O FIM DA UNIÃO SOVIÉTICA
A União Soviética, desde sua fundação, apostou uma corrida com os países capitalistas pelo desenvolvimento.
No fim da
década de 1950, Nikita Kruchev, sucessor de Stalin no cargo de secretário-geral
do Partido Comunista Soviético (PCUS), costumava dizer que a União Soviética
logo alcançaria e superaria o desenvolvimento econômico dos Estados Unidos,
garantindo, assim, a vitória do comunismo sobre o capitalismo. Mas, apesar de
todos os esforços e dos êxitos obtidos pela economia soviética em vários
setores, a previsão de Kruchev não se confirmou.
10 de novembro de 1989,
Berlim. Um homem usa uma picareta para destruir o Muro de Berlim, iniciando o fim do império soviético. |
Além de nunca ter alcançado os Estados Unidos, a URSS se revelou um império frágil, incapaz de acompanhar a revolução tecnológica que caracterizou os últimos trinta anos no mundo capitalista.
Essa situação contribuiu para a decadência do bloco a partir de 1889.
1. Entre o sonho e o pesadelo
De todas as
revoluções ocorridas na Idade Contemporânea, a Revolução Russa de 1917 foi a
que mais despertou esperanças de construir um mundo melhor. Liderado por
revolucionários engajados na luta contra a “exploração do homem pelo homem”, o
movimento tinha como meta criar uma sociedade sem classes e sem desigualdades,
uma espécie de reino da liberdade, repleto de bens materiais e culturais e com
justiça social.
Na prática,
porém, esse projeto nunca chegou a se concretizar. Passado o período heroico da
Revolução, a URSS se transformou em um Estado totalitário, dirigido por uma
burocracia privilegiada (a chamada nomenklatura), que um impôs rígido
controle sobre todos os setores da sociedade. Esse controle teve efeitos
desastrosos para a economia soviética.
Sob o peso
desses problemas, a economia começou a perder impulso já no início da década de
1970, apresentando taxas de crescimento cada vez menores.
Efeitos do controle
O sistema de
planejamento excessivamente centralizado paralisou a administração da economia,
impedindo que as decisões fossem tomadas com rapidez e flexibilidade.
• A agricultura
coletiva sempre foi uma área problemática da economia soviética. Embora consumisse
30% do investimento total e empregasse 20% da força de trabalho, a produção
agrícola sempre ficou abaixo das expectativas. Em consequência, a União Soviética
se viu obrigada a importar alimentos até dos Estados Unidos.
• O acelerado
crescimento econômico obtido pelos primeiros planos quinquenais foi resultado
da expansão da indústria pesada (siderurgia, produção de máquinas e
equipamentos etc.). A produção de bens de consumo ficou relegada a segundo
plano. Tampouco havia a preocupação de investir em tecnologia e no aumento da
produtividade. Resultado: o país passou a conviver com altos custos de
produção, desperdício e baixa qualidade dos produtos.
• A competição
militar e a corrida espacial com os EUA consumiram grande parte dos recursos do
país e, a longo prazo, acabaram inviabilizando a economia soviética. Basta lembrar
que o Produto Interno Bruto (PIB) da URSS era inferior à metade do PIB estadunidense.
Mas, para manter sua competitividade, o governo soviético precisava gastar
tanto quanto os Estados Unidos em armamentos, e com isso acabou tirando
recursos de áreas importantes para manter a qualidade de vida da população.
Gorbachev, um líder
reformista
No início
dos anos 1980, era possível perceber que a economia caminhava para a
estagnação.
Os próprios
dirigentes reconheceram que estavam perdendo a Guerra Fria para as nações capitalistas
desenvolvidas. Só havia uma saída para evitar o colapso: introduzir mudanças
profundas no país.
Em março de
1985, Mikhail Gorbachev, o principal líder dos reformistas, assumiu a
Secretaria-Geral do PCUS. Dois meses depois, ele apresentou um amplo projeto de
reformas, subdividido em duas partes.
a) a perestroika
(“reestruturação”) previa a reforma econômica, a democratização controlada do
sistema político, o desarmamento e a diminuição da influência soviética nos
países do Leste Europeu.
b) a glasnost
(“transparência”) concedia liberdade de imprensa e de opinião, afrouxando o
controle da burocracia estatal sobre a população.
Ao mesmo
tempo, Gorbachev promoveu a abertura da economia ao mercado ocidental, em busca
de investimentos e tecnologia, e em 1987 assinou, com o governo dos EUA, um acordo
para a eliminação de mísseis nucleares na Europa e na Ásia.
3. Mudanças
no Leste Europeu
O
relaxamento do controle propiciado pela glasnost abriu caminho para que
ocorressem manifestações de descontentamento não só na União Soviética, mas
também nos países do Leste Europeu. Nessa região, a insatisfação reprimida
durante anos veio à tona, expressando o desejo popular de autonomia nacional e
de liberdade. O império soviético começava a ruir, e o processo de
desintegração assumiria formas diferentes nos diversos países.
a) Na
Polônia, o movimento reformista já era antigo. Liderados por Lech Walesa, os
operários haviam iniciado, no fi m dos anos 1970, uma luta pelo direito de
greve e pela legalização do sindicato independente Solidariedade, que se
tornaria, nos anos seguintes, o principal veículo de oposição ao governo comunista.
Em 1989,
políticos ligados ao Solidariedade venceram as eleições parlamentares e
formaram um governo de coalizão, dividindo o poder com os comunistas. Teve
início então um programa de desestatização da economia. Com as mudanças, o
Partido Comunista acabou-se desintegrando. Em 1990, Walesa tornou-se o primeiro
presidente da Polônia eleito por voto direto. Por causa das dificuldades na
transição para uma economia de mercado, nas eleições de 1995 Walesa foi
derrotado pelo ex-membro do Partido Comunista Aleksander Kwasniewski.
Reeleito em
2000 para um novo mandato presidencial, a maior realização de Kwasniewski foi liderar
o processo de integração do país à União Europeia. Seu esforço foi coroado de
êxito em maio de 2004, quando a Polônia passou a fazer parte da União Europeia,
acompanhada de outros sete países do antigo bloco comunista.
b) Na
Hungria e na Bulgária, o fim do regime comunista também se deu de forma
pacífica. Em ambos os países, surgiram grupos de “comunistas reformadores” que
destituíram as lideranças stalinistas e deram início ao diálogo com as
correntes de oposição. Nos dois casos, os partidos comunistas se desmembraram e
foram substituídos por partidos socialistas de tendência moderada.
Na Hungria,
ocorreram grandes manifestações populares a favor da democratização do regime.
Em 1990, o país abandonou o comunismo e a oposição assumiu o poder. Na década
que se seguiu, o governo iniciou um processo de privatizações, demissões em
massa e redução dos gastos sociais. Assim como outros países do Leste Europeu,
a Hungria ingressou na União Europeia em maio de 2004.
c) Já na
Bulgária a União das Forças Democráticas, oposicionista, chegou ao governo em
1991, após conquistar a maioria de votos em eleições parlamentares. O país
ingressou então em um período de transição para a economia de mercado, com o
fechamento de empresas estatais, privatização das terras coletivas e de outras.
Essas mudanças provocaram desemprego e mal-estar entre a população, que sofreu
também com a perda de benefícios sociais. A difícil adaptação ao capitalismo
transformou a Bulgária em membro de “segunda classe” da União Europeia, na qual
ingressou em 2007. Por exemplo, pacotes de ajuda financeira ao país foram
negados pela UE. As denúncias de corrupção no governo e o forte crime
organizado búlgaro são as justificativas para a negação do auxílio.
A queda do Muro de
Berlim
Entre 1971 e 1989,
a República Democrática Alemã (ou Alemanha Oriental) foi dirigida por Erich
Honecker, um governante linha-dura, que chegou a proibir a venda do livro Perestroika,
de Gorbachev. Em 1989, quando as agitações que sacudiam o Leste Europeu chegaram
ao país, Honecker se recusou a atender a qualquer reivindicação de mudança.
Diante disso, as
ruas das grandes cidades foram tomadas por manifestações favoráveis à
democracia, levando ao afastamento de Honecker. No dia 9 de novembro de 1989,
milhares de manifestantes derrubaram o Muro de Berlim. No ano seguinte, os
habitantes das duas Alemanhas aprovaram a reunificação do país em eleições
livres. Dessa forma, o processo ocorrido na Alemanha Oriental foi diferente do
restante do Leste Europeu, pois o próprio país desapareceu.
Após a
reunificação, restou apenas uma nação: a República Federal da Alemanha.
d) Na
Romênia, a queda do regime comunista ocorreu de forma violenta, por meio de uma
revolta popular que derrubou o governo de Nicolau Ceausescu. Preso e submetido
a julgamento por um tribunal militar, Ceausescu foi condenado à morte por
genocídio, apropriação de bens públicos e danos à economia nacional. No dia 25
de dezembro de 1989, ele e a mulher, Elena, foram executados.
Em 1991, a
Romênia ganhou nova Constituição, instituindo a democracia e a economia de
mercado no país. Mas a crise econômica, herdada da ditadura, agravou-se e o
governo foi obrigado a recorrer à ajuda do FMI. Em 1995, teve início um amplo
programa de privatizações, mas nem por isso a situação melhorou, e o país foi
tomado por greves e protestos contra o desemprego. Mesmo após a estabilidade
econômica instaurada nos anos 2000, a Romênia ainda possui uma das taxas de
média salarial mais baixas da Europa. Assim como a Bulgária, a Romênia
ingressou na União Europeia em 2007 e também não experimentou uma mudança
brusca em sua qualidade de vida após a adesão.
e) Na
Tchecoslováquia, a transição para o regime democrático também foi pacífica. Em
1989, gigantescas manifestações populares ocuparam as ruas da capital, Praga,
reivindicando a libertação de Václav Havel, intelectual preso por razões
políticas. Em novembro, o presidente comunista Gustáv Husák renunciou ao cargo
e Havel deixou a prisão para assumir, provisoriamente, a Presidência da
República. Ao mesmo tempo, Alexander Dubcek, veterano líder reformista, voltou à
vida política para dirigir o Parlamento. Em 1990, Havel foi confirmado na
Presidência. Três anos depois, com a aprovação da população, o país se dividiu
em duas nações independentes: a República Tcheca e a Eslováquia. Em maio de
2004, os dois novos países ingressaram na União Europeia.
O fim da Iugoslávia
Até 1991, a
Iugoslávia era uma federação socialista formada por seis repúblicas: Sérvia,
Eslovênia, Croácia, Macedônia, Bósnia-Herzegovina e Montenegro. A mais forte e
mais populosa dessas repúblicas era a Sérvia, cujos habitantes professam a
religião cristã ortodoxa, em contraste com os bósnios, que são muçulmanos, e
com os croatas, católicos em sua maioria.
A despeito
dessas diferenças, a Iugoslávia permaneceu unificada durante várias décadas,
sob a liderança do marechal Josip Broz Tito. Em 1980, porém, com a morte do
líder, estabeleceu-se um sistema de rodízio no governo, pelo qual a Presidência
do país passou a ser exercida, a cada ano, pelo representante de uma das
repúblicas. Em 1991, entretanto, a Croácia e a Eslovênia se separaram da
federação, declarando sua independência.
Em
represália, o Exército iugoslavo, controlado pelos sérvios, invadiu os dois
países, dando início à guerra civil. No ano seguinte, a Macedônia e a
Bósnia-Herzegovina também se declararam independentes. A decisão não foi aceita
pelos sérvios residentes na Bósnia, provocando uma rebelião que degenerou em
violenta guerra civil no interior da pequena república.
A Iugoslávia
via-se, assim, às voltas com duas guerras civis: uma envolvendo a Sérvia, a
Croácia e a Eslovênia; a outra colocando em confronto os sérvios e os bósnios
na Bósnia-Herzegovina. Esses conflitos foram suspensos em 1995, por meio de
alguns acordos de paz mediados pelos Estados Unidos. A partir de então, a
Iugoslávia ficou reduzida às repúblicas da Sérvia e de Montenegro. A partir de
1997 teve início nova guerra civil envolvendo a província do Kosovo, na Sérvia.
Com o fim
do conflito, em 1999, e o afastamento do presidente Slobodan Milosevic, a
Iugoslávia ingressou finalmente na transição para a democracia.
Em
fevereiro de 2003, a República Federal da Iugoslávia foi declarada extinta pelo
Parlamento iugoslavo em sua última sessão. Em seu lugar foi criado o Estado da
Sérvia e Montenegro, que foi desmontando, em 2006, quando Montenegro declarou
sua independência da Sérvia.
4. Agonia
e morte da União Soviética
A onda
revolucionária que varreu o Leste Europeu tirou a região do controle da URSS,
provocando o desaparecimento do império soviético. No início de 1990, Gorbachev
começou a organizar o 28o Congresso do PCUS, sem que ninguém pudesse prever que
seria o último. Durante a reunião, Boris Ieltsin, líder político em ascensão
naquele momento, rompeu com o comunismo e assumiu a liderança de um movimento
em favor da adoção do pluripartidarismo e da economia de mercado. A essa
tendência opuseram-se os comunistas mais conservadores, que queriam manter a
antiga ordem e a unidade do país, ameaçada pela emergência de movimentos
nacionalistas nas várias repúblicas que formavam a União Soviética.
Gorbachev
desempenhava o papel de mediador entre os dois grupos, procurando fazer com que
as reformas avançassem e, ao mesmo tempo, tentando manter o país unido. A unidade
dependia, porém, de um novo pacto federativo, que incluísse concessões às
repúblicas. Gorbachev sabia disso e propôs o Tratado da união, que
deveria ser assinado pelas repúblicas no dia 21 de agosto de 1991. Um dia
antes, porém, setores conservadores do PCUS e das Forças Armadas o prenderam e
assumiram o poder.
A reação da
população ao golpe de Estado foi invadir as ruas das principais cidades do país
em gigantescas manifestações.
À frente
delas estava Boris Ieltsin, que acabava de ser eleito pelo voto popular para a
Presidência da República da Rússia. Essa reação paralisou os golpistas e fez
com que Gorbachev voltasse ao poder. Entretanto, foi Ieltsin quem saiu como o vencedor
do confronto.
Nos meses
seguintes, as repúblicas soviéticas do Báltico – Estônia, Letônia e Lituânia –
proclamaram sua independência. Em dezembro, a longa agonia do país chegou ao fim:
Gorbachev renunciou à Presidência e a URSS foi declarada extinta. Criou-se
então um novo país, a Federação Russa. Em seguida, foi assinado um acordo
instituindo a Comunidade dos estados independentes (Cei), órgão
de coordenação das várias repúblicas que haviam integrado a União Soviética.
A ascensão de
Vladimir Putin
Eleito em
1991 para a Presidência da recém-criada Federação Russa, Boris Ieltsin acelerou
a transição do socialismo burocrático de Estado para o capitalismo, abolindo os
controles de preços e privatizando as empresas estatais. A rapidez e a
profundidade das mudanças, entretanto, agravaram os problemas da economia.
Entre 1991 e 1998, o PIB registrou quedas sucessivas, o que aconteceu também
nos países do Leste Europeu.
Enquanto
isso, a inflação e o desemprego cresciam. A crise levou à rápida expansão do
crime organizado. Grupos criminosos se apoderaram de grande parte da economia
do país, além de controlar o contrabando, a prostituição e outras atividades
ilegais. Intensificaram-se também as tensões regionais.
Em janeiro de
1995, por exemplo, tropas russas invadiram a Chechênia para esmagar uma revolta
dos separatistas muçulmanos. O conflito foi suspenso em 1996 por um acordo de paz,
mas as tensões étnicas continuaram latentes na região.
Em 1998, a
economia russa entrou em colapso, provocando a queda das Bolsas de Valores em
todo o mundo. A moeda do país, o rublo, foi desvalorizada em 75% e, no
ano seguinte, o desemprego chegou a 14,2%. Em mais uma operação de salvamento,
o FMI emprestou ao governo russo cerca de 22 bilhões de dólares, mas a crise
não foi totalmente superada.
Ieltsin,
que se reelegera presidente da Rússia em 1996, renunciou no fim de 1999, sendo
sucedido por Vladimir Putin.
Em setembro
de 2004, rebeldes chechenos invadiram uma escola na República da Ossétia do Norte,
Estado vinculado à Federação Russa. Os combates que se seguiram provocaram a
morte de 330 civis, crianças em sua maioria.
Fim do comunismo:
fim das utopias e triunfo da
democracia?
O historiador, filósofo
e cientista político Norberto Bobbio (1909-2004) foi senador pelo Partido Socialista
Italiano antes da queda do Muro de Berlim e da desintegração da URSS. No texto
a seguir, ele analisa as causas da “catástrofe do comunismo” do ponto de vista
político e em uma perspectiva democrática.
“A catástrofe do
comunismo histórico está literalmente à vista de todos. Catástrofe do comunismo
enquanto movimento mundial, nascido da Revolução Russa, que prometia a
emancipação dos pobres e oprimidos, os “miseráveis da terra”. O processo de
decomposição acelera-se continuamente, superando qualquer previsão. Contudo,
isso não significa o fim dos regimes comunistas, que podem durar ainda muito
tempo, encontrando novas forças para sobreviver [...].
É inegável, porém,
que o fracasso não é apenas dos regimes comunistas, mas da revolução inspirada
na ideologia comunista – ideologia que postulava a transformação radical de uma
sociedade vista como injusta e opressora em uma sociedade bem diferente, livre
e justa. O drama, que de modo sem precedente se percebe nos fatos dos últimos
dias, é que não se trata da crise de um regime, nem da derrota de um grande poder
invencível. Ocorre, de maneira aparentemente irreversível, que a maior utopia
política da história (e não me refiro aqui às utopias religiosas) sofreu uma
reversão completa, tornando-se seu perfeito oposto. Esta utopia, durante pelo
menos cem anos, fascinou filósofos, escritores e poetas [...]; abalou as massas
de desvalidos e impeliu-os à ação violenta; levou homens de elevado senso moral
a sacrificarem as próprias vidas, enfrentarem a prisão, o exílio e os campos de
extermínio. A força sem paralelo dessa utopia, força material e espiritual, por
vezes pareceu irreversível: do Exército Vermelho à Longa Marcha de Mao; da
tomada do poder, em Cuba, por um grupo de homens decididos, até a luta
desesperada do povo vietnamita contra a força mais poderosa do mundo [...].
A maior prova do
fracasso é o fato de que todos quantos se rebelaram ao longo desses anos, e de
modo especialmente enérgico nos últimos dias, pediam exatamente o
reconhecimento dos direitos à liberdade, que constituem o pré-requisito da
democracia; ressalve-se, da democracia “progressista” ou popular, ou como a queiramos
chamar para distingui-la ou exaltá-la em relação às demais democracias: mas sim
da democracia que só pode ser chamada “de liberal” e que surgiu e se consolidou
mediante a conquista lenta e árdua de certas liberdades básicas. Refiro-me em
especial às quatro grandes liberdades do homem moderno: liberdade individual,
ou seja, o direito de não ser preso arbitrariamente e de ser julgado segundo regras
penais e jurídicas bem definidas; liberdade de imprensa e de opinião; liberdade
de reunião, que vimos ser pacificamente tomada, embora, contestada, na Praça da
Paz Celestial; e por fim a liberdade mais difícil de conquistar: a de associação,
que deu origem aos sindicatos livres e aos partidos livres, consequentemente à
sociedade pluralista sem a qual não há democracia. Como fecho desse processo de
cem anos está a liberdade política ou o direito de todo cidadão a participar
das decisões coletivas que lhe dizem respeito.“ BOBBIO, Norberto. O reverso da
utopia. In: BLACKBURN, Robin (Org.). Depois da queda: o fracasso do comunismo
e o futuro do socialismo. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1993. p. 17.
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