PORTUGAL E BRASIL
NO SÉCULO XVIII
Entre 1750 e 1777, Portugal foi governado
pelo rei Dom José I. Nesse período, a produção aurífera brasileira atingiu o
auge, mas logo depois começou a declinar. Com a mineração, toda a sociedade colonial
passou por profundas transformações. Enquanto isso, Portugal mantinha uma
política de dependência em relação às principais potências europeias, sobretudo
a Inglaterra.
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"O Marquês de Pombal em sua glória". Detalhe de
pintura de Louis-Michel van Loo e Claude Joseph Vernet (1766) |
Ao
assumir o governo, Dom José I nomeou como ministro dos Negócios Estrangeiros
Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro marquês de Pombal. Em pouco tempo Pombal
iria se tornar uma espécie de primeiro-ministro e principal figura do governo
português.
Em
sua gestão, Pombal pôs em prática um vasto programa de reformas, cujo objetivo
era racionalizar a administração sem enfraquecer o poder real. Para atingir
essa meta, o ministro incorporou as novas ideias divulgadas na Europa pelos
iluministas, mas ao mesmo tempo conservou aspectos do absolutismo e da política
mercantilista.
Como
principal ministro do governo, marquês de Pombal cuidou de toda a administração
do Estado português. Trabalhou para fortalecer o poder real, racionalizar a
administração, libertar Portugal da dependência econômica em relação à
Inglaterra e desenvolver a administração colonial.
Durante
seu governo, Pombal enfrentou muitas dificuldades, como a reconstrução de
Lisboa, quase destruída em 1755 por um terremoto que deixou um saldo de 40 mil
mortos. Precisou enfrentar também o declínio da produção de ouro e a queda nos
preços dos principais produtos agrícolas exportados pela colônia americana,
como o açúcar e o tabaco.
1. Pombal
favorece a produção nacional
Apesar
dos problemas, Pombal levou a cabo um ambicioso programa de reformas. Entre
outras realizações, seu governo procurou fortalecer o produtor nacional em
relação à concorrência estrangeira, incrementar o comércio colonial e
incentivar o desenvolvimento das manufaturas. No âmbito dessa política, em 1756
foi criada a Companhia para a Agricultura das Vinhas do Alto Douro, à qual o
ministro concedeu isenção de impostos nas exportações e no comércio com a
colônia. Em 1773, surgia a Companhia Geral das Reais Pescas do Reino do
Algarve, destinada a controlar a pesca no sul de Portugal.
Ao
mesmo tempo, Pombal criou estímulos fiscais para a instalação de pequenas
manufaturas fvoltadas ao mercado interno português, do qual faziam parte também
as colônias. Essa política protecionista englobava medidas que favoreciam a
importação de matérias-primas e encareciam os produtos importados similares aos
de fabricação portuguesa. Como resultado, surgiram no reino centenas de
pequenas manufaturas produtoras dos mais diversos bens.
O
ministro fundou também o Banco Real em 1751 e estabeleceu uma nova estrutura
para administrar a cobrança dos impostos, centralizada pela Real Fazenda de
Lisboa, sob seu controle direto.
2. Pombal
enfrenta a nobreza e os jesuítas
Outras
medidas de impacto adotadas por Pombal tiveram como objetivo a ação reformadora
que se estendeu ainda ao âmbito da política e do Estado. Nesse campo, o primeiro-ministro
empenhou-se no fortalecimento do absolutismo do rei e no combate a setores e
instituições que poderiam enfraquecê-lo. A política repressora e centralizadora
de Pombal fez com que setores da nobreza reagissem, tentando assassinar o rei.
O atentado não chegou a se consumar, mas serviu de pretexto para Pombal prender
grande número de aristocratas, alguns dos quais foram condenados à morte.
Pombal
diminuiu o poder da Igreja, subordinando o Tribunal do Santo Ofício
(Inquisição) ao Estado e, em 1759, expulsou os jesuítas da metrópole e da
colônia, confiscando seus bens, sob a alegação de que a Companhia de Jesus agia
como um poder autônomo dentro do Estado português. Pombal não estava sozinho na
oposição aos jesuítas. Pouco depois, eles foram expulsos também de outros
reinos (Espanha, França e Nápoles). E por fim o próprio papa suprimiu a
Companhia de Jesus.
Na
esfera da educação, Pombal introduziu importantes mudanças no sistema de ensino
do reino e da colônia – que até essa época estava sob a responsabilidade da
Igreja –, passando-o ao controle do Estado. A Universidade de Évora, por
exemplo, pertencente aos jesuítas, foi extinta, e a Universidade de Coimbra
sofreu profunda reforma, sendo totalmente modernizada.
3. Pombal
e o Brasil
Na
visão do governo português, a administração da colônia devia ter sempre como
meta a geração de riquezas para o reino. Esse princípio não mudou sob a
administração de Pombal. O regime de monopólio comercial, por exemplo, não só
se manteve, como foi acentuado para se obter maior eficiência na administração
colonial.
Em
1755 e 1759 foram criadas, respectivamente, a Companhia Geral de Comércio do
Grão-Pará e Maranhão e a Companhia Geral de Comércio de Pernambuco e Paraíba,
empresas monopolistas destinadas a dinamizar as atividades econômicas no norte
e nordeste da colônia. Na região mineira, Pombal instituiu a derrama em
1765, com a finalidade de obrigar os mineradores a pagarem os impostos
atrasados, conforme já vimos.
As
maiores alterações, porém, ocorreram na esfera político-administrativa e na
educação. Em 1759, o regime de capitanias hereditárias foi definitivamente
extinto, com a incorporação de todas elas aos domínios da Coroa portuguesa.
Quatro anos depois, em 1763, a sede do governo-geral da colônia foi transferida
de Salvador para o Rio de Janeiro, cujo crescimento sinalizava o deslocamento do
eixo econômico do nordeste para a região centro-sul.
Com
a expulsão dos jesuítas dos territórios do Império Português, Pombal determinou
que a educação na colônia passasse a ser ministrada por leigos nas chamadas aulas
régias. Até então, o ensino formal estivera a cargo da Igreja. O ministro
regulamentou ainda o funcionamento das missões, afastando os padres de sua
administração, e criou, em 1757, o diretório, órgão composto de homens
de confiança do governo português, cuja função era gerir os antigos
aldeamentos.
Complementando
esse “pacote” de medidas, Pombal procurou dar maior uniformidade cultural à
colônia, proibindo a utilização da língua geral (uma mistura das línguas
nativas com o português) e tornando obrigatório o uso do idioma português.
O RENASCIMENTO AGRÍCOLA
Percebendo que a mineração declinava,
Pombal tomou medidas para favorecer o crescimento e a diversificação das
exportações agrícolas da colônia portuguesa, estimuladas também por uma
conjuntura mundial favorável. Com o início da Revolução Industrial, era cada
vez maior a demanda de matérias-primas na Europa. E, favorecendo a situação dos
colonos luso-brasileiros, as Treze Colônias inglesas da América do Norte e o
Haiti lutavam pela independência. Com isso, suas exportações de algodão e
açúcar para os mercados europeus ficaram momentaneamente prejudicadas,
propiciando à colônia portuguesa a venda desses produtos à Europa.
Diante desse quadro, no final do século
XVIII houve uma revalorização das atividades agrícolas, que estiveram em baixa
por causa da maior importância da mineração. A revalorização agrícola, fenômeno
conhecido como renascimento agrícola, levou a colônia a deter 61% das exportações
do reino. Entre os produtos mais vendidos destacavam-se o açúcar, o fumo e o
algodão.
A partir do final da década de 1780, com o
aumento do consumo internacional, as exportações de açúcar cresceram de forma
significativa. Só para se ter ideia, entre 1790 e 1807, as vendas do produto no
mercado externo dobraram, passando de cerca de 12 mil toneladas para aproximadamente
24 mil toneladas.
Já as exportações de fumo saltaram de 1,6
para 3,0 toneladas entre os anos de 1770 e 1800. Fenômeno semelhante ocorreu
com o algodão, matéria-prima essencial para a indústria têxtil, em plena
expansão na Inglaterra. Por volta de 1800, o algodão brasileiro chegou a
representar 28% das exportações portuguesas para a Europa, contra 54%
atribuídos ao açúcar e 4% ao fumo.
4. Depois
de Pombal
Em
1777, com a morte de Dom José I, subiu ao trono Dona Maria I, que afastou
Pombal do governo. A queda do ministro foi comemorada por todos os opositores,
que finalmente podiam voltar ao poder: ingleses, comerciantes portugueses que não
tinham acesso aos monopólios, nobreza e clero. Com o retorno desses grupos,
muitas das medidas tomadas por Pombal foram anuladas.
Na
colônia portuguesa da América, por exemplo, o governo da metrópole suspendeu o
monopólio das duas companhias de comércio. Em 1785, baixou também um alvará
proibindo a produção manufatureira na colônia, com exceção do fabrico de tecidos
grosseiros para uso dos escravos.
Essa
decisão, ao lado de outras de caráter restritivo, tornava a política colonial
ainda mais rigorosa, o que aumentou o descontentamento dos luso-brasileiros
ante a dominação da Coroa.
5. Tratados
de limites definem o território da colônia
Durante
mais de duzentos anos, a América foi colonizada por diversos países europeus,
apesar de o Tratado de Tordesilhas ter estabelecido no século XV a divisão do
continente entre Portugal e Espanha.
A
partir do fim do século XVI, a linha demarcatória desse tratado foi
constantemente rompida, com os portugueses se expandindo por áreas espanholas,
sobretudo durante o período da União Ibérica.
Ao
longo do século XVIII, porém, por meio da assinatura de vários acordos,
procurou-se fixar os limites entre as colônias europeias na América do Sul.
Em
1713, foi negociado o primeiro Tratado de Utrecht, ao final da Guerra de
Sucessão da Espanha. Pelo acordo, a França abriria mão de suas pretensões no
norte da América portuguesa.
Dois
anos depois, o segundo Tratado de Utrecht determinou que a Espanha entregasse a
Colônia do Sacramento aos portugueses. Apesar desse acordo, os dois reinos
ibéricos continuaram a disputar o domínio da margem oriental do Rio da Prata. Em
1746, Fernando VI tornou-se rei da Espanha e, como era casado com a infanta
portuguesa Dona Maria Bárbara, foi possível chegar a um consenso que levou os
dois reinos a assinar, em 1750, o Tratado de Madri.
Do
lado português, o diplomata Alexandre de Gusmão encarregou-se de conduzir as
negociações, e seus argumentos acabaram prevalecendo. Segundo ele, deviam ser
aceitas como legítimas as terras ocupadas efetivamente tanto por Portugal
quanto pela Espanha. Esse era o princípio do uti possidetis, ita possideatis,
que significa “quem possui de fato deve possuir de direito”.
O
Tratado de Madri concedeu à Espanha o domínio do Rio da Prata. Em compensação,
Portugal recebeu o território dos Sete Povos das Missões, localizado a leste do
Rio Uruguai, no atual Rio Grande do Sul; além disso, teve reconhecidos seus
direitos sobre as regiões da Amazônia e do centro-oeste. As decisões do
tratado, porém, encontraram forte resistência dos guaranis, que se levantaram
em armas na Guerra Guaranítica.
Diante
da resistência dos guaranis em desocupar os Sete Povos das Missões, Portugal se
recusou a tomar posse do território e se negou a devolver a Colônia do
Sacramento à Espanha. Em 1761, o Tratado de Madri acabou sendo anulado pelo
Tratado do Pardo. Para que as fronteiras da região tomassem contornos
definitivos foram necessários dois outros acordos: o Tratado de Santo Ildefonso,
assinado em 1777, pelo qual Portugal cedeu a Colônia do Sacramento e os Sete
Povos das Missões à Espanha, recebendo em contrapartida parte do atual Rio
Grande do Sul e a ilha de Santa Catarina; e, finalmente, o Tratado de Badajoz,
firmado em 1801, segundo o qual foram confirmados o domínio português sobre os
Sete Povos das Missões e a posse definitiva da Colônia do Sacramento pela
Espanha.
A GUERRA GUARANÍTICA
O território dos Sete Povos das Missões, destinado
a Portugal pelo Tratado de Madri, era habitado por guaranis aculturados sob a
administração de jesuítas castelhanos. Nos termos do tratado, todos eles
deveriam abandonar a região e transferir-se para o lado ocidental do Rio
Uruguai para que os portugueses pudessem tomar posse da terra.
Entretanto, os indígenas, liderados pelo
cacique Sepé Tiaraju e com o apoio de jesuítas, recusaram-se a sair do
território e pegaram em armas para resistir às tropas luso-espanholas enviadas
de Buenos Aires e do Rio de Janeiro com o objetivo de enfrentá-los. Em seguida,
entre 1753 e 1756, houve uma sucessão de conflitos, que ficaram conheci dos como
Guerra Guaranítica. Ao final do confronto, as missões foram destruídas e
os indígenas, derrotados, dispersaram-se pela região.
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