EUROPA versus IMPÉRIO OTOMANO
Este texto pretende explicar por que os europeus levaram vantagem sobre o Império Otomano, quando as aparências pareciam indicar o contrário.
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Interesse nas ciências na Europa do século XVI |
Os
muçulmanos construíram um império que permaneceu unificado até meados do século
VIII. Esse império estendia-se da Península Ibérica até a Índia, abarcando todo
o norte da África e o Oriente Médio.
Além
das populações árabes, em seus territórios havia povos de outras etnias, nem
todos convertidos ao islamismo.
Em
750, a dinastia reinante – os Omíadas – foi deposta e a capital do Império
transferida para Damasco. Abder Raman, descendente dos Omíadas, fugiu para a
Península Ibérica. Ali, fundou o Emirado de Córdoba, independente do governo de
Damasco. A partir desse acontecimento, teve início uma série de divisões no
islã, das quais surgiriam inúmeros reinos autônomos, chamados califados,
emirados ou sultanatos, conforme o caso.
Em
meados do século XVI, no período das Grandes Navegações europeias, a religião
islâmica era a mais difundida no mundo. Em compensação, o antigo império
dominado pelos árabes fragmentara-se em dezenas de grandes e pequenos Estados.
Na
Índia, por exemplo, havia um aglomerado de sultanatos minúsculos e principados
comerciais islâmicos.
Seria
com eles que os portugueses negociariam ao chegar com suas caravelas a partir
de 1498. No século XI, os turcos – mais tarde chamados turcos otomanos –
habitavam o Planalto da Anatólia, na atual Turquia, ao lado de outros povos.
Convertidos ao islamismo, formaram um reino independente. Por meio de guerras
de conquista, expandiram seu território e constituíram o maior e mais poderoso
Estado muçulmano.
Em
1453, ocuparam Constantinopla, capital do antigo Império Bizantino. No século
XVII, os domínios do Império Otomano abarcavam toda a Península Balcânica, incluindo
a Grécia, na Europa; o Planalto da Anatólia; a antiga região do Crescente
Fértil; o Egito e o norte da África.
Esse
império chegou a ameaçar a Europa ocidental quando, em 1529, suas tropas
fizeram um cerco a Viena, capital do Reino Austríaco, um dos mais poderosos do
Sacro Império Romano-Germânico.
Por que o Império
Otomano não se antecipou à Europa?
Apesar
de seu poderio, o Império Otomano estava em desvantagem em relação à Europa. Dois aspectos obstruíam seu desenvolvimento social e material.
Um desses fatores consistia na rigidez da estrutura social do Império Otomano,
concebido como um Estado militarista, no qual a administração e a máquina de
governo se confundiam com o exército.
Os
militares ocupavam o topo da hierarquia social. Em seguida, vinha o alto clero
do islã. Bem abaixo deles, agrupavam-se camponeses – muçulmanos ou cristãos – e
escravos. Não existia, portanto, um grupo social dinâmico, formado por pessoas
com poder para expandir seus negócios, papel desempenhado pela burguesia na
Europa.
O
segundo aspecto ligava-se ao desenvolvimento técnico. Na verdade, do ponto de
vista tecnológico, até 1500, o mundo muçulmano esteve bem à frente da Europa.
Em vários campos do conhecimento (matemática, cartografia, medicina) e em
certos aspectos da produção manufatureira, encontrava-francamente na dianteira.
Ao contrário das europeias, suas cidades eram grandes e urbanizadas, e muitas
delas dispunham de bibliotecas e universidades.
Entretanto,
esse desenvolvimento tecnológico não foi suficiente para promover, na economia do
mundo muçulmano, transformações da importância das que ocorriam à mesma época
na Europa ocidental. Na Europa, havia inúmeros reinos competindo entre si,
tanto do ponto de vista militar como econômico. A competição militar estimulou
a indústria naval e a metalurgia do ferro, para a produção de canhões. Já a
competição econômica, orientada pelo mercantilismo, estimulou a acumulação de
riqueza e o surgimento das manufaturas.
Assim,
por volta de 1500, o conhecimento e a técnica europeus já rivalizavam com os
dos muçulmanos.
A
derrota dos turcos otomanos na batalha naval de Lepanto diante dos espanhóis,
em 1571, marcou o enfraquecimento do poder islâmico no mundo moderno.
No
início do século XV, nada fazia crer que os países europeus estavam no caminho
de se tornarem, três séculos depois, líderes econômicos e militares do mundo.
Afinal, a Europa não era mais populosa, nem mais fértil, por exemplo, do que a
China. Muitos dos conhecimentos de matemática, astronomia e química lá difundidos
provinham dos árabes. Seu território limitado ficava sujeito a invasões, como
ocorria, naquele momento, com a expansão dos turcos; além disso, ele estava
dividido em inúmeros pequenos reinos e principados rivais entre si.
Na Europa, uma
espiral de mudanças
O
processo generalizado de transformações ocorridas na Europa ocidental a partir
da Baixa Idade Média estimulou o surgimento de uma mentalidade favorável a
mudanças.
O
surgimento da burguesia, grupo social interessado na expansão de seus negócios,
foi um dos grandes fatores históricos que agilizaram as transformações. Ao
mesmo tempo, os Estados absolutistas, em um ambiente de grande competição e com
o devido apoio dos burgueses, arregimentou os recursos materiais e humanos
disponíveis e necessários ao empreendimento das Grandes Navegações.
Nesse
processo, foram decisivos outros fatores, como o crescimento da população, da
produção manufatureira e do comércio; o avanço da ciência; o desenvolvimento do
sistema de impressão de livros; a formação do Estado moderno; a Reforma
Protestante e a nova orientação adotada pela Igreja Católica – a primeira,
legitimando e estimulando o comércio e a atividade bancária como bem-vistas aos
olhos de Deus; já a segunda, proclamando a expansão da fé cristã pelas regiões
não cristianizadas.
A marca europeia
Diferentemente de muçulmanos e chineses, os
europeus reuniam dois fatores imprescindíveis ao processo expansionista sem
precedentes que inauguraram: tecnologia e ambição (política, econômica,
religiosa). Dispondo dos meios técnicos necessários e, principalmente, impulsionados
pela mentalidade mercantilista, deram início à sua aventura marítima. O que se
seguiu foi a conquista da América, o domínio da África e de regiões asiáticas,
e a escravização e o comércio de seres humanos.
Por meio da chamada exploração colonial,
do domínio – e às vezes extermínio – de populações inteiras, os europeus
conseguiram finalmente alcançar seu objetivo: obter lucros em grande
quantidade. Dessa forma, acumularam riquezas que permitiram aos burgueses empreender
mais e mais negócios e aos governantes aumentar seu poder. Tanto capital
acumulado ajudou a burguesia a preparar o terreno para a sociedade industrial,
que depois lançaria seu domínio por quase todo o mundo.
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