A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
Os acontecimentos históricos nunca acontecem de uma hora
para a outra. Sempre exigem um certo tempo de evolução e de amadurecimento. É
por isso que, quando o Marechal Deodoro e seus companheiros proclamaram a
República, em 1889, esse ideal já era antigo de pelo menos um século no Brasil.
1. A idéia
republicana no Brasil
Podemos, efetivamente, localizar as primeiras manifestações
do ideal republicano no país ainda no final do século XVIII, nos primeiros
movimentos de Independência, a saber, a Inconfidência Mineira e a Conjuração
Baiana. Posteriormente, foi retomado em muitas revoltas e revoluções ocorridas
em diversas partes do Brasil. A última delas foi a Revolução Praieira, ocorrida
em Pernambuco, em 1848.
Mas, por volta de 1850, com a estabilização econômica e
política do país, o regime monárquico, dirigido pelo imperador D. Pedro II,
consolidou-se e a idéia republicana foi posta de lado.
Vinte anos depois, ao final da Guerra do Paraguai
(1864-1870), foi lançado, no Rio de Janeiro, o Manifesto Republicano, dando início a uma campanha pela introdução da nova forma
de governo. O Manifesto Republicano contava com 58 (ou 57, segundo alguns)
assinaturas e foi publicado pelo jornal A
República, no dia 3 de dezembro de 1870.
Nesse documento, os republicanos:
Nesse documento, os republicanos:
a) condenavam a manutenção dos privilégios (de religião, de
raça, etc.), isto é, “de todas as distinções arbitrárias e odiosas”, criadoras
de desigualdades sociais.
b) responsabilizavam a Monarquia pelas guerras em que o país
havia se envolvido.
c) criticavam a centralização político-administrativa,
responsabilizando-a por todos os males do país.
d) propunham justamente o contrário, isto é, a descentalização
(federalismo), que estivera presente em todas os movimentos revolucionários
ocorridos no Brasil.
e) responsabilizavam a Monarquia pela falta de democracia e
pelo atraso do Brasil.
E concluíam, afirmando: “Somos da América e queremos ser americanos”, referindo-se ao fato
de o Brasil ser a única Monarquia no continente. O Manifesto teve importante
papel histórico, ao desencadear, pela primeira vez no Brasil, uma campanha
republicana. Em seguida ao Manifesto, foi fundado, em 1871, no Rio de Janeiro,
o Partido Republicano. Nos anos seguintes,
surgiram clubes e jornais republicanos em quase todas as províncias. Mas foi na
Província de São Paulo, na Convenção de Itu (1873), que nasceria o mais forte
de todos, o Partido Republicano Paulista (PRP). Sua força
decorria do fato de que ele reunia elementos da poderosa classe dos
cafeicultores do Oeste paulista.
Figura 1. Convenção de
Itu, 1873.
O movimento republicano, embora de maneira lenta,
difundiu-se pelo país, principalmente junto à população urbana, à medida que
cresciam as cidades. A nascente classe média urbana via na República uma forma
de ter direito de voto e de poder participar da vida política do país. O
progresso da campanha republicana foi favorecido pelo desgaste da Monarquia
perante três setores importantes: a Igreja, os donos de escravos e os
militares.
1) O problema com a Igreja, conhecido como Questão Religiosa, resultou de um conflito entre o governo e dois bispos católicos que, por desobediência às leis do Império, chegaram a ser presos e condenados (embora tenham sido, em seguida, anistiados). Esse conflito mostrava a inconveniência da união entre Igreja e Estado, que o Império fazia questão de conservar. E favorecia a causa dos republicanos, que tinham em seu programa a separação entre a Igreja e o Estado.
2) O conflito com os donos de escravos teve a ver com a aprovação da Lei Áurea (13/5/1888), que aboliu a escravidão, sem indenização para os proprietários. Muitos senhores, particularmente os do Vale do Paraíba, foram à falência e perderam suas terras hipotecadas. Descontentes, esses senhores desinteressaram-se da Monarquia. E até houve aqueles que aderiram ao movimento republicano; são os chamados “republicanos de 14 de maio”.
1) O problema com a Igreja, conhecido como Questão Religiosa, resultou de um conflito entre o governo e dois bispos católicos que, por desobediência às leis do Império, chegaram a ser presos e condenados (embora tenham sido, em seguida, anistiados). Esse conflito mostrava a inconveniência da união entre Igreja e Estado, que o Império fazia questão de conservar. E favorecia a causa dos republicanos, que tinham em seu programa a separação entre a Igreja e o Estado.
2) O conflito com os donos de escravos teve a ver com a aprovação da Lei Áurea (13/5/1888), que aboliu a escravidão, sem indenização para os proprietários. Muitos senhores, particularmente os do Vale do Paraíba, foram à falência e perderam suas terras hipotecadas. Descontentes, esses senhores desinteressaram-se da Monarquia. E até houve aqueles que aderiram ao movimento republicano; são os chamados “republicanos de 14 de maio”.
3) O conflito com os militares é muito mais importante por suas conseqüências posteriores. Conhecido por Questão Militar, o conflito consistiu numa série de atritos entre o governo monárquico e alguns militares graduados (tenente-coronel Sena Madureira, o capitão Cunha Matos e o marechal Deodoro da Fonseca, entre outros). A Questão Militar originava-se de três tipos de problemas.
I - O primeiro foi o fortalecimento do exército, a partir da Guerra do Paraguai (1864-1870). Até esse momento, essa força militar tinha pouco prestígio, menos do que a Guarda Nacional ou do que a Marinha. Mas durante a longa guerra contra o Paraguai, o Exército foi bem organizado e cresceu em número e prestígio. Com isso, os militares ganharam um novo status. Criaram o chamado “espírito de corpo”, isto é, uma mentalidade de que formavam um grupo com valores e objetivos próprios. Os militares passaram a achar que os civis, apegados aos interesses materiais, não eram os melhores para cuidar dos interesses da pátria. A partir daí, nascia a idéia da “missão salvadora” dos “cidadãos fardados”, que justificava a intervenção militar na vida política do país.
II - O segundo foi a difusão do positivismo entre o militares, feita por um pequeno grupo, liderado
pelo coronel Benjamim Constant Botelho de Magalhães. Essa propaganda era feita na Escola Militar, do Rio de Janeiro,
responsável pela formação da oficialidade do exército.
III - O terceiro problema era constituído pelas queixas corporativas dos militares, tais como baixos soldos, demora nas promoções, ausência de pensões para os mutilados, viúvas e órfãos da guerra do Paraguai.[1]
Para agravar as coisas, muitos políticos do Império, e o próprio imperador, nunca revelaram simpatia pelo militarismo e nem viam necessidade de um exército forte em tempos de paz.
Essa sucessão de problemas - o atrito com a Igreja, com os
militares, com os donos de escravos e o movimento republicano - fez com que,
aos poucos, a Monarquia fosse perdendo apoios e ficando cada vez mais isolada.
Por causa disso, o governo imperial sentiu que precisava fazer mudanças, como
forma de esvaziar a propaganda republicana e nomeou, em junho de 1889, AfonsoCelso de Assis Figueiredo, um político moderado do Partido Liberal, para o
cargo de presidente do Conselho de Ministros.
O novo ministro, mais conhecido pelo título de nobreza,
visconde de Ouro Preto, apresentou à Câmara dos Deputados um amplo programa de
reformas que previa a liberdade religiosa, autonomia para as províncias, fim do
caráter vitalício do Senado, liberdade de ensino, aumento do crédito para a
produção, entre outras. Acreditava que, com essas mudanças, pudesse anular a
pregação dos republicanos. De fato, a historiadora Emília Viotti da Costa conta
que, ao conhecer as reformas propostas por Ouro Preto, um deputado exclamou: “É o começo da República”. Ao que lhe
respondeu o ministro: “Não, é a inutilização
da República”.[2]
Porém, a Câmara dos Deputados não aprovou as reformas
propostas. Diante disso, o imperador, usando o Poder Moderador, dissolveu-a e
convocou novas eleições. Esperava que a nova Câmara, que deveria reunir-se no
dia 20 de novembro, compreendesse a necessidade das mudanças e as aprovasse.
Mas... a República chegou antes!
Os planos de Ouro Preto foram frustrados pelos republicanos
que, nessa época, tramavam um golpe contra a Monarquia. O Clube Militar,
reunido nos dias 8 e 9 de novembro de 1889, sob a presidência de Benjamim
Constant, iniciou articulações tendo em vista a derrubada da Monarquia, no que
foi logo apoiado por civis republicanos. No dia 11, numa reunião realizada na
casa do Marechal Deodoro, este aceitou chefiar a revolta. Seu apoio era
importante, pois era o oficial de maior prestígio no Exército. Na reunião
estavam presentes os militares Benjamim Constant e o Major Solon, e os civis
Quintino Bocaiúva, Aristides Lobo, Rui Barbosa e Francisco Glicério.
A revolta militar começou na madrugada do dia 15. Deodoro
colocou-se no comando do movimento, embora estivesse adoentado. Com alguma
dificuldade, montou em um cavalo e se dirigiu, com as tropas que se haviam
revoltado, para o Quartel-General, onde se haviam refugiado Ouro Preto e outros
ministros. Não houve resistência: o marechal Floriano Peixoto, que deveria
defender o governo, recusou-se a obedecer as ordens de atirar contra os
revoltosos. Suas tropas se confraternizaram com as de Deodoro, e este declarou
deposto o Ministério. Pouco depois, a Marinha manifestou seu apoio ao golpe,
através do almirante Eduardo Wandenkolk.
D. Pedro II, ao saber dos fatos, deixou Petrópolis, onde
residia a maior parte do tempo e desceu para a cidade do Rio de Janeiro. Ainda
tentou contornar a situação, com a formação de um novo ministério. Mas foi
inútil. A Monarquia deixara de existir. De fato, naquela mesma tarde, na Câmara
Municipal do Rio de Janeiro, foi proclamada a República. E, à noite, os líderes
republicanos se reuniram e organizaram o Governo Provisório.
Ao longo de todos esses anos, a República brasileira teve
uma vida política bastante tumultuada, apresentando momentos de continuidade e
de descontinuidade. Com base nesses momentos, podemos estabelecer a seguinte
cronologia desse período:
Cronologia do período republicano:
1889-1930
|
República
Velha, que dividimos em:
1889-1894 - República da Espada
1894-1930 - República Oligárquica
|
1930-1945
|
Governo Vargas
|
1945-1964
|
República Democrática/Populista
|
1964-1985
|
Regime Militar
|
1985- ...
|
O Brasil Contemporâneo
|
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