GUERRA
CIVIL NOS ESTADOS
UNIDOS
À época da independência, o território dos Estados Unidos era composto de treze
estados, as antigas colônias inglesas. Em 1860, esse número tinha aumentado
para 35, o que revela o rápido processo de expansão territorial da jovem nação.
Sua população, que em 1790 atingia cerca de 4 milhões de habitantes, saltou
para 50 milhões em 1880. Ao lado do impressionante crescimento populacional, o
país convivia também com intenso desenvolvimento econômico.
Abrahan Lincoln, presidente dos Estados Unidos durante a Guerra Civil. |
A
expansão da economia, porém, se dava de forma desigual. Enquanto os estados do
Norte eram tomados por rápido processo de industrialização e urbanização, os do
Sul seguiam se dedicando a atividades agrícolas, com claro predomínio da vida
rural. Outro contraste marcava as duas regiões. No Norte, a economia crescera
baseada no trabalho livre assalariado. No Sul, ao contrário, as relações de
produção se caracterizavam pela presença esmagadora do trabalho escravizado.
Essa
dicotomia provocava crescentes conflitos políticos entre os senhores de
escravos do Sul e as populações urbanas do Norte. Em 1861, as tensões
acumuladas explodiram, dando início à Guerra de Secessão, que se prolongaria
até 1865.
1. A
expansão territorial norte-americana
Já
vimos que, em 1783, a Paz de Versalhes pôs fi m à Guerra de Independência dos
Estados Unidos contra a Inglaterra. Durante o conflito, os estadunidenses
avançaram para o Oeste, ocupando uma larga faixa de terras que atravessava o
continente de Norte a Sul, entre a região dos Grandes Lagos e o golfo do
México. Esse território fora concedido aos indígenas pela Inglaterra, mas a Paz
de Versalhes reconheceu a soberania estadunidense sobre ele. Os Estados Unidos,
contudo, queriam se expandir também para o norte e ocupar as terras de colonização
inglesa no Canadá.
A Segunda Guerra de Independência
A sede expansionista dos estadunidenses
acirrou ainda mais as tensões com os ingleses, agravadas pelo bloqueio inglês ao
comércio dos Estados Unidos com a França napoleônica.
O resultado disso foi uma nova guerra entre
os dois países, que durou de 1812 a 1814, e ficou conhecida por Segunda Guerra
de Independência. Foi basicamente uma guerra naval e mais uma vez os estadunidenses
venceram. O conflito deu grande impulso à industrialização dos Estados Unidos,
por causa da interrupção das importações de produtos ingleses. Após o fim do
conflito, o Congresso norte-americano, sob pressão dos industriais, reforçou o
protecionismo, elevando as tarifas alfandegárias.
Outro efeito dessa guerra foi fortalecer o
sentimento de nacionalismo contra a velha Europa, ou seja, a predisposição das elites
estadunidenses de não interferir nos problemas europeus e de não permitir
ingerências europeias nos assuntos internos dos países do continente. Essa tendência
acabou se transformando em uma doutrina – a Doutrina Monroe –,
formulada, alguns anos depois, em 1823 pelo presidente James Monroe, que lançou
o lema “a América para os americanos”.
2. A
Marcha para o Oeste
O
Leste enfrentava acelerado crescimento demográfico, resultado de uma política
deliberada do governo para atrair imigrantes e expandir o território. Só para
ter ideia, entre 1789 e 1812, chegaram ao país 250 mil europeus, vindos
principalmente da Irlanda, da Inglaterra e dos Estados germânicos.
Esse
número teria um aumento espantoso nos anos subsequentes, chegando a 5 milhões
de imigrantes entre 1830 e 1860. Diante desse quadro, o governo estadunidense
decidiu investir maciçamente na compra e na conquista de novos territórios.
Em
1803, por exemplo, comprou da França o território da Louisiana. Mais tarde, em
1819, adquiriu da Espanha, por 5 milhões de dólares, a região da Flórida. Em
1846, conseguiu que a Inglaterra lhe cedesse o Oregon. E, por fim, em 1867,
comprou o Alasca da Rússia por pouco mais de 7 milhões de dólares.
Ao
mesmo tempo que adotavam essa política de aquisições pacíficas, os Estados
Unidos partiram para guerras de conquistas, nas quais as maiores vítimas foram
os indígenas e os mexicanos. Em 1836, colonos estadunidenses fixados no
território do Texas, então pertencente ao México, proclamaram a independência
da região, depois de vencer as tropas do governo mexicano.
Quase
dez anos depois, em 1845, os Estados Unidos anexaram o Texas a seu território,
o que foi o estopim da guerra contra o México no ano seguinte. Ao final do
conflito, o governo mexicano reconheceu a perda de sua antiga província e cedeu
ao poderoso vizinho do norte as regiões da Califórnia, Colorado, Novo México,
Nevada, Utah e Arizona, recebendo a título de pagamento cerca de 15 milhões de
dólares.
Com
a expansão, os Estados Unidos se tornaram um dos maiores países do mundo.
Dotado de enormes reservas de recursos naturais, seu território se estendia
agora do Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico.
Observe
no mapa abaixo as datas de cada aquisição ao território estadunidense. O mapa
também indica a infraestrutura montada para acomodar essa expansão como a
construção de ferrovias transcontinentais como a Northern Pacific.
3. A descoberta
do ouro na Califórnia
Destino manifesto
“Em 1848, foi descoberto ouro na
Califórnia. Em alguns meses, gente do Leste aos milhares, buscando fortuna,
estava cruzando o território índio. Índios que viviam ou caçavam ao longo das
trilhas de Santa Fé e Oregon acostumaram-se a ver uma caravana ocasional de
carroções, autorizada para comerciantes, caçadores ou missionários. Agora, de
repente, as trilhas estavam cheias de carroções e os carroções estavam cheios
de gente branca. A maioria indo rumo ao ouro da Califórnia, mas alguns se
dirigindo para o sul, para o Novo México ou para o norte, para o território do
Oregon.
Para justificar essas quebras da ‘fronteira
índia permanente’, os homens que tomavam decisões em Washington inventaram o
Destino Manifesto, uma expressão que elevava a fome de terras a um plano
sublime. Os europeus e seus descendentes haviam sido escolhidos pelo destino
manifesto para dominar toda a América.
Eram a raça dominante e, portanto,
responsável pelos índios – juntamente com suas terras, suas florestas e suas
riquezas minerais. [...]
Em 1850, embora nenhum dos modocs, mohaves,
paiutes, shastas, yumas, ou de uma centena de tribos menos conhecidas da costa
do Pacífico fosse consultado sobre o assunto, a Califórnia tornou-se o 31o Estado
da União.” BROWN, Dee Alexander. Enterrem meu coração na curva do rio.
Porto Alegre: L&PM, 2014. p. 25-26.
Em
1846, os EUA declararam guerra ao México. Nesse mesmo ano, colonos
norte-americanos ocuparam Sonoma, a capital da província mexicana da
Califórnia. Com a vitória dos EUA sobre o México, a Califórnia (e outras
províncias mexicanas, citadas no texto principal) passou a fazer parte dos EUA.
Antes
mesmo de a guerra entre os dois países chegar ao fi m, o ouro foi descoberto na
Califórnia. Começou, então, a intensa Corrida do Ouro para a Califórnia, que
atraiu dezenas de milhares de pessoas de diversas partes do mundo.
O
ouro era encontrado no leito dos rios, e era só chegar e pegar. Nem todos
enriqueceram, mas muitos milionários surgiram do dia para a noite. A exploração
do ouro criou muitas oportunidades de negócios. Uma delas foi um alfaiate,
Jacob Davis, que criou uma calça de tecido grosso com rebites, perfeita para
aqueles que se dedicavam ao pesado trabalho de mineração. Ele se associou ao
imigrante alemão Levi Strauss, e juntos acabaram batizando sua invenção de
calça jeans, em 1853.
A
Corrida do Ouro fez explodir a população da Califórnia, que passou de 15 mil
habitantes no início de 1848 para mais de 100 mil menos de dois anos depois.
Isso permitiu que a Califórnia se tornasse o 31o. estado norte-americano em
1950.
4. A
Guerra de Secessão (1861-1865)
A
Guerra Civil durou quatro anos e foi extremamente violenta, tendo custado a
vida de quase um milhão de pessoas.
Um
conflito dessas proporções só pode ter sido provocado por rivalidades muito
sérias. Vejamos algumas delas:
1.
A região Norte dos Estados Unidos era, como vimos, a mais industrializada do
país, em contraste com os estados do Sul, predominantemente agrícolas. A
principal característica das zonas rurais sulinas consistia na planta tion,
palavra inglesa usada para denominar a grande propriedade monocultora, cuja
produção, voltada para a exportação, dependia do trabalho escravo. O Sul
produzia grande quantidade de algodão, exportado principalmente para a
Inglaterra, onde era utilizado na indústria têxtil em franca expansão.
2.
A burguesia do Norte do país fazia sérias restrições aos senhores de terras do
Sul. A maior crítica dizia respeito ao trabalho escravo, que, acreditavam,
deveria ser extinto e gradativamente substituído pelo trabalho assalariado; dessa
forma, os trabalhadores sulistas poderiam comprar os produtos fabricados no
Norte. Além disso, a população do Norte apoiava o protecionismo alfandegário, isto
é, o aumento das taxas de importação, para que os produtos nacionais
concorressem no mercado interno em igualdade de condições com os produtos
ingleses e de outras procedências.
3.
A aristocracia rural do Sul, interessada em continuar vendendo seus produtos à
Inglaterra e importando os artigos manufaturados de que necessitava, batia de
frente com o Norte ao defender o livre-cambismo, ou seja, uma política de
liberdade comercial sem taxas protecionistas.
4.
A essas diferenças de origem econômica se somavam outras, de fundo cultural. No
Norte, havia um grupo empresarial dinâmico e empreendedor, interessado no
desenvolvimento nacional.
No
Sul, porém, continuava a predominar uma mentalidade rural, aristocrática,
voltada aos interesses regionais; por isso mesmo, dava-se mais importância à
autonomia dos estados do que ao fortalecimento do país.
5.
Além de todas essas diferenças, havia ainda razões ideológicas em jogo. No
Norte, a campanha abolicionista se intensificava e surgiam movimentos de
caráter democrático e mesmo socialista também a favor da emancipação dos
escravos. Em 1833, por exemplo, William Garrison e outros líderes
abolicionistas fundaram a Sociedade Americana contra a Escravidão. Garrison
defendia a abolição sem indenização aos escravistas, o que os deixava ainda mais
furiosos. A campanha abolicionista crescia a cada dia e, em 1852, ganhou
importante reforço com a publicação do livro A cabana do pai Tomás, de
Harriet Beecher Stowe, que narrava a dolorosa existência dos escravos nas
fazendas do Sul. O livro vendeu 1 milhão de exemplares em dois anos.
5. A
eleição do presidente Lincoln
Em
meio a esses embates, em 1860 foi eleito presidente dos Estados Unidos o
nortista Abraham Lincoln, membro do Partido Republicano. Adepto de uma política
protecionista, Lincoln opunha- -se à escravidão e ao espírito autonomista
dominante nos estados do Sul. A reação das elites na Carolina do Sul, um dos
estados escravistas, foi proclamar sua separação do restante do país.
Em
seguida, dez outros estados sulistas fizeram o mesmo. Juntos, eles formaram uma
nova estrutura política nacional, os Estados Confederados da América. O
novo país tinha sua capital em Richmond, na Virgínia. Para governá-lo, foram eleitos
Jefferson Davis, presidente, e Alexander Stephens, vice-presidente. Nem todos
os estados escravistas, porém, apoiaram os rebeldes. O Kansas e o Missouri, por
exemplo, permaneceram integrados aos Estados Unidos, sem abolir o regime de
trabalho escravo.
Em
12 de abril de 1861, tropas confederadas tomaram de assalto o forte Sumter, na
Carolina do Sul, defendido por forças do governo. Três dias depois, Lincoln
declarou guerra à Confederação. O conflito que se seguiu seria mais tarde considerado
a primeira das grandes guerras modernas.
6. As
vantagens do Norte
As
condições do Norte no confronto eram de indiscutível superioridade. Mais
industrializado do que o Sul, contava também com uma malha ferroviária mais
extensa e moderna. Além disso, as armas de que dispunha eram produzidas nas
próprias fábricas, enquanto a Confederação dependia da importação de material
bélico. As duas populações também eram desiguais em número e na composição
social e étnica. Enquanto o Norte somava 23 estados, com uma população de 28
milhões de pessoas – constituída em quase sua totalidade de pessoas livres,
descendentes de europeus –, o Sul contabilizava onze estados com 9 milhões de habitantes,
um terço dos quais escravos de origem africana. Para complicar ainda mais a
situação do Sul, a Confederação também não conseguiu apoio à sua causa no
exterior: a escravidão era, a essa altura, condenada pela opinião pública de
todas as grandes nações.
Não
constituiu surpresa, portanto, que os sulistas tenham sido derrotados, apesar
de sua forte resistência. Depois de quatro anos de sangrentos combates, os
nortistas venceram em Appomattox, na Virgínia, a última batalha da guerra. No
mesmo dia, 9 de abril de 1865, o comandante das forças rebeldes, general Robert
Lee, rendeu-se ao comandante do exército do governo, general Ulysses Grant.
Em
1863, ainda durante o conflito, Lincoln decretou o fim da escravidão nos
estados rebeldes.
No
ano seguinte, conseguiu se reeleger presidente dos Estados Unidos, mas não
chegaria a exercer o segundo mandato. Em 14 de abril de 1865, quatro dias depois
do fim da guerra, Lincoln foi assassinado no interior de um teatro pelo ator
sulista John Booth.
7. Potência
industrial
A
guerra civil dos Estados Unidos assumiu características de uma verdadeira
revolução social, pois determinou a extinção do trabalho escravo e impôs o
regime de trabalho assalariado. Além disso, tirou do poder o que restava da
aristocracia agrária do Sul e abriu caminho para o pleno desenvolvimento das
atividades industriais e urbanas.
Ao
eliminar alguns obstáculos para a expansão das atividades econômicas, a Guerra
de Secessão tornou-se ponto de partida para um desenvolvimento sem precedentes
da economia do país. Mesmo durante o conflito, a industrialização foi
estimulada pela demanda de material bélico e de meios de transporte rápido para
as tropas. Em 1861, o governo decretou novas medidas de proteção alfandegária
que deram impulso ainda mais decisivo ao crescimento industrial.
Em
seguida, um decreto-lei de 1862 – a Lei Homestead – promoveu a ocupação
e a colonização das terras do Oeste, garantindo um lote mínimo de terra a cada
colono, à custa, porém, da eliminação dos indígenas.
Essas
medidas ampliaram a produção industrial e agrícola, além de estimular o mercado
de consumo com o enriquecimento dos pequenos proprietários rurais. Ainda em
1862, o governo decidiu financiar a construção de uma ferrovia
transcontinental, atravessando o território do país de leste a oeste. Depois da
guerra civil, houve também grande afluxo de imigrantes europeus, destinados
principalmente ao trabalho fabril. A oferta de mão de obra crescia, pressionando
os salários para baixo, em uma época em que ainda não existia legislação trabalhista.
Essas
condições criaram a base para o desenvolvimento da economia estadunidense. Em
poucas décadas, a indústria do país apresentaria o maior índice de crescimento
mundial, produzindo principalmente aço, fundamental para a expansão da malha
ferroviária e da indústria de base.
Norte contra Sul, escravistas versus antiescravistas:
guerra civil nos Estados Unidos
Os estados do Sul resolveram desfazer sua adesão
à Constituição Federal e formar uma nova nação, os Estados Confederados da América.
O que estaria por trás de tamanha reviravolta na história do país? No texto a
seguir, os historiadores Luiz Estevam Fernandes e Marcus Vinícius de Morais
exploram esse momento da história estadunidense.
“O debate sobre a escravidão, sem sombra de
dúvida, seria a grande questão das eleições de 1860. O principal nome de
indicação dos democratas foi Stephen Douglas e dos republicanos, um jovem
advogado, de grande eloquência, chamado Abraham Lincoln. Este, por sua vez, era
favorável aos ideais de solo livre, trabalho e homens livres.
Lincoln venceu as eleições. Novos rumos
seriam tomados na história estadunidense.
A maior parte dos sulistas ficou irritada
com a eleição de Lincoln, visto por eles como um verdadeiro abolicionista. Já
alguns nortistas o viam como conservador, na medida em que não defendia abertamente
uma luta para terminar com o regime escravista, embora o condenasse como um grande
erro da humanidade.
Seu discurso ambíguo e carregado de
retórica foi capaz de administrar, por algum tempo, a forte pressão sofrida
durante o seu mandato. Afirmava, por exemplo, que a ‘raça branca’ era sim
superior.
Dizia que não toleraria que algo fosse
feito contra a escravidão nos territórios em que ela já existia, mas, ao mesmo
tempo, defenderia a todo custo os interesses da União, invadiria os estados que
quisessem se separar e recolheria, da mesma forma, os direitos aduaneiros de
importação nos estados que fossem a favor da secessão. O próprio Lincoln
demonstrou suas expectativas ao afirmar que não esperava que a “casa” não
caísse, mas que, ao menos, deixasse de ser dividida.
O presidente pode ser considerado um
antiescravista, mas nunca um abolicionista aberto e declarado.
Mesmo assim, os senhores do Sul queriam a expansão
da escravidão para o Oeste e, para eles, pouca diferença existia entre a fixação
da escravidão apenas no Sul, proposta por Lincoln, e a abolição imediata,
proposta por jornais como o Liberator. Para os sulistas, a ambiguidade
de Lincoln era tão abolicionista quanto o discurso radical de William Garrison.
Acreditavam que, desde que o tráfico de
escravos fora abolido em 1808 e que a reprodução natural de escravos não era
sufi ciente para atender à demanda por mão de obra, a única forma de aumentar a
escravidão era expandi-la para novas terras.
A ideia de separação do Sul ganhava
corações e mentes das elites sulistas. Entretanto, como havia dito, Lincoln não
aceitaria a secessão e atacaria com força os adeptos da ideia. Sua eleição, portanto,
foi o estopim necessário para o início formal das hostilidades entre as duas
regiões.
Convocando uma convenção, a Carolina do Sul
anulou sua ratificação da Constituição federal. Isso provocou o desespero de
alguns políticos que tentavam lutar a favor de uma conciliação.
Em pouco tempo, outros estados, como
Alabama, Flórida, Mississípi, Geórgia e Texas também se declararam separados da
União, formando os chamados Estados Confederados da América elegendo Jefferson
Davis como seu presidente.” (FERNANDES, Luiz Estevam; MORAIS, Marcus Vinícius de.
Os Estados Unidos no século XIX. In: KARNAL, Leandro et al. História dos
Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2008. p.
130-132.)
8. Henry
Ford revoluciona a indústria automobilística
Ao
romper o século XX, o empresário Henry Ford fez mudanças revolucionárias na
indústria automobilística, ao implantar a produção em série de automóveis. Com
isso, os preços tornaram- -se acessíveis a amplas faixas do mercado. Ford ainda
elevou os salários dos empregados de sua empresa, a Ford Motor Company, fundada
em 1903, alegando que os operários deveriam ganhar o suficiente para comprar os
produtos que fabricavam. Sua política estimulou a expansão vertiginosa da
indústria automobilística nos Estados Unidos.
A
produção em massa de automóveis, por sua vez, permitiu o desenvolvimento de
outros setores da economia, como a indústria siderúrgica; a extração e o refino
de petróleo, do qual os Estados Unidos têm enormes reservas; a indústria de
autopeças; a produção de pneus etc. Esse “efeito cascata” desencadeado pela
indústria automobilística repercutiu também em outros ramos da produção, na
expansão da oferta de empregos e na ampliação do mercado.
Não
demorou muito para que os Estados Unidos assumissem a liderança entre os países
do continente, ocupando o lugar dos países europeus. A hegemonia
recém-conquistada seria sintetizada pelo presidente Theodore Roosevelt (1901-1909)
na política do “grande porrete” (ou big stick, em inglês). Por essa
política, os Estados Unidos se propunham a intervir – mesmo militarmente –,
sempre que julgassem necessário, nos assuntos internos dos países latino-americanos.
Consagrava-se, assim, uma tendência em crescente expansão, não só nos Estados
Unidos, mas também entre as grandes potências industriais, como a Inglaterra.
Essa
tendência seria chamada mais tarde de imperialismo.
Ku Klux Klan e sua herança de ódio
Após a morte do presidente Lincoln, seu
vice-presidente, Andrew Johnson assumiu a presidência. A partir de 1865, apesar
da resistência de Johnson (de origem sulista e simpático às reivindicações dos
latifundiários do sul), o Congresso aprovou sucessivamente a 13ª. e a 14ª. emendas
à Constituição. A primeira abolia definitivamente a escravidão em todo o
território estadunidense. A segunda estendia os direitos civis a todas as
pessoas nascidas nos Estados Unidos ou naturalizadas estadunidenses, anulando
as restrições à participação dos negros na vida política. O presidente seguinte
foi o general Ulysses Grant, eleito em 1868. Durante seu governo, Grant
implementou o sufrágio universal, aprovado pelo Congresso. A medida concedia
aos negros não só o direito de elegerem seus representantes, mas também o de se
candidatarem a qualquer cargo eletivo.
Com isso, pretendia-se pacificar a nação.
Mas, nos antigos estados rebeldes, a medida teve efeito contrário, aumentando
ainda mais o ódio racial, uma das heranças da Guerra de Secessão. Data de 1867,
porém, o exemplo mais forte de segregação racial nos Estados Unidos: a Ku
Klux Klan.
Criada por veteranos sulistas da Guerra de Secessão,
essa sociedade secreta tentou impedir, a qualquer custo, que os negros
exercessem seus direitos após o fim da escravidão. Recorrendo a meios extremos,
como a tortura e o linchamento de pessoas de origem africana, integrantes da Ku
Klux Klan, mascarados e encapuzados, passaram a espalhar o terror no Sul do
país, assassinando, indiscriminadamente, homens, mulheres e crianças. Em 1877,
a justiça estadunidense proibiu o funcionamento da organização, que ainda hoje
continua a agir na clandestinidade.
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