CIVILIZAÇÕES DA ÍNDIA
Origem da civilização indiana
A
passagem do nomadismo para a vida sedentária, com o início do cultivo de plantas,
ocorreu no Vale do Rio Indo entre 8000 e 7000 a.C., e também nas áreas banhadas
pelo Rio Ganges, cerca de um milênio mais tarde. Com esses rios, alimentados
pelas águas que escorriam do degelo das montanhas do Himalaia, acontecia algo
parecido com o que ocorria no Nilo e nos rios da Mesopotâmia: nas épocas de
cheia, eles transbordavam, espalhando elementos fertilizantes sobre as terras
próximas.
Os
agricultores aprenderam a tirar o máximo proveito dessas terras férteis. A
abertura de canais de irrigação e o uso do arado permitiam a obtenção de fartas
colheitas. Descobertas arqueológicas revelaram que eram cultivados trigo,
cevada, arroz, algodão, gergelim, pepino, mostarda e outras espécies.
Essa
abundância de alimentos atraiu invasores seminômades.
Um
desses invasores, chegado por volta de 2000 a.C., acabou por se tornar
dominante no Vale do Indo. Falavam um idioma pertencente ao grupo linguístico indo-europeu,
ao qual também pertencem o grego, o latim e o alemão. Chamavam a si mesmos de arias,
ou seja, “nobres”, segundo a língua falada por eles.
Vamos
chamá-los de arianos.
A
população dos arianos continuou a crescer e, a partir do ano 1000 a.C.,
aproximadamente, passou a contar com armas e ferramentas de ferro.
Fortalecidos, eles avançaram para o leste, ocuparam o Vale do Rio Ganges, e
para o sul, ocupando também territórios da Índia central. Durante esse tempo,
com base em técnicas aprendidas com os harappeanos, tornaram-se agricultores e
assumiram um estilo de vida sedentário. Fundaram cidades e organizaram os
primeiros reinos, colocando nos tronos seus chefes tribais.
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Taj Mahal, mais importante monumento arquitetônico da Índia. Foi construído entre 1632 e 1653. |
Essas
mudanças sociais também envolveram a língua e a religião. A língua falada pelos
arianos era o sânscrito. Essa palavra significa “língua perfeita”, “refinada”.
Mais tarde, se transformou no sânscrito clássico, a língua da
literatura, da religião e da ciência da Índia. Da mesma raiz, saíram outros
idiomas, inclusive o híndi, que hoje é uma das duas línguas oficiais da Índia (a
outra é o inglês).
2. O
hinduísmo
No
campo religioso, a novidade foi o surgimento do hinduísmo. Com uma história de
mais de quatro mil anos, o hinduísmo é considerada uma das religiões mais
antigas do mundo. Ele não teve um fundador. Seu surgimento resultou da história
dos povos que viveram no território indiano e é mais do que uma religião, pois
influencia toda a estrutura social, desde os atos comuns da vida cotidiana das
pessoas até a literatura e a arte.
O
hinduísmo não tem uma organização centralizada, além de incluir concepções e
práticas religiosas às vezes muito diferentes entre si. É a única, entre as
grandes religiões, com características politeístas. Seus seguidores fora da
Índia são poucos, mas ainda assim é a terceira religião com maior número de
adeptos no planeta, em virtude da enorme população da Índia atual.
Vedas , os livros
sagrados
A
fonte escrita mais antiga para o conhecimento do hinduísmo são os Vedas,
nome de um grande conjunto de quatro livros sagrados, dos quais o primeiro é o Rig
Veda. Em sânscrito, veda significa conhecimento (conhecimento
sagrado). Esses livros contêm hinos, histórias, cantos rituais, fórmulas
sagradas, entre outros temas, para acompanhar os rituais religiosos. Compostos entre
1500 e 800 a.C., durante muito tempo foram mantidos apenas na memória: eram
transmitidos oralmente pelos mais velhos aos mais jovens. Somente no século VI
a.C., provavelmente, tomaram a forma escrita, redigidos em sânscrito.
Deuses, sacrifícios e
oferendas
Com
a chegada dos arianos, a religião védica se impôs aos cultos locais. Outros deuses
passaram a ser cultuados, em geral identificados com os astros e com as forças
da natureza, tais como Surya (o Sol), Rudras (a tempestade) e Indra (a chuva).
Uma divindade muito importante foi Agni, o fogo do altar, venerado como deus do
lar e do sacrifício; a ele eram pedidas prosperidade e fecundidade. Ainda hoje
ele é invocado em muitas cerimônias.
Tudo
o que era ofertado aos deuses era lançado ao fogo, pois, segundo os Vedas, Agni
colocava os humanos em comunicação com o mundo divino. As oferendas eram
constituídas de alimentos, tais como leite, manteiga e mel. Uma oferenda muito
frequente era o suco extraído de uma planta, o soma. Era oferecido aos deuses e
também consumido pelos sacerdotes.
Acredita-se
que tivesse efeito alucinógeno. Fazia-se também o sacrifício de animais, prática
comum entre as religiões da Antiguidade.
Os
nobres chegavam a levar animais grandes para o sacrifício, como o cavalo, que custava
muito caro.
O domínio dos
brâmanes
Com
o tempo e as mudanças na sociedade, a simplicidade inicial do hinduísmo védico
deu lugar a crenças religiosas mais complexas. Outras divindades ganharam
importância e foram incorporadas novas meditações filosóficas. Com essas
mudanças, o hinduísmo entrou numa nova fase, que é chamada bramanismo.
Esse
nome vem de brâmanes, como eram conhecidos os sacerdotes. Eles haviam
adquirido grande prestígio por serem os conhecedores dos Vedas, que
tinham obrigação de guardar na memória e de transmitir ao filho. Eram eles que
tinham o conhecimento das fórmulas mágicas sem as quais os rituais sagrados não
podiam ser feitos.
Os
sacerdotes brâmanes estabeleceram Brama como deus principal, descrito como uma
energia neutra que criou o Universo. Ele era entendido como a personificação de
Brahman (não confundir com Brama), uma divindade única e suprema, um
espírito que permeia tudo. Brahman não é um ser no sentido do Deus cristão; ele
é inteiramente impessoal e impossível de ser descrito. Além de Brama, outros
dois deuses que ganharam importância foram Shiva e Vichnu. Shiva era visto como
aquele que destrói a ordem estabelecida, enquanto Vichnu era o que restaura e
mantém a nova ordem criada. Segundo a crença hinduísta, sem destruição não pode
haver o recomeço. Além da trindade Brama-Shiva-Vichnu, há muitas outras
divindades.
A ideia da Reencarnação
O hinduísmo
incorporou uma ideia que se tornou fundamental nas crenças religiosas da Índia.
Trata-se da ideia da reencarnação, segundo a qual cada indivíduo tem uma
alma, que não morre junto com o corpo, mas está fadada a passar por sucessivas
encarnações. O objetivo é que pessoa, por meio de uma vida virtuosa, alcance a
libertação e se livre do ciclo de nascimentos e mortes, tornando-se finalmente
parte do deus impessoal do Universo.
3. O
sistema de castas
Um
aspecto que chama a atenção na civilização indiana é seu sistema de castas.
Desde que os arianos se tornaram os senhores da Índia, a sociedade indiana
foi-se dividindo em grandes grupos, chamados castas. Com a ascensão dos
sacerdotes brâmanes, o sistema de castas se consolidou. Das quatro castas então
existentes, a mais alta era justamente a dos brâmanes e seus familiares.
A
seguir, vinham os xátrias, que eram os nobres (líderes militares e
aristocratas), incluindo os monarcas e suas famílias. A casta seguinte na
hierarquia era a dos vaixás, os comerciantes. A casta mais humilde era a
dos sudras, que incluía os trabalhadores braçais.
Na
posição social mais inferior, ficavam os párias. Eram assim chamados os
indivíduos que não pertenciam a nenhuma casta. Nesse grupo estavam incluídos
todos aqueles que faziam tarefas consideradas indignas de serem executadas
pelos membros das castas. Quem pertencia a alguma casta, mesmo a mais inferior,
evitava entrar em contato com os párias, considerados impuros e, por isso,
chamados de “intocáveis”.
A
pessoa não podia passar de uma casta para outra. Pessoas de castas diferentes
não podiam se casar. Assim, as famílias de uma casta não se misturavam com as
de outra.
Essa
divisão da sociedade em castas era justificada pela própria religião.
Acreditava-se que as castas nada mais eram do que partes diferenciadas de um
corpo divino. Assim, os brâmanes teriam nascido da cabeça de Brama e os
xátrias, dos braços. Eram, pois, as castas consideradas nobres. Das
pernas saíram os vaixás e dos pés, os sudras. Os párias não tinham ligação com
Brama. Não podiam entrar nos templos nem ler os textos sagrados, nem podiam
banhar-se no Rio Ganges, cujas águas eram consideradas sagradas e capazes de
purificar as pessoas.
Novas ideias desafiam
o bramanismo
Entretanto,
nem todos estavam de acordo com o hinduísmo bramânico. A ideia de que o conhecimento
dos Vedas fosse indispensável para a prática religiosa (como queriam os
sacerdotes brâmanes), a natureza mecânica da religião, a formalidade dos
rituais, o regime de castas e o sacrifício
de animais eram motivos de discordância.
Ideias
como essas deram origem a alguns movimentos religiosos e filosóficos. Um
movimento que ganhou grande repercussão foi o budismo. Seu fundador,
Sidarta Gautama (c. 563 a.C.-483 a.C.), não deixou nada escrito e quase tudo o
que se sabe a respeito de sua vida e de sua doutrina religiosa se baseia nos
registros dos seguidores desse movimento.
De
acordo com eles, Gautama era um príncipe e tinha sido educado para um dia se
tornar rei, mas, insatisfeito, decidiu mudar radicalmente sua vida. Um pouco
antes de completar 30 anos, Gautama deixou para trás sua família e seus palácios.
Por vários anos levou uma vida errante, entregando-se a longos períodos de
jejum e meditação. Buscava respostas para as dúvidas que o atormentavam e que diziam
respeito ao sofrimento causado pela dor, pela velhice e pela morte.
Muitos
anos depois, quando se achava debaixo de uma figueira, ele julgou ter
finalmente encontrado as respostas que procurava. E experimentou uma sensação
de plena felicidade, à qual denominou nirvana.
Segundo
os budistas, foi então que Sidarta tornou--se Buda, que em sânscrito significa
o despertado ou o iluminado. Desde aquele momento, e até sua
morte (aos 80 anos, segundo a tradição budista), Buda percorreu o norte da
Índia pregando as verdades que havia descoberto e fazendo discípulos
(responsáveis pelo registro dos ensinamentos de Buda).
O
budismo teve grande aceitação e, por vários séculos, foi a crença religiosa
dominante na Índia. Porém, no início, não foi percebido como uma nova religião,
mas como uma nova visão religiosa dentro do hinduísmo.
Os ensinamentos de
Buda
Sua
pregação era bem diferente do que ensinava o hinduísmo bramânico. Buda falava
em misericórdia, igualdade entre os homens, não violência (não fazer mal a
nenhuma criatura) e na crença de que a felicidade depende do esforço de cada um
e não dos deuses.
Ele dizia
que, para se libertar do sofrimento e alcançar o nirvana, era preciso seguir a
doutrina das “quatro nobres verdades”:
1) o
sofrimento faz parte da existência;
2) o
sofrimento nasce do desejo sempre impossível de ser satisfeito;
3) para
eliminar o sofrimento é preciso suprimir o desejo;
4) o
caminho que leva à superação do sofrimento é o caminho do meio, da
moderação, evitando--se, de um lado, a vida de sacrifícios excessivos e, de
outro, a vida dos prazeres.
4. A
Índia sob domínio muçulmano
No
século VIII, chegou à Índia uma nova religião: o islamismo. Foi nessa época que
o Vale do Indo começou a ser ocupado por guerreiros muçulmanos. Eles vinham de
regiões fronteiriças, como a que hoje corresponde ao Afeganistão. Ao mesmo
tempo em que o território era conquistado, missionários e comerciantes iam
levando a nova fé para diversas partes da Península Indiana.
No
século XII, a importante cidade de Délhi foi tomada por muçulmanos, que
passaram a governar todo o norte da península. Aos poucos, o domínio islâmico
foi avançando em direção ao sul e, no século XVI, a maior parte do território
indiano já era governada por muçulmanos.
Muitos
indianos se converteram ao islamismo. Quase todos os convertidos pertenciam às castas
mais baixas. Para eles, fazer parte do islã era pertencer a uma comunidade na
qual não havia castas. Mesmo assim, ainda hoje os muçulmanos representam pouco
mais de 10% da população da Índia.
5. Chegam
os europeus
No
fim do século XV, os europeus também começaram a chegar à Índia, inaugurando a
ligação por mar entre a Europa e o Oriente. Depois de vencer a resistência dos
muçulmanos, os navegantes portugueses, chefiados por Vasco da Gama, conseguiram
ter acesso à cidade indiana de Calicute, em 1498. Os portugueses estavam
interessados em explorar o importante comércio das especiarias (cravo, canela,
pimenta, noz-moscada etc.) e outros produtos de luxo.
Depois
dos portugueses, chegaram holandeses, franceses e ingleses. Na disputa pelo
domínio do comércio indiano, os ingleses acabaram prevalecendo. A Índia
permaneceu sob o controle inglês até sua independência, em 1947.