quinta-feira, 28 de agosto de 2014

EM  PLENA  REVOLUÇÃO


  Os  russos  enchem  os  cafés  para  ouvir  poesia


 Em 1918, o povo da Rússia quebrava as rotinas cotidianas e avançava
rumo ao desconhecido. Nesse contexto, poesia e política se misturavam
como matéria-prima de um novo futuro.

Também anarquistas em potencial [...], os poetas têm fome de ritmo, de glória, de sucesso popular. Agora, os cafés e os clubes onde os poetas recitam suas obras são invadidos por uma enorme multidão, que acorre para embriagar-se com a música das palavras doces, brutais, rápidas, que se repetem em todos os lugares. De onde vem, de repente, essa nova sede de poesia que agita os russos, todos os russos, do mesmo modo que os negros são animados pelos cantos de escravidão, blues, spirituals? Vem da liberdade embriagante enfim descoberta? Vem do vento? Das estepes? Do mar? Dessas profundezas errantes, climáticas, que fazem do russo um ser ao mesmo tempo cruel, ingênuo, místico e doce?
Mayakowsky, o poeta da revolução.

O fato é que o “ritmo” e a revolução, a poesia e a tomada de consciência precipitam na rua uma multidão inumerável, arrancam do estado infantil, da passividade irresponsável, massas humanas cada vez mais numerosas, destroem a solidão, repelem o desespero, substituem a vida do lar, suprimem as paredes da casa em benefício de uma vida nova, coletiva, que se espera tão bela, tão pura, quanto a “missa poética”. E é um fato que a revolução proporciona um impulso prodigioso à poesia, que invade as praças públicas e até mesmo a abertura dos congressos. Mesmo as reuniões políticas se transformam doravante em saraus consagrados à poesia.
Marabini, Jean. A Rússia durante a Revolução de Outubro. São Paulo:
Companhia das Letras; Círculo do Livro, 1989. p. 202.


Nenhum comentário:

Postar um comentário