sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018


REVOLUÇÃO  INDUSTRIAL


  A Revolução  Industrial  foi  o  resultado de um longo processo de mudanças que teve início na Baixa Idade Média, com o renascimento das cidades e do comércio na Europa ocidental. A partir desse momento, ganharam importância cada vez maior as noções de lucro e de produtividade, fundamentais para o desenvolvimento de uma mentalidade voltada para o enriquecimento e para a acumulação: a mentalidade empresarial capitalista.

Máquina a vapor patenteada em 1769 por James Watt.
Com as Grandes Navegações, entre os séculos XV e XVI, as atividades econômicas se expandiram.

Controlando vastos territórios em quase todo o mundo, os europeus passaram a explorar o comércio em proporções mundiais, levando para seu continente riquezas que seriam aplicadas na fabricação de produtos destinados a alimentar um mercado cada vez maior.




1. O sistema doméstico
As próprias formas de produção de mercadorias na Europa acabaram por se transformar. Para atender à demanda crescente, surgiram métodos mais eficientes de produzir. Com isso, as antigas corporações de ofício se enfraqueceram e perderam importância. Elas foram, gradativamente, substituídas pela produção manufatureira. Os artesãos trabalhavam em suas próprias casas por encomenda. Por isso esse modo de produção é também chamado de sistema doméstico. Essa nova forma de produção era dirigida por um comerciante que controlava o trabalho de vários artesãos, fornecendo a matéria-prima e as ferramentas necessárias e, como pagamento, recebiam um salário.
A partir de meados do século XVIII, alguns comerciantes perceberam que podiam aumentar ainda mais a produção e os lucros. E, em vez de espalhar ferramentas e matérias-primas entre os artesãos do sistema doméstico, passaram a reuni-los em um mesmo local para trabalhar: assim surgiram as fábricas, ou o sistema fabril, com a substituição das ferramentas artesanais pelas máquinas.
As fábricas trouxeram muitas vantagens aos empresários. Ficou mais fácil controlar a produção, pois era possível, por exemplo, reduzir a perda de matérias-primas e ao mesmo tempo fiscalizar de perto a qualidade do produto. A fábrica possibilitou ainda incrementar a produtividade, ao tornar mais eficaz o controle sobre a velocidade e o ritmo do trabalhador. Além disso, a produção foi reorganizada. A fabricação de cada mercadoria passou a ser dividida em várias etapas, em um processo conhecido como produção em série. Concentrado em uma única atividade, o trabalhador especializava-se e aumentava a produção.
Essas características acabaram influindo no custo final do produto. Com mercadorias produzidas por meios mais baratos, era possível aumentar a margem de lucro e o mercado consumidor.

2. Mudanças causadas pelas fábricas
As fábricas são um dos símbolos mais visíveis da Revolução Industrial. Elas modificaram as sociedades de forma definitiva: além de introduzir a produção em série de mercadorias – uma inovação no sistema produtivo –, alteraram as relações de trabalho e a paisagem.
Foram as fábricas as principais responsáveis pelo desenvolvimento das grandes cidades, um novo cenário dominado por chaminés e por multidões de trabalhadores, marcado também por sério desequilíbrio ambiental.
A transformação mais importante no modo de produção, porém, foi causada pelo emprego de máquinas movidas a vapor nas unidades fabris, o que assinalou a passagem da produção artesanal domiciliar para a produção em grande escala. Multiplicando o trabalho humano, as máquinas ampliaram ainda mais a produção de mercadorias. Assim, surgiram as indústrias modernas, reunindo centenas de trabalhadores.

3. A revolução industrial e o trabalhador
Para o trabalhador, esse processo significou a perda gradual do controle de suas atividades. Na época das corporações de ofício, ele era dono de suas ferramentas e senhor de seu ritmo de trabalho. Na manufatura, sem suas ferramentas e matérias-primas, tornou-se dependente do comerciante, mas ainda exercia controle sobre seu trabalho.
No sistema fabril, esse controle passou a ser feito por técnicos, sob o comando dos empresários.
A atividade do trabalhador tornou-se apenas parte da produção geral, e ele perdeu o domínio sobre o produto final de seu trabalho.

4. O pioneirismo da Inglaterra
A Inglaterra foi o primeiro país a reunir as condições necessárias para o desenvolvimento do sistema fabril. Entre os numerosos aspectos que favoreceram esse processo, é possível destacar:

1) O controle de vasto mercado consumidor: as Grandes Navegações, como vimos, possibilitaram a criação de um mercado mundial em constante expansão. Entre os séculos XVII e XVIII, os ingleses conquistaram a hegemonia desse mercado à medida que suplantaram a concorrência com a Espanha, a Holanda e a França.
O comércio inglês ampliou-se também no plano interno. Durante o século XVIII, a população da Inglaterra cresceu muito, tornando maiores a oferta de mão de obra e o mercado consumidor.
A ampliação do mercado, por sua vez, estimulou o aumento da produção, criando condições favoráveis à invenção e ao aperfeiçoamento de novas técnicas capazes de intensificar a produtividade do trabalho humano.

2) O pioneirismo inglês, importante para a acumulação de capital: entende-se por capital todos os recursos utilizados com o objetivo de se obter lucro (dinheiro e equipamentos, por exemplo). Os países que mais concentraram capital na Europa, a partir das Grandes Navegações, foram a Inglaterra, a Holanda e a França, todos ligados ao comércio marítimo, ao tráfico negreiro e à exploração colonial. A abundância de capital e a perspectiva de lucros estimulavam a produção e a ampliação dos negócios.

3) A disponibilidade de mão de obra: desde o século XVII, existia na Inglaterra um grande contingente de mão de obra formado principalmente por camponeses expulsos da terra. O principal motivo para essa expulsão foi a demanda por lã para abastecer a produção de tecidos. Para atender a essa demanda, os senhores de terra britânicos fizeram o cercamento de áreas antes utilizadas coletivamente pelos camponeses. Novas técnicas agrícolas, além da diversificação das plantações, também contribuíram para a transformação das atividades do campo na Inglaterra, elevando a produção e direcionando o excedente para o comércio exterior.
Com a mudança, as relações de trabalho no campo foram também modificadas e os trabalhadores servis foram substituídos pela mão de obra assalariada. Essa revolução agrícola reduziu o número de trabalhadores rurais, e os camponeses, sem terra para trabalhar, tiveram de procurar outras atividades nos emergentes centros urbanos, tornando-se mão de obra abundante para as fábricas. Muitos artesãos, não podendo competir com a produção fabril, transformaram-se também, após muita resistência, em trabalhadores assalariados. A existência de trabalhadores procurando trabalho é o que se chama mercado de trabalho.

Outros fatores: na segunda metade do século XVIII, a Inglaterra apresentava ainda outras características que explicam seu pioneirismo na Revolução Industrial, como um sistema bancário eficiente; disponibilidade de matérias-primas, como carvão e minério de ferro; um grupo social formado por empresários empenhados no desenvolvimento econômico (a burguesia); uma ideologia  que valorizava o trabalho e o enriquecimento (calvinismo).

5. Uma espiral de invenções
Na Inglaterra, por uma série de razões, a produção de tecidos, foi um dos primeiros setores a desenvolver o sistema fabril, com forte mecanização. Para começar, a produção de tecidos de algodão não era controlada pelas corporações de ofício, o que permitiu mudanças mais rápidas na forma de fabricar o produto. Outro aspecto importante foi o preço do tecido de algodão: por ser mais barato que a lã ou a seda, seu mercado expandiu-se rapidamente. Em apenas vinte anos (entre 1750 e 1770), as exportações inglesas de tecido de algodão aumentaram dez vezes.
Até essa época, o produto comercializado pelos britânicos vinha da Índia, e os principais mercados consumidores eram as colônias, sobretudo nas áreas de grande concentração de trabalhadores escravizados.
Com o tempo, pequenos produtores de tecidos de algodão começaram a se estabelecer perto dos portos britânicos ligados ao comércio colonial. Mas, para competir com o produto indiano, mais barato e de melhor qualidade, precisaram aperfeiçoar os métodos de produção: no começo o problema era o fio, daí os inventores trataram de desenvolver uma máquina de fiar.

James Watt e a máquina a vapor
A máquina a vapor já existia, sendo usada no bombeamento água para fora das minas de carvão. Sua utilidade nas fábricas somente se tornou possível ao ser aperfeiçoada por James Watt, que a patenteou em 1769. O vapor era uma fonte de energia eficiente e oferecia grande vantagem: movidas a vapor, as fábricas não precisavam mais ser construídas perto de rios.

Uma reação em cadeia
O desenvolvimento da indústria têxtil incentivou outros setores. Para fabricar as máquinas, por exemplo, foi preciso melhorar a metalurgia do ferro. Ao mesmo tempo, era possível associar a máquina a vapor a uma locomotiva colocada sobre trilhos, fazendo-a puxar diversos vagões, ou adaptá-la a uma embarcação, dando origem ao navio a vapor.
Portanto, a mecanização iniciada no setor de fiação e tecelagem do algodão provocou uma reação em cadeia, afetando outros setores (transportes, energia, metalurgia, mineração etc.) em um processo abrangente de invenções e aperfeiçoamentos.

6. Consequências da Revolução Industrial
Durante o século XVIII, a Revolução Industrial consistiu em um fenômeno inteiramente inglês. Mas, a partir do século seguinte, começou a se expandir para vários países, provocando grandes transformações na vida das pessoas.
Do ponto de vista da produção, o sistema fabril acabou se consolidando. Com máquinas cada vez mais sofisticadas, a fábrica tornou-se o local adequado para a produção, favorecendo a divisão do trabalho, a regulamentação do horário e da disciplina ao trabalhador, além do aumento da produtividade.
No âmbito social, surgiu o proletariado, classe social formada pelos trabalhadores fabris e de transportes. Devido aos baixos salários, mulheres e crianças também eram obrigadas a trabalhar, recebendo remunerações ainda menores que as dos homens. A Revolução Industrial causou graves consequências na vida dos trabalhadores, pois não havia regras ou limites para o exercício do trabalho. Os donos das fábricas estavam livres para impor salários miseráveis e longas jornadas, que chegavam a dezoito horas diárias.

7. O movimento ludista
Contra essa condição sub-humana, os trabalhadores lutaram de diversas maneiras, resistindo, por exemplo, à mecanização crescente da produção, considerada responsável pelo desemprego.
Um dos episódios que retrata bem a situação nessa época foi a constante destruição de máquinas pelos trabalhadores, principalmente entre 1811 e 1812, forma de protesto que ficou conhecida como ludismo.
As ações de protesto contra as máquinas inventadas para economizar mão de obra já vinham acontecendo na Grã-Bretanha havia muito tempo. Mas foi em 1811 que explodiu uma forma mais radical de protesto, o movimento ludista (nome derivado de Ned Ludd, que teria sido um de seus líderes). Os ludistas invadiam as fábricas e destruíam a maquinaria, que não só tirava o trabalho dos artesãos como impunha aos operários condições desumanas de trabalho. Os integrantes do movimento sofreram dura repressão e foram condenados à prisão, à deportação e até à forca.
Alguns anos depois, os operários britânicos adotaram métodos mais eficazes  e luta.
Ao longo do século XIX, os trabalhadores acabariam se organizando e usando a força de sua classe profissional para reivindicar melhores condições de trabalho e defender seus direitos.

O trabalho infantil nas fábricas

A seguir, trechos do texto do historiador brasileiro José Jobson de Arruda, que trata das condições de vida das crianças que trabalhavam nas fábricas na época da Revolução Industrial.
“Durante a Revolução Industrial, a vida nas fábricas era odiosa; a disciplina, intolerável. Anteriormente, o trabalhador artesanal ou doméstico era dono não apenas dos meios de produção, mas também de seu tempo. Trabalhava apenas para garantir a sua sobrevivência, o restante do tempo dispendia em lazer. [...]
Na medida em que a mecanização nivelava por baixo a habilidade necessária dos trabalhadores, tornava-se possível incorporar, com facilidade, trabalho feminino e infantil. Isso significava também baixar o custo da remuneração do trabalho.
A tecelagem exigia pouca força muscular e os dedos finos das crianças adaptavam-se, perfeitamente, à tarefa de atar os fios que se quebravam em meio à trama. Sua debilidade física era garantia de docilidade: as crianças recebiam apenas entre 1/3 e 1/6 do pagamento dispensado a um homem adulto e, muitas vezes, recebiam apenas alojamento e alimentação. Os contratos que prendiam os pequenos trabalhadores à fábrica eram em geral de sete anos. Os patrões comprometiam-se a dar-lhes formação profissional, educação religiosa e moral. [...]
As condições da vida desses pequenos trabalhadores de ambos os sexos eram dantescas. Trabalhavam até 18 horas por dia, sob a vigilância de um capataz que ganhava por produção. Os acidentes de trabalho eram frequentes [...]. As faltas eram punidas com castigos terríveis.” ARRUDA, José Jobson de. A Revolução Industrial. São Paulo: Ática, 1991. p. 68-69.

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