CRISE DA ECONOMIA AÇUCAREIRA
Surgimento
de uma economia concorrente no Caribe
A
união de Espanha e Portugal em uma só Coroa (União Ibérica) teve
consequências
profundas para a empresa açucareira no Brasil. O texto abaixo,
econômica
do açúcar ser uma das consequências
mais
duradouras da União Ibérica.
O
quadro político-econômico dentro do qual nasceu e progrediu de forma
surpreendente a empresa agrícola em que assentou a colonização do Brasil foi
profundamente modificado pela absorção de Portugal na Espanha. A guerra que
contra este último país promoveu a Holanda, durante esse período, repercutiu
profundamente na colônia portuguesa da América. A começos do século XVII os
holandeses controlavam praticamente todo o comércio dos países europeus
realizado por mar. Distribuir o açúcar pela Europa sem a cooperação dos
comerciantes holandeses evidentemente era impraticável. Por outro lado, estes
de nenhuma maneira pretendiam renunciar à parte substancial que tinham nesse
importante negócio, cujo êxito fora em boa parte obra sua.
A
luta pelo controle do açúcar torna--se, destarte, uma das razões de ser da
guerra sem quartel que promovem os holandeses contra a Espanha. E um dos episódios
dessa guerra foi a ocupação pelos batavos, durante um quarto de século, de
grande parte da região produtora de açúcar no Brasil.
As consequências da ruptura do sistema cooperativo
anterior serão, entretanto, muito mais duradouras que a ocupação militar.
Durante sua permanência no Brasil, os holandeses adquiriram o conhecimento de
todos os aspectos técnicos e organizacionais da indústria açucareira. Esses
conhecimentos vão constituir a base para a implantação e desenvolvimento de uma
indústria concorrente, de grande escala, na região do Caribe.
A partir desse
momento, estaria perdido o monopólio, que nos três quartos de século anteriores
se assentara na identidade de interesse entre os produtores portugueses e os
grupos financeiros holandeses que controlavam o comércio europeu. No terceiro
quartel do século XVII os preços do açúcar estarão reduzidos à metade e
persistirão nesse nível relativamente baixo durante todo o século seguinte.
A
etapa de máxima rentabilidade da empresa agrícola-colonial portuguesa havia
sido ultrapassada. O volume das exportações médias anuais da segunda metade do
século XVII dificilmente alcança cinquenta por cento dos pontos mais altos
atingidos em torno a 1650. E essas reduzidas exportações se liquidavam a preços
que não superavam a metade daqueles que haviam prevalecido na etapa anterior.
Tudo indica que a renda real gerada pela produção açucareira estava reduzida a
um quarto do que havia sido em sua melhor época.
Furtado, Celso. Formação econômica do Brasil. 21. ed.
São
Paulo: Nacional, 1986. p. 16-8.
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