domingo, 6 de setembro de 2020

UM AVISO AOS INGÊNUOS: A revolução dos bichos

 UM AVISO AOS INGÊNUOS.

George Orwell foi um escritor inglês falecido em 1950, aos 46 anos de idade. Na juventude, foi um ardoroso militante socialista, que chegou a lutar na Guerra Civil espanhola contra os fascistas do general Franco.
Na maturidade, desiludido com os rumos que o socialismo havia tomado, tornou-se um crítico de todas as formas de ditadura, fosse de direita ou de esquerda. Em 1945, publicou o livro "A revolução dos bichos", uma sátira ao regime socialista então em vigor na extinta União Soviética.
Nesse livro, Orwell imagina que os bichos de uma granja na Inglaterra se revoltam, expulsam seu dono e assumem o controle da propriedade. Escreveram, então, uma lista com os 7 mandamentos da nova sociedade socialista do bichos, cujo primeiro mandamento dizia
- “Todos os animais são iguais”.
Também distribuíram as tarefas. Aos porcos, reconhecidamente os mais capazes, coube a administração da granja e aos cachorros a manutenção da ordem. Aos demais, o trabalho e a produção. Aconteceu que, com o passar dos tempos, os porcos se atribuíram vários privilégios e os demais bichos não se atreviam a protestar com medo dos cachorros.
Um dia, porém, uma cena inusitada surpreendeu a todos os bichos: um porco caminhava sobre as duas patas traseiras e, o que era mais surpreendente, trazia nas mãos um chicote!
Os bichos cochicharam entre si, achando aquela cena muito errada. Então, resolveram consultar a velha lista dos 7 mandamentos que ficara afixada numa parede do celeiro. E só então se se deram conta de que os mandamentos haviam sido reduzidos para apenas um, que dizia:
- “Todos os bichos são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros”.

RÉQUIEM PARA OS PASSAGEIROS DO VOO 4U9525

 


O alemão Andreas Lubitz era ainda jovem, bonito, com apenas 28 anos de idade. Vivia confortavelmente, com um bom emprego, que ele havia batalhado muito para conseguir. Tinha tudo para ser uma pessoa feliz.

Para os que o conheciam, parecia ser uma pessoa normal, saudável. Parecia, mas não era. Sofria de um mal mais terrível, desses que uma pessoa, querendo, pode disfarçar muito bem e, até, enganar os testes clínicos. Era depressivo, e por causa da doença vinha fazendo um tratamento médico. Nas últimas semanas, a depressão talvez tenha se agravado por causa do rompimento de um namoro. Para quem sofre de uma forte depressão, a vida torna-se um fardo muito pesado, difícil de carregar, e tudo o que a pessoa deseja é um alívio imediato. Quem passou por isso, sabe do que estou falando.

No último dia 24, uma terça-feira, Andreas tinha um atestado médico dispensando-o do trabalho, mas ele não fez uso dele. Ao contrário: sentou-se no seu posto de copiloto do Airbus A320 e se preparou iniciar o voo 4U9525 para Dusseldorf, na Alemanha. É provável que, já nesse momento, ele devia estar flertando com a morte, coisa normal para um depressivo crônico. Com pouco mais de uma hora de voo, o piloto se ausentou da cabine, e Andreas sentiu que a hora do seu destino havia chegado.

Voando sobre as nuvens, ele via um céu azul à sua frente e podia ter pensando, não na morte, mas no belo passeio que faria, depois do pouso, pelas belas estradas de seu país, desde o aeroporto até a casa de seus pais, com quem vivia, a cerca de 130 km de distância. Mas para um depressivo, a cabeça não pensa assim. Pensa de forma diferente. Torna-se uma inimiga.

Vendo-se sozinho, ele trancou a porta e apertou o botão de descida. Durante alguns minutos, que devem ter-lhe parecido uma eternidade, o avião baixou de uma altitude de mais 10 mil metros de altura para algo como 2 mil metros. Ao se aproximar das altas montanhas da cordilheira dos Alpes, Andreas manteve fixo seu objetivo: livrar-se do pesadelo que o atormentava. Para ele, os demais ocupantes do avião haviam deixado de existir. Tinham desaparecido de seu universo mental.

A uma velocidade de setecentos quilômetros por hora, ele mirou a montanha e mergulhou na eternidade, e levou com ele mais 149 pessoas.