A DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA
E DA ÁSIA
A descolonização da África
e da Ásia teve início logo após o final
da Segunda
Guerra Mundial. Nessa ocasião, os impérios coloniais começaram a desmoronar e o
domínio que as nações europeias exerciam nesses territórios foi substituído por
novas nações politicamente independentes.
Mahatma Ghandi, líder da independência da Índia. |
Em
geral, os processos de independência foram solidificados por ideais
nacionalistas e, muitas vezes, com a eclosão de conflitos sangrentos. Apesar da
liberdade conquistada, os traumas de décadas de espoliação e humilhação desses
povos deixaram marcas profundas no continente, como a miséria e os conflitos
étnicos que perduram até hoje.
1. O fim
do neocolonialismo
Nos
anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), podia-se observar em
toda a Europa a diminuição do poderio mundial dos países do continente. A
guerra acentuou esse declínio, e a primeira consequência acabou sendo a
desintegração dos impérios coloniais que Reino Unido, França, Bélgica, Itália e
Holanda mantinham na África e na Ásia.
Poucos
anos após a guerra, já havia movimentos de emancipação em várias regiões dos
continentes dominados. A base desses movimentos, em geral, era um forte
sentimento nacionalista, insuflado pelo desejo das populações locais de se
libertar do jugo estrangeiro.
A
Guerra Fria estimulou esse processo de descolonização. Tanto os Estados Unidos
como a União Soviética se opunham à manutenção do sistema colonial. Era mais
interessante para as duas potências ampliar suas respectivas áreas de influência.
Por isso elas apoiaram muitos dos movimentos de emancipação.
O
processo de descolonização se estendeu por três décadas. Durante esse período,
os países europeus muitas vezes opuseram forte resistência às mudanças. Só
foram complacentes nos casos em que puderam controlar o processo de emancipação
e manter os novos países independentes sob sua influência. Assim, era possível
preservar suas fontes de riquezas e o prestígio internacional.
A
descolonização ocorreu de forma desigual, pois em cada território havia
especificidades regionais, com histórias locais diferentes. Para alcançar a
independência, alguns povos colonizados utilizaram a negociação diplomática;
outros recorreram à resistência pacífica; outros, ainda, foram obrigados a
partir para a luta armada.
2. A
descolonização da Ásia
Do
ponto de vista cronológico, o processo de descolonização começou na Ásia.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os japoneses, seguindo sua política expansionista,
ocuparam vastos territórios do continente. Derrotados, tiveram de abandonar a
região, o que colaborou para a eclosão de diversas rebeliões pró-emancipação.
A independência da Índia
Alguns
movimentos de emancipação na Ásia foram marcantes, como na Índia, por exemplo. No
início do século XX, o Reino Unido controlava a parte sul da Ásia, e a Índia
era o principal centro de ocupação. Nesse país, o processo de independência foi
conduzido pelo Partido do Congresso, fundado em 1885 por uma minoria indiana
que havia estudado na Europa.
Na
década de 1920, com o fortalecimento do nacionalismo, o movimento passou a ser
liderado por Mahatma Gandhi, que defendia métodos não violentos de luta, como a
desobediência civil e a resistência pacífica. A primeira estratégia se traduzia
no boicote aos produtos britânicos e ao pagamento de impostos. A segunda em não
reagir à repressão para vencer moralmente o inimigo.
A
estratégia foi bem-sucedida. Em 1947, a Índia tornou-se independente, agitada
por uma forte rivalidade entre hindus e muçulmanos. Após a saída dos ingleses, a Índia se dividiu
em dois países, restando, de um lado a Índia (de maioria hindu), e de outro, o
Paquistão (de maioria muçulmana). A divisão se deu em meio a confrontos
religiosos que causaram milhões de mortes. E provocou um fluxo migratório
intenso: muçulmanos migrando para o Paquistão, e hindus migrando para o lado
indiano. Foi a maior migração forçada da história, e também provocou um
número incontável de mortes.
Na
ocasião, o Paquistão era formado por dois territórios – o Paquistão Oriental
(atual Bangladesh) e o Paquistão Ocidental –, separados por milhares de
quilômetros um do outro, tendo o norte da Índia entre eles. Mais tarde, em 1971,
o Paquistão Oriental se emancipou e constituiu Bangladesh. Em 1948, a ilha do
Ceilão, de maioria budista, tornou-se independente com o nome de Sri Lanka.
Ainda existem disputas territoriais entre o Paquistão e a Índia. O conflito entre os
dois países é particularmente perigoso, pois ambos possuem armas nucleares.
Guerra na Indochina
A
Indochina, localizada no sudeste da Ásia, encontrava-se desde o século XIX sob
o domínio França.. Durante a Segunda Guerra Mundial, os japoneses assumiram o
controle da região, mas, com o fim do conflito, o quadro mudaria outra vez.
Liderados
por Ho Chi Min, os comunistas da Liga pela Independência – também conhecida
como Vietminh – proclamaram a emancipação do país. A França, no entanto,
não reconheceu a independência e em 1946 teve início uma luta que se estenderia
até 1954, quando os franceses foram vencidos na batalha de Dien Bien Phu.
No
mesmo ano, um acordo assinado na conferência de Genebra, Suíça, dividiu
a Indochina em três países: Vietnã, Laos e Camboja. O Vietnã, por sua vez, foi
separado em duas partes, uma comunista (Vietnã do Norte, com Hanói como
capital) e outra capitalista (Vietnã do Sul, com capital em Saigon). Em Genebra
também ficoua certado que, dois anos depois, haveria eleições para reunificar o
país. O acordo não foi cumprido. Em vez das eleições teve início uma longa
guerra civil.
Os
comunistas do sul – que viviam, portanto, na parte “capitalista” do Vietnã, sob
influência dos EUA – organizaram a Frente de Libertação Nacional, com um
exército de guerrilheiros conhecido como vietcongue. O objetivo era a
reunificação do país sob o regime de Hanói. Mas o governo dos Estados Unidos
estava convencido de que, se os comunistas tomassem o Vietnã, em seguida
controlariam também outros países da região. Para impedir que isso acontecesse,
os EUA começaram a enviar cada vez mais ajuda militar ao governo de Saigon,
conforme mostra a tabela a seguir.
Como
resultado dessas pressões e dos fracassos militares, em 1973 o presidente
Richard Nixon aceitou um acordo para a retirada das forças estadunidenses do
Vietnã. A guerra, porém, se prolongou até 1975, quando os guerrilheiros
vietcongues tomaram Saigon. Em 1976, o Norte e o Sul foram reunificados em um
só país, dando origem à república socialista do Vietnã, com sede em
Hanói.
3. A
descolonização da África
Até
1955, havia no continente africano apenas cinco países independentes: Egito,
Líbia, Libéria, Etiópia e África do Sul. A partir de então, cresceram os
movimentos pró-independência, movidos por forte nacionalismo. Como resultado, o
número de Estados independentes aumentou rapidamente, saltando para 26, no final
de 1960, e para 37, em 1965.
Uma
das razões para a rapidez desse processo foi a situação de relativa fragilidade
em que se encontravam as potências colonialistas logo após a Segunda Guerra
Mundial. Assim, na maioria dos casos, as metrópoles europeias preferiram
conceder a independência por meio de negociações e acordos, de modo a preservar
seu controle sobre setores importantes da economia de suas ex-colônias. Desde o
começo da descolonização, os líderes africanos procuraram dar um sentido comum
à independência. Com esse objetivo, realizaram, em 1958, a Primeira Conferência
dos Estados Africanos Independentes, em Gana. No encontro, lançaram as bases da
organização dos estados africanos, que seria criada cinco anos depois,
em 1963. O estatuto da organização reconhecia o direito à autodeterminação dos
povos e a necessidade de cooperação, e manifestava o desejo de colocar as
riquezas do continente a serviço de sua população e de combater o colonialismo
sob todas as formas.
A Guerra da Argélia
Em
muitos casos, como vimos, as potências colonialistas evitaram o confronto
direto com os movimentos nacionais de libertação de suas colônias, preferindo o
caminho da negociação. Houve, porém, várias exceções. A Argélia, por exemplo,
só se tornou independente após uma longa e sangrenta guerra contra os
franceses. País de população árabe localizado no norte da África, a Argélia foi
ocupada pela França a partir de 1830. Dessa época em diante, um grande
contingente de colonos europeus se deslocou para a região e constituiu ali uma
elite dominante. A cultura francesa foi introduzida no país, e a língua árabe,
falada pela maioria da população, deixou de ser ensinada nas escolas públicas.
O
movimento pela independência argelina surgiu logo depois do fim da Segunda
Guerra Mundial. Em 1954, os nacionalistas partiram para a luta armada,
organizados na Frente de Libertação Nacional (FLN). O governo francês reagiu
com grande violência, mas os argelinos não desanimaram; pelo contrário. Os
combates se estenderam até 1962, quando Charles de Gaulle, presidente da
França, negociou um acordo para a retirada dos franceses. Com a independência,
constituiu-se a república democrática Popular da Argélia.
O apartheid na África
do Sul
A
África do Sul, o país mais rico e desenvolvido do continente, era governado por
uma minoria, descendente de holandeses e britânicos que colonizaram a região. A
partir de 1911, essa elite impôs uma série de leis que garantiam seu domínio
sobre a população negra. Em 1948, passou a vigorar oficialmente no país o regime
de segregação racial, chamado apartheid (que significa
“separação”).
O
regime negava direitos civis aos negros e impedia que eles fossem proprietários
de terras. Na década de 1950, o Congresso Nacional Africano (CNA), entidade
negra fundada em 1912, radicalizou a luta contra o apartheid,
conclamando os negros à desobediência civil. A partir de 1960, o governo sul-africano
desencadeou violenta repressão contra o CNA e seus dirigentes. Nelson Mandela,
o principal líder negro, foi preso em 1962 e condenado à prisão perpétua. A
luta dos negros ganhou força com o apoio crescente de muitos países e da
opinião pública mundial, o que levou o regime racista da África do Sul ao
isolamento diplomático. Pressionado por todos os lados, o governo sul-africano
teve de fazer concessões e, a partir de meados da década de 1980, começou a
desmontar o apartheid. Em 1990, Mandela foi libertado e, três anos
depois, dividiu com o então presidente De Clerk o Prêmio Nobel da Paz. Em 1994,
foi eleito presidente da África do Sul e governou o país até 1999.
A herança do
colonialismo
Para
os povos africanos, a independência significou a conquista da soberania e da
autodeterminação, mas não a independência econômica. Durante o período em que
estiveram na África, as potências imperialistas pouco se preocuparam em
desenvolver a economia da região, em educar suas populações e em promover o
progresso. Assim, quando se retiraram do continente, deixaram atrás de si um
rastro de miséria e degradação.
Conquistada
a independência, os países africanos continuaram a cultivar produtos agrícolas para
o mercado externo, e setores fundamentais da economia (petróleo, minérios,
diamantes) permaneceram em poder de empresas estrangeiras.
As
disputas pelas riquezas e os conflitos étnicos acentuados pela arbitrariedade
da demarcação das fronteiras estabelecidas pelos colonizadores europeus
passaram a alimentar guerras longas e destruidoras.
4. Os
países Não Alinhados
O
processo de descolonização deu origem a dezenas de novas nações na África e na
Ásia. Os EUA e a URSS esperavam que esses países se alinhassem a seus blocos.
Mas a prioridade dos novos governos era reorganizar seus países, destroçados
por anos de ocupação. Por isso, nações como a Índia, o Egito e a Indonésia, por
exemplo, procuraram manter uma posição de neutralidade e não se alinharam a
nenhuma das duas superpotências.
Nessa
fase de autoafirmação, as nações recém-emancipadas do jugo colonial procuraram
estabelecer as próprias alianças, princípios e formas de organização, à margem
dos dois blocos antagônicos. Para isso, realizaram, em 1955, na cidade
indonésia de Bandung, a Conferência afro-asiática, que lançou as bases
do Movimento dos Países Não Alinhados.
Mais
conhecido como Conferência de Bandung, o encontro reuniu 29 países da
África e da Ásia e definiu os princípios gerais do movimento: direito à
autodeterminação dos povos; condenação do colonialismo e da segregação racial;
rejeição à divisão do mundo em dois blocos antagônicos etc.
Mais
tarde, novos países, inclusive da América Latina, se integraram ao bloco dos não
alinhados.
Com
essa expansão, o grupo perdeu pouco a pouco sua conotação nacionalista radical
e anti-imperialista militante, passando a ser chamado genericamente de terceiro
mundo, em contraste com o Primeiro Mundo, formado pelos países ricos do
bloco capitalista, e o Segundo Mundo (bloco soviético).
Com
o fim da União Soviética (1991), do socialismo burocrático no Leste Europeu e
da Guerra Fria, a expressão Terceiro Mundo caiu em desuso. Atualmente, alguns
dos países que fizeram parte desse grupo de nações são chamados de países
emergentes. Entre estes estão a Índia, a Indonésia e o Brasil. Os dois
primeiros integraram o bloco dos Não Alinhados. O Brasil sempre esteve na
esfera de influência dos Estados Unidos.
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