INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS
UNIDOS
A independência dos Estados Unidos começou como uma revolta dos colonos ingleses contra o domínio britânico. Vejamos como isso seu.
A exploração
europeia na América
foi regida pelo exclusivo metropolitano. A metrópole, em busca de uma balança
comercial favorável, detinha o controle das atividades econômicas da colônia.
“Espírito de ’76”, de Archibald Willard (1836-1918)
|
Empenhava-se,
por exemplo, em estimular a cultura de produtos agrícolas tropicais (como cana-de-açúcar,
tabaco etc.) com o objetivo de revendê-los na Europa. Além disso, explorava
riquezas naturais, como minérios (ouro e prata) e plantas nativas (pau-brasil).
Os colonos, por sua vez, eram obrigados a consumir mercadorias trazidas da
Europa, sobretudo produtos manufaturados. A ocupação inglesa na América do
Norte seguiu essa regra apenas na região sul. Ali foram instaladas grandes
fazendas, nas quais se empregava mão de obra escrava no cultivo de produtos tropicais
destinados à exportação.
A
principal exceção ficou por conta da parte norte da colônia. Com poucos
atrativos para a metrópole, pois o clima era semelhante ao europeu, nessa
região surgiram núcleos coloniais com relativa independência. Fundados por
europeus, majoritariamente ingleses, que fugiam de perseguições religiosas em
seus países, a base de sua ocupação foi a pequena propriedade. Sem controle rígido,
esses colonos acabaram criando organizações políticas próprias e mantendo
intenso comércio com outras regiões, além de desenvolver um incipiente processo
de industrialização.
Essa
situação alterou-se na segunda metade do século XVIII, sobretudo após a Guerra
dos Sete anos (1756-1763), entre a Inglaterra e a França. O conflito terminou
com a vitória da Grã-Bretanha, que se apoderou de vários territórios na América
do Norte e na Índia, tornando-se a maior potência marítima e colonial da época.
O
governo inglês considerou que os colonos tinham sido beneficiados pela guerra
e, por isso, deviam ajudar a pagar os gastos com a Guerra dos Sete Anos. Com
essa justificativa, os britânicos decidiram intensificar a exploração colonial,
tentando impor alguns impostos.
Com
as mudanças, os colonos se deram conta de que seus interesses eram muito
diferentes dos interesses da metrópole. Essa tomada de consciência recebeu influência
direta das ideias iluministas que chegavam à América trazidas por jornais,
livros, viajantes e pelos jovens que iam estudar na Europa.
1. Os
colonos se rebelam
O
primeiro passo na ampliação da exploração inglesa sobre suas colônias
norte-americanas ocorreu em 1763, quando o rei Jorge III proibiu os colonos
ingleses na América de ocupar as terras do interior do continente, localizadas
a oeste das Treze Colônias, nos vales dos rios Ohio e Mississipi. Essa área,
tomada da França ao final da Guerra dos Sete Anos, foi declarada propriedade da
Coroa e tornou-se reserva indígena, contrariando as expectativas dos colonos,
que esperavam poder se expandir nessa direção.
O
segundo passo de Jorge III foi impor aos colonos, em 1764, a Lei do Açúcar,
que criava taxas adicionais sobre as importações de vários produtos, entre os
quais o melaço, importado do Caribe e usado na fabricação de rum. O maior
entrave dessa lei era o rigor com que se cobravam os impostos alfandegários, o
que dificultava o contrabando, prática comum entre os colonos.
Em defesa da
liberdade
No
ano seguinte, outra lei se somaria à anterior: a Lei do Selo. Segundo a
nova ordem, os colonos tinham de afixar estampilhas em todos os jornais,
folhetos e em numerosos documentos legais. Como os selos eram ingleses, ao
comprá-los, os colonos transferiam recursos para a metrópole. O rei justificava
essa lei argumentando que, com a guerra, o tesouro britânico havia se esgotado
e os colonos deveriam ajudar a pagar as dívidas, contraídas também a favor dos
interesses deles.
Os
colonos norte-americanos, porém, não aceitaram essas imposições, alegando que a
Lei do Açúcar e a Lei do Selo, na verdade, constituíam impostos disfarçados. Para
eles, o fato de terem se fixado na América não lhes tirava a condição de
cidadãos ingleses, cujo direito fundamental era precisamente o de só aceitar
impostos aprovados por seus representantes no Parlamento. Ora, como os colonos não
eram representados no Parlamento britânico, julgavam que não deviam pagar
impostos votados pelo Poder Legislativo da Grã-Bretanha.
Se governo britânico tivesse aceitado esse argumento, que parecia tão óbvio, a história do mundo poderia ter sido bem diferente do que foi.
Se governo britânico tivesse aceitado esse argumento, que parecia tão óbvio, a história do mundo poderia ter sido bem diferente do que foi.
Entretanto, a atitude inglesa foi outra, o que levou colonos norte-americanos a boicotar as leis
estabelecidas pela metrópole. Diante da forte reação na colônia, o governo
inglês ficou sem saída e suspendeu as duas medidas, mas adotou outras. Uma
delas, de 1773 – conhecida como Lei do Chá –, concedia à Companhia das
Índias Orientais a exclusividade na venda do chá inglês na América. Os colonos
reagiram e promoveram a Festa do Chá, em Boston: um grupo de homens, disfarçados
de indígenas, lançou ao mar o carregamento de chá de três navios da Companhia das
Índias. Em represália, a Inglaterra decretou, em 1774, um conjunto de leis –
chamadas pelos colonos norte-americanos de Leis Intoleráveis –, determinando o
fechamento do porto de Boston e impondo outras medidas que cerceavam a
liberdade dos colonos.
2. A
conquista da independência
A
situação tornou-se insustentável, levando os colonos a se reunirem no Primeiro
Congresso Continental da Filadélfia, realizado no mesmo ano (1774). No
encontro, ficou decidido que os colonos não tolerariam mais nenhuma taxação sem
representação e fariam um boicote econômico irrestrito à Inglaterra.
A
tensão entre os dois lados, que já se arrastava desde 1763, quando as primeiras
medidas restritivas tinham entrado em vigor, desembocou em conflito armado. Os
combates iniciais entre norte-americanos e ingleses aconteceram em abril de
1775. Para enfrentar os poderosos adversários, os colonos contavam com uma
milícia armada, formada por voluntários, que havia se organizado ao longo dos
anos de insatisfação com a metrópole. Em maio do mesmo ano, os colonos
reuniram-se no Segundo Congresso Continental da Filadélfia. Nesse
encontro, decidiram pela separação das colônias da Grã-Bretanha. Finalmente, em
4 de julho de 1776, foi aprovada a Declaração de Independência, redigida
por Thomas Jefferson, com a colaboração de outros políticos do Congresso.
O apoio estrangeiro
A
guerra entre britânicos e colonos estava em franca evolução quando Benjamin Franklin,
um dos integrantes do Segundo Congresso da Filadélfia e colaborador de Jefferson
na Declaração de Independência, foi enviado à Europa para conquistar aliados e
o reconhecimento da causa norte-americana.
França,
Espanha e depois também Holanda dispuseram-se a conceder ajuda aos colonos
ingleses. Para esses países, era uma oportunidade para conseguir uma revanche sobre
a derrota para a Inglaterra na Guerra dos Sete Anos.
A
mais efetiva foi a ajuda francesa, não só com dinheiro e armas, mas com homens.
De fato, muitos franceses se dispuseram a ajudar, entre eles o marquês de La
Fayette, que reuniu um exército e partiu para a América.
Por
meio de um tratado assinado em outubro de 1778, a França comprometeu-se a
colaborar com os Estados Unidos na guerra contra os britânicos.
A
guerra durou até 1781, quando o exército britânico finalmente capitulou. O
acordo de paz foi celebrado em Paris, em 1783. Derrotada, a Grã-Bretanha teve de
fazer concessões aos vitoriosos: cedeu à França alguns territórios nas Antilhas
e na África e entregou a ilha de Minorca e a Flórida à Espanha. A Holanda
recebeu a ilha de Sumatra (hoje pertencente à Indonésia).
Já
em relação aos estadunidenses, o Tratado de Versalhes – assinado em Paris –
reconheceu a independência dos Estados Unidos da América, cujo território a
partir desse momento passou a se estender, para o oeste, até o Mississipi.
3. Os
Estados Unidos da América
A
primeira forma de organização política adotada pela nova nação foi uma
confederação, ou seja, um tipo de organização na qual os diversos estados são
independentes. Entretanto, a ausência de um poder central forte levou a união
com base na confederação a uma situação de crise permanente. Não havia um órgão
executivo que unificasse o país, mas apenas um Congresso que só podia exercer
sua autoridade por intermédio do governo de cada Estado. Não existia nem mesmo uma
moeda única entre as ex-colônias.
Para
resolver esses problemas, o Congresso autorizou a realização de uma convenção
que representasse todos os Estados e votasse uma constituição única para todo o
país. Na convenção, reunida em 1787 na Filadélfia, os Estados concordaram em
abrir mão da independência e da autonomia irrestritas e formar uma união de
estados autônomos (mas não independentes), dirigida por um poder central forte.
Esse arranjo jurídico-político foi definido na Constituição. O país, assim
constituído, passou a se chamar Estados Unidos da América.
O
novo Estado era inovador em muitos aspectos:
•
assumiu a forma de república, e não de monarquia, como acontecia na maioria dos
países europeus da época;
•
adotou o sistema presidencialista;
•
assumiu a forma de federação, o que significa que, embora existisse um governo
central, os Estados-membros conservavam ampla autonomia, podendo tomar decisões
próprias em relação a muitos assuntos;
•
estabeleceu um complexo sistema de divisão e equilíbrio entre o Legislativo, o
Judiciário e o Executivo, conforme a teoria de Montesquieu.
A
independência de uma colônia foi,
por si só, um fato revolucionário, por ser uma coisa completamente nova, e
acabou exercendo uma grande influência sobre os acontecimentos que iriam
ocorrer em seguida na Europa e na América.
Nenhum comentário:
Postar um comentário