domingo, 18 de março de 2018


ORIENTE  MÉDIO  EM  CHAMAS


 O  Oriente  Médio  é o mais antigo  berço  da  civilização.
 Foi lá que a humanidade primeiramente conheceu a agricultura, o uso de metais, a urbanização, a escrita e tantos outros elementos que fazem parte do nosso modo de vida. Entre esses outros elementos se encontram a religião monoteísta e o Estado organizado.
Situado entre três continentes, o Oriente Médio foi o ponto de encontro entre Oriente e Ocidente e sede de grandes impérios na Antiguidade (Bizantino), na Idade Média (Islâmico) e nos tempos modernos (Otomano).
Região rica em petróleo, o Oriente Médio tem sido palco de muitos conflitos após a Primeira Guerra Mundial, quando desapareceu o Império Otomano. A situação ficou ainda mais grave depois da Segunda Guerra. 
Palestino enfrenta com pedras um tanque israelense durante a Intifada.
Em 1947, teve início a Guerra Fria. Nesse mesmo ano, a ONU realizou a partilha da Palestina, evento que está na origem do mais antigo e mais duradouro dos conflitos que assolaram a região. Seus protagonistas são os israelenses e os árabes (entre eles, os palestinos, nome dado aos árabes que moram na Palestina). Os conflitos, no entanto, estendem-se também entre os próprios árabes, envolvendo questões econômicas, políticas e religiosas.

1. A presença dos imperialismos britânico e francês
Uma das consequências da Primeira Guerra Mundial foi o desaparecimento do Império Otomano, constituído pelos turcos mais de seis séculos antes. Com isso, a Sociedade das Nações (também chamada de Liga das Nações) surgida em 1920, colocou sob a autoridade da França e da Grã-Bretanha amplas áreas do Oriente Médio, até então governadas por esse império. Esse arranjo ficou conhecido como sistema de mandatos. As duas potências europeias ficaram também encarregadas de preparar os respectivos povos para se tornarem Estados independentes em um futuro próximo.
Por esse sistema, a França ficou responsável pelos territórios da Síria e do Líbano, enquanto a Grã-Bretanha assumiu a responsabilidade pela Mesopotâmia e pela Palestina.

Os mandatos franceses
Na Síria, com o fim do domínio otomano, Damasco foi ocupada por tropas comandadas por Faisal, que seria depois coroado rei do Iraque. Mas seu reinado durou pouco, pois a Síria havia passado para o mandato francês. Em 1925, em meio a uma insurreição contra o domínio francês, Damasco foi submetida a um bombardeio que deixou um saldo de cinco mil vítimas.
O movimento rebelde continuou nos anos seguintes, bem como os bombardeios.
O domínio francês encontrou forte resistência popular na Síria, resultando em muitos atos de violência. Em 1936, o governo francês concordou em negociar um tratado de independência, mas o tratado não chegou a ser colocado em prática. Em 1944, a independência da Síria foi reconhecida pelas novas potências mundiais, a União Soviética e os EUA, mas a França continuava resistindo.
Finalmente em 1946, os franceses, sob pressão, tiveram de retirar suas tropas, ficando a Síria sob um governo republicano.
No caso do Líbano, os franceses promoveram, em 1926, uma Constituição que instituiu uma República Parlamentarista.
As cadeiras do Parlamento foram divididas basicamente de acordo com um critério religioso. A diversidade religiosa era grande, com destaque para os drusos, cuja religião reúne elementos do islamismo, judaísmo e cristianismo; os islâmicos, divididos entre sunitas e xiitas; cristãos, igualmente divididos em diversos grupos, sendo os maronitas os mais numerosos e principais aliados dos franceses (e beneficiados na divisão das cadeiras do Parlamento). A independência do Líbano foi proclamada em 1943, mas as tropas francesas somente se retiraram quatro anos depois.

O mandato britânico sobre o Iraque
Durante a Primeira guerra, forças britânicas haviam invadido o Iraque (que preferiam chamar de Mesopotâmia) e ocupado Bagdá. O controle dessa região havia se tornado importante para os britânicos, desde que tinham começado a explorar petróleo no vizinho Irã alguns anos antes.
Em busca de ajuda contra os turcos otomanos, nessa ocasião o governo da Grã-Bretanha prometeu apoiar o estabelecimento de governos árabes independentes após a guerra. A promessa não foi cumprida; ao contrário, a Sociedade das nações converteu o Iraque em um mandato britânico. O descontentamento causado por essa decisão provocou uma grande revolta popular, o que obrigou os britânicos a conceder certa autonomia ao país. O Iraque se tornou uma monarquia, e o trono foi entregue ao emir Faisal (da dinastia hachemita). Ele ganhou esse benefício por ser filho do prefeito de Meca, que fora aliado dos britânicos contra os turcos otomanos.
Em 1932, o Iraque foi admitido na Liga das nações e conquistou a independência com algumas condições.
O governo iraquiano assinou um tratado de “aliança permanente”, pelo qual a grã-Bretanha adquiria o direito de participar de todas as questões de política externa do país; utilizar estradas de ferro, rios, portos, campos de aviação e meios de transportes; e ocupar militarmente alguns aeroportos.

O mandato britânico sobre a Palestina
Outro mandato britânico era a Palestina, nome que nessa época se aplicava a uma ampla região que incluía os territórios correspondentes atualmente a Israel, Cisjordânia, Faixa de gaza, Jerusalém e Transjordânia (ou seja, a parte que ficava a leste do rio Jordão).
Em 1921, a Transjordânia foi separada da Palestina e concedida ao príncipe Abdula (hachemita). Alguns anos depois, converteu-se em Estado independente sob a tutela britânica e, em 1941, assumiu o nome de Jordânia. Ao terminar oficialmente o mandato britânico, Abdula fez-se coroar rei da Jordânia, em 1946.
Portanto, nos anos que se seguiram ao final da Primeira guerra mundial, os elementos de uma combinação explosiva estavam dados no Oriente médio: o fim do Império Otomano, que assegurou alguma unidade política até aquele momento e era substituído por novas potências hegemônicas, agora europeias; o surgimento do nacionalismo árabe, embora os projetos de formação de nações fossem frustrados pelo sistema de mandatos que repartia e subordinava os territórios ao controle dos novos impérios; a entrada do nacionalismo judeu, tendo como objetivo a fundação de um Estado na Palestina, contando com o apoio britânico; e, por fim, o petróleo começava a ser explorado, o que se tornou, posteriormente, a matéria-prima mais comercializada do mundo.

2. A questão do Estado judeu e dos palestinos
Desde a segunda metade do século XIX, era cada vez maior a imigração de judeus para a Palestina, estimulada pela Sociedade dos Amigos de Sion (Sion é o nome de uma das colinas de Jerusalém). O objetivo dessa entidade era a formação de um Estado judeu (ou judaico) na Palestina.
O sionismo era um movimento nacionalista, como tantos outros que atuavam na Europa naquela época – final do século XIX. Os judeus não tinham um Estado próprio nem um território. E esta passou a ser a principal meta do sionismo desde a realização de seu primeiro congresso, na Suíça, em 1897.
O jornalista e sociólogo Cláudio Camargo relata que, após o Congresso sionista, rabinos de Viena enviaram dois mensageiros à Palestina para verificar a viabilidade da fundação de um Estado judeu. Lá chegando, os emissários teriam remetido um telegrama com a mensagem: “A noiva é bela, mas está casada com outro homem”, referindo-se à presença da população árabe (Camargo, Cláudio. Guerras árabe-israelenses. In: Magnoli, Demétrio (Org.). História das guerras. São Paulo: Contexto, 2008. p. 427.).
A imigração, porém, continuou, com a instalação de cerca de mil pessoas por ano na Palestina. O movimento sionista intensificou a ida de judeus que compravam terras pobres e não rentáveis, o que era favorecido pelos próprios árabes que viam nisso um bom negócio. Em 1909, foi fundada a cidade de Telavive, que se tornaria capital após a independência de Israel.
Durante a Primeira guerra, Londres tornou-se o principal centro do Sionismo. Em 1917, James Balfour, ministro das relações Exteriores da Grã-Bretanha, associou seu nome àquela que ficaria conhecida como “Declaração Balfour”, segundo a qual o governo britânico estava disposto a apoiar o estabelecimento de um Estado judeu na Palestina.
Durante a década de 1930, com a ascensão do nazismo e a perseguição aos judeus na Alemanha, a imigração para a Palestina cresceu muito. Começaram a ocorrer, então, rebeliões árabes reivindicando a limitação da entrada dos judeus e a interdição da venda de terras árabes.

A partilha da Palestina
No final da Segunda guerra, a Grã-Bretanha transferiu o problema da Palestina para a ONU. Em 1947, a Comissão Especial da ONU para a Palestina recomendou, em seu relatório final, a partilha do território em dois Estados: um judeu e um palestino, ficando a cidade de Jerusalém e seus arredores sob controle internacional. O Estado judeu ficou com 53,5% do território, sendo que sua população correspondia a 30% do total, enquanto ao Estado palestino coube 45,4% das terras para acomodar 70% da população da região. A proposta foi aprovada pela Assembleia geral da ONU, em 29 de novembro de 1947, presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha. A proposta transformou-se na resolução 181, que foi aceita pela Organização Sionista mundial e rejeitada pelos árabes.

A primeira guerra árabe-israelense
Tão logo a resolução foi aprovada, os judeus fundaram o Estado de Israel, em maio de 1948, o que foi imediatamente reconhecido pelos EUA e pela URSS. Os árabes, porém, reagiram de forma bem diferente: no dia seguinte à proclamação do Estado judeu, os exércitos da Síria, da Jordânia, do Iraque e do Egito invadiram a Palestina para apoiar as populações árabes. Começava a primeira guerra árabe-israelense.
Os judeus vinham organizando suas milícias, e a principal delas, a Haganá (Defesa, em hebraico), contava com 30 mil combatentes no começo da guerra, efetivos que subiram para 94 mil no final de 1948. Os israelenses conseguiram resistir aos ataques árabes.
Em junho de 1948 ocorreu um cessar-fogo, mas foi de curta duração. A luta prosseguiu até janeiro de 1949, quando os dois lados aceitaram os apelos da ONU em favor de um cessar-fogo. A guerra terminou formalmente em 20 de julho de 1949, com a vitória de Israel, que aproveitou para ampliar o próprio território.
Essa guerra foi desastrosa para o povo palestino. Mais de 400 vilarejos foram evacuados e destruídos.
O número de palestinos no que passou a ser o território de Israel caiu drasticamente: de 750 mil para 165 mil. Grande parte buscou refúgio nos países vizinhos: Jordânia, Síria, Líbano e na Faixa de Gaza (território então sob o controle do Egito).

3. O Oriente Médio e a Guerra Fria
Com a Segunda Guerra Mundial, o nacionalismo árabe fortaleceu-se, tendo como causas:
• o enfraquecimento e a retirada dos antigos impérios (França e Grã-Bretanha);
• a independência de nações de maioria árabe.

O nacionalismo judeu também ficou mais robusto, tornando-se política de Estado. A importância do petróleo como fonte de energia cresceu ainda mais.
Em nome de seus interesses estratégicos, Estados Unidos e União Soviética buscaram aliados no Oriente médio durante o período chamado de guerra Fria e, com isso, influenciaram a tomada de decisões e a evolução dos conflitos entre as forças locais.
Nas últimas duas décadas do século XX, com o fim da URSS e da guerra Fria, os Estados Unidos passaram a intervir como potência hegemônica, tentando redefinir a situação do Oriente médio em função de seus interesses globais.

A guerra do Canal de Suez em 1956
O principal líder do nacionalismo árabe foi Gamal Abdel Nasser. Ele defendia a união dos países árabes para combater o imperialismo das potências ocidentais no Oriente médio.
Nasser apareceu com destaque no cenário político do Oriente Médio em 1952, ao comandar um grupo de militares que tomou o poder no Egito. Quatro anos depois, sua liderança entre os árabes cresceu ainda mais quando ele nacionalizou o Canal deSuez, até então explorado por franceses e britânicos.
O gesto de Nasser foi uma represália à recusa dos governos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha de concederem empréstimos para a construção da represa de Assuã – que afinal foi construída com a ajuda da URSS.
Três meses após a nacionalização, em outubro de 1956, França, Grã-Bretanha e Israel organizaram uma ação militar conjunta para retomar o controle do canal. Entretanto, a ação de franceses, britânicos e israelenses não obteve apoio das superpotências.
A URSS chegou a ameaçar com o uso de força militar para acabar com a agressão. As tropas agressoras foram, então, retiradas e o Canal de Suez permaneceu nacionalizado.
A vitória do Egito fortaleceu não apenas a liderança de Nasser, mas também o nacionalismo no mundo árabe, contando com o apoio da União Soviética.
A organização coordenadora desse nacionalismo era a Liga Árabe, criada em março de 1945. A Liga adotou uma postura anti-imperialista e, na Conferência do Cairo, em 1964, declarou que seu objetivo final era a destruição do Estado de Israel.

A Guerra dos Seis Dias
A meta de destruir o Estado de Israel, adotada na Conferência do Cairo, se traduziria em ações militares.
A partir de fevereiro de 1966, com a tomada do poder na Síria pelo partido Baath, começaram a ocorrer ataques sírios e palestinos contra Israel na região de fronteira. Em abril de 1967, a força aérea israelense abateu diversos aviões sírios. Nasser foi, então, pressionado pelos governos da Síria e da Jordânia a dar uma resposta e enviou grande quantidade de tropas para o Deserto do Sinai, região entre o Egito e Israel. Além disso, enviou embarcações para fechar o estreito de Tiran, impedindo a passagem de navios israelenses para o mar Vermelho.
Percebendo que o cerco estava se fechando, Israel iniciou sua reação no dia 5 de junho de 1967. Em uma sequência de ações fulminantes, os israelenses destruíram quase toda a aviação militar do Egito, da Síria e da Jordânia. Conquistaram a cidade velha de Jerusalém, até então sob o controle dos jordanianos, assumiram o controle da Cisjordânia e conquistaram o Canal de Suez. Com o Egito e a Jordânia fora de combate, Israel atacou as colinas de Golan, território pertencente à Síria.
O conflito se encerrou no dia 10 e ficou conhecido como a Guerra dos Seis Dias. Israel saiu-se plenamente vitorioso ao triplicar seu território, com a anexação da parte oriental de Jerusalém e das colinas de Golan e a ocupação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
A ONU aprovou a Resolução 242 que estabeleceu entre, outras coisas, que Israel se retirasse dos territórios ocupados e fosse encontrada uma solução para o problema dos refugiados. Mas a resposta israelense foi negativa. O governo de Israel se recusou a aceitar qualquer negociação que não se baseasse nos termos impostos por Israel.

A Guerra do Yom Kippur
Um novo conflito explodiu em 6 de outubro de 1973, feriado religioso em Israel. Enquanto os judeus comemoravam o Yom Kippur (Dia do Perdão), forças egípcias e sírias atacaram conjuntamente Israel. O ataque egípcio se deu na Península do Sinai e o Sírio, nas colinas de Golan.
Israel foi surpreendido e sofreu pesadas baixas. Mas conseguiu reverter a situação a partir de 14 de outubro, com uma contraofensiva no Sinai que acabou deixando a capital do Egito à mercê das tropas israelenses.
O avanço sírio também foi contido e as forças israelenses chegaram a ameaçar Damasco. O conflito quase se transformou em uma guerra atômica, quando as duas superpotências anunciaram a intenção de entrar na guerra: a URSS ameaçou deslocar forças para a região e os Estados Unidos responderam com um alerta militar de âmbito mundial, incluindo as forças nucleares.
Finalmente foi firmada uma trégua em 22 de outubro.
Uma das consequências dessa guerra foi o aumento do preço do petróleo. Os países árabes, donos de grandes reservas de petróleo e organizados na Opep, resolveram utilizar o produto como arma política em represália ao apoio que os EUA e a Europa Ocidental haviam dado a Israel. Rapidamente, o preço desse produto mais que triplicou, causando dificuldades econômicas aos países importadores em geral – entre eles o Brasil.

O nascimento da OPEP
Seguindo o princípio de que “a união faz a força”, em 1960 alguns países exportadores de petróleo resolveram se unir e formaram a Organização dos Países Exportadores dePetróleo (Opep). O objetivo da nova entidade era controlar a oferta do produto e, dessa forma, forçar o aumento de seu preço no mercado internacional. Esse objetivo caracteriza um tipo de associação muito comum, denominado cartel.
Hoje, a Opep é composta de treze países, entre os quais dois são sul-americanos (Venezuela e Equador), quatro são africanos (Angola, Argélia, Líbia e Nigéria), um é asiático (Indonésia) e seis estão no Oriente Médio (Arábia Saudita, Emirados Árabes, Irã, Iraque, Kuwait e Qatar).

4. A luta dos palestinos por um Estado nacional
A partir de 1959, os palestinos começaram a se organizar militarmente para reconquistar sua pátria. Formaram várias organizações, sendo a mais importante al-Fatah, liderada por Yasser Arafat.
O passo seguinte foi a criação, em 1964, da Organização para a Libertação daPalestina (OLP), que reuniu diversos movimentos guerrilheiros, inclusive a al-Fatah. A sede da OLP foi estabelecida na Jordânia.
Nos anos seguintes, a OLP passou a ser reconhecida pelos países árabes como representante do povo palestino. Seu poder não parou de crescer. No caso da Jordânia, isso acabou se tornando um problema, pois o governo desse país se sentiu ameaçado e, em 1970, iniciou uma violenta ofensiva contra os militantes palestinos. A OLP foi expulsa do território jordaniano, e transferiu seu quartel-general para Beirute, capital do Líbano.

O Líbano e o problema palestino
A chegada dos refugiados palestinos minou o equilíbrio político em que vivia o Líbano desde a independência. Embora frágil, esse arranjo havia permitido que o país se tornasse um próspero centro financeiro.
As divergências políticas entre os grupos cristãos e muçulmanos cresceram. Cada grupo tinha a própria milícia, e o conjunto delas chegou a formar uma força mais poderosa do que o próprio Exército nacional. Uma guerra civil explodiu em 1975. O exército libanês se fragmentou em facções rivais e o governo praticamente parou de funcionar.
O Líbano foi invadido por tropas sírias e israelenses.
A intervenção síria refreou temporariamente a violência, mas não pôs fim à guerra. A situação libanesa complicou-se em 1982, quando tropas de Israel invadiram o sul do país. O objetivo da invasão era eliminar a OLP, cujos militantes promoviam insistentes ataques ao território israelense. Beirute foi bombardeada pelas forças de Israel e parcialmente ocupada. A OLP foi obrigada mais uma vez a mudar de endereço: saiu do Líbano, transferindo seu quartel-general para a Tunísia.
Uma força armada enviada pela ONU supervisionou a saída da OLP, mas ela em seguida se retirou.
Ocorreu, então, um massacre de civis palestinos que viviam em campos de refugiados localizados em uma área próxima de Beirute, controlada pelo exército de Israel. O massacre foi executado por milicianos maronitas, em represália à morte do presidente cristão.
Os conflitos prosseguiram até 1989, quando a Assembleia Nacional Libanesa aprovou um acordo de paz, que contou com o apoio de diversas potências (Estados Unidos, URSS, França e Grã-Bretanha) e dos principais governos árabes. O acordo pôs fim à guerra civil que havia durado quinze anos e matado cerca de 5% da população libanesa, além dos estragos materiais causados ao país.
Os termos do acordo determinavam o desarmamento das forças em conflito e dividiram o governo: os cristãos ficaram com a presidência da República; os muçulmanos sunitas ficaram com o cargo de primeiro-ministro; e os muçulmanos xiitas ficaram com a presidência do Parlamento.

Hezbollah contra Israel
Durante a guerra civil os combatentes da OLP haviam sido expulsos do sul do Líbano pelas forças israelenses. O lugar da OLP, no sul do Líbano, foi ocupado pelo Hezbollah (Partido de Deus, em árabe), um grupo religioso, político e militar libanês que havia se organizado oficialmente em 1982.
O Hezbollah, formado por muçulmanos xiitas, não abandonou as armas mesmo quando um acordo havia posto fim à guerra civil libanesa, em 1989. A justificativa era a luta contra as forças de Israel, que continuavam ocupando o sul do Líbano. A retirada das tropas israelenses ocorreu somente em 2000.
A violência, entretanto, continuou e em 2006 a situação se agravou novamente.
No início do mês de julho, militantes do Hezbollah mataram oito soldados israelenses e capturaram outros dois. Em resposta, Israel realizou um ataque em grande escala contra o Líbano, além de impor um bloqueio aéreo e marítimo àquele país. O conflito prolongou-se por mais de um mês. No dia 14 de agosto, entrou em vigor um cessar-fogo, tendo por base uma resolução aprovada pelo Conselhode Segurança da ONU, órgão que tem poder de impor sanções econômicas e militares. A decisão foi acompanhada do envio de uma força internacional ao Líbano. A guerra foi suspensa, mas as relações entre Israel e Líbano continuaram tensas. Israel permanece armando sua fronteira com o Líbano. O envolvimento do Hezbollah na guerra civil na Síria, que teve início em 2011, forneceu ao grupo experiência combativa em áreas urbanas, fundamental para os ataques a Israel.

5. Avanços e recuos no caminho para a paz
Durante esses anos, apesar da violência, não deixou de haver iniciativas em favor da paz para o conflito entre árabes e israelenses. Uma dessas iniciativas ocorreu em 1977, quando Anuar Sadat, sucessor de Nasser na presidência do Egito, discursou no Parlamento israelense. Esse esforço teve efeitos positivos: foram abertas negociações que resultaram no acordo de paz de Camp David, nos Estados Unidos, em 1979. Este acordo previa a devolução das terras tomadas ao Egito e abria novas perspectivas para o convívio entre árabes e israelenses no Oriente médio. As tensões, entretanto, não diminuíram. Muitos árabes não aprovaram o reconhecimento do Estado de Israel, e Anuar Sadat acabou assassinado em 1981.
Um passo significativo para estabelecer um acordo de paz foi dado em 1988. Na ocasião, o Conselho nacional Palestino renunciou à luta armada contra Israel, e aceitou a resolução 181 da ONU, de 1947, que tinha imposto a divisão da Palestina entre judeus e palestinos.

O surgimento da Autoridade Nacional Palestina
Graças a essa decisão, a década de 1990 iniciou com grandes esperanças de paz. Em 1993, autoridades israelenses e palestinas firmaram uma declaração de princípios, conhecida como Acordo de Oslo, na qual se previa a autonomia gradativa dos palestinos na Cisjordânia e em gaza.
No ano seguinte, tropas israelenses começaram a se retirar dos territórios ocupados. Formou-se, então, a autoridade Nacional Palestina, instituição estatal que exerceria autoridade sobre partes da Cisjordânia e da Faixa de gaza. Seu governo ficou a cargo de um Poder Legislativo, com 132 deputados eleitos, e um Poder Executivo, exercido por um presidente, e, desde 2003, passou a existir também o cargo de primeiro-ministro.
Em 1996, Yasser Arafat foi eleito o primeiro presidente da autoridade Nacional Palestina e seu grupo, o al-Fatah, conquistou a maioria no Legislativo.

Intifada, a revolta Palestina
Apesar desses avanços em busca da paz, as relações entre árabes e israelenses continuaram tensas. Em setembro de 2000, teve início a segunda Intifada (a primeira tinha sido em 1987), nome pelo qual ficou conhecida a revolta dos palestinos das regiões ocupadas. Essa Intifada foi muito mais radical que a anterior, e ficou marcada por ataques suicidas de jovens palestinos contra alvos israelenses. Em resposta, Israel passou a invadir cidades das quais já havia se retirado e a destruir esconderijos de organizações palestinas, provocando terror e mortes entre a população civil. Yasser Arafat foi sitiado em seu quartel-general, em Ramallah.

Um “roteiro para a paz”
Em abril de 2003, o chamado Quarteto de Madri (União Europeia, ONU, Estados Unidos e Rússia) entregou aos governos israelense e palestino o texto de um plano de paz.
Conhecido como roteiro para a paz, o plano previa a criação de um Estado palestino em 2005. Para que isso se tornasse possível, porém, os palestinos deveriam pôr fim aos atentados contra Israel. Em contrapartida, os israelenses deveriam desmantelar os assentamentos (colônias agrícolas) criados nos territórios ocupados.
Como parte da iniciativa dos Estados Unidos para implementar o plano de paz, em junho de 2003, o presidente Bush viajou para o Oriente médio. Bush se reuniu com Ariel Sharon e Mahmud Abbas, governantes de Israel e da Autoridade Palestina, respectivamente. No encontro, ambos se comprometeram a apoiar o plano de paz.

Novos problemas no “caminho da paz”
Uma nova mudança de rumo ocorreu em agosto de 2003, quando o governo de Israel deu início à construção de um muro para separar israelenses de palestinos na Cisjordânia. Caso fosse erguida em território judeu, a cerca talvez pudesse ser considerada medida defensiva legítima, mas boa parte de seu traçado avançava em território palestino. A medida foi condenada pela Corte Internacional de Justiça, pela ONU e pela União Europeia, sob o argumento de que violava as leis internacionais.
Apesar dessas condenações, o governo israelense continuou contando com o decisivo apoio dos Estados Unidos. Em março de 2004, o primeiro-ministro Ariel Sharon anunciou a intenção de retirar colonos israelenses da Faixa de gaza – o chamado plano de desengate.
Ao mesmo tempo, reafirmou o direito de Israel manter colônias na Cisjordânia ocupada, região onde vivem cerca de 240 mil israelenses em meio a 2,3 milhões de palestinos.
Sharon admitiu que Israel não seguiria adiante com o roteiro da paz. E confirmou a intenção de Israel em permanecer nos territórios restantes após a execução do plano de retirada dos assentamentos de gaza.
Essa atitude provocou a resposta imediata dos grupos ativistas palestinos, que, em setembro de 2004, intensificaram os ataques contra Israel. À violência dos palestinos, Israel respondeu com mais violência ainda. no início de outubro, o exército israelense realizou novas incursões na Faixa de Gaza, que resultaram na morte de dezenas de palestinos.

A paz fica mais distante
A morte de Yasser Arafat, presidente da ANP, em 11 de novembro de 2004, agravou as tensões no Oriente Médio. Arafat havia representado um ponto de equilíbrio entre as facções moderada e radical dos palestinos. Sua morte deixou um vazio político que desencadeou disputas pelo poder entre as duas tendências. Mesmo antes de sua morte, o prestígio da Autoridade Nacional Palestina já vinha decaindo, sofrendo acusações de corrupção, incompetência e fraqueza na luta contra Israel.
Apesar disso, Mahmud Abbas, ex-primeiro-ministro e membro do Fatah, foi eleito presidente em janeiro de 2005.
Um ano depois, o quadro político sofreu uma mudança radical. A causa disso foi a derrota do Fatah nas eleições para o Legislativo da Autoridade Palestina. O vitorioso foi o Hamas, que ganhou, assim, o direito de indicar o Primeiro-Ministro. O Hamas não reconhece o Estado de Israel e é classificado como organização terrorista pelos EUA e pela União Europeia.
Apesar da derrota eleitoral, o Fatah não deixou o poder, e a hostilidade entre os dois grupos explodiu em uma luta aberta. O resultado disso foi o surgimento de dois governos palestinos: um, representado pelo Hamas, ficou com o controle de gaza; o outro, controlado pelo Fatah, com a Cisjordânia.

6. Revolução no Irã
O Irã é o herdeiro da antiga Pérsia. Foi o berço do zoroastrismo, mas sua população converteu-se ao islamismo depois que esse país foi conquistado pelos árabes no século VII. Em 1935, o governo iraniano solicitou aos governos ocidentais que não mais se referissem ao seu país pelo nome de Pérsia, mas sim Irã, que era como seus habitantes o chamavam.
O Irã foi um caso raro no Oriente médio, pois não chegou a ser colonizado pelas potências europeias. A descoberta do petróleo em 1908 atraiu o interesse de capitalistas britânicos. Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo iraniano revelou simpatia pelo nazismo e o país foi ocupado por soldados britânicos e soviéticos.
Nesse tempo, o Irã era uma monarquia, e desde 1941 seu soberano era o xá Reza Pahlevi (era um antigo título dos reis da Pérsia). Em 1951, o primeiro-ministro Mohammad Mossadegh passou a controlar o governo. Ele nacionalizou as companhias britânicas que exploravam o petróleo iraniano e colocou o país na área de influência da União Soviética.
O governo de Mossadegh, porém, durou pouco. Ao fim de dois anos, ele foi afastado por um golpe de Estado, apoiado pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha. Reza Pahlevi retomou o poder e nele permaneceu até 1979.
As medidas mais visíveis do governo de Pahlevi foram: a adoção de um programa de reformas, que incluiu a distribuição das terras; a redução do analfabetismo; a concessão de maiores direitos para as mulheres; o afastamento da religião sobre a educação e uma maior aproximação com os países ocidentais, em particular com os Estados Unidos.

Uma república islâmica no Irã
Essa política, entretanto, não era bem vista por todos os iranianos. Desagradava, por exemplo, aos que viam a ocidentalização como uma traição às tradições do islamismo e, também, aos setores mais sensíveis às denúncias de corrupção. O descontentamento cresceu e o governo reagiu aumentando a repressão. Os diversos setores da oposição (religiosos tradicionalistas, socialistas, comunistas e liberais) se uniram contra a política adotada pelo xá sob a liderança de um líder religioso que vivia exilado em Paris, o aiatolá Ruhollah Khomeini.
A campanha da oposição triunfou em 1979. Em janeiro, Reza Pahlevi deixou o país. no mês seguinte, Khomeini assumiu o poder e inaugurou um novo regime: o Irã foi proclamado república Islâmica. Isso significou uma mudança radical no equilíbrio de forças da região. Os Estados Unidos, até então aliados, passaram a ser vistos pelos iranianos como inimigos devido ao apoio que davam ao governo de Reza Pahlevi.
Em 1980, explodiu a guerra com o vizinho Iraque, que durou oito anos. Além da disputa por áreas produtoras de petróleo, o conflito opôs duas tendências islâmicas distintas: a xiita, do aiatolá Khomeini, e a sunita, de Saddam Hussein, do Iraque. Sem vitória, os dois países assinaram um cessar-fogo em 1988, com a mediação da ONU. A guerra deixou um legado de 800 mil soldados mortos nos dois países.

O Irã depois de Khomeini
Khomeini morreu em 1989, mas isso não favoreceu o restabelecimento das relações com o governo dos Estados Unidos. Em 2002, o então presidente norte-americano George W. Bush acusou o Irã de manter um programa secreto para a produção de armas nucleares e o colocou ao lado do Iraque e da Coreia do Norte como integrantes do que chamou de “eixo do mal”.
Em 2005, Mahmoud Ahmedinejad, um seguidor ortodoxo da linha inaugurada por Khomeini, foi eleito para a Presidência do Irã, contando com os votos dos setores mais pobres e mais religiosos da população. Sob seu governo, o Irã continua dando decidido apoio ao grupo xiita libanês Hezbollah, que combate Israel e continua também desenvolvendo seu programa nuclear.
Em dezembro de 2006, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução proibindo a transferência de tecnologia nuclear ao Irã e exigindo a suspensão do programa. O governo iraniano se negou a acatar a determinação, sob a alegação de que esse programa tinha fins pacíficos e se destinava à produção de energia. A decisão gerou sanções dos Estados Unidos, da União Europeia e da ONU.
Em julho de 2015, as sanções econômicas foram negociadas mediante a assinatura de um acordo entre Irã e Estados Unidos, Alemanha, Rússia, China e Reino Unido. O acordo autorizou a continuidade do projeto nuclear do Irã, mas apenas para fins pacíficos.

7. A guerra contra o terror
Na manhã de 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos sofreram o mais grave ataque a seu território desde a Segunda guerra mundial. Nesse dia, aviões sequestrados por terroristas suicidas foram atirados contra dois dos principais símbolos do poderio econômico e militar dos Estados Unidos: as torres gêmeas do World Trade Center, em nova York, e o Pentágono, em Washington.
Outro avião caiu nos arredores de Pittsburg (nordeste dos EUA) antes de atingir seu alvo. Quase três mil pessoas morreram no atentado.
A ação foi atribuída pelo governo norte-americano a uma organização extremista de muçulmanos radicais, conhecida como Al-Qaeda. Seu líder, Osama bin Laden, estaria escondido no Afeganistão, país governado pelo Talibã, partido islâmico igualmente radical.
Com base nessas informações, os Estados Unidos formaram uma coalizão com outros países (entre os quais Grã-Bretanha, França, Rússia e Canadá) e, em 7 de outubro de 2001, lançaram uma fulminante ofensiva militar contra o Afeganistão. A guerra terminou com a derrubada do governo do Talibã, em fevereiro do ano seguinte. Osama bin Laden, porém, conseguiu escapar.

A guerra contra Saddam Hussein
Após afastar o governo do Talibã do poder no Afeganistão, Bush passou a hostilizar o governo do ditador iraquiano Saddam Hussein, que em anos anteriores havia sido aliado dos Estados Unidos.
Assim como o Talibã, que havia recebido ajuda militar dos Estados Unidos para combater a ocupação soviética no Afeganistão (1979-1988), Saddam Hussein também recebera ajuda dos Estados Unidos na guerra contra o Irã (1980-1988). Em 2002, entretanto, esse quadro tinha mudado radicalmente. George W. Bush passou a acusar Hussein de prestar ajuda a terroristas muçulmanos e de fabricar armas de destruição em massa em solo iraquiano.
As acusações nunca foram provadas, mas Bush as utilizou amplamente para convencer a opinião pública norte-americana de que Hussein representava um perigo para o mundo.
Seus argumentos, contudo, não foram suficientes para persuadir o Conselho de Segurança da ONU, que não aprovou o lançamento de uma ofensiva militar contra o Iraque. Dos membros do Conselho, apenas a Grã-Bretanha apoiou a proposta dos Estados Unidos.

A Guerra contra o Iraque
Inconformados com a posição da ONU, Bush e Tony Blair (então primeiro-ministro britânico) optaram pela guerra imediata e ordenaram o bombardeio do Iraque com mísseis e aviões a partir da noite de 19 de março de 2003.
Menos de um mês depois, no dia 12 de abril de 2003, as forças anglo-americanas, contando com 300 mil soldados, entraram em Bagdá. Saddam Hussein, entretanto, conseguiu escapar. Ele só seria encontrado e preso em fins de 2003 (ele foi julgado pelo Tribunal Penal Iraquiano, condenado à morte e enforcado em 20 de dezembro de 2006).
Derrubar o frágil governo de Saddam Hussein havia sido uma tarefa relativamente fácil. Mas as forças de ocupação logo descobririam que o mais difícil estava por vir. De fato, um mês depois de terminada a guerra, começaram as ações de guerrilha da resistência iraquiana contra as tropas de ocupação. Uma das vítimas desses atentados foi o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, enviado especial da ONU ao Iraque e morto em agosto de 2003.

A transferência o poder aos iraquianos
Em junho de 2004, o poder foi transferido para um governo provisório formado por iraquianos. Em janeiro do ano seguinte, foram organizadas eleições parlamentares, para as quais se inscreveram 14,3 milhões de eleitores, com o objetivo de eleger os 275 deputados responsáveis pela elaboração de uma nova Constituição. O documento foi elaborado entre maio e agosto de 2005 e aprovado por um referendo popular em 15 de outubro de 2005.
No dia 15 de dezembro de 2005, ocorreram eleições parlamentares para formar a Câmara Legislativa do Iraque. Os deputados eleitos discutiram durante 15 meses antes de conseguirem indicar o primeiro-ministro e um presidente. As tropas dos Estados, no entanto, permaneceram no Iraque até dezembro de 2011.

8. A “Primavera Árabe”
O movimento conhecido por Primavera Árabe foi uma revolta que se espalhou pelos países árabes, a partir do final de 2010. A revolta teve seu começo na Tunísia, um país do norte da África. O estopim para a revolta foi a apreensão do carrinho de um vendedor ambulante. A reação do vendedor foi atear fogo ao próprio corpo. Ele foi socorrido, mas morreu no hospital poucos dias depois.
Um grande movimento de protesto se espalhou pelo país, que enfrentava um alto índice de desemprego. Os manifestantes também criticavam caráter autoritário do governo. Depois de um mês de protesto, o velho presidente Zine al-Abidine Bem Ali, que governava o país desde 1987, foi deposto no dia 15 de janeiro de 2011.
Da Tunísia, o movimento se alastrou por diversos países árabes, assumindo grandes proporções. Os protestos resultaram na queda de quatro ditaduras – Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen. Houve também reformas políticas importantes em outros países, como aconteceu em Marrocos, em que o rei concordou com a promulgação de uma nova Constituição, que introduziu reformas democráticas no país.
As revoltas foram bastante diferentes entre si. Na Tunísia e no Egito, os governantes foram depostos por movimentos relativamente pacíficos e rápidos. Mas na Líbia, no Iêmen e na Síria houve lutas sangrentas e prolongadas.
A Líbia foi bombardeada por aviões da Otan, em apoio aos rebeldes. A luta somente terminou com a morte do presidente Muammar Kadafi , em outubro de 2011. no Iêmen, foram necessários cerca de dez meses de protestos da população para que o presidente Ali Abdullah Saleh concordasse em deixar o cargo que ocupava havia 32 anos. Na Síria, o confronto entre o presidente Bashar al-Assad e os opositores se converteu em uma prologada guerra civil.
A Primavera Árabe foi provocada basicamente pela falta de liberdade e por motivos econômicos e demográficos. De fato, esses países viviam sob regimes ditatoriais e neles havia uma grande proporção de jovens sem emprego, em virtude do baixo crescimento econômico. Para a mobilização dos manifestantes, é interessante notar a importância que tiveram as redes sociais, como o Facebook e o Twitter.

9. Guerra civil na Síria
No início, em 2011, travava-se uma luta da oposição contra o presidente Bashar al Assad, membro de uma família que governa a Síria de forma autoritária desde 1970. A situação se agravou quando, além da oposição ao presidente, também entrou na guerra um novo grupo muçulmano, o Estado Islâmico (EI). Dessa forma, a guerra civil na Síria passou a envolver três grupos: as forças fiéis ao presidente, as forças de oposição a Bashar al Assad e as forças do EI.
Em consequência, milhares de sírios se tornaram refugiados, ou seja, tiveram de partir para o exterior, fugindo da violência, que já destruiu grande parte do país e já matou milhares de pessoas.
Não são apenas os sírios que fogem de seu país. Afegãos, iraquianos, paquistaneses, somalianos e nigerianos também buscam escapar de guerras, violência, pobreza e falta de perspectivas. O destino é a Europa e, para alcançar esse objetivo, os refugiados não hesitam em percorrer caminhos de alto risco, a pé ou atravessando o mar mediterrâneo em embarcações precárias, na expectativa de encontrar refúgio dos horrores da guerra.

O Estado Islâmico
Em 2014, o Estado islâmico concedeu a seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, o título de califa.
O califa é um chefe de Estado que possui atribuições militares, religiosas e políticas, ou seja, é peça de um modelo teocrático, sem dissociação entre Estado e religião. Esse modelo implica a adoção da sharia, conjunto de leis que tem como base os preceitos religiosos islâmicos. A Sharia estabelece regras no plano religioso, militar, político e orienta tanto a vida individual como a coletiva.
A formação do Estado Islâmico está relacionada à crise política que teve início no Iraque com a guerra iniciada em 2003. Essa guerra, como vimos, iniciou-se dois anos após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, conduzidos por membros da Al-Qaeda, então liderada por Osama Bin Laden.
O Estado Islâmico surgiu como uma derivação da Al-Qaeda, mas os dois grupos se tornaram bem diferentes. As ações do EI se tornaram muito mais radicais e, ao contrário da Al-Qaeda, os militantes do EI não respeitaram as fronteiras existentes.
De seu território original, entre a Síria e o Iraque, o EI expandiu rapidamente a área sob seu controle. Sua ação era financiada por meios ilícitos (resgates de sequestros, por exemplo) e, principalmente, pelas fontes de petróleo e gás que ficaram sob seu controle. Dessa forma, a organização teve recursos para comprar armas e ampliar o quadro de militantes.
O EI foi muito eficiente em seus métodos de recrutamento de novos combatentes, que chegam de todas as partes do mundo. A partir de agosto de 2014, o EI começou a figurar cotidianamente nas manchetes do mundo todo ao divulgar imagens da execução e decapitação de seus reféns.
No mesmo ano, cerca de 30 países estiveram presentes em uma conferência em Paris decidiram formar uma coalizão contra o Estado Islâmico, desencadeando-se um conflito que ainda continuava no início de 2018.

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