LIBERALISMO, SOCIALISMO E ANARQUISMO
A palavra
liberalismo surgiu após a Revolução Francesa para designar um
conjunto de doutrinas de ideias políticas e econômicas que defendiam os
conceitos de liberdade e autonomia individual.
Como
teoria, porém, as origens do pensamento liberal estão na obra de John Locke (1632-1704),
filósofo e cientista político intimamente ligado à revolução gloriosa de
1688-1689 na Inglaterra. Na França, seu ponto de partida foram as reflexões de
Montesquieu e dos pensadores iluministas sobre o estado e os direitos naturais.
John Locke
e os iluministas acreditavam que a liberdade consiste em um direito natural,
inerente a todos os seres humanos desde o nascimento. a função do estado seria
defender e proteger essa liberdade, assim como outros direitos inatos ao ser
humano, entre os quais o de propriedade, o de consciência e o de livre
manifestação do pensamento. Esses princípios formaram a base do liberalismo
político onde quer que ele tenha se manifestado, porém, na Europa, esse conceito
tornou-se fundamental durante décadas.
1. Liberalismo
e democracia
Embora
ainda seja, algumas vezes, confundido com a noção de democracia, o liberalismo
não era, no início, uma teoria de caráter democrático.
A
democracia é uma forma de organização política da sociedade baseada no
princípio da participação da maioria e da igualdade. Esse princípio se
manifesta, entre outros temas, no sufrágio universal – no direito de
voto atribuído a todas as pessoas – e determina que todos sejam considerados
iguais perante a lei e tenham as mesmas oportunidades, sem privilégios de
nascimento, etnia, sexo, credo religioso etc. No entanto, os democratas do
século XVIII e do começo do século XIX propunham um sufrágio “universal”
masculino (poucas pessoas aceitavam a ideia do voto feminino nessa época).
Já o
liberalismo é uma teoria da liberdade política e econômica. Em suas origens,
pregava a plena realização da liberdade de mercado, o Estado de direito – ou
seja, o Estado regido por uma Constituição livremente votada pelos
representantes ou integrantes da nação – e a divisão de poderes entre o
Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
Os liberais
se satisfaziam com o voto censitário, isto é, o sufrágio limitado aos que
comprovavam certa renda mínima. O voto censitário, na verdade, excluía da
participação política, além das mulheres, os trabalhadores e outros grupos
sociais que, juntos, formavam a maioria da população em todos os países
europeus.
2. O
liberalismo econômico
Na área da
economia, os pensadores liberais argumentavam que a única forma de se alcançar
o bem-estar geral de uma sociedade seria assegurar aos indivíduos e às empresas
plena liberdade de iniciativa. A intervenção do Estado, para os liberais,
deveria ser limitada ao mínimo indispensável.
O
liberalismo econômico começou a ser proposto em meados do século XVIII pelos
fisiocratas franceses, cujo princípio fundamental era “deixe fazer, deixe
passar” (“laissez-faire, laissez-passer”, em francês), sugerindo que o
mercado, e não o Estado, regulasse a economia. Entretanto, foi o escocês Adam
Smith, autor de Investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das
nações (1776), quem deu ao liberalismo econômico sua formulação mais
completa. Smith defendia o princípio fisiocrata do laissez-faire,
afirmando que o caminho para a prosperidade das pessoas e dos países estava na
livre organização das atividades produtivas e comerciais. Segundo ele, seria o
próprio mercado, por meio de sua “mão invisível”, que se encarregaria de
melhorar a distribuição de renda entre os indivíduos, corrigindo as injustiças
sociais.
3. O
nacionalismo do século XIX
Além do
liberalismo, floresceu no século XIX, não só na Europa, mas também em outros
continentes, um forte sentimento de identidade cultural e étnica entre os
membros de uma mesma nação. Esse sentimento, que estabelecia uma ligação muito
estreita entre os indivíduos e a nação a que pertenciam, foi mais tarde
denominado nacionalismo. Utilizado na política e na economia, ele nunca
perderia, contudo, seu caráter fortemente emocional.
O
nacionalismo tem sua origem na percepção pela qual as pessoas se sentem unidas
por ter em comum uma mesma cultura, origem étnica, destino comum ou outra
característica qualquer.
Durante a
Revolução Francesa, esse sentimento surgiu ligado à defesa das conquistas
revolucionárias contra a agressão das monarquias estrangeiras que pretendiam
restaurar na França o Antigo Regime. Assim, quando em 1793 a Convenção
proclamou “a pátria em perigo”, milhares de franceses se alistaram
voluntariamente para defendê-la. Desde essa época, o nacionalismo tornou-se uma
das mais poderosas forças ideológicas de transformação social.
Nas
colônias americanas, o sentimento nacionalista surgiu com os movimentos de
independência que reivindicavam para determinadas regiões o direito de se
constituir em nação independente.
Era,
portanto, um movimento de afirmação de valores nacionais contra a dominação externa
exercida pelas metrópoles. Em alguns pontos da Europa, como a Península Itálica
e os territórios germânicos, que não haviam se constituído em Estados
unificados nos séculos anteriores, o nacionalismo se revelou o elemento
aglutinador das várias forças sociais que defendiam o ideal de formação e de
afirmação do Estado-nação.
4. A
Europa sob a restauração
Em 1815, os
exércitos napoleônicos sofreram a segunda e definitiva derrota, e Napoleão saiu
de cena. Os vitoriosos, reunidos no Congresso de Viena, procuraram então
imprimir um novo rumo aos destinos da Europa. Os critérios dessa política eram
os princípios da restauração e da legitimidade.
Ao mesmo
tempo, aproveitando as tendências claramente conservadoras do Congresso, três
das mais poderosas monarquias participantes – Rússia, Áustria e Prússia –
firmaram um tratado pelo qual criaram um instrumento internacional destinado a
combater novos movimentos revolucionários na Europa e na América. Esse
instrumento denominava-se santa Aliança.
Decisões do congresso
1. Na França, berço da revolução, as decisões do
Congresso de Viena promoveram o retorno ao poder da dinastia dos Bourbon, cujo
herdeiro assumiu o trono com o nome de Luís XVIII. Mas já não era possível
anular todas as mudanças ocorridas no período revolucionário.
Prova disso é que o novo rei foi obrigado a governar
obedecendo aos limites impostos pela Constituição, que instituiu um Parlamento
semelhante ao da Inglaterra.
2. Na Espanha, Fernando VII, que havia sido afastado do
trono por Napoleão em 1808, voltou ao poder. Na Península Itálica, que fora
quase inteiramente unificada sob o exército invasor de Napoleão, os antigos
soberanos locais reassumiram o governo.
5. Opositores
ao Congresso de Viena
Essa
retomada dos valores pré-revolucionários, porém, não foi tranquila, pois vários
setores da sociedade não estavam dispostos a aceitar a volta do Antigo Regime,
mesmo sob o disfarce de monarquias constitucionais. Por isso, na prática, as
imposições do Congresso de Viena acabaram provocando um mal-estar generalizado
em diversos países, traduzido por manifestações de descontentamento de liberais
e nacionalistas.
Perseguidos
pelos governantes, os manifestantes organizaram-se em sociedades secretas, cujo
objetivo era promover conspirações para derrubar os governos absolutistas ou
impor reformas pela força. Entre essas sociedades, destacaram-se a dos
Carbonários, na Península Itálica, e a Maçonaria, que se disseminou por vários
países. Em duas ocasiões, pelo menos, a Santa Aliança foi chamada para reprimir
manifestações de descontentamento. A primeira no Reino de Nápoles, em 1821, e a
segunda na Espanha, dois anos depois.
6. A revoluções
de 1830
Por causa
da atuação de liberais e nacionalistas, a Santa Aliança não conseguiu evitar as
revoluções. Entre as que se seguiram ao Congresso de Viena, a mais importante
de todas explodiu exatamente na França. Em 1830, governava a França o rei
Carlos X, que havia sucedido em 1824 seu irmão Luís XVIII. Nas eleições de
1830, a oposição conseguiu maioria na Câmara. Carlos X, então, dissolveu o poder
Legislativo, restringiu ainda mais o direito de voto e aumentou a censura à
imprensa. Imediatamente, a população da capital se rebelou contra as medidas e,
durante três dias, combateu as forças do governo, até vencê-las. A Carlos X não
restou outra saída senão abdicar e fugir para a Inglaterra.
Essa era a
oportunidade que faltava para que alguns parlamentares, representantes da
burguesia, colocassem no trono o duque de Orléans, Luís Filipe, parente
distante dos Bourbon. Da França, a onda revolucionária se espalhou pela Europa,
provocando levantes na Bélgica, na Península Itálica, na Polônia, na Espanha e
em outras regiões. Com o apoio da Inglaterra, os belgas – subjugados à Holanda
desde o Congresso de Viena – conseguiram proclamar a independência e
estabelecer uma monarquia constitucional.
Já no caso
da Península Itálica, as agitações envolveram diversos territórios, mas foram
sufocadas pelas forças da Áustria, que agia em nome da Santa Aliança.
Também na
Polônia, o movimento liberal sofreu o mesmo destino sob as baionetas das tropas
russas.
É possível
dizer que o pensamento liberal e nacionalista contido na onda revolucionária de
1830 foi ainda mais longe, refletindo-se na política do Império brasileiro e contribuindo,
com outros fatores, para o movimento que resultou na abdicação de D. Pedro I,
em abril de 1831.
7. A
vida curta da Segunda República na França
Como era
previsível, Luís Filipe governou a França segundo os interesses da alta
burguesia financeira (banqueiros). Em 1847, seus adversários – operários,
republicanos e bonapartistas – uniram-se para exigir uma reforma eleitoral. Em
fevereiro do ano seguinte, como o governo se negasse a fazer a reforma, os
trabalhadores de Paris, aliados a setores das classes médias e da burguesia,
pegaram em armas contra o rei, que abdicou do trono e fugiu da cidade. Os
oposicionistas formaram, então, um governo provisório e proclamaram a Segunda
República francesa (a primeira foi a de 1792-1804).
Na prática,
porém, pouca coisa mudou, pois quem assumiu realmente o comando do novo regime
foi, mais uma vez, a burguesia. Em junho de 1848, insatisfeitos com algumas
medidas do governo, os operários de Paris levantaram barricadas nas ruas da
cidade. A resposta do poder republicano veio em forma de violenta repressão e
deixou um saldo de 2 mil mortos, 15 mil presos e 4 mil revoltosos deportados
para colônias distantes. A derrota do proletariado de Paris levou ao recuo dos
operários e dos democratas e à consolidação das tendências mais conservadoras.
Em dezembro de 1848, as eleições presidenciais deram a vitória a Luís Bonaparte,
sobrinho de Napoleão, que também tinha aspirações imperiais.
Um ano
antes de concluir seu mandato, Bonaparte deu um golpe de Estado e se declarou
imperador dos franceses com o título de Napoleão III. Como se vê a Segunda
República durou pouco: três anos apenas. Com o fi m da Segunda República,
começava agora o Segundo Império, que duraria até 1870.
8. 1848,
a “Primavera dos Povos”
Em 1848,
uma nova agitação revolucionária espalhou-se como um incêndio por toda a
Europa. Desta vez, a “Primavera dos Povos”, como foram batizadas as Revoluções
de 1848 na Europa, trouxe uma novidade para o panorama político europeu. Pela
primeira vez o proletariado fazia sua aparição política com reivindicações
classistas e propostas de mudança da ordem social.
É
importante frisar que, enquanto em 1830, burguesia e operariado somaram suas
forças, em 1848 eles se separaram. Em 1830, a burguesia e o operariado
estiveram unidos, objetivando a derrota dos governos fundamentados no Antigo
Regime. Mas, em 1848, ficaram evidentes as divergências e as contradições
existentes entre as duas classes, e elas se distanciaram, tão logo a burguesia assumiu
o poder.
Os
operários partiram para conquistas específicas, levando a revolução a um ponto
de radicalização que ameaçava os interesses dos grupos dominantes.
Naquele
momento, a grande novidade das revoluções ficou por conta da entrada em cena do
socialismo, conjunto de ideias defendidas por instituições e pessoas que agiam
como representantes dos trabalhadores.
divergências
e as contradições existentes entre as duas classes, e elas se distanciaram, tão
logo a burguesia assumiu o poder.
Os
operários partiram para conquistas específicas, levando a revolução a um ponto
de radicalização que ameaçava os interesses dos grupos dominantes.
Naquele
momento, a grande novidade das revoluções ficou por conta da entrada em cena do
socialismo, conjunto de ideias defendidas por instituições e pessoas que agiam
como representantes dos trabalhadores.
Nacionalistas
italianos e alemães
Enquanto isso, na região da Confederação Germânica e na
Península Itálica...
Os revolucionários foram motivados principalmente pelos
ideais liberais e nacionalistas.
1. Na Confederação Germânica, dividida em 39 Estados independentes,
o apelo pela unificação fracassou (voltaremos ao assunto no próximo capítulo).
As rebeliões chegaram a obrigar alguns governos a convocar assembleias
constituintes e a aceitar constituições liberais.
Mas também aí a divisão das forças liberais e
democráticas permitiu a reação dos grupos conservadores, que anularam as
conquistas obtidas e restabeleceram a ordem anterior.
2. Na Península Itálica, que também estava dividida em
vários Estados independentes, houve rebeliões em quase todos. Entretanto,
apesar de alguns êxitos iniciais, nenhuma das rebeliões atingiu seus objetivos.
A reivindicação principal era a unificação da península sob um único governo,
mas os revolucionários divergiam quanto ao tipo de Estado que deveria ser
implantado. Alguns queriam uma monarquia constitucional; outros, uma república
democrática.
Enfraquecidos por divisões internas, os revoltosos foram
rapidamente vencidos pelo exército austríaco.
9.
Burguesia versus proletariado
A
industrialização iniciada em meados do século XVIII deu origem a duas classes
sociais bem diferenciadas: a burguesia e o proletariado. A
burguesia, evidentemente, não foi criação da Revolução Industrial, pois já
existia desde o fi nal da Idade Média. No entanto, com a industrialização, assumiu
características inteiramente novas. Como a principal fonte de riqueza deixou de
ser o comércio e passou a ser a produção de mercadorias, houve um
fortalecimento da burguesia industrial, mais ligada à produção, com maior
controle do poder e maior participação no Estado.
As duas
classes tinham como espaço comum as fábricas, pois ambas participavam da
produção – a burguesia como gestora e a classe operária como executora das
metas de produção. Mas havia entre elas um abismo de desigualdades sociais e
diferenças culturais. Enquanto o trabalho dos operários era coletivo, a
apropriação da riqueza produzida era individual; a maior parte ficava nas mãos
do empresário capitalista.
10. A
ausência de regulamentação favorecia a exploração
A vida
imposta ao trabalhador pela produção em série era dura. As longas jornadas de
trabalho chegavam até dezoito horas diárias. O escasso tempo que sobrava para
descanso obrigava-o a morar nas imediações das fábricas, ocupando porões ou
cortiços.
Relatórios
da época informam que, em cada quarto, às vezes dormiam de quinze a vinte
pessoas, deitadas no chão, sobre montes de palha.
Durante
muito tempo, as relações de trabalho não foram regulamentadas. Nas fábricas e
minas, a jornada de trabalho se estendia por seis dias da semana. Não havia
férias remuneradas nem aposentadoria. As menores faltas por parte do
trabalhador estavam sujeitas a multas e descontos.
A ausência
de uma legislação trabalhista não deixava de ter coerência com o espírito
inicial do liberalismo econômico dominante na época. Segundo essa corrente, as
relações entre patrões e empregados se baseavam no livre contrato firmado
no mercado de trabalho entre duas partes iguais. O Estado deveria ficar fora
dessa discussão e manter uma posição de neutralidade entre as partes, proibindo
a associação tanto de empregados como de patrões.
11. O
movimento operário
As péssimas
condições de vida e de trabalho provocaram revolta e manifestações de
descontentamento dos trabalhadores desde o começo da Revolução Industrial. Uma
delas foi a quebra de máquinas, promovida pelos ludistas na Inglaterra, a
partir de 1811.
Mais tarde,
quando surgiu o movimento cartista, os operários ingleses perceberam que o
caminho para vencer a opressão e a miséria era o da luta política pela
conquista de direitos ou o da disputa pelo poder do Estado.
Na França,
o movimento operário adotou formas políticas radicalizadas já em junho de 1848,
quando pegou em armas para protestar contra a República liberal-burguesa. Nessa
época, as principais forças atuantes entre os trabalhadores franceses eram o socialismo
reformista, de Louis Blanc, e o socialismo revolucionário, de Auguste
Blanqui. Enquanto o primeiro recomendava a participação dos trabalhadores nas
eleições, o segundo acreditava que a única forma de se conquistar a emancipação
da classe operária era por meio da luta armada.
Nos Estados
germânicos, por sua vez, foi criada a Liga dos Justos, mais tarde Liga
dos comunistas, que teve importante participação na Revolução de 1848.
Com a
derrota dos revolucionários liberais e democráticos nessa e em outras regiões
da Europa, o movimento operário arrefeceu por cerca de dez anos. Voltaria a
ganhar força depois de 1860, com a criação da Associação internacional dos
Trabalhadores, ou Primeira internacional, fundada em Londres em 1864;
durante o episódio da Comuna de Paris, em 1871; e com a formação de partidos
socialistas na Alemanha (Partido Social-Democrata) e na Inglaterra (Partido
Trabalhista), no final do século XIX.
12. Surgem
os sindicatos e as primeiras conquistas sociais
Paralelamente
às lutas políticas, os trabalhadores levaram adiante também movimentos que
reivindicavam melhorias em sua condição de vida e de trabalho. Esses movimentos
deram origem a formas de organização coletiva denominadas sindicatos. Na
Inglaterra, os sindicatos (trade unions) foram declarados legais em
1824. Na França, porém, a liberdade sindical só seria conquistada em 1884.
Aos poucos,
essas lutas políticas e sindicais começaram a dar resultado. Por exemplo, a
partir de 1833, na Inglaterra, fixaram-se limites para a jornada de trabalho de
menores e de mulheres. Ficou então estabelecido que nenhuma criança com menos
de treze anos poderia trabalhar mais do que nove horas por dia. Em 1842, houve
outra conquista, e as mulheres foram afastadas do trabalho das minas. No
entanto, somente em 1874 os homens assistiriam à aprovação da lei da jornada de
dez horas diárias. Já na França, a jornada de dez horas seria instituída apenas
em 1892.
13.
Reforma ou revolução?
O contraste
entre a miséria em que viviam os trabalhadores e a riqueza proporcionada pela produção
industrial despertava revolta entre escritores, políticos e pensadores de
origem burguesa.
Indignados
com o que viam, alguns deles propunham reformas que instaurassem a justiça social
e abrissem caminho para a formação de uma sociedade mais humana e igualitária.
As
doutrinas e os princípios defendidos por esses reformadores constituíram uma
ideologia que se tornou conhecida como socialismo. Seu ponto de partida
era a crítica às desigualdades sociais criadas ou acentuadas pelo sistema
capitalista. Entretanto, havia entre os socialistas muitas diferenças de
opinião, o que originou vários grupos e diversas ideologias.
Alguns
socialistas argumentavam que só a luta político-eleitoral e parlamentar das classes
trabalhadoras poderia conduzir a uma reforma da sociedade capitalista e à
instauração do socialismo.
14. Socialistas
utópicos
Outra
corrente de pensadores socialistas preocupava-se mais em idealizar um novo tipo
de sociedade do que propor formas concretas para os trabalhadores conquistarem
o poder.
Os
socialistas de maior destaque foram o inglês Robert Owen e os franceses Charles
Fourier e Claude Saint-Simon. Owen, por exemplo, acreditava na “revolução pela
razão”: para transformar o ser humano, melhorar seu destino e curar seus
vícios, era necessário primeiro questionar os valores impostos pela sociedade nas
áreas religiosa, econômica, moral, familiar etc. Em um segundo momento, porém,
defendia uma ação transformadora mais efetiva. Ele mesmo serviu de exemplo para
comprovar sua teoria.
Aprendiz de
um fabricante de tecidos e diretor de indústria têxtil, aos 28 anos Owen
comprou quatro fiações de algodão que ficavam na usina de New Lanark, perto de
Glasgow, Escócia. As fábricas empregavam 1 800 operários, dos quais 450 eram
crianças. O socialista, patrão esclarecido, pôs em prática suas ideias:
racionalizou a produção, aumentou os salários e a produtividade, ampliou os
alojamentos dos trabalhadores e combateu, entre eles, o alcoolismo e o roubo,
dedicando especial atenção à regeneração moral. Além disso, construiu escolas
para os filhos dos operários e proibiu o trabalho das crianças de pouca idade
nas fiações. Sua experiência foi uma das mais bem-sucedidas da época.
Esses pensadores
foram chamados de socialistas utópicos. A palavra “utópico” deriva de Utopia,
título de um livro famoso que o inglês Thomas Morus escreveu no século XVI. Nessa
obra, o autor descreve uma sociedade perfeita.
15. Socialistas
científicos
Os autores da expressão “socialistas utópicos” foram Karl Marx e Friedrich Engels. Esses
dois pensadores de origem germânica criticaram os primeiros socialistas por
pretenderem alcançar uma sociedade socialista de uma forma que não era possível
na prática – por isso, “utópica” -, pois dependia do consentimento e da ajuda da
burguesia.
Marx e
Engels fizeram uma crítica radical do capitalismo. Desenvolveram uma doutrina que
era, ao mesmo tempo, científica e revolucionária, e fundaram uma corrente de
pensamento à qual deram o nome de socialismo científico ou comunismo. Em
1848, lançaram o Manifesto do Partido Comunista, que teve profundas e
duradouras repercussões no movimento operário e socialista internacional.
Para Marx e
Engels, o capitalismo estava condenado à extinção, assim como haviam
desaparecido também o feudalismo e o escravismo, e o agente dessa extinção
seria o proletariado, classe oposta à burguesia.
Para a
vitória do proletariado, era necessário organizar os trabalhadores e promover
uma insurreição armada que levasse o Partido Comunista ao poder e criasse um
Estado que destruísse a principal estrutura da sociedade burguesa: a
propriedade privada dos meios de produção. No seu lugar, seria instituída a
propriedade coletiva de todos os meios de produção. Esse Estado dos trabalhadores
seria o primeiro estágio para a formação de uma sociedade sem classes e sem
governo, a sociedade comunista.
16. Anarquistas
versus marxistas
Outra
corrente ideológica importante entre os operários do século XIX foi o
anarquismo, que lutava por um tipo de sociedade sem Estado e sem propriedade
privada. Os mais importantes teóricos anarquistas foram os russos Mikhail
Bakunin e Peter Kropotkin. Bakunin era partidário da violência revolucionária e
aconselhava seus adeptos a recorrerem até aos atentados individuais contra a
vida dos governantes, enquanto Kropotkin recomendava a utilização de métodos
mais pacíficos.
Tanto os
anarquistas quanto os marxistas lutavam por uma sociedade sem classes e sem
Estado. Mas havia profundas divergências entre eles. Os partidários de Marx sustentavam
que para se chegar ao comunismo era necessário criar primeiro um Estado que
esmagasse as resistências burguesas e instaurasse a igualdade entre as classes.
A forma de governo desse Estado seria a ditadura do proletariado. Já os
anarquistas, conhecidos também como libertários, opunham-se a todo tipo de
governo, inclusive à ditadura do proletariado, preconizando a liberdade geral e
a supressão imediata do Estado.
Uma
variante expressiva do anarquismo foi o anarcossindicalismo, que defendia a
união entre as ideias libertárias e o movimento sindical. Essa tendência foi
particularmente forte na Espanha.
No Brasil,
o movimento operário do começo do século XX foi liderado majoritariamente por adeptos
do anarcossindicalismo.
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