A CRIATIVIDADE HUMANA
De onde vêm de
fato as inovações?
A
humanidade se beneficiou de algumas invenções surgidas
aqui e
ali, ao longo da história. Algumas delas surgiram uma única vez.
Mas todas
acabaram se propagando. No texto a seguir,
o autor
nos fala de algumas dessas invenções.
"Em todas as sociedades, exceto algumas
passadas que eram completamente isoladas, boa parte da inovação tecnológica, ou
a maior parte, não é inventada localmente, mas emprestada de outras sociedades.
A importância relativa da invenção local e do empréstimo depende principalmente
de dois fatores: a facilidade de invenção da tecnologia específica e a
proximidade de determinada sociedade com as outras sociedades.
A cerâmica surgiu em várias partes do mundo, de forma independente. |
Algumas inovações surgiram diretamente da
manipulação de matérias--primas naturais. Essas invenções se desenvolveram em
muitas ocasiões independentes na história mundial, em lugares e momentos
diferentes. Um exemplo é a domesticação de plantas, com pelo menos nove origens
independentes. Outro é a cerâmica, que pode ter surgido a partir de observações
do comportamento da argila, um material natural muito comum, quando seca ou
aquecida. A cerâmica apareceu há cerca de 14 mil anos no Japão, há uns 10 mil
anos no Crescente Fértil e na China, e depois na Amazônia, na zona do Sahel na
África, no sudoeste dos Estados Unidos e no México.
A escrita é um
exemplo de uma invenção bem mais difícil, que não pressupõe a observação de
substâncias naturais. Ela teve poucas origens independentes, e o alfabeto
aparentemente só surgiu uma vez na história mundial. Entre outras invenções
difíceis estão a roda-d’água, o moinho de rolos, a roda dentada, a bússola
magnética e o moinho de vento, todas concebidas apenas uma ou duas vezes no
Velho Mundo e nunca no Novo Mundo.
Com o alfabeto, criado
pelos fenícios, surgiram vinte e dois sinais para
representar os diferentes
sons da linguagem humana.
|
Essas invenções
complexas eram normalmente obtidas por empréstimo, porque se difundiam com mais
rapidez do que podiam ser inventadas de modo independente em outro lugar. Um
exemplo claro é a roda, comprovada pela primeira vez por volta de 3400 a.C. perto
do mar Negro, e que depois reaparece nos séculos seguintes em grande parte da
Europa e da Ásia. Todas essas antigas rodas do Velho Mundo têm um desenho
peculiar: um círculo de madeira sólido construído a partir de três tábuas
presas uma na outra, em vez de um aro com raios. Por outro lado, as rodas
exclusivas das sociedades ameríndias (desenhadas nos vasos de cerâmica
mexicanos) consistiam em uma única peça, levando a crer que se tratava de uma
segunda invenção independente da roda — como era de se esperar de outra prova de
isolamento do Novo Mundo em relação às civilizações do Velho Mundo.
Ninguém acha que o mesmo desenho peculiar da roda
do Velho Mundo apareceu várias vezes por acaso em muitos locais separados do
Velho Mundo, num período de poucos séculos entre uma aparição e outra, depois
de sete milhões de anos de história humana sem rodas. Ao contrário, a utilidade
da roda fez, certamente, com que ela se difundisse depressa para o leste e para
o oeste no Velho Mundo. Entre outros exemplos de tecnologias complexas que se
difundiram para o leste e para o oeste no Velho Mundo, a partir de uma única
fonte asiática ocidental, estão as fechaduras de portas, as polias, os
cata-ventos e o alfabeto. Um exemplo de difusão tecnológica do Novo Mundo é a
metalurgia, que se propagou dos Andes para a Mesoamérica pelo Panamá."
Diamond,
Jared. Armas, germes e aço. 9. ed. Rio de Janeiro:
Record, 2007. p. 254-6.
Nenhum comentário:
Postar um comentário