ORIENTE
MÉDIO
EM CHAMAS
O Oriente
Médio é o mais antigo berço da
civilização.
Foi lá que a humanidade primeiramente conheceu a
agricultura, o uso de metais, a urbanização, a escrita e tantos outros
elementos que fazem parte do nosso modo de vida. Entre esses outros elementos
se encontram a religião monoteísta e o Estado organizado.
Situado
entre três continentes, o Oriente Médio foi o ponto de encontro entre Oriente e
Ocidente e sede de grandes impérios na Antiguidade (Bizantino), na Idade Média
(Islâmico) e nos tempos modernos (Otomano).
Região
rica em petróleo, o Oriente Médio tem sido palco de muitos conflitos após a
Primeira Guerra Mundial, quando desapareceu o Império Otomano. A situação ficou
ainda mais grave depois da Segunda Guerra.
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Palestino enfrenta com pedras um tanque israelense durante a Intifada. |
Em 1947, teve início a Guerra Fria. Nesse mesmo ano, a ONU realizou a partilha da Palestina, evento que está
na origem do mais antigo e mais duradouro dos conflitos que assolaram a região.
Seus protagonistas são os israelenses e os árabes (entre eles, os palestinos,
nome dado aos árabes que moram na Palestina). Os conflitos, no entanto,
estendem-se também entre os próprios árabes, envolvendo questões econômicas,
políticas e religiosas.
1. A
presença dos imperialismos britânico e francês
Uma
das consequências da Primeira Guerra Mundial foi o desaparecimento do Império
Otomano, constituído pelos turcos mais de seis séculos antes. Com isso, a
Sociedade das Nações (também chamada de Liga das Nações) surgida em 1920, colocou sob a autoridade da França e da
Grã-Bretanha amplas áreas do Oriente Médio, até então governadas por esse
império. Esse arranjo ficou conhecido como sistema de mandatos. As duas
potências europeias ficaram também encarregadas de preparar os respectivos
povos para se tornarem Estados independentes em um futuro próximo.
Por
esse sistema, a França ficou responsável pelos territórios da Síria e do
Líbano, enquanto a Grã-Bretanha assumiu a responsabilidade pela Mesopotâmia e
pela Palestina.
Os mandatos franceses
Na
Síria, com o fim do domínio otomano, Damasco foi ocupada por tropas comandadas
por Faisal, que seria depois coroado rei do Iraque. Mas seu reinado durou
pouco, pois a Síria havia passado para o mandato francês. Em 1925, em meio a uma
insurreição contra o domínio francês, Damasco foi submetida a um bombardeio que
deixou um saldo de cinco mil vítimas.
O
movimento rebelde continuou nos anos seguintes, bem como os bombardeios.
O
domínio francês encontrou forte resistência popular na Síria, resultando em
muitos atos de violência. Em 1936, o governo francês concordou em negociar um
tratado de independência, mas o tratado não chegou a ser colocado em prática.
Em 1944, a independência da Síria foi reconhecida pelas novas potências
mundiais, a União Soviética e os EUA, mas a França continuava resistindo.
Finalmente
em 1946, os franceses, sob pressão, tiveram de retirar suas tropas, ficando a
Síria sob um governo republicano.
No
caso do Líbano, os franceses promoveram, em 1926, uma Constituição que
instituiu uma República Parlamentarista.
As
cadeiras do Parlamento foram divididas basicamente de acordo com um critério
religioso. A diversidade religiosa era grande, com destaque para os drusos,
cuja religião reúne elementos do islamismo, judaísmo e cristianismo; os
islâmicos, divididos entre sunitas e xiitas; cristãos, igualmente divididos em
diversos grupos, sendo os maronitas os mais numerosos e principais aliados dos franceses
(e beneficiados na divisão das cadeiras do Parlamento). A independência do
Líbano foi proclamada em 1943, mas as tropas francesas somente se retiraram
quatro anos depois.
O mandato britânico
sobre o Iraque
Durante
a Primeira guerra, forças britânicas haviam invadido o Iraque (que preferiam
chamar de Mesopotâmia) e ocupado Bagdá. O controle dessa região havia se
tornado importante para os britânicos, desde que tinham começado a explorar
petróleo no vizinho Irã alguns anos antes.
Em
busca de ajuda contra os turcos otomanos, nessa ocasião o governo da Grã-Bretanha
prometeu apoiar o estabelecimento de governos árabes independentes após a
guerra. A promessa não foi cumprida; ao contrário, a Sociedade das nações
converteu o Iraque em um mandato britânico. O descontentamento causado por essa
decisão provocou uma grande revolta popular, o que obrigou os britânicos a
conceder certa autonomia ao país. O Iraque se tornou uma monarquia, e o trono
foi entregue ao emir Faisal (da dinastia hachemita). Ele ganhou esse benefício
por ser filho do prefeito de Meca, que fora aliado dos britânicos contra os
turcos otomanos.
Em
1932, o Iraque foi admitido na Liga das nações e conquistou a independência com
algumas condições.
O
governo iraquiano assinou um tratado de “aliança permanente”, pelo qual a
grã-Bretanha adquiria o direito de participar de todas as questões de política
externa do país; utilizar estradas de ferro, rios, portos, campos de aviação e
meios de transportes; e ocupar militarmente alguns aeroportos.
O mandato britânico
sobre a Palestina
Outro
mandato britânico era a Palestina, nome que nessa época se aplicava a uma ampla
região que incluía os territórios correspondentes atualmente a Israel, Cisjordânia,
Faixa de gaza, Jerusalém e Transjordânia (ou seja, a parte que ficava a leste
do rio Jordão).
Em
1921, a Transjordânia foi separada da Palestina e concedida ao príncipe Abdula (hachemita).
Alguns anos depois, converteu-se em Estado independente sob a tutela britânica
e, em 1941, assumiu o nome de Jordânia. Ao terminar oficialmente o mandato
britânico, Abdula fez-se coroar rei da Jordânia, em 1946.
Portanto,
nos anos que se seguiram ao final da Primeira guerra mundial, os elementos de
uma combinação explosiva estavam dados no Oriente médio: o fim do Império
Otomano, que assegurou alguma unidade política até aquele momento e era
substituído por novas potências hegemônicas, agora europeias; o surgimento do
nacionalismo árabe, embora os projetos de formação de nações fossem frustrados
pelo sistema de mandatos que repartia e subordinava os territórios ao controle
dos novos impérios; a entrada do nacionalismo judeu, tendo como objetivo a
fundação de um Estado na Palestina, contando com o apoio britânico; e, por fim,
o petróleo começava a ser explorado, o que se tornou, posteriormente, a
matéria-prima mais comercializada do mundo.
2. A
questão do Estado judeu e dos palestinos
Desde
a segunda metade do século XIX, era cada vez maior a imigração de judeus para a
Palestina, estimulada pela Sociedade dos Amigos de Sion (Sion é o nome
de uma das colinas de Jerusalém). O objetivo dessa entidade era a formação de
um Estado judeu (ou judaico) na Palestina.
O
sionismo era um movimento nacionalista, como tantos outros que atuavam na
Europa naquela época – final do século XIX. Os judeus não tinham um Estado
próprio nem um território. E esta passou a ser a principal meta do sionismo
desde a realização de seu primeiro congresso, na Suíça, em 1897.
O
jornalista e sociólogo Cláudio Camargo relata que, após o Congresso sionista,
rabinos de Viena enviaram dois mensageiros à Palestina para verificar a
viabilidade da fundação de um Estado judeu. Lá chegando, os emissários teriam
remetido um telegrama com a mensagem: “A noiva é bela, mas está casada com
outro homem”, referindo-se à presença da população árabe (Camargo, Cláudio. Guerras
árabe-israelenses. In: Magnoli, Demétrio (Org.). História das guerras.
São Paulo: Contexto, 2008. p. 427.).
A
imigração, porém, continuou, com a instalação de cerca de mil pessoas por ano
na Palestina. O movimento sionista intensificou a ida de judeus que compravam
terras pobres e não rentáveis, o que era favorecido pelos próprios árabes que
viam nisso um bom negócio. Em 1909, foi fundada a cidade de Telavive, que se
tornaria capital após a independência de Israel.
Durante
a Primeira guerra, Londres tornou-se o principal centro do Sionismo. Em 1917,
James Balfour, ministro das relações Exteriores da Grã-Bretanha, associou seu
nome àquela que ficaria conhecida como “Declaração Balfour”, segundo a qual o
governo britânico estava disposto a apoiar o estabelecimento de um Estado judeu
na Palestina.
Durante
a década de 1930, com a ascensão do nazismo e a perseguição aos judeus na
Alemanha, a imigração para a Palestina cresceu muito. Começaram a ocorrer,
então, rebeliões árabes reivindicando a limitação da entrada dos judeus e a
interdição da venda de terras árabes.
A partilha da
Palestina
No
final da Segunda guerra, a Grã-Bretanha transferiu o problema da Palestina para
a ONU. Em 1947, a Comissão Especial da ONU para a Palestina recomendou,
em seu relatório final, a partilha do território em dois Estados: um judeu e um
palestino, ficando a cidade de Jerusalém e seus arredores sob controle
internacional. O Estado judeu ficou com 53,5% do território, sendo que sua população
correspondia a 30% do total, enquanto ao Estado palestino coube 45,4% das
terras para acomodar 70% da população da região. A proposta foi aprovada pela
Assembleia geral da ONU, em 29 de novembro de 1947, presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha. A proposta transformou-se na resolução 181, que foi aceita pela
Organização Sionista mundial e rejeitada pelos árabes.
A primeira guerra
árabe-israelense
Tão
logo a resolução foi aprovada, os judeus fundaram o Estado de Israel, em maio
de 1948, o que foi imediatamente reconhecido pelos EUA e pela URSS. Os árabes,
porém, reagiram de forma bem diferente: no dia seguinte à proclamação do Estado
judeu, os exércitos da Síria, da Jordânia, do Iraque e do Egito invadiram a
Palestina para apoiar as populações árabes. Começava a primeira guerra
árabe-israelense.
Os
judeus vinham organizando suas milícias, e a principal delas, a Haganá (Defesa,
em hebraico), contava com 30 mil combatentes no começo da guerra, efetivos que
subiram para 94 mil no final de 1948. Os israelenses conseguiram resistir aos
ataques árabes.
Em
junho de 1948 ocorreu um cessar-fogo, mas foi de curta duração. A luta prosseguiu
até janeiro de 1949, quando os dois lados aceitaram os apelos da ONU em favor
de um cessar-fogo. A guerra terminou formalmente em 20 de julho de 1949, com a vitória
de Israel, que aproveitou para ampliar o próprio território.
Essa
guerra foi desastrosa para o povo palestino. Mais de 400 vilarejos foram
evacuados e destruídos.
O
número de palestinos no que passou a ser o território de Israel caiu
drasticamente: de 750 mil para 165 mil. Grande parte buscou refúgio nos países
vizinhos: Jordânia, Síria, Líbano e na Faixa de Gaza (território então sob o
controle do Egito).
3. O
Oriente Médio e a Guerra Fria
Com
a Segunda Guerra Mundial, o nacionalismo árabe fortaleceu-se, tendo como
causas:
•
o enfraquecimento e a retirada dos antigos impérios (França e Grã-Bretanha);
•
a independência de nações de maioria árabe.
O
nacionalismo judeu também ficou mais robusto, tornando-se política de Estado. A
importância do petróleo como fonte de energia cresceu ainda mais.
Em
nome de seus interesses estratégicos, Estados Unidos e União Soviética buscaram
aliados no Oriente médio durante o período chamado de guerra Fria e, com isso,
influenciaram a tomada de decisões e a evolução dos conflitos entre as forças
locais.
Nas
últimas duas décadas do século XX, com o fim da URSS e da guerra Fria, os
Estados Unidos passaram a intervir como potência hegemônica, tentando redefinir
a situação do Oriente médio em função de seus interesses globais.
A guerra do Canal de
Suez em 1956
O
principal líder do nacionalismo árabe foi Gamal Abdel Nasser. Ele defendia a
união dos países árabes para combater o imperialismo das potências ocidentais
no Oriente médio.
Nasser
apareceu com destaque no cenário político do Oriente Médio em 1952, ao comandar
um grupo de militares que tomou o poder no Egito. Quatro anos depois, sua
liderança entre os árabes cresceu ainda mais quando ele nacionalizou o Canal deSuez, até então explorado por franceses e britânicos.
O
gesto de Nasser foi uma represália à recusa dos governos dos Estados Unidos e
da Grã-Bretanha de concederem empréstimos para a construção da represa de Assuã
– que afinal foi construída com a ajuda da URSS.
Três
meses após a nacionalização, em outubro de 1956, França, Grã-Bretanha e Israel
organizaram uma ação militar conjunta para retomar o controle do canal.
Entretanto, a ação de franceses, britânicos e israelenses não obteve apoio das
superpotências.
A
URSS chegou a ameaçar com o uso de força militar para acabar com a agressão. As
tropas agressoras foram, então, retiradas e o Canal de Suez permaneceu
nacionalizado.
A
vitória do Egito fortaleceu não apenas a liderança de Nasser, mas também o
nacionalismo no mundo árabe, contando com o apoio da União Soviética.
A
organização coordenadora desse nacionalismo era a Liga Árabe, criada em março
de 1945. A Liga adotou uma postura anti-imperialista e, na Conferência do
Cairo, em 1964, declarou que seu objetivo final era a destruição do Estado de
Israel.
A Guerra dos Seis
Dias
A
meta de destruir o Estado de Israel, adotada na Conferência do Cairo, se
traduziria em ações militares.
A
partir de fevereiro de 1966, com a tomada do poder na Síria pelo partido Baath,
começaram a ocorrer ataques sírios e palestinos contra Israel na região de
fronteira. Em abril de 1967, a força aérea israelense abateu diversos aviões
sírios. Nasser foi, então, pressionado pelos governos da Síria e da Jordânia a
dar uma resposta e enviou grande quantidade de tropas para o Deserto do Sinai, região
entre o Egito e Israel. Além disso, enviou embarcações para fechar o estreito de
Tiran, impedindo a passagem de navios israelenses para o mar Vermelho.
Percebendo
que o cerco estava se fechando, Israel iniciou sua reação no dia 5 de junho de
1967. Em uma sequência de ações fulminantes, os israelenses destruíram quase
toda a aviação militar do Egito, da Síria e da Jordânia. Conquistaram a cidade
velha de Jerusalém, até então sob o controle dos jordanianos, assumiram o
controle da Cisjordânia e conquistaram o Canal de Suez. Com o Egito e a
Jordânia fora de combate, Israel atacou as colinas de Golan, território pertencente
à Síria.
O
conflito se encerrou no dia 10 e ficou conhecido como a Guerra dos Seis Dias.
Israel saiu-se plenamente vitorioso ao triplicar seu território, com a anexação
da parte oriental de Jerusalém e das colinas de Golan e a ocupação da
Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
A
ONU aprovou a Resolução 242 que estabeleceu entre, outras coisas, que Israel se
retirasse dos territórios ocupados e fosse encontrada uma solução para o
problema dos refugiados. Mas a resposta israelense foi negativa. O governo de
Israel se recusou a aceitar qualquer negociação que não se baseasse nos termos
impostos por Israel.
A Guerra do Yom
Kippur
Um
novo conflito explodiu em 6 de outubro de 1973, feriado religioso em Israel.
Enquanto os judeus comemoravam o Yom Kippur (Dia do Perdão), forças
egípcias e sírias atacaram conjuntamente Israel. O ataque egípcio se deu na
Península do Sinai e o Sírio, nas colinas de Golan.
Israel
foi surpreendido e sofreu pesadas baixas. Mas conseguiu reverter a situação a
partir de 14 de outubro, com uma contraofensiva no Sinai que acabou deixando a
capital do Egito à mercê das tropas israelenses.
O
avanço sírio também foi contido e as forças israelenses chegaram a ameaçar
Damasco. O conflito quase se transformou em uma guerra atômica, quando as duas
superpotências anunciaram a intenção de entrar na guerra: a URSS ameaçou deslocar
forças para a região e os Estados Unidos responderam com um alerta militar de
âmbito mundial, incluindo as forças nucleares.
Finalmente
foi firmada uma trégua em 22 de outubro.
Uma
das consequências dessa guerra foi o aumento do preço do petróleo. Os países
árabes, donos de grandes reservas de petróleo e organizados na Opep, resolveram
utilizar o produto como arma política em represália ao apoio que os EUA e a
Europa Ocidental haviam dado a Israel. Rapidamente, o preço desse produto mais
que triplicou, causando dificuldades econômicas aos países importadores em geral
– entre eles o Brasil.
O nascimento da OPEP
Seguindo
o princípio de que “a união faz a força”, em 1960 alguns países exportadores de
petróleo resolveram se unir e formaram a Organização dos Países Exportadores dePetróleo (Opep). O objetivo da nova entidade era controlar a oferta do produto
e, dessa forma, forçar o aumento de seu preço no mercado internacional. Esse
objetivo caracteriza um tipo de associação muito comum, denominado cartel.
Hoje,
a Opep é composta de treze países, entre os quais dois são sul-americanos
(Venezuela e Equador), quatro são africanos (Angola, Argélia, Líbia e Nigéria),
um é asiático (Indonésia) e seis estão no Oriente Médio (Arábia Saudita,
Emirados Árabes, Irã, Iraque, Kuwait e Qatar).
4. A
luta dos palestinos por um Estado nacional
A
partir de 1959, os palestinos começaram a se organizar militarmente para
reconquistar sua pátria. Formaram várias organizações, sendo a mais importante al-Fatah,
liderada por Yasser Arafat.
O
passo seguinte foi a criação, em 1964, da Organização para a Libertação daPalestina (OLP), que reuniu diversos movimentos guerrilheiros, inclusive a al-Fatah.
A sede da OLP foi estabelecida na Jordânia.
Nos
anos seguintes, a OLP passou a ser reconhecida pelos países árabes como
representante do povo palestino. Seu poder não parou de crescer. No caso da
Jordânia, isso acabou se tornando um problema, pois o governo desse país se
sentiu ameaçado e, em 1970, iniciou uma violenta ofensiva contra os militantes
palestinos. A OLP foi expulsa do território jordaniano, e transferiu seu
quartel-general para Beirute, capital do Líbano.
O Líbano e o problema
palestino
A
chegada dos refugiados palestinos minou o equilíbrio político em que vivia o
Líbano desde a independência. Embora frágil, esse arranjo havia permitido que o
país se tornasse um próspero centro financeiro.
As
divergências políticas entre os grupos cristãos e muçulmanos cresceram. Cada
grupo tinha a própria milícia, e o conjunto delas chegou a formar uma força
mais poderosa do que o próprio Exército nacional. Uma guerra civil explodiu em
1975. O exército libanês se fragmentou em facções rivais e o governo praticamente
parou de funcionar.
O
Líbano foi invadido por tropas sírias e israelenses.
A
intervenção síria refreou temporariamente a violência, mas não pôs fim à guerra.
A situação libanesa complicou-se em 1982, quando tropas de Israel invadiram o
sul do país. O objetivo da invasão era eliminar a OLP, cujos militantes promoviam
insistentes ataques ao território israelense. Beirute foi bombardeada pelas
forças de Israel e parcialmente ocupada. A OLP foi obrigada mais uma vez a
mudar de endereço: saiu do Líbano, transferindo seu quartel-general para a
Tunísia.
Uma
força armada enviada pela ONU supervisionou a saída da OLP, mas ela em seguida
se retirou.
Ocorreu,
então, um massacre de civis palestinos que viviam em campos de refugiados
localizados em uma área próxima de Beirute, controlada pelo exército de Israel.
O massacre foi executado por milicianos maronitas, em represália à morte do
presidente cristão.
Os
conflitos prosseguiram até 1989, quando a Assembleia Nacional Libanesa aprovou
um acordo de paz, que contou com o apoio de diversas potências (Estados Unidos,
URSS, França e Grã-Bretanha) e dos principais governos árabes. O acordo pôs fim
à guerra civil que havia durado quinze anos e matado cerca de 5% da população
libanesa, além dos estragos materiais causados ao país.
Os
termos do acordo determinavam o desarmamento das forças em conflito e dividiram
o governo: os cristãos ficaram com a presidência da República; os muçulmanos
sunitas ficaram com o cargo de primeiro-ministro; e os muçulmanos xiitas
ficaram com a presidência do Parlamento.
Hezbollah contra
Israel
Durante
a guerra civil os combatentes da OLP haviam sido expulsos do sul do Líbano
pelas forças israelenses. O lugar da OLP, no sul do Líbano, foi ocupado pelo
Hezbollah (Partido de Deus, em árabe), um grupo religioso, político e militar
libanês que havia se organizado oficialmente em 1982.
O
Hezbollah, formado por muçulmanos xiitas, não abandonou as armas mesmo quando um
acordo havia posto fim à guerra civil libanesa, em 1989. A justificativa era a
luta contra as forças de Israel, que continuavam ocupando o sul do Líbano. A
retirada das tropas israelenses ocorreu somente em 2000.
A
violência, entretanto, continuou e em 2006 a situação se agravou novamente.
No
início do mês de julho, militantes do Hezbollah mataram oito soldados
israelenses e capturaram outros dois. Em resposta, Israel realizou um ataque em
grande escala contra o Líbano, além de impor um bloqueio aéreo e marítimo
àquele país. O conflito prolongou-se por mais de um mês. No dia 14 de agosto,
entrou em vigor um cessar-fogo, tendo por base uma resolução aprovada pelo Conselhode Segurança da ONU, órgão que tem poder de impor sanções econômicas e
militares. A decisão foi acompanhada do envio de uma força internacional ao
Líbano. A guerra foi suspensa, mas as relações entre Israel e Líbano continuaram
tensas. Israel permanece armando sua fronteira com o Líbano. O envolvimento do Hezbollah
na guerra civil na Síria, que teve início em 2011, forneceu ao grupo
experiência combativa em áreas urbanas, fundamental para os ataques a Israel.
5.
Avanços e recuos no caminho para a paz
Durante
esses anos, apesar da violência, não deixou de haver iniciativas em favor da
paz para o conflito entre árabes e israelenses. Uma dessas iniciativas ocorreu
em 1977, quando Anuar Sadat, sucessor de Nasser na presidência do Egito,
discursou no Parlamento israelense. Esse esforço teve efeitos positivos: foram
abertas negociações que resultaram no acordo de paz de Camp David, nos Estados
Unidos, em 1979. Este acordo previa a devolução das terras tomadas ao Egito e abria
novas perspectivas para o convívio entre árabes e israelenses no Oriente médio.
As tensões, entretanto, não diminuíram. Muitos árabes não aprovaram o
reconhecimento do Estado de Israel, e Anuar Sadat acabou assassinado em 1981.
Um
passo significativo para estabelecer um acordo de paz foi dado em 1988. Na
ocasião, o Conselho nacional Palestino renunciou à luta armada contra Israel, e
aceitou a resolução 181 da ONU, de 1947, que tinha imposto a divisão da
Palestina entre judeus e palestinos.
O surgimento da
Autoridade Nacional Palestina
Graças
a essa decisão, a década de 1990 iniciou com grandes esperanças de paz. Em
1993, autoridades israelenses e palestinas firmaram uma declaração de
princípios, conhecida como Acordo de Oslo, na qual se previa a
autonomia gradativa dos palestinos na Cisjordânia e em gaza.
No
ano seguinte, tropas israelenses começaram a se retirar dos territórios
ocupados. Formou-se, então, a autoridade Nacional Palestina, instituição
estatal que exerceria autoridade sobre partes da Cisjordânia e da Faixa de
gaza. Seu governo ficou a cargo de um Poder Legislativo, com 132 deputados
eleitos, e um Poder Executivo, exercido por um presidente, e, desde 2003,
passou a existir também o cargo de primeiro-ministro.
Em
1996, Yasser Arafat foi eleito o primeiro presidente da autoridade Nacional
Palestina e seu grupo, o al-Fatah, conquistou a maioria no
Legislativo.
Intifada, a revolta Palestina
Apesar
desses avanços em busca da paz, as relações entre árabes e israelenses
continuaram tensas. Em setembro de 2000, teve início a segunda Intifada (a
primeira tinha sido em 1987), nome pelo qual ficou conhecida a revolta dos
palestinos das regiões ocupadas. Essa Intifada foi muito mais radical que a
anterior, e ficou marcada por ataques suicidas de jovens palestinos contra alvos
israelenses. Em resposta, Israel passou a invadir cidades das quais já havia se
retirado e a destruir esconderijos de organizações palestinas, provocando
terror e mortes entre a população civil. Yasser Arafat foi sitiado em seu
quartel-general, em Ramallah.
Um “roteiro para a
paz”
Em
abril de 2003, o chamado Quarteto de Madri (União Europeia, ONU, Estados
Unidos e Rússia) entregou aos governos israelense e palestino o texto de um
plano de paz.
Conhecido
como roteiro para a paz, o plano previa a criação de um Estado palestino
em 2005. Para que isso se tornasse possível, porém, os palestinos deveriam pôr
fim aos atentados contra Israel. Em contrapartida, os israelenses deveriam desmantelar
os assentamentos (colônias agrícolas) criados nos territórios ocupados.
Como
parte da iniciativa dos Estados Unidos para implementar o plano de paz, em junho de
2003, o presidente Bush viajou para o Oriente médio. Bush se reuniu com Ariel
Sharon e Mahmud Abbas, governantes de Israel e da Autoridade Palestina,
respectivamente. No encontro, ambos se comprometeram a apoiar o plano de paz.
Novos problemas no “caminho
da paz”
Uma
nova mudança de rumo ocorreu em agosto de 2003, quando o governo de Israel deu
início à construção de um muro para separar israelenses de palestinos na
Cisjordânia. Caso fosse erguida em território judeu, a cerca talvez pudesse ser
considerada medida defensiva legítima, mas boa parte de seu traçado avançava em
território palestino. A medida foi condenada pela Corte Internacional de Justiça,
pela ONU e pela União Europeia, sob o argumento de que violava as leis
internacionais.
Apesar
dessas condenações, o governo israelense continuou contando com o decisivo apoio
dos Estados Unidos. Em março de 2004, o primeiro-ministro Ariel Sharon anunciou
a intenção de retirar colonos israelenses da Faixa de gaza – o chamado plano
de desengate.
Ao
mesmo tempo, reafirmou o direito de Israel manter colônias na Cisjordânia
ocupada, região onde vivem cerca de 240 mil israelenses em meio a 2,3 milhões
de palestinos.
Sharon
admitiu que Israel não seguiria adiante com o roteiro da paz. E
confirmou a intenção de Israel em permanecer nos territórios restantes após a
execução do plano de retirada dos assentamentos de gaza.
Essa
atitude provocou a resposta imediata dos grupos ativistas palestinos, que, em
setembro de 2004, intensificaram os ataques contra Israel. À violência dos
palestinos, Israel respondeu com mais violência ainda. no início de outubro, o
exército israelense realizou novas incursões na Faixa de Gaza, que resultaram
na morte de dezenas de palestinos.
A paz fica mais
distante
A
morte de Yasser Arafat, presidente da ANP, em 11 de novembro de 2004, agravou
as tensões no Oriente Médio. Arafat havia representado um ponto de equilíbrio entre
as facções moderada e radical dos palestinos. Sua morte deixou um vazio
político que desencadeou disputas pelo poder entre as duas tendências. Mesmo
antes de sua morte, o prestígio da Autoridade Nacional Palestina já
vinha decaindo, sofrendo acusações de corrupção, incompetência e fraqueza na
luta contra Israel.
Apesar
disso, Mahmud Abbas, ex-primeiro-ministro e membro do Fatah, foi eleito
presidente em janeiro de 2005.
Um
ano depois, o quadro político sofreu uma mudança radical. A causa disso foi a
derrota do Fatah nas eleições para o Legislativo da Autoridade Palestina. O
vitorioso foi o Hamas, que ganhou, assim, o direito de indicar o Primeiro-Ministro.
O Hamas não reconhece o Estado de Israel e é classificado como organização
terrorista pelos EUA e pela União Europeia.
Apesar
da derrota eleitoral, o Fatah não deixou o poder, e a hostilidade entre os dois
grupos explodiu em uma luta aberta. O resultado disso foi o surgimento de dois
governos palestinos: um, representado pelo Hamas, ficou com o controle de gaza;
o outro, controlado pelo Fatah, com a Cisjordânia.
6.
Revolução no Irã
O
Irã é o herdeiro da antiga Pérsia. Foi o berço do zoroastrismo, mas sua
população converteu-se ao islamismo depois que esse país foi conquistado pelos
árabes no século VII. Em 1935, o governo iraniano solicitou aos governos
ocidentais que não mais se referissem ao seu país pelo nome de Pérsia, mas sim
Irã, que era como seus habitantes o chamavam.
O
Irã foi um caso raro no Oriente médio, pois não chegou a ser colonizado pelas
potências europeias. A descoberta do petróleo em 1908 atraiu o interesse de
capitalistas britânicos. Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo iraniano
revelou simpatia pelo nazismo e o país foi ocupado por soldados britânicos e
soviéticos.
Nesse
tempo, o Irã era uma monarquia, e desde 1941 seu soberano era o xá Reza Pahlevi
(xá era um antigo título dos reis da Pérsia). Em 1951, o
primeiro-ministro Mohammad Mossadegh passou a controlar o governo. Ele
nacionalizou as companhias britânicas que exploravam o petróleo iraniano e
colocou o país na área de influência da União Soviética.
O
governo de Mossadegh, porém, durou pouco. Ao fim de dois anos, ele foi afastado
por um golpe de Estado, apoiado pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha. Reza Pahlevi
retomou o poder e nele permaneceu até 1979.
As
medidas mais visíveis do governo de Pahlevi foram: a adoção de um programa de
reformas, que incluiu a distribuição das terras; a redução do analfabetismo; a
concessão de maiores direitos para as mulheres; o afastamento da religião sobre
a educação e uma maior aproximação com os países ocidentais, em particular com
os Estados Unidos.
Uma república
islâmica no Irã
Essa
política, entretanto, não era bem vista por todos os iranianos. Desagradava,
por exemplo, aos que viam a ocidentalização como uma traição às tradições do
islamismo e, também, aos setores mais sensíveis às denúncias de corrupção. O
descontentamento cresceu e o governo reagiu aumentando a repressão. Os diversos
setores da oposição (religiosos tradicionalistas, socialistas, comunistas e
liberais) se uniram contra a política adotada pelo xá sob a liderança de um
líder religioso que vivia exilado em Paris, o aiatolá Ruhollah Khomeini.
A
campanha da oposição triunfou em 1979. Em janeiro, Reza Pahlevi deixou o país.
no mês seguinte, Khomeini assumiu o poder e inaugurou um novo regime: o Irã foi
proclamado república Islâmica. Isso significou uma mudança radical no
equilíbrio de forças da região. Os Estados Unidos, até então aliados, passaram
a ser vistos pelos iranianos como inimigos devido ao apoio que davam ao governo
de Reza Pahlevi.
Em
1980, explodiu a guerra com o vizinho Iraque, que durou oito anos. Além da
disputa por áreas produtoras de petróleo, o conflito opôs duas tendências
islâmicas distintas: a xiita, do aiatolá Khomeini, e a sunita, de Saddam
Hussein, do Iraque. Sem vitória, os dois países assinaram um cessar-fogo em
1988, com a mediação da ONU. A guerra deixou um legado de 800 mil soldados
mortos nos dois países.
O Irã depois de
Khomeini
Khomeini
morreu em 1989, mas isso não favoreceu o restabelecimento das relações com o
governo dos Estados Unidos. Em 2002, o então presidente norte-americano George W.
Bush acusou o Irã de manter um programa secreto para a produção de armas
nucleares e o colocou ao lado do Iraque e da Coreia do Norte como integrantes
do que chamou de “eixo do mal”.
Em
2005, Mahmoud Ahmedinejad, um seguidor ortodoxo da linha inaugurada por
Khomeini, foi eleito para a Presidência do Irã, contando com os votos dos
setores mais pobres e mais religiosos da população. Sob seu governo, o Irã
continua dando decidido apoio ao grupo xiita libanês Hezbollah, que combate
Israel e continua também desenvolvendo seu programa nuclear.
Em
dezembro de 2006, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução
proibindo a transferência de tecnologia nuclear ao Irã e exigindo a suspensão
do programa. O governo iraniano se negou a acatar a determinação, sob a
alegação de que esse programa tinha fins pacíficos e se destinava à produção de
energia. A decisão gerou sanções dos Estados Unidos, da União Europeia e da
ONU.
Em
julho de 2015, as sanções econômicas foram negociadas mediante a assinatura de
um acordo entre Irã e Estados Unidos, Alemanha, Rússia, China e Reino Unido. O
acordo autorizou a continuidade do projeto nuclear do Irã, mas apenas para fins
pacíficos.
7. A
guerra contra o terror
Na
manhã de 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos sofreram o mais grave ataque
a seu território desde a Segunda guerra mundial. Nesse dia, aviões sequestrados
por terroristas suicidas foram atirados contra dois dos principais símbolos do
poderio econômico e militar dos Estados Unidos: as torres gêmeas do World Trade
Center, em nova York, e o Pentágono, em Washington.
Outro
avião caiu nos arredores de Pittsburg (nordeste dos EUA) antes de atingir seu
alvo. Quase três mil pessoas morreram no atentado.
A
ação foi atribuída pelo governo norte-americano a uma organização extremista de
muçulmanos radicais, conhecida como Al-Qaeda. Seu líder, Osama bin Laden,
estaria escondido no Afeganistão, país governado pelo Talibã, partido islâmico
igualmente radical.
Com
base nessas informações, os Estados Unidos formaram uma coalizão com outros
países (entre os quais Grã-Bretanha, França, Rússia e Canadá) e, em 7 de
outubro de 2001, lançaram uma fulminante ofensiva militar contra o Afeganistão.
A guerra terminou com a derrubada do governo do Talibã, em fevereiro do ano
seguinte. Osama bin Laden, porém, conseguiu escapar.
A guerra contra
Saddam Hussein
Após
afastar o governo do Talibã do poder no Afeganistão, Bush passou a hostilizar o
governo do ditador iraquiano Saddam Hussein, que em anos anteriores havia sido
aliado dos Estados Unidos.
Assim
como o Talibã, que havia recebido ajuda militar dos Estados Unidos para combater a
ocupação soviética no Afeganistão (1979-1988), Saddam Hussein também recebera ajuda
dos Estados Unidos na guerra contra o Irã (1980-1988). Em 2002, entretanto, esse
quadro tinha mudado radicalmente. George W. Bush passou a acusar Hussein de prestar
ajuda a terroristas muçulmanos e de fabricar armas de destruição em massa em solo
iraquiano.
As
acusações nunca foram provadas, mas Bush as utilizou amplamente para convencer a
opinião pública norte-americana de que Hussein representava um perigo para o
mundo.
Seus
argumentos, contudo, não foram suficientes para persuadir o Conselho de
Segurança da ONU, que não aprovou o lançamento de uma ofensiva militar contra o
Iraque. Dos membros do Conselho, apenas a Grã-Bretanha apoiou a proposta
dos Estados Unidos.
A Guerra contra o
Iraque
Inconformados
com a posição da ONU, Bush e Tony Blair (então primeiro-ministro britânico) optaram
pela guerra imediata e ordenaram o bombardeio do Iraque com mísseis e aviões a
partir da noite de 19 de março de 2003.
Menos
de um mês depois, no dia 12 de abril de 2003, as forças anglo-americanas,
contando com 300 mil soldados, entraram em Bagdá. Saddam Hussein, entretanto,
conseguiu escapar. Ele só seria encontrado e preso em fins de 2003 (ele foi
julgado pelo Tribunal Penal Iraquiano, condenado à morte e enforcado em 20 de
dezembro de 2006).
Derrubar
o frágil governo de Saddam Hussein havia sido uma tarefa relativamente fácil. Mas
as forças de ocupação logo descobririam que o mais difícil estava por vir. De
fato, um mês depois de terminada a guerra, começaram as ações de guerrilha da
resistência iraquiana contra as tropas de ocupação. Uma das vítimas desses
atentados foi o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, enviado especial da ONU ao
Iraque e morto em agosto de 2003.
A transferência o poder aos iraquianos
Em
junho de 2004, o poder foi transferido para um governo provisório formado por
iraquianos. Em janeiro do ano seguinte, foram organizadas eleições
parlamentares, para as quais se inscreveram 14,3 milhões de eleitores, com o
objetivo de eleger os 275 deputados responsáveis pela elaboração de uma nova Constituição.
O documento foi elaborado entre maio e agosto de 2005 e aprovado por um
referendo popular em 15 de outubro de 2005.
No
dia 15 de dezembro de 2005, ocorreram eleições parlamentares para formar a
Câmara Legislativa do Iraque. Os deputados eleitos discutiram durante 15 meses antes
de conseguirem indicar o primeiro-ministro e um presidente. As tropas dos
Estados, no entanto, permaneceram no Iraque até dezembro de 2011.
8. A
“Primavera Árabe”
O
movimento conhecido por Primavera Árabe foi uma revolta que se espalhou pelos países árabes, a partir do final
de 2010. A revolta teve seu começo na Tunísia, um país do norte da África.
O estopim para a revolta foi a apreensão do carrinho de um vendedor ambulante.
A reação do vendedor foi atear fogo ao próprio corpo. Ele foi socorrido, mas
morreu no hospital poucos dias depois.
Um
grande movimento de protesto se espalhou pelo país, que enfrentava um alto
índice de desemprego. Os manifestantes também criticavam caráter autoritário do
governo. Depois de um mês de protesto, o velho presidente Zine al-Abidine Bem Ali,
que governava o país desde 1987, foi deposto no dia 15 de janeiro de 2011.
Da
Tunísia, o movimento se alastrou por diversos países árabes, assumindo grandes proporções.
Os protestos resultaram na queda de quatro ditaduras – Tunísia, Egito, Líbia e
Iêmen. Houve também reformas políticas importantes em outros países, como
aconteceu em Marrocos, em que o rei concordou com a promulgação de uma nova
Constituição, que introduziu reformas democráticas no país.
As
revoltas foram bastante diferentes entre si. Na Tunísia e no Egito, os
governantes foram depostos por movimentos relativamente pacíficos e rápidos. Mas
na Líbia, no Iêmen e na Síria houve lutas sangrentas e prolongadas.
A
Líbia foi bombardeada por aviões da Otan, em apoio aos rebeldes. A luta somente
terminou com a morte do presidente Muammar Kadafi , em outubro de 2011. no
Iêmen, foram necessários cerca de dez meses de protestos da população para que
o presidente Ali Abdullah Saleh concordasse em deixar o cargo que ocupava havia
32 anos. Na Síria, o confronto entre o presidente Bashar al-Assad e os
opositores se converteu em uma prologada guerra civil.
A
Primavera Árabe foi provocada basicamente pela falta de liberdade e por
motivos econômicos e demográficos. De fato, esses países viviam sob regimes
ditatoriais e neles havia uma grande proporção de jovens sem emprego, em
virtude do baixo crescimento econômico. Para a mobilização dos manifestantes, é
interessante notar a importância que tiveram as redes sociais, como o Facebook
e o Twitter.
9.
Guerra civil na Síria
No
início, em 2011, travava-se uma luta da oposição contra o presidente Bashar al
Assad, membro de uma família que governa a Síria de forma autoritária desde
1970. A situação se agravou quando, além da oposição ao presidente, também
entrou na guerra um novo grupo muçulmano, o Estado Islâmico (EI). Dessa forma,
a guerra civil na Síria passou a envolver três grupos: as forças fiéis ao
presidente, as forças de oposição a Bashar al Assad e as forças do EI.
Em
consequência, milhares de sírios se tornaram refugiados, ou seja,
tiveram de partir para o exterior, fugindo da violência, que já destruiu grande
parte do país e já matou milhares de pessoas.
Não
são apenas os sírios que fogem de seu país. Afegãos, iraquianos, paquistaneses,
somalianos e nigerianos também buscam escapar de guerras, violência, pobreza e
falta de perspectivas. O destino é a Europa e, para alcançar esse objetivo, os
refugiados não hesitam em percorrer caminhos de alto risco, a pé ou
atravessando o mar mediterrâneo em embarcações precárias, na expectativa de encontrar
refúgio dos horrores da guerra.
O Estado Islâmico
Em
2014, o Estado islâmico concedeu a seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, o
título de califa.
O
califa é um chefe de Estado que possui atribuições militares, religiosas e
políticas, ou seja, é peça de um modelo teocrático, sem dissociação entre
Estado e religião. Esse modelo implica a adoção da sharia, conjunto de
leis que tem como base os preceitos religiosos islâmicos. A Sharia estabelece
regras no plano religioso, militar, político e orienta tanto a vida individual
como a coletiva.
A
formação do Estado Islâmico está relacionada à crise política que teve início
no Iraque com a guerra iniciada em 2003. Essa guerra, como vimos, iniciou-se
dois anos após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados
Unidos, conduzidos por membros da Al-Qaeda, então liderada por Osama Bin Laden.
O
Estado Islâmico surgiu como uma derivação da Al-Qaeda, mas os dois grupos se
tornaram bem diferentes. As ações do EI se tornaram muito mais radicais e, ao
contrário da Al-Qaeda, os militantes do EI não respeitaram as fronteiras
existentes.
De
seu território original, entre a Síria e o Iraque, o EI expandiu rapidamente a
área sob seu controle. Sua ação era financiada por meios ilícitos (resgates de
sequestros, por exemplo) e, principalmente, pelas fontes de petróleo e gás que ficaram
sob seu controle. Dessa forma, a organização teve recursos para comprar armas e
ampliar o quadro de militantes.
O
EI foi muito eficiente em seus métodos de recrutamento de novos combatentes,
que chegam de todas as partes do mundo. A partir de agosto de 2014, o EI
começou a figurar cotidianamente nas manchetes do mundo todo ao divulgar
imagens da execução e decapitação de seus reféns.
No
mesmo ano, cerca de 30 países estiveram presentes em uma conferência em Paris decidiram
formar uma coalizão contra o Estado Islâmico, desencadeando-se um conflito que
ainda continuava no início de 2018.
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