MESOPOTÂMIA, UMA TERRA,
MUITAS CIVILIZAÇÕES
1. Um
território cobiçado
Assim
como o Vale do Nilo, a Mesopotâmia foi um dos lugares onde se desenvolveram
algumas das mais antigas sociedades humanas.
Muitos
povos se sucederam na ocupação da Mesopotâmia, como sumérios, babilônios,
caldeus e assírios. Embora esses povos apresentassem muitas diferenças entre
si, o intenso intercâmbio mantido entre eles tornou possível a formação de
culturas semelhantes, com diversos aspectos em comum.
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Alto-relevo mostrando guerreiros na Antiga Mesopotâmia. |
As
semelhanças encontradas nas formas de organização social e de produção e nas
crenças religiosas, por exemplo, podem ser explicadas principalmente pelas
guerras de conquista do território, empreendidas de maneira quase sistemática
naquela região.
2. Entre
dois rios
O
nome Mesopotâmia foi dado pelos gregos e significa “terra entre rios” (meso=no
meio; potamos=rio). Compreendida entre os rios Tigre e Eufrates, a
Mesopotâmia estava localizada entre áreas montanhosas e desérticas. Dividia-se
em duas áreas com características naturais distintas: ao sul, as férteis
planícies da Suméria (depois chamada Caldeia); ao norte, o árido e montanhoso
solo da Assíria.
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Adicionar legenda |
O
Tigre e o Eufrates nascem nas montanhas da Turquia e correm um ao lado do outro
em direção ao Golfo Pérsico. Na primavera, o degelo da neve que cobre as montanhas
provoca inundações, tornando as terras da baixa planície da Suméria (atual Iraque)
extremamente férteis, fenômeno semelhante àquele que ocorre com o Nilo.
Como
aconteceu no Egito, contudo, foi preciso um enorme empenho dos habitantes da
região para controlar as águas das enchentes e poder cultivar as terras em
torno dos rios, que de outra forma seriam pântanos férteis, mas inabitáveis.
Assim, graças ao trabalho continuado de muitas gerações, foi possível cultivar
vegetais e obter colheitas abundantes na Mesopotâmia.
3. Um mosaico de povos
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O formato lembrando uma lua crescente e fertilidade do solo fizeram com que a extensa faixa de terra que se estende desde o Egito até o sul da Mesopotâmia fosse chamada de Crescente Fértil |
3. Um mosaico de povos
Por
muito tempo, a Mesopotâmia funcionou como uma espécie de corredor por onde
passavam povos nômades vindos de diferentes regiões. Atraídos pelas terras
férteis, alguns deles aí se estabeleceram. Do convívio entre essas culturas floresceram
as sociedades mesopotâmicas.
Os
sumérios e a escrita cuneiforme
Os
sumérios foram provavelmente os primeiros a habitar o sul da Mesopotâmia. Desde
o quarto milênio a.C., realizavam obras de irrigação e utilizavam técnicas de
metalurgia do bronze, bem como uma forma de escrita chamada cuneiforme.
Sua maneira de se organizar socialmente acabou por influenciar muitos dos povos
que os sucederam na região.
Ao contrário dos egípcios, que eram politicamente unificados, os sumérios organizavam-se em pequenas cidades independentes, formadas por um núcleo principal e por terras cultivadas ao redor. As principais eram Ur, Uruk e Lagash. Essas cidades viviam em constantes disputas pelo poder, o que as enfraquecia, favorecendo a invasão e conquista por outros povos. Alguns desses povos se estabeleceram na região e chegaram, inclusive, a dominar os sumérios, absorvendo sua cultura e unificando o governo de suas cidades.
Ao contrário dos egípcios, que eram politicamente unificados, os sumérios organizavam-se em pequenas cidades independentes, formadas por um núcleo principal e por terras cultivadas ao redor. As principais eram Ur, Uruk e Lagash. Essas cidades viviam em constantes disputas pelo poder, o que as enfraquecia, favorecendo a invasão e conquista por outros povos. Alguns desses povos se estabeleceram na região e chegaram, inclusive, a dominar os sumérios, absorvendo sua cultura e unificando o governo de suas cidades.
O
Antigo Império da Babilônia
No
início do segundo milênio a.C., a região da Mesopotâmia constituiu-se um grande
e unificado império que tinha como centro administrativo a cidade de Babilônia,
situada às margens do Rio Eufrates.
O
soberano mais destacado e principal responsável pela amplitude do chamado Antigo
Império da Babilônia, capital da antiga Suméria, foi Hamurábi (cerca de
1792-1750 a.C.). Em seu governo, foi elaborado um dos primeiros códigos de leis
da Antiguidade, conhecido como Código de Hamurábi. Nele, além dos
julgamentos do próprio rei, foram incluídas várias tradições e valores da
sociedade mesopotâmica.
O Código de Hamurábi era muito diferente dos nossos
atuais códigos de leis. Sua aplicação pelos juízes não era obrigatória; servia
sobretudo para ilustrar os valores, a justiça e o poder do soberano sobre o
Código.
Após a morte de Hamurábi, a Mesopotâmia foi abalada por sucessivas invasões, até a chegada dos assírios.
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Código de Hamurábi, com 2,25 m altura. Museu do Louvre, Paris. |
Após a morte de Hamurábi, a Mesopotâmia foi abalada por sucessivas invasões, até a chegada dos assírios.
O
Império Assírio
De
origem semita, os assírios viviam do pastoreio e habitavam as margens do Tigre.
No fim do segundo milênio a.C., os assírios organizaram-se em uma sociedade
altamente militarizada e expansionista. Realizaram diversas conquistas e
estenderam seu domínio para além da Mesopotâmia, chegando ao Egito.
Os
responsáveis por essa expansão foram Sargão II, Senaquerib e Assurbanipal.
O
centro administrativo do Império Assírio foi primeiro a cidade de Assur e, logo
depois, Nínive.
Os
assírios ficaram famosos pelos métodos extremamente cruéis de fazer a guerra.
Um de seus reis, Assurbanipal, afirmou: “Por meio de batalhas e da carnificina,
eu tomei a cidade. Passei pelas armas trezentos de seus guerreiros, atirei
muitos ao fogo e fiz um grande número de prisioneiros vivos. De uns cortei as
mãos, de outros o nariz e as orelhas e de muitos furei os olhos” (In: A Mesopotâmia.
Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro: José Olympio, 1970. p.
55).
Com
a morte de Assurbanipal, o Império entrou em decadência e inúmeras revoltas dos
povos dominados levaram os assírios à derrota em 612 a.C. Nesse ano, Nínive foi
tomada por uma coalizão de medos e caldeus.
O Novo
Império da Babilônia
Os
caldeus, povo semita que se estabeleceu na Mesopotâmia no início do primeiro
milênio a.C., foram os principais responsáveis pela derrota dos assírios e pela
organização do Novo Império Babilônico, maior e mais poderoso do que o
primeiro.
O
soberano mais conhecido desse novo império foi Nabucodonosor, que governou por
quase sessenta anos. Ele ornamentou seu palácio com terraços superpostos,
coroados de jardins, que ficaram conhecidos como os Jardins Suspensos da
Babilônia.
Durante
o reinado de Nabucodonosor deu-se o Cativeiro da Babilônia, famoso
episódio de escravização dos hebreus. Pouco depois da morte de Nabucodonosor, o
Novo Império da Babilônia foi dominado, em 539 a.C., pelos persas.
4. Estado e
sociedade
Embora
fossem considerados representantes dos deuses e não divindades, como os faraós
do Egito, os soberanos da Mesopotâmia também exerciam forte domínio sobre a
sociedade.
Em
geral, seus territórios estavam organizados em províncias, administradas por
chefes locais ou por funcionários nomeados pelo soberano.
As
terras pertenciam àqueles que representavam os deuses, mas seu cultivo era
comunitário.
Parte
das colheitas devia obrigatoriamente ser entregue aos chefes ou funcionários como
forma de pagamento pela exploração do solo.
A
agricultura era a principal atividade econômica na Mesopotâmia. Seu
desenvolvimento, assim como no Egito, dependia do controle das águas dos rios.
Daí o predomínio do Estado nessa região, da mesma forma que no Egito, pois era
ele o responsável pela construção de diques e canais de irrigação para melhor
aproveitar as cheias e criar reservas de água para os períodos de seca.
A
importância dessa atividade de regularização e aproveitamento das águas era tão
grande que essas sociedades do Crescente Fértil são também chamadas pelos
especialistas de sociedades de regadio, ou sociedades hidráulicas.
O
controle dos governantes sobre as atividades econômicas, no entanto, aconteceu
de maneira mais branda que no Egito, o que conferiu maior liberdade à
iniciativa da população. Esse fato, aliado à privilegiada localização geográfica
entre o Ocidente e o Oriente, pode explicar o grande desenvolvimento das
atividades comerciais nessa região. No Império Assírio, por exemplo, dizia-se
que em Nínive havia “mais mercadores do que estrelas no céu”.
Como
no Egito, a sociedade encontrava-se rigidamente dividida em camadas sociais.
Governantes, sacerdotes, guerreiros e comerciantes estavam entre os grupos mais
privilegiados. Camponeses livres, artesãos e escravos ficavam entre os mais
oprimidos. Inicialmente,
os escravos eram pouco numerosos e sua existência devia-se principalmente a
dívidas.
Com o
tempo, o costume de transformar os prisioneiros de guerra em escravos fez
aumentar o número de cativos nos domínios do império.
Uma escrita diferente
A
escrita mesopotâmica, criada pelos sumérios, é conhecida como cuneiforme (do
latim cuneus=cunha) justamente porque seus sinais, talhados em placas de
argila, tinham a forma de pequenas cunhas.
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Exemplo de escrita cuneiforme |
Os
caracteres eram muito diferentes dos hieróglifos egípcios, que eram constituídos
basicamente de desenhos semelhantes ao que se desejava representar. No início,
os sinais cuneiformes também tinham esse formato, mas acabaram se transformando,
provavelmente por causa da intensificação das atividades comerciais.
A
escrita cuneiforme compunha-se de cerca de 350 caracteres.
Seu
uso não se restringiu aos povos da Mesopotâmia. A localização geográfica e o
consequente intercâmbio com populações vizinhas fizeram com que essa escrita
fosse adotada por quase todos os povos da Ásia ocidental.
A invenção da
astrologia
Os
mesopotâmicos devotavam grande consideração aos adivinhos, indivíduos a quem se
atribuía a capacidade de descobrir a vontade dos deuses por meio da
interpretação dos sonhos, do voo dos pássaros ou mesmo dos sinais encontrados
no fígado e nas entranhas de animais sacrificados em louvor aos deuses.
O
procedimento mais utilizado, no entanto, era a astrologia, conhecida também nos
dias atuais. De acordo com os mesopotâmicos, seria possível antever o destino
de uma pessoa pela análise da posição dos astros no céu no momento de seu
nascimento.
Deuses severos e
exigentes
Na
Mesopotâmia, assim como no Egito, a religião era politeísta. Muitos elementos
da natureza eram considerados divinos, como a terra, os rios, o Sol e a Lua. Os
povos mesopotâmicos também temiam entidades regidas por forças sobrenaturais,
como os gênios protetores, os heróis e os demônios.
Nos
primeiros tempos, cada cidade tinha seus deuses específicos. Quando uma unificação
política ocorria, a cidade principal impunha suas divindades às outras. Durante
o predomínio da cidade de Babilônia,
por exemplo, esta impôs o deus Marduk. Com a hegemonia dos assírios, o culto a Assur
foi difundido. Marduk, porém, recuperou sua primazia quando a cidade de
Babilônia voltou a ter o controle do território, durante o Novo Império
Babilônico.
Os
deuses mesopotâmicos eram, ao mesmo tempo, entidades do bem e do mal. Exigentes
e temíveis, eles adotavam represálias contra aqueles que não cumpriam suas
obrigações. Essa crença originou, por exemplo, o mito do dilúvio, desencadeado
pelos deuses para castigar os seres humanos.
Diferentemente
dos egípcios, os mesopotâmicos não chegaram a se preocupar com a vida além-túmulo.
Acreditavam, vagamente, que os mortos iam para junto de Nergal, deus do “reino de
onde não se volta”, cujos domínios eram guardados pelos demônios causadores das
doenças.
Palácios, templos e
zigurates
Na
Mesopotâmia quase não existiam pedras. Artigo de luxo, elas eram usadas apenas
em esculturas de soberanos e deuses. Nas construções, no lugar da pedra,
empregava-se o tijolo de barro. Mesmo os assírios, em cujo território havia
abundância de pedras, preferiam o tijolo, seguindo o costume da região. Por
isso, praticamente nada restou de suas construções, destruídas pela ação do
tempo. Em seu lugar, ficaram apenas os tells, montes de terra, que desde
o século XIX vêm sendo escavados pelos arqueólogos.
Junto
dos templos mais importantes, costumava-se levantar uma torre retangular, composta
de sete andares, denominada zigurate. Unidos por escadas ou rampas, cada
andar era pintado de uma cor e dedicado a um dos sete planetas conhecidos pelos
mesopotâmicos.
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Reconstituição de um zigurate |
Templos
e palácios eram construídos sobre terraços para evitar os efeitos das
inundações.
Ocupavam
grandes áreas e eram cercados de muros muito largos. Em seu interior distribuíam-se
diversas salas e quartos, ligados por corredores, cujas paredes eram
ornamentadas com baixos-relevos, que representavam, particularmente, cenas de
caça e de guerra. As portas eram guardadas por enormes estátuas de touros
alados.
Astrônomos e
matemáticos
No
campo das ciências, os mesopotâmicos desenvolveram principalmente a astronomia
e a matemática.
Na
astronomia, associada nos primeiros tempos à astrologia, esses povos elaboraram
cartas astronômicas, estudaram as diferenças entre estrelas e planetas e
fixaram os doze signos do zodíaco. Os mesopotâmicos criaram ainda o calendário.
A observação do movimento dos astros no céu permitiu a divisão do ano em 12
meses.
Era
uma descoberta importante, pois possibilitava, entre outras coisas, prever as
enchentes dos rios. Na Mesopotâmia, o calendário tinha por base o movimento da
Lua. Chama-se, por isso, calendário lunar. Era diferente do calendário adotado
entre os egípcios que, como vimos, baseava-se no movimento aparente do Sol. O ano
lunar não tem a duração de 365 dias. Por isso, de tempos em tempos, era preciso
acrescentar um mês complementar.
Na
matemática, resolviam complexos problemas de geometria e aritmética. Sabemos
que, desde o III milênio a.C., os mesopotâmicos já tinham elaborado tabelas de
multiplicar, de quadrados e de cubos.
Desenvolveram
problemas de álgebra envolvendo equações de 1o e 2o graus, bem como elaboraram
o conceito de que um mesmo algarismo pode ter diferentes valores, conforme o
lugar que ocupa no número. O desenvolvimento da matemática era uma necessidade das
exigências práticas da vida cotidiana, como por exemplo, a demarcação das
terras e a elaboração de mapas.
A
sociedade mesopotâmica exerceu grande influência sobre inúmeros povos. Entre
suas contribuições mais significativas, destacam-se:
·
a semana de sete dias (cada dia era dedicado a um dos cinco
planetas conhecidos por eles, mais o Sol e a Lua);
·
a divisão do dia em horas, minutos e segundos;
·
a divisão do círculo em 360 graus e o processo da multiplicação.
A
todas essas contribuições de inegável utilidade prática e científica, devemos
acrescentar o estudo e a crença no horóscopo, muito popular ainda em nossos
dias.
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