EM PLENA REVOLUÇÃO
Os russos enchem os cafés para ouvir poesia
Em
1918, o povo da Rússia quebrava as rotinas cotidianas e avançava
rumo
ao desconhecido. Nesse contexto, poesia e política se misturavam
como
matéria-prima de um novo futuro.
Também anarquistas
em potencial [...], os poetas têm fome de ritmo, de glória, de sucesso popular.
Agora, os cafés e os clubes onde os poetas recitam suas obras são invadidos por
uma enorme multidão, que acorre para embriagar-se com a música das palavras
doces, brutais, rápidas, que se repetem em todos os lugares. De onde vem, de
repente, essa nova sede de poesia que agita os russos, todos os russos, do
mesmo modo que os negros são animados pelos cantos de escravidão, blues,
spirituals? Vem da liberdade embriagante enfim descoberta? Vem do vento?
Das estepes? Do mar? Dessas profundezas errantes, climáticas, que fazem do
russo um ser ao mesmo tempo cruel, ingênuo, místico e doce?
Mayakowsky, o poeta da revolução. |
O fato é que o
“ritmo” e a revolução, a poesia e a tomada de consciência precipitam na rua uma
multidão inumerável, arrancam do estado infantil, da passividade irresponsável,
massas humanas cada vez mais numerosas, destroem a solidão, repelem o
desespero, substituem a vida do lar, suprimem as paredes da casa em benefício
de uma vida nova, coletiva, que se espera tão bela, tão pura, quanto a “missa
poética”. E é um fato que a revolução proporciona um impulso prodigioso à
poesia, que invade as praças públicas e até mesmo a abertura dos congressos.
Mesmo as reuniões políticas se transformam doravante em saraus consagrados à
poesia.
Marabini, Jean. A Rússia durante a Revolução de Outubro.
São Paulo:
Companhia das Letras;
Círculo do Livro, 1989. p. 202.
Nenhum comentário:
Postar um comentário