sábado, 3 de fevereiro de 2018

EUROPA  versus  IMPÉRIO  OTOMANO


Este texto pretende explicar por que os europeus levaram vantagem sobre o Império Otomano, quando as aparências pareciam indicar o contrário.
Interesse nas ciências na Europa do século XVI 
Os muçulmanos construíram um império que permaneceu unificado até meados do século VIII. Esse império estendia-se da Península Ibérica até a Índia, abarcando todo o norte da África e o Oriente Médio.
Além das populações árabes, em seus territórios havia povos de outras etnias, nem todos convertidos ao islamismo.
Em 750, a dinastia reinante – os Omíadas – foi deposta e a capital do Império transferida para Damasco. Abder Raman, descendente dos Omíadas, fugiu para a Península Ibérica. Ali, fundou o Emirado de Córdoba, independente do governo de Damasco. A partir desse acontecimento, teve início uma série de divisões no islã, das quais surgiriam inúmeros reinos autônomos, chamados califados, emirados ou sultanatos, conforme o caso.
Em meados do século XVI, no período das Grandes Navegações europeias, a religião islâmica era a mais difundida no mundo. Em compensação, o antigo império dominado pelos árabes fragmentara-se em dezenas de grandes e pequenos Estados.
Na Índia, por exemplo, havia um aglomerado de sultanatos minúsculos e principados comerciais islâmicos.
Seria com eles que os portugueses negociariam ao chegar com suas caravelas a partir de 1498. No século XI, os turcos – mais tarde chamados turcos otomanos – habitavam o Planalto da Anatólia, na atual Turquia, ao lado de outros povos. Convertidos ao islamismo, formaram um reino independente. Por meio de guerras de conquista, expandiram seu território e constituíram o maior e mais poderoso Estado muçulmano.
Em 1453, ocuparam Constantinopla, capital do antigo Império Bizantino. No século XVII, os domínios do Império Otomano abarcavam toda a Península Balcânica, incluindo a Grécia, na Europa; o Planalto da Anatólia; a antiga região do Crescente Fértil; o Egito e o norte da África.
Esse império chegou a ameaçar a Europa ocidental quando, em 1529, suas tropas fizeram um cerco a Viena, capital do Reino Austríaco, um dos mais poderosos do Sacro Império Romano-Germânico.

Por que o Império Otomano não se antecipou à Europa?

Apesar de seu poderio, o Império Otomano estava em desvantagem em relação à Europa. Dois aspectos obstruíam seu desenvolvimento social e material.

Um desses fatores consistia na rigidez da estrutura social do Império Otomano, concebido como um Estado militarista, no qual a administração e a máquina de governo se confundiam com o exército.
Os militares ocupavam o topo da hierarquia social. Em seguida, vinha o alto clero do islã. Bem abaixo deles, agrupavam-se camponeses – muçulmanos ou cristãos – e escravos. Não existia, portanto, um grupo social dinâmico, formado por pessoas com poder para expandir seus negócios, papel desempenhado pela burguesia na Europa.

O segundo aspecto ligava-se ao desenvolvimento técnico. Na verdade, do ponto de vista tecnológico, até 1500, o mundo muçulmano esteve bem à frente da Europa. Em vários campos do conhecimento (matemática, cartografia, medicina) e em certos aspectos da produção manufatureira, encontrava-francamente na dianteira. Ao contrário das europeias, suas cidades eram grandes e urbanizadas, e muitas delas dispunham de bibliotecas e universidades.
Entretanto, esse desenvolvimento tecnológico não foi suficiente para promover, na economia do mundo muçulmano, transformações da importância das que ocorriam à mesma época na Europa ocidental. Na Europa, havia inúmeros reinos competindo entre si, tanto do ponto de vista militar como econômico. A competição militar estimulou a indústria naval e a metalurgia do ferro, para a produção de canhões. Já a competição econômica, orientada pelo mercantilismo, estimulou a acumulação de riqueza e o surgimento das manufaturas.

Assim, por volta de 1500, o conhecimento e a técnica europeus já rivalizavam com os dos muçulmanos.

A derrota dos turcos otomanos na batalha naval de Lepanto diante dos espanhóis, em 1571, marcou o enfraquecimento do poder islâmico no mundo moderno.

No início do século XV, nada fazia crer que os países europeus estavam no caminho de se tornarem, três séculos depois, líderes econômicos e militares do mundo. Afinal, a Europa não era mais populosa, nem mais fértil, por exemplo, do que a China. Muitos dos conhecimentos de matemática, astronomia e química lá difundidos provinham dos árabes. Seu território limitado ficava sujeito a invasões, como ocorria, naquele momento, com a expansão dos turcos; além disso, ele estava dividido em inúmeros pequenos reinos e principados rivais entre si.

Na Europa, uma espiral de mudanças
O processo generalizado de transformações ocorridas na Europa ocidental a partir da Baixa Idade Média estimulou o surgimento de uma mentalidade favorável a mudanças.

O surgimento da burguesia, grupo social interessado na expansão de seus negócios, foi um dos grandes fatores históricos que agilizaram as transformações. Ao mesmo tempo, os Estados absolutistas, em um ambiente de grande competição e com o devido apoio dos burgueses, arregimentou os recursos materiais e humanos disponíveis e necessários ao empreendimento das Grandes Navegações.

Nesse processo, foram decisivos outros fatores, como o crescimento da população, da produção manufatureira e do comércio; o avanço da ciência; o desenvolvimento do sistema de impressão de livros; a formação do Estado moderno; a Reforma Protestante e a nova orientação adotada pela Igreja Católica – a primeira, legitimando e estimulando o comércio e a atividade bancária como bem-vistas aos olhos de Deus; já a segunda, proclamando a expansão da fé cristã pelas regiões não cristianizadas.


A marca europeia

Diferentemente de muçulmanos e chineses, os europeus reuniam dois fatores imprescindíveis ao processo expansionista sem precedentes que inauguraram: tecnologia e ambição (política, econômica, religiosa). Dispondo dos meios técnicos necessários e, principalmente, impulsionados pela mentalidade mercantilista, deram início à sua aventura marítima. O que se seguiu foi a conquista da América, o domínio da África e de regiões asiáticas, e a escravização e o comércio de seres humanos.
Por meio da chamada exploração colonial, do domínio – e às vezes extermínio – de populações inteiras, os europeus conseguiram finalmente alcançar seu objetivo: obter lucros em grande quantidade. Dessa forma, acumularam riquezas que permitiram aos burgueses empreender mais e mais negócios e aos governantes aumentar seu poder. Tanto capital acumulado ajudou a burguesia a preparar o terreno para a sociedade industrial, que depois lançaria seu domínio por quase todo o mundo.

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