NEOCOLONIALISMO E IMPERIALISMO
A partir
de 1850, os
países industrializados da Europa lançaram-se à conquista de territórios e à
criação de colônias na Ásia e na África. Surgiu dessa forma o neocolonialismo,
isto é, a formação de impérios coloniais semelhantes em muitos aspectos aos que
existiram entre o século XVI e o começo do século XIX. Esse fenômeno com
frequência também é chamado de imperialismo.
Mas,
é preciso fazer um esclarecimento. Embora os termos imperialismo e
neocolonialismo sejam, muitas vezes, usados como sinônimos, há uma diferença
entre eles:
O
neocolonialismo pressupõe o domínio físico do território, ao passo que o
imperialismo pode se limitar apenas ao domínio econômico através de empréstimos
e investimentos diretos.
O
conceito de imperialismo se aplica
mais ao caso da América Latina, porque nesta parte do mundo a economia já
estava organizada em função dos interesses europeus, e não era necessária a
ocupação física do território.
![]() |
Charge representação a partilha territorial entre as potências. |
O
que explica a nova corrida colonial dos europeus, no século XIX, foram as novas
necessidades criadas pela Segunda Revolução Industrial. Basicamente essas necessidades
eram a) mercados consumidores de mercadorias, b) territórios fornecedores de
matérias primas, e c) áreas para investimentos de capital.
A
ambição econômica foi disfarçada por uma justificativa ideológica. Foi a
doutrina da “missão civilizadora” da cultura europeia, pela qual cabia às nações
da Europa difundir seus hábitos, costumes e tradições entre povos “atrasados” e
“primitivos” do resto do mundo.
A
conjuntura de disputas entre os países desenvolvidos criou a um estado de
guerra permanente devido à necessidade de se armarem para conquistar novos
territórios e enfrentar a ameaça das potências concorrentes.
As áreas dominadas dividiam-se em dois os tipos
básicos: colônias e protetorados. As colônias estavam sob domínio direto da
metrópole, sendo governadas localmente por um governador geral. Já os
protetorados, embora sob controle de um país imperialista, mantinham um certo
grau de autonomia. Exemplos de protetorados: da Inglaterra: Índia e Egito; da
França: Tunísia e o Marrocos.
1. A
partilha da África
Os
europeus estavam presentes na África desde a chegada dos portugueses no século
XV. Mas durante séculos a presença europeia se limitava ao comércio no litoral
do continente.
A
ocupação sistemática da África foi iniciada pela França, com a ocupação da
Argélia, a partir de 1830. A iniciativa da França foi logo seguida por outros
países, e resultou numa verdadeira “corrida” entre essas potências pelo
controle do continente africano.
Para acomodar os diferentes
interesses europeus na África, o chanceler alemão Otto von Bismarck promoveu
a Conferência de Berlim (1884-1885). Seu objetivo era
definir as condições para novas ocupações na África. Nenhum governante
africano foi convidado a tomar parte nessa conferência, claro.
No final do século XIX, a Inglaterra
dominava a África Oriental Britânica e a Rodésia (hoje Zimbabwe), da Nigéria, Serra Leoa, Costa do
Ouro e de regiões que depois seriam englobadas na União Sul-Africana. No Egito
e no Sudão, os ingleses disputaram zonas de influência com a França, que
resolveu abandonar a região em 1904, em troca do apoio inglês a suas ambições
no Marrocos.
No domínio da África, a maior
dificuldade aos ingleses foi oferecida pelos bôeres – fazendeiros descendentes
dos primeiros assentamentos de holandeses no Cabo.
Esses colonizadores haviam migrado para
o norte da atual África do Sul, fugindo dos ingleses. Mas a terra que eles
ocupavam era rica em ouro e os ingleses quiseram-na para si. Seguiu-se um
sangrenta guerra – a Guerra dos Bôeres, que teve nada menos do que 45 mil
mortos, e foi vencida pelos ingleses.
A
França já dominava a África Ocidental Francesa, a Tunísia, a África Equatorial
Francesa, Madagascar e outras regiões. Controlava também a Argélia, que
conquistara entre 1830 e 1857.
Os
países ibéricos mantinham antigas possessões: Portugal tinha sob seu domínio
Angola, Moçambique e a Guiné Portuguesa, enquanto a Espanha exercia o controle
sobre o sul do Marrocos.
Já
a Itália e a Alemanha só se lançaram mais tarde à conquista africana devido ao
tardio processo de unificação verificado nos dois países. Mesmo assim, na
virada do século XIX para o século XX, a Itália dominava a Eritreia, parte da Somália e a Líbia, enquanto a Alemanha controlava a África Oriental
Alemã, Togo,Camarões e a África do Sudoeste Alemã.
2. Dominação
europeia na Ásia
A) A Índia
O domínio europeu sobre a Índia se deu de forma lenta, porém
contínua e crescente, completando-se no século XIX. Os portugueses foram os
primeiros europeus a chegarem à Índia, onde estabeleceram entrepostos comerciais.
Em seguida, chegaram também holandeses, franceses e ingleses,
desenvolvendo intensa disputa pelo comércio indiano. Nessa disputa,
sobressaíram-se franceses e ingleses.
Em meados do século XVIII, após a vitória da Inglaterra na
Guerra dos Sete Anos (1756-1763), ficou decidido que os ingleses, e não os
franceses, dominariam a Índia.
A dominação inglesa se fazia através da Companhia das Índias
Orientais, que tinha inclusive um exército próprio e o direito de cobrar
impostos.
A dominação inglesa se intensificou após a Revolta dos
Cipaios (1857-1859). Cipaios era como se chamavam o soldados indianos da companhia
inglesa. Em 1857, eles iniciaram uma revolta contra a dominação inglesa. A
revolta durou dois anos, e no final os cipaios foram derrotados. O domínio
inglês sobre a Índia iria durar ainda por mais 90 anos.
B) A China
Durante
muito tempo, a China permaneceu fechada a qualquer influência de outras regiões,
sobretudo do Ocidente, procurando preservar intacta sua cultura milenar. Até o
século XIX, por exemplo, apenas o porto de Cantão estava autorizado a comerciar
com o Ocidente. Porém, em virtude de suas grandes dimensões, o país era cobiçado
pelas nações europeias, que aguardavam apenas uma oportunidade para estender
seu domínio sobre a região.
Tentando
criar essa oportunidade, comerciantes ingleses se dedicavam ao tráfico de uma droga
muito consumida pelos chineses: o ópio. A droga saía de Bengala, na Índia, e
era introduzida ilegalmente na China, afrontando decisões do governo chinês,
que havia proibido sua entrada no país. Para coibir a atividade, a partir de
1839 as autoridades chinesas passaram a apreender e destruir os carregamentos de
ópio.
A medida
serviu de pretexto para que os ingleses deflagrassem a Guerra do Ópio (1839-1842).
O confronto teve consequências desastrosas para a China, que saiu derrotada. A
China foi obrigada, entre outras exigências, a ceder a ilha de Hong Kong, abrir
cinco portos ao comércio exterior e pagar uma indenização de guerra aos
ingleses.
Mais tarde,
o país seria submetido a novas humilhações pela Inglaterra, que provocou duas
outras guerras do ópio, em 1856 e 1858. Depois de cada conflito, a China era
forçada a pagar novas indenizações e a abrir outros portos ao comércio não só inglês
mas também de outros países.
A partir de
1895, a China foi dividida em zonas de influências. Em cada uma delas, uma
potência assumiu o direito de comerciar e fazer investimentos, além de contar com
a garantia de que a área não seria alienada em favor de outro Estado.
C) O Japão
Ao
contrário do atraso que caracterizava o continente africano, na Ásia havia um
país em franco desenvolvimento: o Japão. As causas desse progresso remontam a
1868, quando ocorreu a Revolução Meiji, um movimento político que fortaleceu
o poder do imperador. Com isso, o imperador pôde adotar uma série de medidas
que deram início ao processo de industrialização e ao desenvolvimento do país,
sob a orientação e a intervenção direta do Estado.
O
crescimento interno acabou alimentando ambições imperialistas no Estado
japonês, sobretudo entre os militares. Como consequência, entre 1894 e 1895, o
país esteve em guerra com a China por disputas territoriais. O conflito
terminou com a vitória do Japão, que anexou a Coreia e a ilha de Formosa,
transformando-as em colônias.
3. Na América Latina, a submissão ao imperialismo
Os novos impérios coloniais
O britânico Eric Hobsbawm (1917-2012) é
considerado um dos principais historiadores do século XX e é referência essencial
para o estudo da História Moderna e Contemporânea. O autor desenvolveu uma
vasta obra sobre as transformações sociais e a formação do capitalismo nos
últimos séculos. No texto abaixo, ele apresenta dados sobre o crescimento do
imperialismo no século XIX.
“Essa repartição do mundo entre um pequeno
número de Estados [...] foi a expressão mais espetacular da crescente divisão
do planeta em fortes e fracos, em “avançados” e “atrasados” que já observamos.
Foi também notavelmente nova. Entre 1876 e 1915, cerca de um quarto da
superfície continental do globo foi distribuído ou redistribuído, como colônia,
entre meia dúzia de Estados. A Grã-Bretanha aumentou seus territórios em cerca
de dez milhões de quilômetros quadrados, a França em cerca de nove, a Alemanha
conquistou mais de dois milhões e meio, a Bélgica e a Itália pouco menos que
essa extensão cada uma. Os EUA conquistaram cerca de 250 mil, principalmente da
Espanha, o Japão algo em torno da mesma quantidade às custas da China, da
Rússia e da Coreia. As antigas colônias africanas de Portugal se ampliaram em cerca
de 750 mil quilômetros quadrados; a Espanha, mesmo sendo uma perdedora líquida
(para os EUA), ainda conseguiu tomar alguns territórios pedregosos no Marrocos
e no Saara Ocidental. O crescimento da Rússia imperial é mais difícil de
avaliar, pois todo ele se deu em territórios adjacentes e constituiu o
prosseguimento de alguns séculos de expansão territorial do Estado czarista;
ademais, como veremos, a Rússia perdeu algum território para o Japão. Dentre os
principais impérios coloniais, apenas o holandês não conseguiu, ou não quis,
adquirir novos territórios, salvo por meio da extensão de seu controle efetivo às
ilhas indonésias, que há muito “possuía” formalmente. Dentre os menores, a
Suécia liquidou a única colônia que lhe restava, uma ilha das Índias
Ocidentais, vendendo-a à França, e a Dinamarca estava prestes a fazer o mesmo –
conservando apenas a Islândia e a Groenlândia como territórios dependentes.” HOBSBAWM,
Eric. A era dos impérios. 10. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2007. p.
91
3. Na América Latina, a submissão ao imperialismo
Na Ásia e
na África, a dominação imperialista se deu por meio da conquista de territórios
(neocolonialismo). Isso não ocorreu na América Latina.
Para
entender esse processo, é preciso recordar que, nos termos do pacto colonial, estabelecido na época
da colonização, a economia das colônias foi definida como complementar à das metrópoles.
Assim, cabia às colônias cultivar produtos tropicais de larga aceitação no
mercado europeu ou oferecer metais preciosos que promovessem o rápido
enriquecimento da metrópole, segundo a concepção mercantilista.
A
independência dos países da América Latina, no início do século XIX, não
alterou muito essa situação. Vitoriosos em sua luta, os novos países não foram
capazes de romper totalmente com as estruturas sociais e econômicas construídas
durante o período colonial. Em todos eles, foi mantida a grande propriedade da
terra voltada para a monocultura de produtos tropicais de exportação.
Em alguns
países, como o Brasil, até mesmo o trabalho escravo persistiu.
Também as
relações de poder não se democratizaram, e o governo continuou nas mãos de
elites formadas pela aristocracia da terra e pelos grandes comerciantes.
Nessas
condições, não se criaram nos países latino-americanos condições para que se
lançassem ao desenvolvimento econômico autônomo e autossustentado, como
aconteceu nos Estados Unidos. Ao contrário, para se consolidar, os novos
governos viram-se obrigados a recorrer ao capital estrangeiro.
A entrada do
capital imperialista se dava por duas vias. A primeira eram os empréstimos
públicos (de governo para governo) ou privados (de bancos particulares para governos);
a segunda eram os investimentos diretos de capital, principalmente em
mineração, operações financeiras, comércio de exportação e importação,
transportes (ferrovias, companhias de navegação) e serviços públicos urbanos
(iluminação a gás, linhas de bonde e outros).
Nenhum comentário:
Postar um comentário