GUERRA DO PARAGUAI
Também chamada
de Guerra da
Tríplice Aliança, essa guerra durou seis anos e provocou grandes
prejuízos aos dois principais oponentes, Brasil e sobretudo ao Paraguai, o
grande perdedor.
O
entendimento desse conflito exige que voltemos no tempo, pois efetivamente, a
região era foco de tensões desde o período colonial. Tensões que se agravaram
depois da independência dos países platinos.
Batalha Naval do Riachuelo, de Victor Meirelles (1832-1903). |
Nas décadas
de 1810 e 1820, o governo português procurou a todo custo evitar a formação de uma
única nação platina, que teria como base o antigo Vice-Reinado do Prata. Na
eventualidade de esse país ser criado, os interesses do Brasil de assegurar a
livre navegação no Rio da Prata e o comércio com o interior do continente poderiam
ser prejudicados.
Em 1825,
rebeldes uruguaios proclamaram a independência da Província Cisplatina –
anexada ao Brasil por dom João VI – e sua unificação com as Províncias Unidas
do Prata (atual Argentina).
Esse fato
foi encarado como uma ameaça ao Brasil e levou dom Pedro I a se empenhar em um longo
e desgastante conflito, a Guerra da Cisplatina, que só terminou em 1828.
Graças à
mediação da Grã-Bretanha no acordo de paz, o Uruguai foi declarado Estado
independente e ficou garantida a livre navegação no Rio da Prata. Dessa forma,
as duas decisões foram favoráveis ao Brasil.
1. Blancos
× Colorados, Brasil × Argentina
A partir de
então, os governos brasileiro e argentino passaram a intervir nos assuntos
internos do Uruguai, apoiando grupos rivais em constante disputa pelo poder.
Em 1834,
foi eleito para a presidência do Uruguai Manuel Oribe, do Partido Blanco,
aliado ao governo argentino de Juan Manuel Rosas. Contra ele, rebelou-se José
Frutuoso Rivera, chefe do Partido Colorado, apoiado pelo Brasil. Em 1838,
Rivera derrubou Oribe, que fugiu para a Argentina.
A reação do
governo argentino foi bloquear o porto de Montevidéu. Mesmo com esses
contratempos, Rivera conseguiu manter-se no poder até 1843. Mas uma coisa era
certa: a possibilidade de integrantes do Partido Blanco assumirem o poder no
Uruguai alterava o equilíbrio de forças na região, favorecendo a Argentina.
Como o governo de Buenos Aires não queria reconhecer a independência do
Paraguai, o Brasil aliou-se a este país e declarou guerra à Argentina em 1851.
Na própria
Argentina, o governo brasileiro obteve o apoio de dois poderosos líderes
políticos, inimigos de Rosas: Justo José de Urquiza e Bartolomeu Mitre. Assim,
em 1852, o Brasil e seus aliados derrotaram e depuseram Rosas. Urquiza assumiu
então a presidência da Argentina e reconheceu a independência do Paraguai.
Pouco tempo
depois, as alianças construídas durante a guerra contra Rosas foram desfeitas.
Na
Argentina, Urquiza rompeu com Bartolomeu Mitre e aproximou-se do Partido Blanco,
do Uruguai. Em 1862, Mitre foi eleito presidente da Argentina. Enquanto isso, o
Brasil passava por uma série de atritos com o Paraguai por questões de
fronteira e pelo direito de navegação no Rio Paraguai, que atravessa o
território daquele país. É importante ter em mente que o Rio Paraguai era então
a única via de acesso à província do Mato Grosso. Por isso, era fundamental
para o Brasil garantir a livre-navegação nesse rio.
2. Paraguai, um país singular
Tendo conquistado sua independência em 1811, o Paraguai passou a ser governado por José Gaspar Rodríguez de Francia a partir de 1813.
Francia confiscou terras da Igreja Católica e promoveu uma reforma agrária, criando fazendas do Estado, denominadas estâncias da pátria. Além disso, estabeleceu o monopólio estatal do comércio exterior, aboliu a escravidão, embora esta tenha continuado a existir até 1869. Instituiu o ensino gratuito, embora essa medida tivesse limitado alcance, em virtude da pobreza do país, e só valia para os meninos. Deu início a uma incipiente indústria têxtil, que seguiu se desenvolvendo lentamente. A economia continuaria a se basear na agricultura, na extração de madeira e de minérios, na produção de erva-mate e na pecuária.
Sob o governo de Carlos López, sucessor de Francia, registrou-se um grande esforço para modernizar o país. Vieram técnicos ingleses para trabalhar na metalurgia e na implantação de uma ferrovia, que foi inaugurada em 1861, com oito quilômetros de extensão.
Em 1862, Francisco Solano López tornou-se presidente do país, que até então, permanecera mais ou menos fechado ao exterior. López resolveu alterar esse quadro ao tentar ampliar as fronteiras do Paraguai e definir de maneira concreta seus limites territoriais. A decisão provocou a reação imediata do Brasil e da Argentina, que acusaram o presidente paraguaio de pretender se apropriar de territórios das duas nações.
Sob o governo de Carlos López, sucessor de Francia, registrou-se um grande esforço para modernizar o país. Vieram técnicos ingleses para trabalhar na metalurgia e na implantação de uma ferrovia, que foi inaugurada em 1861, com oito quilômetros de extensão.
Em 1862, Francisco Solano López tornou-se presidente do país, que até então, permanecera mais ou menos fechado ao exterior. López resolveu alterar esse quadro ao tentar ampliar as fronteiras do Paraguai e definir de maneira concreta seus limites territoriais. A decisão provocou a reação imediata do Brasil e da Argentina, que acusaram o presidente paraguaio de pretender se apropriar de territórios das duas nações.
2. O início da guerra
Em 1864, as
forças da região estavam assim distribuídas: no Uruguai, o governo blanco do presidente
Atanásio Cruz Aguirre era apoiado por Solano López, presidente do Paraguai, e
pelo argentino Urquiza, governador da província de Entre Rios. Em contrapartida, os colorados uruguaios recebiam ajuda
do governo brasileiro e do presidente argentino Bartolomeu Mitre.
Em novembro
de 1864, uma esquadra de guerra brasileira, comandada pelo almirante Joaquim Marques
Lisboa, barão de Tamandaré, bloqueou Montevidéu a pretexto de punir o governo
uruguaio contra “maus-tratos” a cidadãos brasileiros. Como a intervenção
alterava o equilíbrio da região a favor do Brasil, em resposta, o governo de
Solano López aprisionou um navio brasileiro que navegava por águas do Rio
Paraguai e rompeu relações com o governo do Brasil.
3. Surge
a Tríplice Aliança (1864-1870)
A guerra
entre os dois países era iminente. Em dezembro de 1864, forças paraguaias
atacaram Mato Grosso. Enquanto isso, tropas brasileiras, apoiadas por forças
uruguaias coloradas, invadiram o território uruguaio, tomaram a cidade de
Paissandu em janeiro de 1865 e colocaram no poder o colorado Venâncio Flores.
Em abril, forças paraguaias reagiram e invadiram a província argentina de
Corrientes, com o objetivo de chegar ao Uruguai e recolocar no poder o partido
blanco.
Em maio de
1865, representantes dos governos brasileiro, argentino e uruguaio reuniram-se em
Buenos Aires e firmaram o Tratado da Tríplice Aliança contra o Paraguai. Ironicamente,
são os mesmos países que hoje formam o Mercosul.
O acordo da
Tríplice Aliança previa a entrega de territórios paraguaios ao Brasil e à
Argentina em caso de vitória dos aliados. A Grã-Bretanha, que tinha interesses mercantis
na Bacia do Prata, daria apoio financeiro e militar aos aliados. Em junho, a
guerra estendeu-se por toda a região.
No primeiro
momento do conflito, a ofensiva militar coube ao Paraguai, mas a primeira
derrota não tardaria. Em 11 de junho de 1865, na Batalha Naval de Riachuelo,
uma esquadra brasileira, comandada pelo almirante Francisco Manuel Barroso,
destruiu quase toda a frota de guerra paraguaia.
5. Aliados
passam para a ofensiva
A partir da vitória na batalha de Riachuelo, as forças aliadas passaram a tomar a iniciativa nos combates. Em
abril de 1866, a Tríplice Aliança invadiu o Paraguai. Um mês depois, o exército
paraguaio sofreu fragorosa derrota na Batalha de Tuiuti.
Solano
López concentrou então suas forças na fortaleza de Humaitá, que durante dois
anos resistiu ao assédio das tropas invasoras. Detidos em Humaitá, os exércitos
conjuntos da Tríplice Aliança foram atraídos para Curupaiti, onde acabaram
batidos pelos paraguaios em setembro de 1866. Seguiu-se um empate, que durou
quase dois anos.
Em janeiro
de 1868, o general brasileiro Luís Alves de Lima, o duque de Caxias, assumiu o comando
supremo das tropas aliadas. Em julho, Humaitá se rendeu, e cinco meses depois
Caxias venceu a Batalha de Avaí e ocupou Lomas Valentinas. Em seguida, no dia 1º.
de janeiro de 1869, as forças aliadas entraram na capital, Assunção.
O governo
de Solano López, contudo, não se deu por vencido: reunindo o que restava de seu
exército – a essa altura formado quase exclusivamente por velhos e meninos –,
Solano López retirou-se para o norte do país.
No dia 1o
de março de 1870, o conde D’Eu, marido da princesa Isabel e substituto de
Caxias no comando das tropas aliadas, chegou a Cerro Corá, na fronteira com
Mato Grosso, e derrotou o que restava das forças de López, sendo que ele
próprio morreu em combate.
6. Os
prejuízos da guerra
Com o fim
do conflito, os países beligerantes puderam contabilizar seus prejuízos. O
Paraguai, o mais atingido pela guerra, só tinha perdas a registrar. Sua população,
de cerca de 400 mil habitantes em 1865, havia se reduzido a apenas 194 mil em
1870. Cerca de 90 por cento dos homens estavam mortos. Suas terras estavam devastadas;
seus rebanhos, dizimados; suas poucas indústrias, destruídas.
Por sua
vez, o Brasil afirmou sua soberania sobre uma faixa de território pretendida
pelo Paraguai no sul de Mato Grosso, mas também contabilizou perdas. Perdeu um
quinto dos efetivos enviados para a guerra, estimados em cerca de 150 mil
homens. Além disso, para fazer face aos custos da mobilização militar, o
governo imperial contraiu dois empréstimos com banqueiros ingleses. Ao mesmo
tempo, foi obrigado a aumentar os impostos e a emitir grande quantidade de
papel-moeda para cobrir os gastos de guerra.
7. O
Exército brasileiro cresce em força e influência
A guerra
teria ainda outro custo para o governo de dom Pedro II: no decorrer do
conflito, a composição social e étnica do Exército sofreu mudanças importantes.
O esforço de guerra exigiu a participação de numerosos trabalhadores
escravizados, que, dessa forma, ganharam a liberdade. Esses homens, antes
considerados inferiores, demonstraram valor e bravura nos combates, despertando
a admiração e o respeito dos oficiais, acostumados a tratá-los com desprezo. A
própria oficialidade também mudou com o ingresso de jovens provenientes das
camadas médias e baixas da sociedade.
Esses
jovens eram sensíveis às ideias republicanas e abolicionistas, com as quais
entraram em contato nas frentes de batalha. Por isso, ao voltar da guerra, o
Exército entrou pouco a pouco em “rota de colisão” com o sistema monárquico de governo
e com o regime de trabalho escravo vigentes no Brasil, apoiando de modo cada
vez mais decidido a campanha abolicionista e a proposta republicana.
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