segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

MESOPOTÂMIA,  UMA  TERRA,  MUITAS  CIVILIZAÇÕES


1. Um território cobiçado

Assim como o Vale do Nilo, a Mesopotâmia foi um dos lugares onde se desenvolveram algumas das mais antigas sociedades humanas.
Muitos povos se sucederam na ocupação da Mesopotâmia, como sumérios, babilônios, caldeus e assírios. Embora esses povos apresentassem muitas diferenças entre si, o intenso intercâmbio mantido entre eles tornou possível a formação de culturas semelhantes, com diversos aspectos em comum.

Alto-relevo mostrando guerreiros na Antiga Mesopotâmia.

As semelhanças encontradas nas formas de organização social e de produção e nas crenças religiosas, por exemplo, podem ser explicadas principalmente pelas guerras de conquista do território, empreendidas de maneira quase sistemática naquela região.

2. Entre dois rios

O nome Mesopotâmia foi dado pelos gregos e significa “terra entre rios” (meso=no meio; potamos=rio). Compreendida entre os rios Tigre e Eufrates, a Mesopotâmia estava localizada entre áreas montanhosas e desérticas. Dividia-se em duas áreas com características naturais distintas: ao sul, as férteis planícies da Suméria (depois chamada Caldeia); ao norte, o árido e montanhoso solo da Assíria.


Adicionar legenda

O Tigre e o Eufrates nascem nas montanhas da Turquia e correm um ao lado do outro em direção ao Golfo Pérsico. Na primavera, o degelo da neve que cobre as montanhas provoca inundações, tornando as terras da baixa planície da Suméria (atual Iraque) extremamente férteis, fenômeno semelhante àquele que ocorre com o Nilo.
Como aconteceu no Egito, contudo, foi preciso um enorme empenho dos habitantes da região para controlar as águas das enchentes e poder cultivar as terras em torno dos rios, que de outra forma seriam pântanos férteis, mas inabitáveis. Assim, graças ao trabalho continuado de muitas gerações, foi possível cultivar vegetais e obter colheitas abundantes na Mesopotâmia.


O formato lembrando uma lua crescente e fertilidade
             do solo fizeram com que a extensa faixa de terra
                que se estende desde o Egito até o sul da
              Mesopotâmia fosse chamada de
            Crescente Fértil

3. Um mosaico de povos

Por muito tempo, a Mesopotâmia funcionou como uma espécie de corredor por onde passavam povos nômades vindos de diferentes regiões. Atraídos pelas terras férteis, alguns deles aí se estabeleceram. Do convívio entre essas culturas floresceram as sociedades mesopotâmicas.

Os sumérios e a escrita cuneiforme

Os sumérios foram provavelmente os primeiros a habitar o sul da Mesopotâmia. Desde o quarto milênio a.C., realizavam obras de irrigação e utilizavam técnicas de metalurgia do bronze, bem como uma forma de escrita chamada cuneiforme. Sua maneira de se organizar socialmente acabou por influenciar muitos dos povos que os sucederam na região.
Ao contrário dos egípcios, que eram politicamente unificados, os sumérios organizavam-se em pequenas cidades independentes, formadas por um núcleo principal e por terras cultivadas ao redor. As principais eram Ur, Uruk e Lagash. Essas cidades viviam em constantes disputas pelo poder, o que as enfraquecia, favorecendo a invasão e conquista por outros povos. Alguns desses povos se estabeleceram na região e chegaram, inclusive, a dominar os sumérios, absorvendo sua cultura e unificando o governo de suas cidades.

O Antigo Império da Babilônia

No início do segundo milênio a.C., a região da Mesopotâmia constituiu-se um grande e unificado império que tinha como centro administrativo a cidade de Babilônia, situada às margens do Rio Eufrates.
O soberano mais destacado e principal responsável pela amplitude do chamado Antigo Império da Babilônia, capital da antiga Suméria, foi Hamurábi (cerca de 1792-1750 a.C.). Em seu governo, foi elaborado um dos primeiros códigos de leis da Antiguidade, conhecido como Código de Hamurábi. Nele, além dos julgamentos do próprio rei, foram incluídas várias tradições e valores da sociedade mesopotâmica. 


Código de Hamurábi, com 2,25 m altura.
 Museu do Louvre, Paris.
O Código de Hamurábi era muito diferente dos nossos atuais códigos de leis. Sua aplicação pelos juízes não era obrigatória; servia sobretudo para ilustrar os valores, a justiça e o poder do soberano sobre o Código.
Após a morte de Hamurábi, a Mesopotâmia foi abalada por sucessivas invasões, até a chegada dos assírios.

O Império Assírio

De origem semita, os assírios viviam do pastoreio e habitavam as margens do Tigre. No fim do segundo milênio a.C., os assírios organizaram-se em uma sociedade altamente militarizada e expansionista. Realizaram diversas conquistas e estenderam seu domínio para além da Mesopotâmia, chegando ao Egito.
Os responsáveis por essa expansão foram Sargão II, Senaquerib e Assurbanipal.
O centro administrativo do Império Assírio foi primeiro a cidade de Assur e, logo depois, Nínive.
Os assírios ficaram famosos pelos métodos extremamente cruéis de fazer a guerra. Um de seus reis, Assurbanipal, afirmou: “Por meio de batalhas e da carnificina, eu tomei a cidade. Passei pelas armas trezentos de seus guerreiros, atirei muitos ao fogo e fiz um grande número de prisioneiros vivos. De uns cortei as mãos, de outros o nariz e as orelhas e de muitos furei os olhos” (In: A Mesopotâmia. Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro: José Olympio, 1970. p. 55).
Com a morte de Assurbanipal, o Império entrou em decadência e inúmeras revoltas dos povos dominados levaram os assírios à derrota em 612 a.C. Nesse ano, Nínive foi tomada por uma coalizão de medos e caldeus.

O Novo Império da Babilônia

Os caldeus, povo semita que se estabeleceu na Mesopotâmia no início do primeiro milênio a.C., foram os principais responsáveis pela derrota dos assírios e pela organização do Novo Império Babilônico, maior e mais poderoso do que o primeiro.
O soberano mais conhecido desse novo império foi Nabucodonosor, que governou por quase sessenta anos. Ele ornamentou seu palácio com terraços superpostos, coroados de jardins, que ficaram conhecidos como os Jardins Suspensos da Babilônia.
Durante o reinado de Nabucodonosor deu-se o Cativeiro da Babilônia, famoso episódio de escravização dos hebreus. Pouco depois da morte de Nabucodonosor, o Novo Império da Babilônia foi dominado, em 539 a.C., pelos persas.

4. Estado e sociedade

Embora fossem considerados representantes dos deuses e não divindades, como os faraós do Egito, os soberanos da Mesopotâmia também exerciam forte domínio sobre a sociedade.
Em geral, seus territórios estavam organizados em províncias, administradas por chefes locais ou por funcionários nomeados pelo soberano.
As terras pertenciam àqueles que representavam os deuses, mas seu cultivo era comunitário.
Parte das colheitas devia obrigatoriamente ser entregue aos chefes ou funcionários como forma de pagamento pela exploração do solo.
A agricultura era a principal atividade econômica na Mesopotâmia. Seu desenvolvimento, assim como no Egito, dependia do controle das águas dos rios. Daí o predomínio do Estado nessa região, da mesma forma que no Egito, pois era ele o responsável pela construção de diques e canais de irrigação para melhor aproveitar as cheias e criar reservas de água para os períodos de seca.
A importância dessa atividade de regularização e aproveitamento das águas era tão grande que essas sociedades do Crescente Fértil são também chamadas pelos especialistas de sociedades de regadio, ou sociedades hidráulicas.
O controle dos governantes sobre as atividades econômicas, no entanto, aconteceu de maneira mais branda que no Egito, o que conferiu maior liberdade à iniciativa da população. Esse fato, aliado à privilegiada localização geográfica entre o Ocidente e o Oriente, pode explicar o grande desenvolvimento das atividades comerciais nessa região. No Império Assírio, por exemplo, dizia-se que em Nínive havia “mais mercadores do que estrelas no céu”.
Como no Egito, a sociedade encontrava-se rigidamente dividida em camadas sociais. Governantes, sacerdotes, guerreiros e comerciantes estavam entre os grupos mais privilegiados. Camponeses livres, artesãos e escravos ficavam entre os mais oprimidos. Inicialmente, os escravos eram pouco numerosos e sua existência devia-se principalmente a dívidas.
Com o tempo, o costume de transformar os prisioneiros de guerra em escravos fez aumentar o número de cativos nos domínios do império.

Uma escrita diferente

A escrita mesopotâmica, criada pelos sumérios, é conhecida como cuneiforme (do latim cuneus=cunha) justamente porque seus sinais, talhados em placas de argila, tinham a forma de pequenas cunhas.
Exemplo de escrita cuneiforme

Os caracteres eram muito diferentes dos hieróglifos egípcios, que eram constituídos basicamente de desenhos semelhantes ao que se desejava representar. No início, os sinais cuneiformes também tinham esse formato, mas acabaram se transformando, provavelmente por causa da intensificação das atividades comerciais.
A escrita cuneiforme compunha-se de cerca de 350 caracteres.
Seu uso não se restringiu aos povos da Mesopotâmia. A localização geográfica e o consequente intercâmbio com populações vizinhas fizeram com que essa escrita fosse adotada por quase todos os povos da Ásia ocidental.

A invenção da astrologia

Os mesopotâmicos devotavam grande consideração aos adivinhos, indivíduos a quem se atribuía a capacidade de descobrir a vontade dos deuses por meio da interpretação dos sonhos, do voo dos pássaros ou mesmo dos sinais encontrados no fígado e nas entranhas de animais sacrificados em louvor aos deuses.
O procedimento mais utilizado, no entanto, era a astrologia, conhecida também nos dias atuais. De acordo com os mesopotâmicos, seria possível antever o destino de uma pessoa pela análise da posição dos astros no céu no momento de seu nascimento.

Deuses severos e exigentes

Na Mesopotâmia, assim como no Egito, a religião era politeísta. Muitos elementos da natureza eram considerados divinos, como a terra, os rios, o Sol e a Lua. Os povos mesopotâmicos também temiam entidades regidas por forças sobrenaturais, como os gênios protetores, os heróis e os demônios.
Nos primeiros tempos, cada cidade tinha seus deuses específicos. Quando uma unificação política ocorria, a cidade principal impunha suas divindades às outras. Durante o predomínio da cidade de Babilônia, por exemplo, esta impôs o deus Marduk. Com a hegemonia dos assírios, o culto a Assur foi difundido. Marduk, porém, recuperou sua primazia quando a cidade de Babilônia voltou a ter o controle do território, durante o Novo Império Babilônico.
Os deuses mesopotâmicos eram, ao mesmo tempo, entidades do bem e do mal. Exigentes e temíveis, eles adotavam represálias contra aqueles que não cumpriam suas obrigações. Essa crença originou, por exemplo, o mito do dilúvio, desencadeado pelos deuses para castigar os seres humanos.
Diferentemente dos egípcios, os mesopotâmicos não chegaram a se preocupar com a vida além-túmulo. Acreditavam, vagamente, que os mortos iam para junto de Nergal, deus do “reino de onde não se volta”, cujos domínios eram guardados pelos demônios causadores das doenças.

Palácios, templos e zigurates

Na Mesopotâmia quase não existiam pedras. Artigo de luxo, elas eram usadas apenas em esculturas de soberanos e deuses. Nas construções, no lugar da pedra, empregava-se o tijolo de barro. Mesmo os assírios, em cujo território havia abundância de pedras, preferiam o tijolo, seguindo o costume da região. Por isso, praticamente nada restou de suas construções, destruídas pela ação do tempo. Em seu lugar, ficaram apenas os tells, montes de terra, que desde o século XIX vêm sendo escavados pelos arqueólogos.
Junto dos templos mais importantes, costumava-se levantar uma torre retangular, composta de sete andares, denominada zigurate. Unidos por escadas ou rampas, cada andar era pintado de uma cor e dedicado a um dos sete planetas conhecidos pelos mesopotâmicos.
Reconstituição de um zigurate 

Templos e palácios eram construídos sobre terraços para evitar os efeitos das inundações.
Ocupavam grandes áreas e eram cercados de muros muito largos. Em seu interior distribuíam-se diversas salas e quartos, ligados por corredores, cujas paredes eram ornamentadas com baixos-relevos, que representavam, particularmente, cenas de caça e de guerra. As portas eram guardadas por enormes estátuas de touros alados.

Astrônomos e matemáticos

No campo das ciências, os mesopotâmicos desenvolveram principalmente a astronomia e a matemática.
Na astronomia, associada nos primeiros tempos à astrologia, esses povos elaboraram cartas astronômicas, estudaram as diferenças entre estrelas e planetas e fixaram os doze signos do zodíaco. Os mesopotâmicos criaram ainda o calendário. A observação do movimento dos astros no céu permitiu a divisão do ano em 12 meses.
Era uma descoberta importante, pois possibilitava, entre outras coisas, prever as enchentes dos rios. Na Mesopotâmia, o calendário tinha por base o movimento da Lua. Chama-se, por isso, calendário lunar. Era diferente do calendário adotado entre os egípcios que, como vimos, baseava-se no movimento aparente do Sol. O ano lunar não tem a duração de 365 dias. Por isso, de tempos em tempos, era preciso acrescentar um mês complementar.
Na matemática, resolviam complexos problemas de geometria e aritmética. Sabemos que, desde o III milênio a.C., os mesopotâmicos já tinham elaborado tabelas de multiplicar, de quadrados e de cubos.
Desenvolveram problemas de álgebra envolvendo equações de 1o e 2o graus, bem como elaboraram o conceito de que um mesmo algarismo pode ter diferentes valores, conforme o lugar que ocupa no número. O desenvolvimento da matemática era uma necessidade das exigências práticas da vida cotidiana, como por exemplo, a demarcação das terras e a elaboração de mapas.

A sociedade mesopotâmica exerceu grande influência sobre inúmeros povos. Entre suas contribuições mais significativas, destacam-se:
·         a semana de sete dias (cada dia era dedicado a um dos cinco planetas conhecidos por eles, mais o Sol e a Lua);
·         a divisão do dia em horas, minutos e segundos;
·         a divisão do círculo em 360 graus e o processo da multiplicação.


A todas essas contribuições de inegável utilidade prática e científica, devemos acrescentar o estudo e a crença no horóscopo, muito popular ainda em nossos dias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário