terça-feira, 5 de agosto de 2014

A CRIATIVIDADE HUMANA

De onde vêm de fato as inovações?

A humanidade se beneficiou de algumas invenções surgidas
aqui e ali, ao longo da história. Algumas delas surgiram uma única vez.
Mas todas acabaram se propagando. No texto a seguir,
o autor nos fala de algumas dessas invenções.

"Em todas as sociedades, exceto algumas passadas que eram completamente isoladas, boa parte da inovação tecnológica, ou a maior parte, não é inventada localmente, mas emprestada de outras sociedades. A importância relativa da invenção local e do empréstimo depende principalmente de dois fatores: a facilidade de invenção da tecnologia específica e a proximidade de determinada sociedade com as outras sociedades.

A cerâmica surgiu em várias partes do mundo, de forma independente.
Algumas inovações surgiram diretamente da manipulação de matérias--primas naturais. Essas invenções se desenvolveram em muitas ocasiões independentes na história mundial, em lugares e momentos diferentes. Um exemplo é a domesticação de plantas, com pelo menos nove origens independentes. Outro é a cerâmica, que pode ter surgido a partir de observações do comportamento da argila, um material natural muito comum, quando seca ou aquecida. A cerâmica apareceu há cerca de 14 mil anos no Japão, há uns 10 mil anos no Crescente Fértil e na China, e depois na Amazônia, na zona do Sahel na África, no sudoeste dos Estados Unidos e no México.

A escrita é um exemplo de uma invenção bem mais difícil, que não pressupõe a observação de substâncias naturais. Ela teve poucas origens independentes, e o alfabeto aparentemente só surgiu uma vez na história mundial. Entre outras invenções difíceis estão a roda-d’água, o moinho de rolos, a roda dentada, a bússola magnética e o moinho de vento, todas concebidas apenas uma ou duas vezes no Velho Mundo e nunca no Novo Mundo.

Com o alfabeto, criado pelos fenícios, surgiram vinte e dois sinais para 
representar os diferentes sons da linguagem humana.
Essas invenções complexas eram normalmente obtidas por empréstimo, porque se difundiam com mais rapidez do que podiam ser inventadas de modo independente em outro lugar. Um exemplo claro é a roda, comprovada pela primeira vez por volta de 3400 a.C. perto do mar Negro, e que depois rea­parece nos séculos seguintes em grande parte da Europa e da Ásia. Todas essas antigas rodas do Velho Mundo têm um desenho peculiar: um círculo de madeira sólido construído a partir de três tábuas presas uma na outra, em vez de um aro com raios. Por outro lado, as rodas exclusivas das sociedades ameríndias (desenhadas nos vasos de cerâmica mexicanos) consistiam em uma única peça, levando a crer que se tratava de uma segunda invenção independente da roda como era de se esperar de outra prova de isolamento do Novo Mundo em relação às civilizações do Velho Mundo.

Ninguém acha que o mesmo desenho peculiar da roda do Velho Mundo apareceu várias vezes por acaso em muitos locais separados do Velho Mundo, num período de poucos séculos entre uma aparição e outra, depois de sete milhões de anos de história humana sem rodas. Ao contrário, a utilidade da roda fez, certamente, com que ela se difundisse depressa para o leste e para o oeste no Velho Mundo. Entre outros exemplos de tecnologias complexas que se difundiram para o leste e para o oeste no Velho Mundo, a partir de uma única fonte asiática ocidental, estão as fechaduras de portas, as polias, os cata-ventos e o alfabeto. Um exemplo de difusão tecnológica do Novo Mundo é a metalurgia, que se propagou dos Andes para a Mesoamérica pelo Panamá."
Diamond, Jared. Armas, germes e aço. 9. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007. p. 254-6.


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