O TRABALHO INFANTIL
A Revolução Industrial em debate
Um
dos fatores que favoreceram a invenção das máquinas foi o desejo
de
economizar mão de obra. Entretanto, nem isso nem a disponibilidade de
trabalhadores em consequência das mudanças que ocorriam na agricultura
britânica
resolveram o problema dos patrões que procuravam de
toda
forma reduzir esses gastos.
[...] Os
manufatureiros da indústria têxtil encontraram uma outra solução para o
problema que os estorvava. Consistia ela na contratação maciça de mulheres e,
principalmente, de crianças. O trabalho nas fiações era fácil de aprender,
exigia muito pouca força muscular. Para algumas operações, o pequeno porte das
crianças e a finura de seus dedos faziam delas os melhores auxiliares das
máquinas.
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Chaminés fumegantes das fábricas mudaram a paisagem inglesa. |
Eram preferidas ainda por outras razões, mais decisivas. Sua fraqueza
era garantia de sua docilidade: podiam ser reduzidas, sem muito esforço, a um
estado de obediência passiva, ao qual os homens feitos não se deixavam
facilmente dobrar.
Elas custavam muito pouco: ora recebiam salários mínimos,
que variavam entre um terço e um sexto do que ganhavam os operários adultos;
ora recebiam alojamento e alimentação como pagamento. Enfim, ficavam presas por
contratos de aprendizagem que as retinham na fábrica por sete anos, no mínimo,
e, com frequência, até sua maioridade. Era interesse evidente dos fabricantes empregar
o máximo possível delas e reduzir, proporcionalmente, o número de adultos. As
primeiras fábricas do Lancashire estavam cheias delas: Sir Robert Peel teve, certa
época, em suas oficinas, mais de mil ao mesmo tempo.
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O pequeno porte das
crianças e a finura de seus dedos faziam delas
os melhores auxiliares das
máquinas."
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A maioria desses
infelizes seres eram crianças assistidas, fornecidas — poderíamos dizer,
vendidas — pelas paróquias por elas responsáveis. Os manufatureiros,
principalmente durante o primeiro período do maquinismo, quando as fábricas
eram construídas fora das cidades, e, em geral, longe delas, teriam tido grande
dificuldade para obter a mão de obra de que necessitavam em sua vizinhança
imediata.
Por seu lado, as paróquias só
queriam se desembaraçar de suas crianças. Aconteciam verdadeiros negócios,
vantajosos para ambas as partes, embora não para as crianças, que eram tratadas
como mercadorias, entre os fabricantes e os administradores do imposto dos
pobres. Cinquenta, oitenta, cem crianças eram cedidas em bloco e enviadas, como
gado, com destino à fábrica onde deveriam ficar fechadas durante longos anos.
Certa paróquia, para que o negócio fosse melhor, estipulava que o comprador
seria obrigado a aceitar os idiotas, na proporção de um por vinte.
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O trabalho infantil foi muito utilizadas nas
galerias das minas.
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Esses
“aprendizes das paróquias” foram, de início, as únicas crianças empregadas nas
fábricas. Os operários se recusavam, e com razão, a mandar as suas. Sua
resistência, infelizmente, não durou muito tempo: levados pela necessidade,
resignaram-se àquilo que, a princípio, tanto os havia horrorizado. [...]
Mantoux, Paul. A Revolução Industrial no século
XVIII. São Paulo:
Hucitec/Unesp, 1988. p. 418-20.
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