O POVOAMENTO DE MINAS
GERAIS E O SURGIMENTO DAS CIDADES
HISTÓRICAS
A região onde nasceram as cidades históricas já
era, desde há muito, conhecida dos vaqueiros do norte, que subiam o rio São
Francisco formando fazendas. Também era conhecida dos paulistas, que por ali
andaram em busca de metais preciosos ou de índios para capturar. Mas o mérito
de uma exploração mais minuciosa pertence ao bandeirante paulista Fernão DiasPais Leme, que durante sete anos (1674-81) andou por esses sertões à procura de
esmeraldas. Como se sabe, ele não conseguiu encontrar as desejadas esmeraldas,
mas sua expedição foi importante, pois abriu caminhos e nelas plantou roças, e
preparou o terreno para os exploradores que vieram depois.
Fernão Dias Pais Leme |
Os primeiros
achados de ouro ocorreram a partir de 1690, sendo 1693 a data mais provável.
Também não se conhece com certeza o nome do descobridor. Há fortes indícios de
que essa glória pertença a Antônio Rodrigues Arzão, um bandeirante de Taubaté.
Outro que pode figurar entre os primeiros descobridores é Borba Gato, genro de
Fernão Dias.
A região
onde o metal precioso foi encontrado localiza-se no âmbito da Serra do Espinhaço
e nela se formaram basicamente três núcleos produtores. Um se formou nas
margens do rio das Mortes, que corre para a bacia do rio Paraná; originaram-se ali
as vilas de São João del Rei e Tiradentes. Outro nas barrancas do rio das Velhas,
um dos formadores do rio São Francisco; nesse trecho surgiu Sabará. O terceiro
núcleo surgiu no alto da serra. Ali estão as nascentes do ribeirão do Carmo,
afluente do rio Doce; Nesse lugar, se formaram as atuais cidades de Mariana e
Ouro Preto.
A notícia da
descoberta do ouro rapidamente se espalhou, atraindo gente do Rio de Janeiro,
da Bahia e de outras partes da Colônia. A boa nova do achamento do ouro logo
atravessou o Atlântico e chegou a Portugal. E atraiu levas e mais levas de
portuguese, que tomaram o caminho do Brasil, em busca da riqueza que estava ao
alcance das mãos. Eram tantos que o governo português teve que tomar medidas
para impedir que o Reino ficasse despovoado. Foi uma verdadeira “corrida do
ouro”. Multidões tomaram o caminho das minas, sem sequer se preocupar com o
fato de que lá não haveria comida para todos. Em consequência, muitos foram os
que morreram de fome, mesmo estando com os bolsos cheios de ouro!
Mas a
expectativa de enriquecer em pouco tempo compensava qualquer sacrifício e, a
despeito de toda sorte de dificuldades, rapidamente a região se encheu de
gente.
Quanto mais
a notícia da descoberta do ouro se difundia, mais a população crescia. Surgiram
as inevitáveis disputas pelo controle das minas. De um lado, os paulistas,
descobridores, que se achavam com mais direitos; de outro, os que vieram
depois, a quem os paulistas depreciativamente chamavam “emboabas”.[1]
As tensões foram se agravando e culminaram em um conflito, que entrou para a
nossa história com o nome de Guerra dos Emboabas (1708-9). Esse clima de tensão
entre os mineradores deu a oportunidade para a Coroa portuguesa impor a sua
autoridade na região. Ela enviou para a região o governador Antônio de
Albuquerque Coelho de Carvalho. Lá chegando, o governador tomou providências
para obter a pacificação geral em benefício do interesse de todos, que era a
extração do ouro.
Uma
importante medida administrativa do governador foi elevar à condição de Vila os
vilarejos mais significativos. Foi assim que, em 1711, foram instituídas as três
primeiras vilas mineiras: Vila de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo (Mariana),
Vila Rica de Ouro Preto e Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabará.
Instituir uma
vila significava criar a Câmara, a Cadeia, erguer o Pelourinho, nomear funcionários
e estabelecer, enfim, as instituições públicas necessárias ao funcionamento da
vida organizada. Mas tudo isso tinha um custo, e esse custo é pago pela
população na forma de impostos.
Os impostos
exigidos pelo governo de Portugal, desde o começo, eram difíceis de suportar. O
descontentamento mantinha a região continuamente agitada. Revoltas eclodiram
aqui e ali: em 1715, em Morro Velho; em 1718, em São João del Rei e no Rio das
Velhas. Nesse clima de tensão, chegou um novo governador, D. Pedro de Almeida,
mais conhecido pelo título de nobreza, Conde de Assumar. Assumar
trazia ordens de ser duro com os mineradores. Entre outras tarefas, devia aumentar a arrecadação
do quinto, o imposto que incidia
sobre todo o ouro extraído. Para isso, cabia-lhe instalar as Casas de Fundição,
para onde os mineradores deviam levar todo ouro encontrado, para ser fundido.
O ouro depois de fundido era transformado em barras |
Esse era o momento em que a Coroa cobrava o quinto. Os mineradores não aceitaram, e
decidiram pegar em armas. A insurreição explodiu em Vila Rica, no ano de 1720.
Pego de surpresa, Assumar recebeu os revoltosos e fingiu atender suas exigências.
Mas tão logo estes voltaram para suas casas, o governador desencadeou a repressão.
O castigo foi imediato e severo. O emboaba Felipe dos Santos, principal
acusado, foi enforcado e seu corpo, atado à cauda de um cavalo, arrastado pelas
ruas da vila. Outros implicados foram enviados para Portugal. Controlada a
situação, as Casas de Fundição puderam começar a funcionar pouco depois como
queria a Coroa portuguesa.
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