Descoberta de mini-instrumentos de pedra reforça tese da
existência de hominídeo anão na Indonésia há 18 mil anos
Novo achado foi publicado
na revista Nature, mas não encerra controvérsia sobre se o Homo floresiensis é
mesmo uma nova espécie
Cientistas da Austrália apresentam mais uma prova de que o
polêmico “hobbit”, espécie de hominídeo anão, realmente existiu na ilha de
Flores, Indonésia, há 18 mil anos. O Homo
floresiensis teria deixado ferramentas para contar a história.
Em estudo publicado hoje na revista Nature, a equipe liderada por Adam Brumm, paleontólogo da
Universidade Nacional Australiana, em Camberra, registra a descoberta de
artefatos em Mata Menge, uma área descampada a 50 km da caverna Liang Bua, onde
os ossos do Homo floresiensis
foram encontrados em 2003.
Os pesquisadores já haviam descoberto ferramentas junto aos
fósseis dos “hobbits” e, apesar de nenhum esqueleto ter sido encontrado próximo
às peças em Mata Menge, testes de similaridade fazem acreditar que os
utensílios das duas localidades foram fabricados pelo mesmo tipo de hominídeo.
As 487 ferramentas são tão pequenas quanto seus supostos
donos: têm entre 1,5 cm e 9 cm de comprimento. “Embora ainda seja cedo para
saber como elas eram usadas, elas são muito mais precisas e trabalhadas do que
aquelas fabricadas pelo Homo erectus,
que eram grandes e grosseiras”, afirma Brumm.
A precisão é o fator crucial na pesquisa: como é que uma
criatura com um cérebro tão pequeno seria capaz de tamanha sofisticação? E
mais: os cientistas acreditam que as ferramentas encontradas em Mata Menge têm
entre 700 mil e 840 mil anos, enquanto as de Liang Bua não passam de 18 mil
anos de idade. Ou seja: a tecnologia teria sido passada de geração para
geração. “As similaridades entre elas sugerem alguma forma de conexão
cultural”, explica Peter Brown, líder da equipe australiano-indonésia que
descobriu o hominídeo anão, na caverna de Liang Bua.
Autoria
controversa
Apesar das provas, a discussão está longe de terminar.
Outros cientistas afirmam que essas ferramentas são avançadas demais para terem
sido feitas por um descendente de Homo
erectus. “Elas são obviamente obra do homem moderno, ou seja, do Homo sapiens, e podiam ser
encontradas em quase qualquer lugar do mundo há 18 mil anos”, alfineta James
Phillips, antropólogo da Universidade de Illinois e curador do Field Museum, em
Chicago.
“Perfuradores [instrumento de pedra] como esses de 800 mil
anos comprovadamente não existiam na Terra a até pelo menos 40 mil anos”, diz
ele, contestando a datação das peças. Para Philips, aliás, o H. floresiensis não é nem sequer uma
espécie distinta – seria apenas um humano com microcefalia.
Brumm rebate as críticas afirmando que tamanho do cérebro
não importa nesse caso. “A relação entre massa cerebral e inteligência é
baseada mais em pré-concepções que em demonstrações”, diz.
Para Peter Brown, trata-se de uma questão de organização.
“Ninguém sabe ao certo quanto cérebro você precisa para fazer uma ferramenta de
pedra. Talvez não muito. A questão mais importante são as conexões internas do
cérebro, e não apenas suas dimensões.” (CORRADINI, Ana Paula.Folha de S.Paulo, 1º jun. 2006.)
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