terça-feira, 12 de dezembro de 2017

FENÍCIOS,  HEBREUS  E  PERSAS 


Além dos egípcios e dos povos da Mesopotâmia, inúmeros foram os grupos humanos que habitaram a região do Crescente Fértil.
Sempre em busca de melhores condições de sobrevivência, esses grupos foram ocupando diferentes áreas da região em diferentes momentos.
Estão entre eles cananeus, filisteus, arameus, lídios, hititas, cretenses, fenícios, hebreus e persas, para citar os mais conhecidos.
Moeda fenícia mostrando um navio de guerra e um
monstro submarino

Nem todos esses povos foram contemporâneos. Dos mais antigos, não se encontraram mais do que poucos vestígios; de outros, como os persas, existem muitos registros, o que permite conhecer melhor suas histórias.
A seguir, vamos estudar três desses povos: os fenícios, os hebreus e os persas.
Todos eles foram responsáveis por contribuições em diferentes aspectos da vida humana, como: o comércio, a religião e a organização política.

2. A sociedade fenícia
A Fenícia, que corresponde aproximadamente ao Líbano atual, era uma estreita faixa de terra espremida entre as montanhas (a leste) e o mar (a oeste), e com poucas áreas cultiváveis.
A pobreza do solo para a prática da agricultura fez com que os fenícios se dedicassem inicialmente a atividades como a pesca e a extração de cedro, madeira abundante em florestas no interior dessa região.
A proximidade da costa marítima e a intensificação gradual das atividades pesqueiras contribuíram para que os fenícios se dedicassem à construção de embarcações e se tornassem hábeis navegadores.



Movimentado porto fenício
Por mais de 800 anos, entre 1400 e 600 a.C., eles dominaram o comércio no Mediterrâneo, substituindo os cretenses, povo que os precedeu na exploração marítima e comercial
.
Tiro e o apogeu da Fenícia
A Fenícia era composta de diversas cidades autônomas, cada qual com seu próprio governante e seus magistrados. Chamados sufetes, esses magistrados eram oriundos do setor mais rico da população, formado por grandes comerciantes, construtores de navios e proprietários de terras. Entre as principais cidades fenícias, três exerceram a supremacia política na região: Biblos, Sídon e Tiro.
Sob o domínio de Tiro, a sociedade fenícia alcançou o período de maior poder. Seu porto chegou a ser, entre os séculos XII e VII a.C., o mais importante centro de comércio e de artesanato do Mediterrâneo oriental. Sua primazia foi enfraquecida por lutas entre as famílias dominantes da cidade. Com a decadência, a Fenícia acabou sendo conquistada, sucessivamente, por babilônios, persas e macedônios.
Pouco antes da tomada de Tiro, os fenícios fundaram a colônia de Cartago, no norte da África. Após a conquista definitiva de Tiro, alguns de seus habitantes fugiram e se instalaram na colônia africana. Posteriormente, Cartago transformou-se num importante império marítimo, que, mais tarde, disputaria com os romanos o domínio do Mediterrâneo ocidental.

Marinheiros e comerciantes
Os fenícios, sobretudo durante a hegemonia de Tiro, navegavam por todo o Mar Mediterrâneo, fundando colônias e organizando numerosos locais para a prática do comércio. Assim, acabaram expandindo seus domínios e intensificando as relações com diferentes povos.
Seus navios, após atravessarem o Estreito de Gibraltar e seguirem pelo Oceano Atlântico, chegaram a alcançar a atual Inglaterra, na Europa, e o litoral ocidental da África, onde hoje se encontra o Senegal.


Além de exímios navegadores e comerciantes, foram também artesãos habilidosos. Dessa maneira, os mercadores fenícios não se limitavam a comprar e a vender produtos de outros povos. Eles comerciavam artigos feitos na própria Fenícia, como objetos de metal, tecidos de cor púrpura e vasos de vidro e de cerâmica. Os tecidos eram tingidos com um corante púrpura extraído de um molusco – o múrex – encontrado em algumas praias do Mediterrâneo. Como o múrex era raro, esses tecidos tornaram-se artigos de luxo.
Os fenícios aprenderam e superaram os egípcios na técnica da vidraria, conseguindo obter não apenas o vidro opaco, mas também o transparente.

O alfabeto
Os fenícios foram grandes navegadores, colonizadores e comerciantes. Entretanto, sua mais importante contribuição para as sociedades atuais foi a criação, por volta de 1500 a.C., dos símbolos que possibilitaram a forma moderna de escritura: o alfabeto.
O desenvolvimento do alfabeto pode estar relacionado com a busca de uma forma rápida e fácil de registrar as transações comerciais. Em vez das centenas de caracteres da escrita cuneiforme ou hieroglífica, os fenícios desenvolveram um conjunto de apenas vinte e duas letras que correspondiam aos sons da voz humana.
Vinte e dois caracteres do alfabeto fenício

O alfabeto seria aperfeiçoado pelos gregos, que transformaram em vogais algumas consoantes fenícias. Adotado posteriormente pelos romanos, passou por outras transformações e assumiu a forma conhecida atualmente.


3. Os hebreus e o monoteísmo
Os hebreus eram um dos muitos povos semitas que habitavam a região do Crescente Fértil. A importância desse povo reside, principalmente, no fato de ele ter introduzido a primeira religião monoteísta entre os povos da Antiguidade.
Da religião dos hebreus, baseada na crença em um só Deus (em hebraico, Iavé, posteriormente traduzido para Jeová), derivaram o cristianismo e o islamismo.
Muito do que se sabe a respeito da história antiga dos hebreus – também chamados israelitas ou judeus – baseia-se no Antigo Testamento, a primeira parte da Bíblia. Pesquisas arqueológicas feitas nas regiões descritas nesses relatos confirmaram muitos dos acontecimentos ali contados.

Canaã, a Terra Prometida
No início do segundo milênio a.C., os hebreus estavam estabelecidos nas imediações da cidade de Ur, na Mesopotâmia.
Vivendo do pastoreio, organizavam-se em clãs ou tribos, grupos familiares dirigidos pelos homens mais idosos, a quem chamavam patriarcas. Segundo a Bíblia, coube ao patriarca Abraão, obedecendo a uma ordem de Deus, partir com sua família em direção a Canaã, a Terra Prometida, chamada depois de Palestina.
Mais tarde, pressionados pela escassez de alimentos, os hebreus, agora sob o patriarcado de Jacó, que, segundo a narrativa bíblica teve seu nome mudado para Israel, deixaram Canaã e migraram para o Egito, estabelecendo-se no Delta do Nilo durante a ocupação dos hicsos.
Após a expulsão dos hicsos, os hebreus acabaram escravizados pelos egípcios. Tempos depois, conduzidos por um novo líder chamado Moisés, eles fugiram do Vale do Nilo, episódio conhecido na Bíblia como Êxodo.
Depois de permanecer quarenta anos no deserto, Moisés reconduziu seu povo a Canaã, cuja posse esses hebreus tiveram de disputar com os cananeus, estabelecidos na região, e com os filisteus, que chegaram depois.


Percurso dos hebreus desde o delta do Nilo até Canaã,
percorrendo a Península do Sinai. 
Distribuídos em doze tribos independentes, os hebreus foram, lenta e dificilmente, impondo seu domínio. Para conduzi-los nas inúmeras guerras que tinham de travar, escolhiam um chefe militar, o chamado juiz.
No século XII a.C., os hebreus haviam conseguido dominar quase toda a terra de Canaã. A partir de então, sua organização social passou por importantes mudanças: de pastores nômades converteram-se, em sua maioria, em agricultores sedentários.


A monarquia
A necessidade de lutar pela posse da terra acabou levando os hebreus a estabelecerem uma autoridade única para todas as tribos. Assim, a figura do juiz foi substituída pela do rei. O primeiro rei a assumir o poder foi Saul, seguido por Davi e, posteriormente, Salomão, seu filho.
Salomão, que deixou uma imagem de governante pacífico, justo e laborioso, governou em uma época de relativa paz em todo o Crescente Fértil. Aproveitou as condições favoráveis para estimular as atividades comerciais, primeiro com os fenícios da cidade de Tiro e depois protegendo as caravanas que cruzavam a região. A intensificação do comércio resultou no enriquecimento do reino.

Israel e Judá
Salomão, porém, provocou descontentamento entre os hebreus, em virtude dos altos impostos que cobrava e da exigência de que eles trabalhassem nas construções públicas. Como consequência, pouco tempo depois de sua morte, o reino se dividiu em dois: ao norte, ao redor de Samaria, formou-se o Reino de Israel; ao sul, em torno de Jerusalém, constituiu-se o Reino de Judá.
Os dois reinos tiveram destinos diferentes: o de Israel foi conquistado pelos assírios no século VIII a.C.; o de Judá durou mais tempo. No século VI a.C., entretanto, após um breve domínio egípcio, Judá foi conquistado pelos babilônios, cujo rei, Nabucodonosor, destruiu Jerusalém e transferiu parte dos hebreus para a Mesopotâmia, iniciando o período conhecido como Cativeiro da Babilônia.
Em 539 a.C., o rei persa, Ciro, conquistou a Mesopotâmia e libertou os hebreus, que puderam voltar para sua terra e reconstruir Jerusalém. Mas isso não significou autonomia, pois a região agora fazia parte do Império Persa.
Mais tarde, ela foi conquistada sucessivamente por Alexandre, da Macedônia, e pelos romanos. Na época desses últimos, o templo de Jerusalém, onde ficavam os principais símbolos da religião judaica, foi destruído.
Por causa de revoltas constantes contra o violento domínio imposto pelos romanos, os hebreus acabaram expulsos de Jerusalém. Muitos deixaram a região e dispersaram-se pelo mundo, episódio conhecido como Diáspora.

4. O Império Persa
Grandes conquistadores, os persas dominaram a Babilônia, Canaã, Fenícia e Egito. Coube-lhes a proeza, no século VI a.C., de unificar vários povos do Crescente Fértil e construir o maior império da época, que se estendia do Mediterrâneo oriental até a Índia.
A construção de longas estradas favoreceu a preservação da unidade política, bem como a realização do comércio entre as mais distantes regiões.
Após duzentos anos de existência, o Império Persa começou a se desintegrar diante das derrotas sofridas em batalhas contra os gregos, conhecidas como Guerras Greco-Pérsicas. O processo de decadência se consumou no século IV a.C., quando o Império foi conquistado por Alexandre da Macedônia, que unificou regiões do Oriente e do Ocidente.

O reinado de Ciro
No segundo milênio a.C., a região situada a leste da Mesopotâmia era ocupada por dois povos: os persas e os medos. Embora essa seja, em grande parte, uma região desértica, nela existem áreas próprias para cultivo e pastagens.
Os medos estavam fixados no norte do planalto, enquanto os persas se estabeleceram na parte sudeste, próxima ao Golfo Pérsico. Ali viveram durante séculos, distribuídos em pequenos grupos ou clãs, dedicando-se principalmente à pecuária e à criação de cavalos.
Inicialmente, os medos mantinham o controle da região, dominando os persas. Coube a Ciro (549-529 a.C.), do clã persa dos aquemênidas, inverter a relação, submetendo os medos e tornando-se soberano dos dois povos. Ciro foi o responsável por outras conquistas que deram origem ao grande Império Persa.
Quando Ciro assumiu o poder, havia três grandes reinos na região: o Reino da Lídia, localizado na Ásia Menor, tendo como centro a cidade de Sardes; o Novo Império da Babilônia, que incluía Canaã e a Fenícia; e o Reino do Egito. Ciro conquistou os dois primeiros. No comando do Império, Ciro deixou uma imagem de tolerância. Não interferia na religião nem promovia extermínios, transferências ou escravização dos vencidos. Como exemplo dessa atitude, costuma-se citar o fato de ele ter permitido aos hebreus o retorno à sua terra.
Ciro morreu em combate, em 529 a.C., e foi sucedido pelo filho, Cambises, que conquistou o Egito, em 525 a.C. Poucos anos depois, Cambises morreu e foi sucedido por Dario I (521-486 a.C.).
Dario I reconquistou territórios cujas populações haviam se revoltado e realizou novas conquistas. Durante seu governo, os persas viveram o período de maior estabilidade. Nele, o Império Persa cresceu, estendendo-se do Mar Negro e do Egito até a fronteira ocidental da Índia.

Ao tentar subjugar a Grécia, contudo, Dario I sofreu sua primeira grande derrota. A partir de então, teve início o enfraquecimento e o consequente declínio do Império.

A organização do Império
O imperador persa era considerado um representante de Ormuz, o deus do bem. A política de Ciro de permitir que cada povo conquistado conservasse o governo, a religião, a língua e os costumes próprios foi mantida por seus sucessores. Nem todos, porém, foram tão tolerantes quanto Ciro. Dario I, por exemplo, exerceu o poder de forma centralizadora e tirânica.
Com o tempo, o Império foi dividido em províncias, denominadas satrapias, que eram administradas por um sátrapa (espécie de governador) e mais dois funcionários ligados ao imperador (um secretário e um general). A principal função dos sátrapas era cobrar impostos. Além disso, essas províncias eram fiscalizadas de tempos em tempos por inspetores, chamados “os olhos e ouvidos do rei”.
Para assegurar o acesso e o controle de cada recanto do vasto império, foram construídas estradas de grande extensão. A principal delas ligava Sardes, na Ásia Menor, a Susa, próxima ao Golfo Pérsico, atravessando uma área de 2 500 quilômetros. Ademais, um eficiente serviço de correios mantinha o imperador informado do que se passava em todas as províncias.
Essas estradas, além do uso do cavalo como meio de transporte, facilitavam muito o comércio terrestre entre as mais distantes regiões.
Outra importante contribuição do Império Persa foi a generalização do uso da moeda – inicialmente usada pelos lídios – para facilitar o comércio e a cobrança de impostos em todo o território.

O bem e o mal
Os persas assimilaram em grande parte a escrita, o conhecimento e a arte dos povos conquistados, principalmente a cultura dos mesopotâmicos e dos egípcios.
A religião, ao contrário, possuía características próprias e diferenciadas. Ela havia sido difundida no século VII a.C. pelo sábio Zoroastro (também conhecido como Zaratustra), que registrou seus fundamentos no Avesta (ou Zend-Avesta), o livro sagrado.
O zoroastrismo pregava a existência de dois princípios opostos: o bem e o mal. O deus do bem era Aura-Mazda (também chamado Ormuz), criador do céu, da Terra, dos seres humanos e de tudo o que havia de bom. Era auxiliado em sua tarefa de governar o Universo por uma legião de gênios benfeitores, dos quais o mais conhecido era Mitra. Aura-Mazda era permanentemente combatido por Arhimam, deus do mal, e pelos seus auxiliares, os demônios.
Os seguidores do zoroastrismo acreditavam, entretanto, que no fim dos tempos o bem deveria vencer o mal e dar início a uma vida feliz na Terra. O zoroastrismo ensinava que, três dias após a morte, a alma era julgada e os seus atos, pesados. Caso absolvida, a alma ganhava a felicidade eterna; se condenada, tombava no abismo das trevas e da dor; se o bem e o mal se equilibrassem, ficava em uma espécie de purgatório, a morada dos pesos iguais.
O culto religioso era muito simples e não exigia templos nem estátuas, somente altares construídos em locais elevados, onde se mantinha permanentemente aceso o fogo sagrado, símbolo de Aura-Mazda.

O zoroastrismo influenciou muitas religiões. Com o tempo, porém, foi se subdividindo até quase desaparecer. Hoje subsiste principalmente na Índia, praticado pelos persas.

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