REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL
A Revolução Industrial foi o resultado de um longo processo de mudanças que
teve início na Baixa Idade Média, com o renascimento das cidades e do comércio
na Europa ocidental. A partir desse momento, ganharam importância cada vez
maior as noções de lucro e de produtividade, fundamentais para o
desenvolvimento de uma mentalidade voltada para o enriquecimento e para a
acumulação: a mentalidade empresarial capitalista.
Máquina a vapor patenteada em 1769 por James Watt. |
Com as
Grandes Navegações, entre os séculos XV e XVI, as atividades econômicas se
expandiram.
Controlando
vastos territórios em quase todo o mundo, os europeus passaram a explorar o comércio
em proporções mundiais, levando para seu continente riquezas que seriam
aplicadas na fabricação de produtos destinados a alimentar um mercado cada vez
maior.
1. O sistema doméstico
As próprias
formas de produção de mercadorias na Europa acabaram por se transformar. Para
atender à demanda crescente, surgiram métodos mais eficientes de produzir. Com
isso, as antigas corporações de ofício se enfraqueceram e perderam importância.
Elas foram, gradativamente, substituídas pela produção manufatureira. Os
artesãos trabalhavam em suas próprias casas por encomenda. Por isso esse modo
de produção é também chamado de sistema doméstico. Essa nova forma de
produção era dirigida por um comerciante que controlava o trabalho de vários
artesãos, fornecendo a matéria-prima e as ferramentas necessárias e, como
pagamento, recebiam um salário.
A partir de
meados do século XVIII, alguns comerciantes perceberam que podiam aumentar ainda
mais a produção e os lucros. E, em vez de espalhar ferramentas e matérias-primas
entre os artesãos do sistema doméstico, passaram a reuni-los em um mesmo local para
trabalhar: assim surgiram as fábricas, ou o sistema fabril, com a substituição
das ferramentas artesanais pelas máquinas.
As fábricas
trouxeram muitas vantagens aos empresários. Ficou mais fácil controlar a
produção, pois era possível, por exemplo, reduzir a perda de matérias-primas e
ao mesmo tempo fiscalizar de perto a qualidade do produto. A fábrica
possibilitou ainda incrementar a produtividade, ao tornar mais eficaz o
controle sobre a velocidade e o ritmo do trabalhador. Além disso, a produção foi
reorganizada. A fabricação de cada mercadoria passou a ser dividida em várias
etapas, em um processo conhecido como produção em série. Concentrado em
uma única atividade, o trabalhador especializava-se e aumentava a produção.
Essas
características acabaram influindo no custo final do produto. Com mercadorias
produzidas por meios mais baratos, era possível aumentar a margem de lucro e o
mercado consumidor.
2. Mudanças
causadas pelas fábricas
As fábricas
são um dos símbolos mais visíveis da Revolução Industrial. Elas modificaram as
sociedades de forma definitiva: além de introduzir a produção em série de
mercadorias – uma inovação no sistema produtivo –, alteraram as relações de
trabalho e a paisagem.
Foram as
fábricas as principais responsáveis pelo desenvolvimento das grandes cidades,
um novo cenário dominado por chaminés e por multidões de trabalhadores, marcado
também por sério desequilíbrio ambiental.
A
transformação mais importante no modo de produção, porém, foi causada pelo
emprego de máquinas movidas a vapor nas unidades fabris, o que assinalou a
passagem da produção artesanal domiciliar para a produção em grande escala.
Multiplicando o trabalho humano, as máquinas ampliaram ainda mais a produção de
mercadorias. Assim, surgiram as indústrias modernas, reunindo centenas de
trabalhadores.
3. A
revolução industrial e o trabalhador
Para o
trabalhador, esse processo significou a perda gradual do controle de suas
atividades. Na época das corporações de ofício, ele era dono de suas
ferramentas e senhor de seu ritmo de trabalho. Na manufatura, sem suas
ferramentas e matérias-primas, tornou-se dependente do comerciante, mas ainda
exercia controle sobre seu trabalho.
No sistema
fabril, esse controle passou a ser feito por técnicos, sob o comando dos
empresários.
A atividade
do trabalhador tornou-se apenas parte da produção geral, e ele perdeu o domínio
sobre o produto final de seu trabalho.
4. O
pioneirismo da Inglaterra
A
Inglaterra foi o primeiro país a reunir as condições necessárias para o
desenvolvimento do sistema fabril. Entre os numerosos aspectos que favoreceram
esse processo, é possível destacar:
1) O controle
de vasto mercado consumidor: as Grandes Navegações, como vimos,
possibilitaram a criação de um mercado mundial em constante expansão. Entre os
séculos XVII e XVIII, os ingleses conquistaram a hegemonia desse mercado à
medida que suplantaram a concorrência com a Espanha, a Holanda e a França.
O comércio
inglês ampliou-se também no plano interno. Durante o século XVIII, a população da
Inglaterra cresceu muito, tornando maiores a oferta de mão de obra e o mercado
consumidor.
A ampliação
do mercado, por sua vez, estimulou o aumento da produção, criando condições favoráveis
à invenção e ao aperfeiçoamento de novas técnicas capazes de intensificar a
produtividade do trabalho humano.
2) O
pioneirismo inglês, importante para a acumulação de capital: entende-se
por capital todos os recursos utilizados com o objetivo de se obter lucro
(dinheiro e equipamentos, por exemplo). Os países que mais concentraram capital
na Europa, a partir das Grandes Navegações, foram a Inglaterra, a Holanda e a
França, todos ligados ao comércio marítimo, ao tráfico negreiro e à exploração
colonial. A abundância de capital e a perspectiva de lucros estimulavam a
produção e a ampliação dos negócios.
3) A disponibilidade
de mão de obra: desde o século XVII, existia na Inglaterra um grande
contingente de mão de obra formado principalmente por camponeses expulsos da
terra. O principal motivo para essa expulsão foi a demanda por lã para
abastecer a produção de tecidos. Para atender a essa demanda, os senhores de
terra britânicos fizeram o cercamento de áreas antes utilizadas coletivamente
pelos camponeses. Novas técnicas agrícolas, além da diversificação das plantações,
também contribuíram para a transformação das atividades do campo na Inglaterra,
elevando a produção e direcionando o excedente para o comércio exterior.
Com a
mudança, as relações de trabalho no campo foram também modificadas e os
trabalhadores servis foram substituídos pela mão de obra assalariada. Essa
revolução agrícola reduziu o número de trabalhadores rurais, e os camponeses,
sem terra para trabalhar, tiveram de procurar outras atividades nos emergentes
centros urbanos, tornando-se mão de obra abundante para as fábricas. Muitos
artesãos, não podendo competir com a produção fabril, transformaram-se também,
após muita resistência, em trabalhadores assalariados. A existência de trabalhadores
procurando trabalho é o que se chama mercado de trabalho.
Outros
fatores: na segunda metade do século XVIII, a Inglaterra apresentava ainda outras
características que explicam seu pioneirismo na Revolução Industrial, como um
sistema bancário eficiente; disponibilidade de matérias-primas, como carvão e
minério de ferro; um grupo social formado por empresários empenhados no desenvolvimento
econômico (a burguesia); uma ideologia que valorizava o trabalho e o enriquecimento (calvinismo).
5. Uma espiral de invenções
Na
Inglaterra, por uma série de razões, a produção de tecidos, foi um dos
primeiros setores a desenvolver o sistema fabril, com forte mecanização. Para
começar, a produção de tecidos de algodão não era controlada pelas corporações de
ofício, o que permitiu mudanças mais rápidas na forma de fabricar o produto.
Outro aspecto importante foi o preço do tecido de algodão: por ser mais barato que
a lã ou a seda, seu mercado expandiu-se rapidamente. Em apenas vinte anos
(entre 1750 e 1770), as exportações inglesas de tecido de algodão aumentaram
dez vezes.
Até essa
época, o produto comercializado pelos britânicos vinha da Índia, e os
principais mercados consumidores eram as colônias, sobretudo nas áreas de
grande concentração de trabalhadores escravizados.
Com o
tempo, pequenos produtores de tecidos de algodão começaram a se estabelecer
perto dos portos britânicos ligados ao comércio colonial. Mas, para competir
com o produto indiano, mais barato e de melhor qualidade, precisaram
aperfeiçoar os métodos de produção: no começo o problema era o fio, daí os inventores
trataram de desenvolver uma máquina de fiar.
James Watt e a
máquina a vapor
A máquina a
vapor já existia, sendo usada no bombeamento água para fora das minas de
carvão. Sua utilidade nas fábricas somente se tornou possível ao ser
aperfeiçoada por James Watt, que a patenteou em 1769. O vapor era uma fonte de
energia eficiente e oferecia grande vantagem: movidas a vapor, as fábricas não
precisavam mais ser construídas perto de rios.
Uma reação em cadeia
O
desenvolvimento da indústria têxtil incentivou outros setores. Para fabricar as
máquinas, por exemplo, foi preciso melhorar a metalurgia do ferro. Ao mesmo
tempo, era possível associar a máquina a vapor a uma locomotiva colocada sobre
trilhos, fazendo-a puxar diversos vagões, ou adaptá-la a uma embarcação, dando
origem ao navio a vapor.
Portanto, a
mecanização iniciada no setor de fiação e tecelagem do algodão provocou uma
reação em cadeia, afetando outros setores (transportes, energia, metalurgia,
mineração etc.) em um processo abrangente de invenções e aperfeiçoamentos.
6. Consequências
da Revolução Industrial
Durante o
século XVIII, a Revolução Industrial consistiu em um fenômeno inteiramente
inglês. Mas, a partir do século seguinte, começou a se expandir para vários
países, provocando grandes transformações na vida das pessoas.
Do ponto de
vista da produção, o sistema fabril acabou se consolidando. Com máquinas cada
vez mais sofisticadas, a fábrica tornou-se o local adequado para a produção,
favorecendo a divisão do trabalho, a regulamentação do horário e da disciplina
ao trabalhador, além do aumento da produtividade.
No âmbito
social, surgiu o proletariado, classe social formada pelos trabalhadores fabris
e de transportes. Devido aos baixos salários, mulheres e crianças também eram
obrigadas a trabalhar, recebendo remunerações ainda menores que as dos homens.
A Revolução Industrial causou graves consequências na vida dos trabalhadores,
pois não havia regras ou limites para o exercício do trabalho. Os donos das
fábricas estavam livres para impor salários miseráveis e longas jornadas, que
chegavam a dezoito horas diárias.
7. O
movimento ludista
Contra essa
condição sub-humana, os trabalhadores lutaram de diversas maneiras, resistindo,
por exemplo, à mecanização crescente da produção, considerada responsável pelo
desemprego.
Um dos episódios
que retrata bem a situação nessa época foi a constante destruição de máquinas pelos
trabalhadores, principalmente entre 1811 e 1812, forma de protesto que ficou
conhecida como ludismo.
As ações de
protesto contra as máquinas inventadas para economizar mão de obra já vinham acontecendo
na Grã-Bretanha havia muito tempo. Mas foi em 1811 que explodiu uma forma mais radical
de protesto, o movimento ludista (nome derivado de Ned Ludd, que teria sido um
de seus líderes). Os ludistas invadiam as fábricas e destruíam a maquinaria,
que não só tirava o trabalho dos artesãos como impunha aos operários condições
desumanas de trabalho. Os integrantes do movimento sofreram dura repressão e
foram condenados à prisão, à deportação e até à forca.
Alguns anos
depois, os operários britânicos adotaram métodos mais eficazes e luta.
Ao longo do
século XIX, os trabalhadores acabariam se organizando e usando a força de sua classe
profissional para reivindicar melhores condições de trabalho e defender seus
direitos.
O
trabalho infantil nas fábricas
A seguir, trechos do texto do historiador brasileiro José
Jobson de Arruda, que trata das condições de vida das crianças que trabalhavam nas
fábricas na época da Revolução Industrial.
“Durante a Revolução Industrial, a vida nas fábricas era
odiosa; a disciplina, intolerável. Anteriormente, o trabalhador artesanal ou
doméstico era dono não apenas dos meios de produção, mas também de seu tempo. Trabalhava
apenas para garantir a sua sobrevivência, o restante do tempo dispendia em
lazer. [...]
Na medida em que a mecanização nivelava por baixo a
habilidade necessária dos trabalhadores, tornava-se possível incorporar, com
facilidade, trabalho feminino e infantil. Isso significava também baixar o
custo da remuneração do trabalho.
A tecelagem exigia pouca força muscular e os dedos finos
das crianças adaptavam-se, perfeitamente, à tarefa de atar os fios que se
quebravam em meio à trama. Sua debilidade física era garantia de docilidade: as
crianças recebiam apenas entre 1/3 e 1/6 do pagamento dispensado a um homem
adulto e, muitas vezes, recebiam apenas alojamento e alimentação. Os contratos
que prendiam os pequenos trabalhadores à fábrica eram em geral de sete anos. Os
patrões comprometiam-se a dar-lhes formação profissional, educação religiosa e
moral. [...]
As condições da vida desses pequenos trabalhadores de
ambos os sexos eram dantescas. Trabalhavam até 18 horas por dia, sob a
vigilância de um capataz que ganhava por produção. Os acidentes de trabalho
eram frequentes [...]. As faltas eram punidas com castigos terríveis.” ARRUDA,
José Jobson de. A Revolução Industrial. São Paulo: Ática, 1991. p.
68-69.
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