sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O TRABALHO INFANTIL


A Revolução Industrial em debate


Um dos fatores que favoreceram a invenção das máquinas foi o desejo
de economizar mão de obra. Entretanto, nem isso nem a disponibilidade de trabalhadores em consequência das mudanças que ocorriam na agricultura
britânica resolveram o problema dos patrões que procuravam de
toda forma reduzir esses gastos.


[...] Os manufatureiros da indústria têxtil encontraram uma outra solução para o problema que os estorvava. Consistia ela na contratação maciça de mulheres e, principalmente, de crianças. O trabalho nas fiações era fácil de aprender, exigia muito pouca força muscular. Para algumas operações, o pequeno porte das crianças e a finura de seus dedos faziam delas os melhores auxiliares das máquinas. 
Chaminés fumegantes das fábricas mudaram a paisagem inglesa.

Eram preferidas ainda por outras razões, mais decisivas. Sua fraqueza era garantia de sua docilidade: podiam ser reduzidas, sem muito esforço, a um estado de obediência passiva, ao qual os homens feitos não se deixavam facilmente dobrar. 
Elas custavam muito pouco: ora recebiam salários mínimos, que variavam entre um terço e um sexto do que ganhavam os operários adultos; ora recebiam alojamento e alimentação como pagamento. Enfim, ficavam presas por contratos de aprendizagem que as retinham na fábrica por sete anos, no mínimo, e, com frequência, até sua maioridade. Era interesse evidente dos fabricantes empregar o máximo possível delas e reduzir, proporcionalmente, o número de adultos. As primeiras fábricas do Lancashire estavam cheias delas: Sir Robert Peel teve, certa época, em suas oficinas, mais de mil ao mesmo tempo.
O pequeno porte das crianças e a finura de seus dedos faziam delas 
os melhores auxiliares das máquinas."

A maioria desses infelizes seres eram crianças assistidas, fornecidas — poderíamos dizer, vendidas — pelas paróquias por elas responsáveis. Os manufatureiros, principalmente durante o primeiro período do maquinismo, quando as fábricas eram construídas fora das cidades, e, em geral, longe delas, teriam tido grande dificuldade para obter a mão de obra de que necessitavam em sua vizinhança imediata. 
Por seu lado, as paróquias só queriam se desembaraçar de suas crianças. Aconteciam verdadeiros negócios, vantajosos para ambas as partes, embora não para as crianças, que eram tratadas como mercadorias, entre os fabricantes e os administradores do imposto dos pobres. Cinquenta, oitenta, cem crianças eram cedidas em bloco e enviadas, como gado, com destino à fábrica onde deveriam ficar fechadas durante longos anos. Certa paróquia, para que o negócio fosse melhor, estipulava que o comprador seria obrigado a aceitar os idiotas, na proporção de um por vinte. 
O trabalho infantil foi muito utilizadas nas galerias das minas.

Esses “aprendizes das paróquias” foram, de início, as únicas crianças empregadas nas fábricas. Os operários se recusavam, e com razão, a mandar as suas. Sua resistência, infelizmente, não durou muito tempo: levados pela necessidade, resignaram-se àquilo que, a princípio, tanto os havia horrorizado. [...]
Mantoux, Paul. A Revolução Industrial no século XVIII. São Paulo:
 Hucitec/Unesp, 1988. p. 418-20.


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