quarta-feira, 30 de julho de 2014



DONA DOLORES

Esta senhora da foto era minha mãe, Maria Dolores Figueira. 

Havia nascido em 1909, de uma família que recentemente havia chegado da Espanha. Ela foi o primeiro dos filhos a nascer no Brasil.
Casou-se com meu pai aos dezessete anos, e com ele teve onze filhos, e a todos criou com dedicação e carinho. Nunca bateu num filho, nem ela nem meu pai. E todos os filhos se tornaram adultos de boa índole, o que prova que bater nos filhos é uma violência tola e desnecessária.

A mãe era uma pessoa muito prendada. Fazia sempre questão de ter um forno no quintal para assar pão e uma torta muito saborosa, que só ela sabia fazer e cuja receita levou com ela quando partiu. Além de cozinhar, ela costurava as nossas roupas, cortava os cabelos do marido e dos filhos e escrevia as cartas que meu pai queria mandar para os parentes na Espanha. Escrevia em espanhol, em lugar do pai, que não podia escrever por não ser alfabetizado.

Nunca a vi triste ou deprimida. Ao contrário, estava sempre disposta para fazer o que tinha que ser feito, o que quer que fosse.

Era uma pessoa extremamente bondosa. Uma daquelas pessoas que vieram ao mundo para fazer o bem.

Em sua mocidade, havia sido uma grande dançarina. Mais de uma vez ela nos falou, com emoção, das rosas que ganhava nos bailes por ser a que melhor sabia dançar. Em casa, às vezes, ela ensaiava uns passos, fazendo gestos como se tivesse castanholas nas mãos!

Era, também, uma exímia contadora de histórias, a melhor que conheci. Quando éramos crianças, à noite, ela nos reunia à sua volta para contar histórias. Com seus olhinhos brilhantes, cheios de ternura, ela nos falava com tanto sentimento, que a gente se deixava levar pela sedução de suas palavras e acreditava, por mais absurdas que fossem as histórias. E a gente ia para a cama feliz, com a alma inundada de magia e encantamento. Momentos mágicos, inesquecíveis.

Além de contar histórias, a mãe também gostava de declamar versos e citar frases que ela havia aprendido ao longo da vida. Por exemplo, quando a gente se aproximava dela, reclamando de alguma dor, ela dizia, com seu bom humor de sempre:

- No me pasme, Galindo!

Se viva fosse, hoje, dia 15 de agosto, ela estaria completando 104 anos. Mas ela nos deixou ainda jovem, quando tinha apenas 92 anos.

Pois é, mãe, a gente não se esqueceu de seu aniversário. E aproveitando a data, quero dizer que gostaria de lhe dar uma abraço muito apertado, cheio de amor - o abraço que nunca lhe dei em vida. E agradecer por tantas coisas boas que você nos deu a todos, filhos e netos - e todos nos lembramos de você com muita saudade.
Feliz aniversário, mãe querida!


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