sábado, 23 de agosto de 2014

NA AMAZÔNIA, A BORRACHA

Uma riqueza efêmera


No final do século XIX, quando os negócios iam de mal a pior para o café, nossa balança comercial foi salva por um produto primário da Amazônia, capaz de criar importantes riquezas: a borracha. Encontrado na seringueira, planta nativa da região, o látex com que se faz a borracha já era exportado pelo Brasil desde 1827, ano em que 31 toneladas seguiram para o exterior. Mas foi só com a invenção do pneumático e sua aplicação ao automóvel, em 1895, que nossas exportações de borracha se tornaram significativas.
Entre 1891 e 1900, o Brasil era praticamente o único produtor mundial de borracha, e exportou nesse período cerca de 214 mil toneladas. De 1889 a 1918, o produto seria o nosso segundo item na pauta de exportações, superado apenas pelo café.
Seringueiros, durante o ciclo da borracha

No fim do século XIX, os ingleses conseguiram contrabandear sementes da seringueira e fazê-la germinar usando estufas, sendo posteriormente levadas para a Ásia. Lá, deram origem a grandes plantações em colônias inglesas (Ceilão, Malásia e Birmânia) e holandesa (Indonésia). Em pouco tempo, a borracha produzida na Ásia concorreria no mercado internacional em condições extremamente vantajosas em relação ao produto de origem brasileira..

A crise da borracha brasileira

Por volta de 1913, a produção asiática superou a brasileira. É interessante notar que na Ásia as seringueiras eram plantadas em série, o que permitia uma produtividade muito maior do que no Brasil, porque aqui as seringueiras se encontravam distantes umas das outras, espalhadas na floresta. Em 1927, o empresário Henry Ford tentou fazer, na Amazônia, um plantio em grande escala, semelhante ao que se fazia no Oriente, mas a iniciativa fracassou. Plantadas umas próximas das outras, as seringueiras foram atacadas e dizimadas por uma praga, o que não ocorria no Oriente.
Seringueiro extraindo o látex.

A entrada no mercado da produção asiática provocou enorme queda nos preços. Pouco depois, em 1919, nossa borracha já não tinha mais a importância econômica alcançada nas décadas anteriores. Além do ciclo que se caracterizou no final do século XIX, um outro ocorreu nas décadas de 1940 e 1950, quando, devido à guerra, o produto foi novamente solicitado. Surgiram os “soldados da borracha” deslocados do nordeste, cujos descendentes ainda hoje esperam alguma justiça e recompensa, como ocorreu com os militares que foram convocados para as lutas na Europa.
É bom lembrar que, mesmo no auge do “ciclo da borracha”, os recursos gerados pela atividade extrativa não conseguiram promover o desenvolvimento da região amazônica. Foram empregados de maneira improdutiva, e o melhor que dele restou foi o suntuoso teatro de Manaus.
Salão Nobre do Teatro Amazonas


A compra do Acre

O Acre era território boliviano, mas começou a ser ocupado por seringueiros brasileiros no final do século XIX, justamente por causa da extração da borracha. O governo da Bolívia reagiu à invasão, e cedeu a exploração do território a uma empresa formada por capitais estadunidenses, ingleses e alemães, The Bolivian Syndicate.
Sentindo-se prejudicada, a população brasileira da região, liderada pelo gaúcho Plácido de Castro, promoveu um levante armado. A revolta, iniciada em 1902, terminou no ano seguinte, com algumas vitórias dos rebeldes brasileiros. Os resultados desfavoráveis ao exército boliviano levaram o país a concordar em vender o território do Acre ao Brasil, em 1903, por 2 milhões de libras esterlinas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário