DONA DOLORES
Esta senhora da foto era minha mãe, Maria Dolores
Figueira.
Havia
nascido em 1909, de uma família que recentemente havia chegado da Espanha. Ela
foi o primeiro dos filhos a nascer no Brasil.
Casou-se com
meu pai aos dezessete anos, e com ele teve onze filhos, e a todos criou com
dedicação e carinho. Nunca bateu num filho, nem ela nem meu pai. E todos os
filhos se tornaram adultos de boa índole, o que prova que bater nos filhos é
uma violência tola e desnecessária.
A mãe era
uma pessoa muito prendada. Fazia sempre questão de ter um forno no quintal para
assar pão e uma torta muito saborosa, que só ela sabia fazer e cuja receita
levou com ela quando partiu. Além de cozinhar, ela costurava as nossas roupas,
cortava os cabelos do marido e dos filhos e escrevia as cartas que meu pai
queria mandar para os parentes na Espanha. Escrevia em espanhol, em lugar do pai,
que não podia escrever por não ser alfabetizado.

Era uma
pessoa extremamente bondosa. Uma daquelas pessoas que vieram ao mundo para
fazer o bem.
Em sua
mocidade, havia sido uma grande dançarina. Mais de uma vez ela nos falou, com
emoção, das rosas que ganhava nos bailes por ser a que melhor sabia dançar. Em
casa, às vezes, ela ensaiava uns passos, fazendo gestos como se tivesse
castanholas nas mãos!
Era, também,
uma exímia contadora de histórias, a melhor que conheci. Quando éramos crianças, à noite, ela
nos reunia à sua volta para contar histórias. Com seus olhinhos brilhantes,
cheios de ternura, ela nos falava com tanto sentimento, que a gente se deixava
levar pela sedução de suas palavras e acreditava, por mais absurdas que fossem
as histórias. E a gente ia para a cama feliz, com a alma inundada de magia e
encantamento. Momentos mágicos, inesquecíveis.
Além de contar
histórias, a mãe também gostava de declamar versos e citar frases que ela havia
aprendido ao longo da vida. Por exemplo, quando a gente se aproximava dela,
reclamando de alguma dor, ela dizia, com seu bom humor de sempre:
- No me pasme, Galindo!
Se viva
fosse, hoje, dia 15 de agosto, ela estaria completando 104 anos. Mas ela nos
deixou ainda jovem, quando tinha apenas 92 anos.
Pois é,
mãe, a gente não se esqueceu de seu aniversário. E aproveitando a data, quero
dizer que gostaria de lhe dar uma abraço muito apertado, cheio de amor - o
abraço que nunca lhe dei em vida. E agradecer por tantas coisas boas que você nos
deu a todos, filhos e netos - e todos nos lembramos de você com muita saudade.
Feliz
aniversário, mãe querida!
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