A ESCOLHA DO MELHOR OFÍCIO
Os
escribas, compenetrados da própria importância, julgavam a sua profissão muito
superior à dos trabalhadores manuais. Exemplo disso é o texto a seguir, escrito
por um velho escriba, que procura influenciar seu filho na escolha do melhor
oficio:
Não
tens uma ideia da vida do camponês que cultiva a terra? O coletor das finanças
acha-se no cais ocupado em recolher os dízimos das colheitas. Tem consigo gente
armada de bastão, negros munidos de ripas de palmeira. Todos gritam: Vamos, os
grãos! Se o camponês não os tem, atiram-no ao chão (...); arrastam-no ao canal,
onde o mergulham de cabeça para baixo (...)
O
artesão não é mais feliz do que o camponês. O pedreiro, dir-te-ei como a doença
o espreita, pois está exposto a todos os ventos, sobre as vigas do andaime,
pendurado nos capitéis como lótus; seus dois braços gastam-se no trabalho, suas
vestes em desordem, não se lava senão uma vez por dia. Quando consegue pão,
regressa à casa e bate em seus filhos (...) O tecelão não arreda de sua casa;
seus joelhos estão à altura do estômago; se deixar de fabricar um só dia a
quantidade regulamentar, é atado como os lótus dos pântanos.
Mas,
a profissão de oficial do exército será mais tentadora? Vem, que eu te contarei
a sorte de um oficial do exército. Levam-no ainda criança e encerram-no na
caserna. Logo, o seu ventre estará todo gretado e os seus supercílios fendidos,
a sua cabeça, uma chaga.
Estendem-no
e espancam-no como a um papiro. Queres que te conte agora a sua campanha em
lugares longínquos? Leva os víveres e a água ao ombro como a carga de um burro;
a sua espinha parte-se. Bebe água podre. Deve constantemente montar guarda.
Chega diante do inimigo? E um pássaro que treme. Volta ao Egito? E apenas um
velho pedaço de pau roído pelos vermes.
O
velho escriba conclui: Vi a violência, por toda a parte a violência! Eis por
que te inclino para as letras (...).
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