CONJURAÇÃO BAIANA
Quatro foram enforcados, esquartejados e esquecidos
Em agosto de 1798
teve início em Salvador, na Bahia, uma tentativa de levante contra a Coroa
portuguesa. Contando com uma participação popular mais forte do que a Mineira,
a Conjuração Baiana foi violentamente reprimida e o nome de seus participantes
caiu no esquecimento.
Foram os quatro executados e, para os que assim dispôs a
justiça de dona Maria I, esquartejados, e suas partes expostas conforme o
prescrito no texto legal. De João de Deus, a cabeça se pôs “na sua porta, que
era defronte do beco que dobra para a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, indo
pela rua Direito do Palácio”, e “os quartos nos cais de maior frequência e
comércio desta cidade”. A cabeça decepada de Lucas Dantas “se pôs no Dique”, e
a de Manoel Faustino exposta à porta da casa de João de Deus, por aí “estar,
quase sempre”, e não ter residência própria.
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Praça da Piedade, local da execução dos
conjurados
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Mas, por mais que a justiça tenha
decidido que estes símbolos macabros do poder régio ficassem expostos “até que
uns e outros sejam consumidos pelo tempo”, acabaram por ser retirados,
atendendo ao que diziam o Provedor da Saúde da cidade e o médico e cirurgião do
Senado, cuidando que a corrupção dos corpos mortos e o mau cheiro que deles
emanava causavam “gravíssimo prejuízo aos moradores”. O pedido foi despachado
no dia 11 de dezembro e, após parecer, os despojos retirados.
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Heróis da Conjuração Baiana, também chamada
de Revolta dos Alfaiaes. |
O
sangrento episódio da Praça da Piedade representou o momento culminante da
resposta de Lisboa ao desafio que, na Bahia, lhe tinha sido lançado. O lúgubre
ritual como que preconizava que a memória dos que foram tidos por responsáveis principais
pelo ensaio sedicioso que aflorou publicamente na cidade em agosto de 1798,
deveria apagar-se para todo o sempre da memória dos povos. É bem verdade que um
cioso compilador anônimo da Descrição da Bahia registrou o evento,
conferindo-lhe ponderável destaque, mas o texto permaneceu inédito e, por muito
tempo, em pouco contribuiu para a preservação da lembrança do acontecimento.
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Cipriano
Barata, revolucionário incansável. Esteve preso na
Conjuração Baiana e, mais
tarde, foi novamente preso por sua
participação na Revolução Pernambucana, de
1817.
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[...]
Dos letrados que na época viviam na Bahia, alguns dos quais, de uma forma ou de
outra, estiveram vinculados, e foram até incomodados por isso, ao ensaio
sedicioso, nem uma palavra. Ao que se saiba, nem Domingos Borges de Barros (que
logo a seguir parte para a Europa), nem Francisco Agostinho Gomes (que faz o
mesmo), nem Cipriano Barata, nem José da Silva Lisboa deixaram testemunho de
próprio punho sobre o que veio a receber várias denominações, dentre as quais a
mais duradoura, ainda que imprópria, é Revolução dos Alfaiates.
Jancsó, István. Na Bahia, contra o Império:
história do ensaio de
sedição de 1798.
São Paulo: Hucitec;
Salvador: Edufba, 1996. p. 16-8.
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