UNIFICAÇÕES DA ITÁLIA
E DA ALEMANHA
Até meados
do século XIX,
duas grandes regiões da Europa ficaram à margem do processo de unificação: a
Península Itálica e os reinos e principados reunidos na Confederação Germânica. No decorrer da
segunda metade do século XIX, porém, um vigoroso nacionalismo começou a
se afirmar nas duas regiões.
Como
consequência, os interesses nacionais acabaram prevalecendo sobre as diferenças
políticas, sociais e culturais.
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Giuseppe Garibaldi, líder da unificação italiana. |
As
unificações da Itália e da Alemanha, ao eliminar as barreiras internas,
ampliaram o mercado para a produção nacional e, consequentemente, favoreceram a
expansão do comércio e a aceleração da industrialização. O surgimento desses
dois novos Estados, sobretudo da Alemanha, alterou o mapa do poder na Europa e
intensificou as disputas políticas, militares e econômicas entre as nações mais
fortes.
1. Surge
a Itália
Por
volta de 1830, a Península Itálica encontrava-se dividida em vários pequenos
reinos e ducados, muitos deles sob domínio estrangeiro. Os reinos de Milão e de
Veneza e os ducados de Módena e da Toscana, por exemplo, estavam submetidos ao
Império Austríaco. No sul, o Reino das Duas Sicílias, considerado autônomo, era
governado por um membro do ramo espanhol da dinastia dos Bourbon, de origem
francesa. Outro Estado independente, mas sob constante vigilância da Áustria, era
o Reino do Piemonte-Sardenha, situado no norte da península e governado pela
dinastia de Savoia. E também havia os Estados Pontifícios, que eram autônomos e
governados pelo papa.
Em
1848, sob o impacto do movimento revolucionário na França, diversos desses
territórios foram agitados por manifestações em defesa da independência e da unificação
da península.
Durante
as lutas, duas tendências se delinearam. Uma delas, formada por republicanos,
tinha como líderes Giuseppe Mazzini e Giuseppe Garibaldi. A outra, composta de monarquistas,
contava com o apoio do rei do Piemonte-Sardenha. Seu principal articulador era
o conde Camilo Cavour, que divulgava sua proposta de unifi cação pelo jornal Risorgimento.
2. A
estratégia de Cavour
A
intenção de Cavour era promover a formação da Itália como país soberano e
unificado a partir da monarquia do Piemonte-Sardenha. Sua proposta se baseava
no fato de esse ser o único reino governado por uma dinastia originária da
Península Itálica. A região do Piemonte-Sardenha era também uma das mais industrializadas
da península e seus grupos dominantes demonstravam grande interesse na
unificação como forma de ampliar o mercado consumidor de seus produtos.
Em
1852, Cavour foi nomeado primeiro-ministro pelo rei do Piemonte, Vítor Emanuel
II. De posse do cargo, colocou em prática seu projeto de unificação. No plano
internacional, esse projeto consistia em obter apoio externo para enfrentar a
Áustria. Em 1858, Cavour firmou um acordo com o imperador francês Napoleão III,
pelo qual a França apoiaria o Piemonte contra os austríacos, recebendo em troca
os territórios de Nice e de Savoia, pertencentes ao reino peninsular.
A
guerra aconteceu no ano seguinte e bastaram dois meses para a Áustria ser
derrotada. Foi assinado um armistício que deu ao Piemonte as regiões da
Lombardia e da Romagna. O êxito piemontês repercutiu nos ducados de Parma, Módena
e Toscana, onde a população se revoltou e expulsou os governantes de origem
austríaca. Em seguida, por meio de um plebiscito, a população aprovou a
unificação da região com o Piemonte.
3. O
papel de Giuseppe Garibaldi na unificação
Enquanto
isso, no sul da península, Cavour aliou-se ao republicano Giuseppe Garibaldi, um
veterano revolucionário que havia participado das revoluções liberais de 1830 e
1848 e lutado no Brasil a favor da República dos Farrapos, entre 1835 e 1845.
Em 1860, Garibaldi liderou uma insurreição popular vitoriosa no Reino das Duas
Sicílias. O rei Fernando II foi destronado e, por meio de um plebiscito, a
região foi incorporada ao Piemonte. A unificação havia avançado bastante, o que
permitiu que o rei do Piemonte, Victor Emanuel II, fosse proclamado rei da
Itália.
Mas
para a unificação ficar completa, ainda faltava anexar Veneza e Roma. A
oportunidade surgiu em 1866. Na ocasião, os italianos apoiaram a Prússia na
guerra contra a Áustria, com a promessa de anexar a região de Veneza, em caso
de vitória, e foi o que aconteceu. Finalmente, em 1870, os exércitos italianos
ocuparam Roma, completando-se a unificação da Itália.
Surgiu,
então, um problema que ficou conhecido por “Questão Romana”: o papa não
reconhecia o governo da Itália e desde então passou a considerar-se
prisioneiro (problema que perdurou até 1929).
4. A
unificação alemã
Durante
as guerras napoleônicas, Bonaparte dissolveu o antigo Império Romano-Germânico e
criou, em seu lugar, a Confederação do Reno. Com a derrota do imperador
francês, o Congresso de Viena determinou a formação da Confederação Germânica,
um aglomerado de 39 Estados divididos entre as lideranças da Prússia e da
Áustria (ou Império Austro-Húngaro).
Na
época, a Prússia já despontava como a região mais industrializada. A Áustria
era ainda um país agrário. No entanto, por ter mais eleitores, controlava o
Parlamento da Confederação Germânica. Um dos motivos da discórdia entre os dois
países residia no fato de a Prússia liderar uma liga aduaneira que reunia
diversos Estados germânicos, o Zollverein, deixando de fora, porém, o
Império Austro-Húngaro. O Zollverein aboliu as tarifas de importação
entre os Estados-membros, com a finalidade de facilitar e estimular o
intercâmbio comercial entre eles. A Prússia se beneficiou com esse mecanismo,
pois era o Estado que tinha a oferecer mais produtos manufaturados.
Por
volta de 1860, a Prússia encontrava-se em pleno processo de industrialização.
Mas o grupo dominante na região não era formado pela burguesia, e sim por
grandes latifundiários, os junkers, entre os quais o rei Guilherme I
escolheria, em 1862, seu primeiro-ministro, Otto von Bismarck, que seria o
responsável pela unificação alemã.
Ao
assumir o cargo, Bismarck adotou medidas para capacitar a Prússia para a unificação
acelerar o desenvolvimento industrial.
Ampliou
a malha ferroviária, que passou de 2 mil para 11 mil quilômetros entre 1860 e
1870, Estimulou a siderurgia e a indústria metalúrgica. Modernizou o exército,
prevendo que a unificação do país passaria necessariamente pela guerra.
Favoreceu a aliança entre a burguesia industrial e a nobreza latifundiária (os junkers).
A aliança com o exército
A base do processo de unificação alemã foi a aliança entre os latifundiários e o Exército, sem a participação popular, . Por isso, podemos
descrever o movimento como uma revolução feita de cima para baixo.
Da mesma forma, o desenvolvimento do
capitalismo na região não foi, como na Inglaterra, resultado da ação inovadora
de uma burguesia competitiva. Na falta de um agente social articulador, o
desenvolvimento econômico acabou sendo produto da intervenção do Estado – por
meio de uma política alfandegária protecionista, de incentivos fiscais, de
investimentos diretos em transportes ferroviários e em outros setores – e da
atividade de grupos monopolistas ligados à indústria militar, como os
fabricantes de canhões Krupp. Tudo isso iria contribuir para a rápida
industrialização da Alemanha e o consequente surgimento de um Estado poderoso
no coração da Europa, rompendo o equilíbrio político no continente.
5. As
guerras de unificação
No
plano externo, Bismarck procurou explorar as disputas entre as potências
europeias, firmando alianças ora com uma, ora com outra, de acordo com os
interesses do Estado prussiano e do processo de unificação alemã. Assim, em
1864, Bismarck aliou-se à Áustria contra a Dinamarca, com o objetivo de
conquistar dois ducados: Holstein, que ficou com a Áustria, e Schleswig, que passou
a fazer parte da Prússia.
Em
1866, o quadro mudou e ele se lançou contra a Áustria. Para enfraquecer o novo
inimigo, obteve a neutralidade da França e firmou uma aliança com o Piemonte,
que naquele momento lutava pela unificação italiana. Vencida a Áustria, a
Prússia impôs sua hegemonia em toda a região, criando em 1867 a confederação
Germânica do norte, liderada por Guilherme I e Bismarck.
Em
seguida, Bismarck lançou-se contra a França.
6. A
importância da Guerra Franco-Prussiana
A
Guerra Franco-Prussiana (1870-1871)
teve rápido desfecho. Derrotado sucessivamente nas batalhas de Metz e Sedan, o
exército francês capitulou no dia 1o de setembro de 1870 e o próprio imperador
Napoleão III foi feito prisioneiro. Em Paris, as forças de oposição decretaram o
fim do Segundo império e proclamaram a terceira república francesa.
No dia 20 de setembro, o exército prussiano sitiou a capital. Poucos meses
depois, em janeiro de 1871, o governo republicano da França assinou a rendição.
Em 18 de janeiro de 1871, representantes dos Estados germânicos proclamaram em
Versalhes, perto de Paris, a criação do Segundo reich (Segundo Império) alemão,
sob a égide de Guilherme I (o Primeiro reich havia sido o Sacro Império
Romano--Germânico). Com isso, consumou-se, finalmente, a unificação da
Alemanha.
Pelo
Tratado de Frankfurt, assinado em maio, a França foi obrigada a pagar pesada
indenização de guerra, além de ceder aos alemães as províncias francesas da
Alsácia e da Lorena.
A comuna de PariS
A Guerra Franco-Prussiana mobilizou
sentimentos nacionalistas de ambos os lados. Em Paris, a paixão nacionalista
foi exacerbada pela rendição do imperador Napoleão III e pela arrogância com
que os prussianos trataram a França. Deram-se ao luxo de proclamar o Segundo
reich no palácio de Versalhes. A esse ressentimento os operários de Paris
juntaram o ódio de classe, responsabilizando a burguesia francesa pelos
resultados da guerra. Em março de 1871, paixões e ressentimentos tomaram a
forma de rebelião operária e popular.
Indignados, os trabalhadores da capital
pegaram em armas e criaram a comuna de Paris.
A Comuna era um órgão de governo formado
por representantes da população trabalhadora, eleitos por voto direto. Seus
componentes vinham de grupos políticos radicais e socialistas.
Considerada por muitos historiadores a
primeira experiência de revolução proletária vitoriosa, a Comuna de Paris
proclamou a igualdade civil entre homens e mulheres, instituiu pensões para
órfãos e viúvas, aboliu o trabalho noturno nas padarias e adotou a bandeira vermelha
como símbolo da “República social”.
Embora fosse apoiada pelos trabalhadores de
Paris, a Comuna não conseguiu atrair a simpatia da maioria da população,
composta de camponeses, e tinha contra si o ódio dos grupos dominantes. Estes
formaram o próprio governo em Versalhes, armaram um exército e marcharam sobre
a capital revolucionária, ocupando-a em 21 de maio de 1871. Na repressão que se
seguiu, 20 mil revolucionários foram mortos.
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