A CHEGADA DOS SERES HUMANOS À AMÉRICA
Estudiosos acreditam que a América foi provavelmente
o último dos continentes a ser ocupado pelo ser humano moderno (homo sapiens). A data em que isso teria
ocorrido, entretanto, é motivo de controvérsia.
Podemos dizer, de maneira simplificada, que as
discussões se concentram em duas questões: quando teriam chegado os primeiros
povoadores e que caminhos teriam percorrido.
O debate é de extrema importância. Por muito tempo,
todo o período anterior à chegada dos europeus à América foi considerado
Pré-História. Essa concepção associava aos povos que aqui viviam a ideia de
inferioridade e de ausência de civilização.
Para chegar a essas conclusões, historiadores
europeus fizeram estudos desconsiderando a cultura dos povos que aqui viviam
antes do século XVI. As novas investigações, privilegiando o estudo da história
dos primeiros povoadores do continente e de seus descendentes, têm demonstrado
que a história desses povos é bem mais rica, complexa e antiga do que os conquistadores
europeus supunham.
Os novos estudos têm fornecido uma série de
informações que questionam antigas teorias formuladas por europeus sobre a
ocupação da América.
TEORIA CLÓVIS
Por muito tempo, a teoria mais aceita nos meios
científicos foi a de que os primeiros povoadores teriam chegado à América há
cerca de 11,5 mil anos. Vindos da Sibéria pelo extremo norte da Ásia, teriam atravessado
o estreito de Bering e chegado ao Alasca. Naquela época, o planeta Terra estava
sofrendo o efeito da última Glaciação, e o rebaixamento dos oceanos facilitava
o acesso entre os dois continentes.
(Devemos lembrar que, com o
fim da glaciação e o aquecimento do clima, o nível dos mares voltou a subir, e
o estreito de Bering voltou a ficar intransitável. Isso que impediu que novos
grupos continuassem chegando ao continente. As populações que já haviam chegado
foram condenadas a um total isolamento em relação ao que se passava nos outros
continentes. Esse isolamento somente seria rompido a partir de 1492, com a
chegada dos europeus.)
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As imensas geleiras existentes na América do Norte
impediram, durante longo tempo, que esses povos migrassem em direção ao sul. À
medida, porém, que as massas geladas começaram a se desfazer, abriu-se um caminho
por onde grupos humanos puderam passar e ir ocupando todo o continente.
Essa versão do povoamento é conhecida como teoria
de Clóvis. Ela se originou das pesquisas realizadas no sítio arqueológico
de Clóvis, no estado do Novo México, Estados Unidos, em 1937. Os vestígios deixados
pelos grupos humanos que aí viveram, basicamente pontas de pedra lascada e
ossadas dos animais que caçavam, constituíram a chamada cultura
Clóvis.
As análises feitas pelo método do carbono-14 (C14)
fixaram a data da cultura Clóvis entre 10 e 11 mil anos atrás. A partir daí
determinou-se que o início da ocupação humana no continente deu-se em torno de
11,5 mil anos.
Descobertas recentes em outros sítios arqueológicos
colocam em dúvida essa teoria. Alguns desses sítios são os de Meadowcroft, na
Pensilvânia, Estados Unidos; o de Monte Verde, no Chile; e os de Lagoa Santa,
em Minas Gerais, e Pedra Pintada, no Pará.
Com as novas pesquisas realizadas nesses locais, já se
pode supor que os primeiros povoadores tenham chegado ao continente há pelo
menos 50 mil anos.
VESTÍGIOS EM MONTE VERDE, CHILE
Entre os principais sítios arqueológicos a fornecer dados
que permitem questionar a teoria de Clóvis está o de Monte Verde, no Chile.
Em 1976, presas de um mastodonte foram encontradas nesse
sítio. A partir dessa descoberta, arqueólogos começaram o trabalho de pesquisa
e encontraram pegadas de humanos, de 13 cm, gravadas na argila. Também foram
localizados objetos feitos de pedra, artefatos de madeira, restos de plantas
medicinais (que ainda hoje são cultivadas pelos nativos) e até uma estrutura de
habitação, sustentada por toras e coberta por peles de animais.
Inicialmente, as evidências foram datadas de 12,5 mil
anos. Entretanto, em maio de 2008, a revista Nature divulgou um
estudo feito por uma equipe de cientistas norte-americanos que concluiu ser
Monte Verde o assentamento humano mais antigo do continente, com idade entre 14 220
e 13 980
anos.
As novas revelações
sobre Monte Verde modificam consideravelmente as hipóteses sobre o povoamento
das Américas. Afinal, o sítio de Clóvis ficava nos Estados Unidos e o de Monte
Verde, no sul do continente. Sabe-se que os deslocamentos humanos em áreas
despovoadas costumavam levar milhares de anos. Assim, para que seres humanos
tenham chegado tão longe, numa época tão remota, seria preciso que tivessem
atravessado o estreito de Bering muitos milênios antes. Dessa forma, já se
começa a aceitar que a chegada do ser humano à América pode ter acontecido há
20 mil anos ou mais!
PEDRA PINTADA
A teoria de Clóvis encontra oposição também por parte de
Anna Roosevelt, professora de antropologia da Universidade de Illinois, nos Estados
Unidos. Ela coordenou, em 1996, uma equipe que pesquisou a caverna de Pedra
Pintada, em Monte Alegre, Pará, na margem do rio Amazonas. Entre outros
vestígios da presença humana foram encontradas pontas de lança e cacos de
cerâmica datados de 6,8 a 10 mil anos.
Em entrevista ao
jornal Folha de
S.Paulo (15/6/1997), Anna
Roosevelt declarou: “Levei o material coletado para 69 laboratórios de vários
países. Os resultados foram parecidos e nos permitiram concluir que os paleoíndios
(como são chamados os primeiros habitantes da América) viveram na região
amazônica de 11,2 a 10 mil anos atrás”.
Para a pesquisadora, diversos sítios no Brasil constituem
provas mais do que convincentes de que a ocupação humana na América se deu há
mais de 20 mil anos.
SÍTIO DO BOQUEIRÃO DA PEDRA FURADA
O sítio do Boqueirão da Pedra Furada, localizado em São
Raimundo Nonato, no Piauí, foi encontrado na década de 1960. Ele vem sendo
estudado, desde o início dos anos 1970, por uma equipe de pesquisadores
coordenada por Niède Guidon, arqueóloga franco-brasileira.
No local foram encontrados pedras lascadas e vestígios de
fogueira. Segundo a equipe, esses vestígios podem ter 48 mil anos, o que faria
de Pedra Furada o mais antigo sítio arqueológico do continente. Além disso,
foram encontrados fósseis humanos que, estima-se, têm por volta de 11 mil anos.
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Pesquisadores trabalhando no sítio do Boqueirão da Pedra Furada. |
Existem muitas dúvidas, entretanto, em relação aos
vestígios de Pedra Furada. A ausência de fósseis humanos da mesma época ( ou
seja, 48 mil anos) leva alguns críticos a alegar que as pedras lascadas e as
fogueiras podem ter origens naturais (raios, por exemplo).
Caso se comprovem as
estimativas sobre a antiguidade da presença humana nesse local, feitas pela
equipe de Niède Guidon, vai ser preciso admitir que seres humanos habitavam o
nordeste brasileiro há mais de 50 mil anos. Mas essa comprovação é muito
improvável.
Muito interessante!
ResponderExcluirA america do sul ainda guarda muitos segredos...