sábado, 24 de fevereiro de 2018


NAPOLEÃO   BONAPARTE



  Passados  dez  anos  do  início  da  revolução, a França estava longe da estabilidade política, econômica e social desejada. De um lado, a ordem era perturbada por pressões populares, que exigiam medidas capazes de acabar com a pobreza e a miséria em que vivia grande parte da população do campo e das cidades.
De outro, a burguesia, camada social que havia liderado a revolução, via seus negócios sucumbirem devido às constantes crises econômicas e políticas, e cobrava mudanças no governo. Para completar o cenário, vários países europeus conspiravam e guerreavam para pôr fim ao regime revolucionário na França.

“Napoleão cruzando os Alpes”,
por
Jacques-Louis David, 1800
Em meio a esse caos, desponta vitorioso no campo de batalha um jovem general chamado Napoleão.
Napoleão Bonaparte nasceu na Córsega, em 1769, um ano depois de a ilha ter passado ao domínio da França. Estudou na Academia Militar francesa e conseguiu projeção após O início da Revolução de 1789.
Promovido a general em 1795, aos 26 anos de idade, comandou o exército francês que conquistou a Península Itálica e o Egito entre 1796 e 1797.
Com o respeito e a fama adquiridos nos combates, naquele momento Napoleão representava a alternativa política ideal para solucionar os problemas franceses.
Era visto como herói pela população e considerado líder pela burguesia. Respaldado por tanta popularidade, comandou em 1799 um golpe de Estado contra o Diretório e tomou o poder. Como ainda vigorava o calendário revolucionário, o episódio ficou conhecido como Golpe do 18 Brumário.
Um mês depois de Napoleão assumir o poder, entrou em vigor uma nova Constituição e foi criado o Consulado. Esse órgão substituía o Diretório no governo da França e era constituído por três cônsules.
Napoleão tornou-se primeiro-cônsul e virtual ditador da França. Apoiado pela maior parte da população e investido de amplos poderes, Napoleão procurou restabelecer a ordem interna, reorganizar a administração pública e reduzir a inflação. Com isso, a economia voltou a crescer. Normalizou também as relações com a Igreja, rompidas desde 1790.
Outra medida importante de seu governo foi a criação do Código Civil. Também de Código napoleônico, reunia princípios do Direito romano, das ordens reais e da legislação civil e criminal vigente durante a revolução.
No plano externo, Napoleão conseguiu estabelecer a paz por meio de vitórias militares espetaculares e de hábeis negociações diplomáticas, neutralizando os adversários da França. Ainda no plano externo, um dos pontos altos do governo napoleônico foi o acordo de paz assinado em 1802 com a Inglaterra, que pôs fi m a anos de conflitos, o que aumentou ainda mais seu prestígio.
Em 1804, Napoleão, que dois anos antes tinha-se tornado cônsul vitalício, foi autorizado, por meio de um plebiscito, a assumir o título de imperador.

1. Sob o Império Napoleônico

A paz firmada com a Inglaterra, porém, durou apenas um ano. Em 1803, a Inglaterra formou mais uma coligação contra a França napoleônica – a terceira. Aliou-se à Rússia e à Áustria para combater a França. Em 1805, Napoleão organizou uma grande expedição para invadir o território britânico, mas as forças navais francesas foram derrotadas na Batalha de Trafalgar. Em terra, porém, o exército de Napoleão não teve dificuldade para vencer os russos e os austríacos, em Austerlitz (1806).
As guerras napoleônicas geraram numerosas mudanças no mapa da Europa, como o fim do Sacro Império Romano-Germânico, que existia desde o século X. Em seu lugar, Napoleão instituiu a Confederação do Reno.
Em geral, nas regiões dominadas por Napoleão, acabavam formando-se governos fiéis ao imperador.
Assim, sua área de influência tornava-se cada vez maior.

O Bloqueio Continental
A Grã-Bretanha, por sua vez, continuava sendo o principal oponente da França. Com uma poderosa marinha e uma economia desenvolvida, resistia aos ataques de Napoleão. Tentando minar as forças do maior adversário, Napoleão decretou, em 1806, o Bloqueio Continental, que determinava o fechamento dos portos europeus ao comércio inglês. Com essa medida, ele esperava abalar a economia da Grã-Bretanha para derrotá-la militarmente. Como consequência, o mercado para a burguesia francesa também seria ampliado.

2. O Império Napoleônico em seu apogeu
Com o objetivo de fazer cumprir o bloqueio, Napoleão pôs em prática uma política de intervenções e anexações. Em 1807, ordenou a intervenção militar na Península Ibérica, começando pela Espanha, em cujo trono colocou seu irmão José Bonaparte.
Os espanhóis resistiram à imposição do novo rei e pegaram em armas contra os franceses, mas as forças napoleônicas conseguiram derrotar os espanhóis a um custo altíssimo, enfrentando uma oposição clandestina com táticas de guerrilha.
No mesmo ano, Napoleão decidiu invadir Portugal, aliado da Inglaterra que havia se recusado a aceitar o bloqueio. O país foi ocupado sem dificuldades, mas a família real portuguesa conseguiu escapar, fugindo para a América sob a proteção de navios britânicos.
Além das repercussões na Europa, a invasão napoleônica na península Ibérica teria importantes consequências na América colonial. A queda do rei espanhol acabou sendo o estopim das lutas que conduziriam à independência das colônias da Espanha.
Em 1810, apesar dos problemas na Península Ibérica, os franceses eram os senhores de boa parte da Europa ocidental. A partir dessa época, porém, uma sucessão de obstáculos acabaria levando ao esgotamento do Império Napoleônico. Na própria França, o prestígio de Napoleão estava abalado em algumas camadas sociais em consequência do despotismo do regime e da continuidade das guerras. Não só o número de baixas era grande, mas também milhares de jovens tentavam escapar do serviço militar.

3. A desastrosa invasão da Rússia
Quanto mais se intensificavam as manifestações de oposição, mais o governo recorria à censura aos jornais e aos livros e à repressão policial. Essas medidas aumentavam o descontentamento da maioria dos franceses.
No plano externo, a França não conseguia vencer a resistência dos britânicos, que frequentemente encabeçavam coligações formadas com outros países adversários – como a Áustria e a Prússia – para derrotar o imperador.
O Bloqueio Continental era também cada vez mais desrespeitado. Prova disso é que, em 1810, o czar (imperador) russo rompeu o acordo com a França e promoveu  uma reaproximação com a Inglaterra; em represália, Napoleão e suas tropas invadiram a Rússia em 1812.
Apesar de terem tomado Moscou, os franceses não conseguiram a vitória. Logo na chegada, depararam com a cidade deserta e em chamas, não conseguiram abrigo para descansar nem alimentos para abastecer as tropas e os cavalos famintos. Também não encontraram os inimigos.
Nesse episódio, Napoleão foi pego de surpresa, pois o exército russo havia recorrido à hábil estratégia conhecida como terra arrasada – destruição intencional do local pouco antes da invasão para dificultar a obtenção de suprimentos e forçar a retirada do contingente militar, desse modo impedindo o confronto com o invasor.
A manobra russa representou um desastre para o exército francês. Sem saída, as tropas napoleônicas deixaram a cidade sob rigoroso inverno e, desgastadas, foram aniquiladas pelos ataques realizados à retaguarda, pelo frio e pela fome.
A derrota fortaleceu a Inglaterra e seus aliados. Arruinado, Napoleão teve de renunciar, em 1814, ao trono francês e foi exilado na ilha de Elba. Os vitoriosos ocuparam a França, restabeleceram a monarquia dos Bourbon e conduziram ao trono Luís XVIII, irmão do rei guilhotinado em 1793.
Ao mesmo tempo, os países vitoriosos decidiram se reunir para traçar os destinos da Europa, organizando-se no Congresso de Viena.

4. Napoleão volta ao poder: o governo dos cem dias
O restabelecimento da monarquia dos Bourbon na França foi seguido do retorno dos nobres que haviam fugido do país no início da revolução.
Ao voltar, os exilados tentaram recuperar os antigos direitos e reaver seus bens, o que gerou grande insatisfação popular.
Percebendo que o momento era propício para intervir mais uma vez no cenário político, Napoleão fugiu de Elba e, em março de 1815, retomou o poder. O novo governo durou apenas cem dias.
Napoleão foi definitivamente vencido por uma nova coligação – a última, – que reuniu os exércitos britânico e austríaco na batalha de Waterloo, na Bélgica, em junho de 1815. Feito prisioneiro, dessa vez, os britânicos enviaram Napoleão para um local mais distante: a ilha de Santa Helena, em pleno Oceano Atlântico, onde morreu em maio de 1821.

5. A Restauração
Após a primeira derrota de Napoleão, as nações vencedoras e seus aliados reuniram-se no Congresso de Viena, na Áustria, com o objetivo de decidir os destinos da Europa, refazer o mapa do continente e restabelecer os governos anteriores à revolução. O congresso, porém, foi temporariamente suspenso durante os cem dias de governo de Napoleão.
Depois de retomados os encontros, a Rússia, a Áustria e a Prússia criaram a Santa Aliança, uma força militar formada pelos exércitos monárquicos para garantir a ordem no continente e também nas colônias europeias. Na verdade, tratava-se de uma tentativa de voltar à situação anterior a 1789.
Apesar de o cenário recomposto pelo Congresso de Viena ter recebido o nome deRestauração, a Europa já não era a mesma dos tempos do Antigo Regime. Os governantes, por exemplo, foram obrigados a adotar constituições. De todo modo, a “nova ordem” ignorava os anseios propagados pelas revoluções burguesas e, justamente por essa razão, não conseguiria durar muito tempo. No decorrer do século XIX, uma nova onda de revoluções iria varrer a Europa, derrubando governantes de vários países.

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