domingo, 6 de setembro de 2020

RÉQUIEM PARA OS PASSAGEIROS DO VOO 4U9525

 


O alemão Andreas Lubitz era ainda jovem, bonito, com apenas 28 anos de idade. Vivia confortavelmente, com um bom emprego, que ele havia batalhado muito para conseguir. Tinha tudo para ser uma pessoa feliz.

Para os que o conheciam, parecia ser uma pessoa normal, saudável. Parecia, mas não era. Sofria de um mal mais terrível, desses que uma pessoa, querendo, pode disfarçar muito bem e, até, enganar os testes clínicos. Era depressivo, e por causa da doença vinha fazendo um tratamento médico. Nas últimas semanas, a depressão talvez tenha se agravado por causa do rompimento de um namoro. Para quem sofre de uma forte depressão, a vida torna-se um fardo muito pesado, difícil de carregar, e tudo o que a pessoa deseja é um alívio imediato. Quem passou por isso, sabe do que estou falando.

No último dia 24, uma terça-feira, Andreas tinha um atestado médico dispensando-o do trabalho, mas ele não fez uso dele. Ao contrário: sentou-se no seu posto de copiloto do Airbus A320 e se preparou iniciar o voo 4U9525 para Dusseldorf, na Alemanha. É provável que, já nesse momento, ele devia estar flertando com a morte, coisa normal para um depressivo crônico. Com pouco mais de uma hora de voo, o piloto se ausentou da cabine, e Andreas sentiu que a hora do seu destino havia chegado.

Voando sobre as nuvens, ele via um céu azul à sua frente e podia ter pensando, não na morte, mas no belo passeio que faria, depois do pouso, pelas belas estradas de seu país, desde o aeroporto até a casa de seus pais, com quem vivia, a cerca de 130 km de distância. Mas para um depressivo, a cabeça não pensa assim. Pensa de forma diferente. Torna-se uma inimiga.

Vendo-se sozinho, ele trancou a porta e apertou o botão de descida. Durante alguns minutos, que devem ter-lhe parecido uma eternidade, o avião baixou de uma altitude de mais 10 mil metros de altura para algo como 2 mil metros. Ao se aproximar das altas montanhas da cordilheira dos Alpes, Andreas manteve fixo seu objetivo: livrar-se do pesadelo que o atormentava. Para ele, os demais ocupantes do avião haviam deixado de existir. Tinham desaparecido de seu universo mental.

A uma velocidade de setecentos quilômetros por hora, ele mirou a montanha e mergulhou na eternidade, e levou com ele mais 149 pessoas. 

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