MARÍLIA E DIRCEU: Uma história de amor na terra do ouro
Ela, Maria Dorotéa Joaquina de
Seixas, era uma jovem de rara beleza, pertencente a uma rica família mineira. Na
flor de seus 15 anos, conquistou arrebatadoramente o coração de um digno
magistrado de trinta e oito anos de idade.
Ele, Tomás Antônio Gonzaga, havia
nascido em Portugal, na cidade do Porto, em 1744, de pais brasileiros. Aos
dezenove anos, tornou-se doutor em Direito pela Universidade de Coimbra e por
algum tempo, exerceu a magistratura em Portugal antes de viajar para o Brasil.
Em 1782, foi nomeado Ouvidor de Ouro Preto, uma espécie de Juiz de Direito da
Vila. Logo ao chegar conheceu Maria Dorotéa e por ela foi tomado de súbita paixão,
revelando-a em versos:
Mal vi o teu rosto,
Meu sangue gelou-se
E a língua prendeu-se;
Das faces a cor.
Chamou-a Marília, e Dirceu a si próprio.
Dorotéa tornou-se conhecida como a Marília de Dirceu. Ela era órfã e vivia com
os tios em Ouro Preto. Costumava visitar uma tia, que era vizinha de Gonzaga, e
ali passava longos dias. Gonzaga a espreitava de sua janela:
Quando apareces
Na madrugada,
Mal embrulhada
Na larga roupa,
E desgrenhada
Sem fita ou flor:
Ah que então brilha
A natureza:
Então se mostra
Tua beleza
Inda maior.
A família dela se opunha ao
namoro. Mas o tempo e a persistência finalmente venceram as barreiras e o
casamento foi marcado para 30 de maio de 1789.
![]() |
Imagem idealizada de Maria Dorotéa. |
Conforme o costume da época, ele
borda o vestido da noiva. Usa fios de ouro.
Mas o casamento não chegou a
realizar-se. Uma semana antes do dia longamente esperado, Gonzaga foi preso.
Estava implicado na Inconfidência Mineira. Nunca mais voltaria a ver Dorotéa.
Levado para o Rio de Janeiro, Gonzaga foi ali mantido incomunicável até o
julgamento, que só se deu em 1792. Os juízes portugueses entenderam que ele devia
ser punido. Sua pena: foi condenado ao exílio em Moçambique, colônia portuguesa
na África.
Em Moçambique, esteve por algum
tempo doente. Durante o período de enfermidade, recebeu os cuidados de uma
jovem, Juliana de Souza Mascarenhas, e com ela se casou em 1793.
Dorotéa, fiel à lembrança do
noivo ausente, nunca se casou. Foi viver na fazenda do pai, e lá permaneceu por
muitos anos. Voltou para Vila Rica em 1815, onde viveu o restante de sua vida. Faleceu
em 1853, aos oitenta e seis anos de idade. Foi enterrada na Matriz de Antônio
Dias de Ouro Preto, a igreja que ela frequentava.
Nenhum comentário:
Postar um comentário