ser útil para diversas finalidades. Mas, em si mesma, a História não necessita de nenhuma justificativa para existir. Construir narrativas ou explicações sobre o passado é uma necessidade do ser humano. E tem sido sentida desde tampos muito recuados, possivelmente por todas as culturas. IMAGEM
Com esses grandes historiadores me alinho. Estudei e estudo História porque sempre amei a História, amei e amo o conhecimento e a compreensão do passado humano, como e porque as pessoas fizeram o que fizeram, foram o que foram, pensaram o que pensaram. Esse conhecimento não tem nenhuma utilidade prática ou funcional para o nosso dia-a-dia. Esse conhecimento é simplesmente bom em si, porque é bom conhecer as coisas, é bom conhecer o que aconteceu, o passado, independente de sua utilização prática atual.  (Ricardo da Costa, UFES)

De uma forma ou de outra, em muitos momentos, nos damos conta de que aquilo que queremos ensinar nem sempre faz sentido para os alunos, pelo menos não faz para todos. A verdade é que nós colocamos para o aluno respostas para perguntas que ele ainda não se fez.
Então, o maior desafio do professor talvez seja esse:

- Convencer o aluno da importância daquilo que está ensinando.

Para convencer o aluno, o professor deve estar convencido, ele mesmo, da validade daquilo que ensina. É importante fazer com que o aluno perceba com clareza o porquê das tarefas e dos conteúdos propostos. Isso é importante para o sucesso do professor.


1. CONDIÇÕES PARA O SUCESSO DO PROFESSOR

  • Ter humildade para reconhecer que tem muito aprender; daí a necessidade de estudar mais, de ler, de pesquisar, para saber sempre mais;
  • Ter disposição para enfrentar desafios;
  • Preocupar-se menos com o conteúdo e mais com qualidade da aula.
  • Um minuto de meditação
Uma dica muito importante: Antes de entrar na classe, faça um minuto de meditação: tire da cabeça os aborrecimentos e se fixe na ideia de que você vai fazer uma atividade importante e que ela deve ser prazerosa. Lembre-se de que você vai ser tomado como modelo pelo aluno. Pense na imagem que vc quer que os alunos guardem de você – uma imagem que vai ficar para sempre. Vejam que agora há pouco eu falei da professora Neuzinha.
  • Se a sala estiver bagunçada, primeiro restabeleça a ordem, peça para os alunos colocarem as carteiras no lugar, recolherem o lixo que estiver espalhado pela classe...
  • Fique sempre atento ao relógio. Não se deixe surpreender pelo sinal; encerre a aula alguns minutos antes, tendo o cuidado de deixar a classe arrumada para o próximo professor.


2. SAIR DA ROTINA:
A chance de o professor ser bem sucedido é sair da rotina e ir além da aula expositiva.
        Sabemos que a aula expositiva é a base das aulas do professor. Mas é importante ter em conta que a aula expositiva não deve ser a única forma de aula; ela deve ser alternadas com atividades diferenciadas.
A mais frequente é o Seminário, em que os próprios alunos dão a aula. Mas, atenção: para o seminário funcionar, é preciso que o professor dê as instruções, como ele quer que seja feito e como será  a avaliação.

Para sair da rotina, programe no seu planejamento algumas atividades diferenciadas, tais como:

  • Dramatização (o mesmo que representação de papéis)
  • Dinâmica de grupo
  • Jornalzinho preparado pelos alunos
  • Histórias em quadrinhos
  • Uso de filmes (atenção: os filmes exigem certos cuidados)
  • Saídas para visitas, estudos do meio (projetos pedagógicos, atividades interdisciplinares).

3. IMPORTÂNCIA DA INTERDISCIPLINARIDADE
Todas essas atividades podem e devem envolver a interdisciplinaridade.
·       A interdisciplinaridade favorece o entendimento do significado do conteúdo escolar, e traz ganhos para o professor e para os alunos.
·       O ideal é que a interdisciplinaridade envolva diversas disciplinas, mas pode ser desenvolvida por apenas duas disciplinas. Se o professor de História precisa explicar um tema que não conhece bem, por exemplo, a arte barroca, ele pode pedir a ajuda do professor de Artes. Não é conveniente que um professor se imiscua na disciplina do colega. Ele pode dizer besteira.
·       Para envolver diversas disciplinas, é preciso um tema amplo e que pode facilmente despertar o interesse dos alunos. Imaginemos, por exemplo, temas como: a poluição do rio da cidade, a dengue, as tragédias nas áreas de risco, a conservação do patrimônio histórico da cidade, etc.
·       Não esquecer que o sucesso da atividade depende do bom planejamento.


4. A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO
O planejamento costuma ser considerado uma exigência burocrática e, portanto, pouco valorizado pelo professor.
  • No entanto, o planejamento é importante porque é momento de decidir as atividades do professor e do aluno. Ele é o guia condutor do curso e deve, inclusive, ser dado a conhecer aos alunos.
  • O planejamento da aula dá segurança ao professor e contribui para a boa disciplina da classe.
  • Importância de planejar ao mesmo tempo a aula e a avaliação.

Para encerrar, lembro aquela frase do Einstein:
“O único lugar em que o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.”



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