terça-feira, 26 de dezembro de 2017

CIVILIZAÇÕES  DA  ÍNDIA


 Origem  da  civilização  indiana
 A passagem do nomadismo para a vida sedentária, com o início do cultivo de plantas, ocorreu no Vale do Rio Indo entre 8000 e 7000 a.C., e também nas áreas banhadas pelo Rio Ganges, cerca de um milênio mais tarde. Com esses rios, alimentados pelas águas que escorriam do degelo das montanhas do Himalaia, acontecia algo parecido com o que ocorria no Nilo e nos rios da Mesopotâmia: nas épocas de cheia, eles transbordavam, espalhando elementos fertilizantes sobre as terras próximas.
Os agricultores aprenderam a tirar o máximo proveito dessas terras férteis. A abertura de canais de irrigação e o uso do arado permitiam a obtenção de fartas colheitas. Descobertas arqueológicas revelaram que eram cultivados trigo, cevada, arroz, algodão, gergelim, pepino, mostarda e outras espécies.
Essa abundância de alimentos atraiu invasores seminômades.
Um desses invasores, chegado por volta de 2000 a.C., acabou por se tornar dominante no Vale do Indo. Falavam um idioma pertencente ao grupo linguístico indo-europeu, ao qual também pertencem o grego, o latim e o alemão. Chamavam a si mesmos de arias, ou seja, “nobres”, segundo a língua falada por eles.
Vamos chamá-los de arianos.
A população dos arianos continuou a crescer e, a partir do ano 1000 a.C., aproximadamente, passou a contar com armas e ferramentas de ferro. Fortalecidos, eles avançaram para o leste, ocuparam o Vale do Rio Ganges, e para o sul, ocupando também territórios da Índia central. Durante esse tempo, com base em técnicas aprendidas com os harappeanos, tornaram-se agricultores e assumiram um estilo de vida sedentário. Fundaram cidades e organizaram os primeiros reinos, colocando nos tronos seus chefes tribais.
Taj Mahal, mais importante monumento arquitetônico da Índia.
Foi construído entre 1632 e 1653.

Essas mudanças sociais também envolveram a língua e a religião. A língua falada pelos arianos era o sânscrito. Essa palavra significa “língua perfeita”, “refinada”. Mais tarde, se transformou no sânscrito clássico, a língua da literatura, da religião e da ciência da Índia. Da mesma raiz, saíram outros idiomas, inclusive o híndi, que hoje é uma das duas línguas oficiais da Índia (a outra é o inglês).

2. O hinduísmo
No campo religioso, a novidade foi o surgimento do hinduísmo. Com uma história de mais de quatro mil anos, o hinduísmo é considerada uma das religiões mais antigas do mundo. Ele não teve um fundador. Seu surgimento resultou da história dos povos que viveram no território indiano e é mais do que uma religião, pois influencia toda a estrutura social, desde os atos comuns da vida cotidiana das pessoas até a literatura e a arte.
O hinduísmo não tem uma organização centralizada, além de incluir concepções e práticas religiosas às vezes muito diferentes entre si. É a única, entre as grandes religiões, com características politeístas. Seus seguidores fora da Índia são poucos, mas ainda assim é a terceira religião com maior número de adeptos no planeta, em virtude da enorme população da Índia atual.

Vedas , os livros sagrados
A fonte escrita mais antiga para o conhecimento do hinduísmo são os Vedas, nome de um grande conjunto de quatro livros sagrados, dos quais o primeiro é o Rig Veda. Em sânscrito, veda significa conhecimento (conhecimento sagrado). Esses livros contêm hinos, histórias, cantos rituais, fórmulas sagradas, entre outros temas, para acompanhar os rituais religiosos. Compostos entre 1500 e 800 a.C., durante muito tempo foram mantidos apenas na memória: eram transmitidos oralmente pelos mais velhos aos mais jovens. Somente no século VI a.C., provavelmente, tomaram a forma escrita, redigidos em sânscrito.

Deuses, sacrifícios e oferendas
Com a chegada dos arianos, a religião védica se impôs aos cultos locais. Outros deuses passaram a ser cultuados, em geral identificados com os astros e com as forças da natureza, tais como Surya (o Sol), Rudras (a tempestade) e Indra (a chuva). Uma divindade muito importante foi Agni, o fogo do altar, venerado como deus do lar e do sacrifício; a ele eram pedidas prosperidade e fecundidade. Ainda hoje ele é invocado em muitas cerimônias.
Tudo o que era ofertado aos deuses era lançado ao fogo, pois, segundo os Vedas, Agni colocava os humanos em comunicação com o mundo divino. As oferendas eram constituídas de alimentos, tais como leite, manteiga e mel. Uma oferenda muito frequente era o suco extraído de uma planta, o soma. Era oferecido aos deuses e também consumido pelos sacerdotes.
Acredita-se que tivesse efeito alucinógeno. Fazia-se também o sacrifício de animais, prática comum entre as religiões da Antiguidade.
Os nobres chegavam a levar animais grandes para o sacrifício, como o cavalo, que custava muito caro.

O domínio dos brâmanes
Com o tempo e as mudanças na sociedade, a simplicidade inicial do hinduísmo védico deu lugar a crenças religiosas mais complexas. Outras divindades ganharam importância e foram incorporadas novas meditações filosóficas. Com essas mudanças, o hinduísmo entrou numa nova fase, que é chamada bramanismo.
Esse nome vem de brâmanes, como eram conhecidos os sacerdotes. Eles haviam adquirido grande prestígio por serem os conhecedores dos Vedas, que tinham obrigação de guardar na memória e de transmitir ao filho. Eram eles que tinham o conhecimento das fórmulas mágicas sem as quais os rituais sagrados não podiam ser feitos.
Os sacerdotes brâmanes estabeleceram Brama como deus principal, descrito como uma energia neutra que criou o Universo. Ele era entendido como a personificação de Brahman (não confundir com Brama), uma divindade única e suprema, um espírito que permeia tudo. Brahman não é um ser no sentido do Deus cristão; ele é inteiramente impessoal e impossível de ser descrito. Além de Brama, outros dois deuses que ganharam importância foram Shiva e Vichnu. Shiva era visto como aquele que destrói a ordem estabelecida, enquanto Vichnu era o que restaura e mantém a nova ordem criada. Segundo a crença hinduísta, sem destruição não pode haver o recomeço. Além da trindade Brama-Shiva-Vichnu, há muitas outras divindades.

A ideia da Reencarnação
O hinduísmo incorporou uma ideia que se tornou fundamental nas crenças religiosas da Índia. Trata-se da ideia da reencarnação, segundo a qual cada indivíduo tem uma alma, que não morre junto com o corpo, mas está fadada a passar por sucessivas encarnações. O objetivo é que pessoa, por meio de uma vida virtuosa, alcance a libertação e se livre do ciclo de nascimentos e mortes, tornando-se finalmente parte do deus impessoal do Universo.

3. O sistema de castas
Um aspecto que chama a atenção na civilização indiana é seu sistema de castas. Desde que os arianos se tornaram os senhores da Índia, a sociedade indiana foi-se dividindo em grandes grupos, chamados castas. Com a ascensão dos sacerdotes brâmanes, o sistema de castas se consolidou. Das quatro castas então existentes, a mais alta era justamente a dos brâmanes e seus familiares.
A seguir, vinham os xátrias, que eram os nobres (líderes militares e aristocratas), incluindo os monarcas e suas famílias. A casta seguinte na hierarquia era a dos vaixás, os comerciantes. A casta mais humilde era a dos sudras, que incluía os trabalhadores braçais.
Na posição social mais inferior, ficavam os párias. Eram assim chamados os indivíduos que não pertenciam a nenhuma casta. Nesse grupo estavam incluídos todos aqueles que faziam tarefas consideradas indignas de serem executadas pelos membros das castas. Quem pertencia a alguma casta, mesmo a mais inferior, evitava entrar em contato com os párias, considerados impuros e, por isso, chamados de “intocáveis”.
A pessoa não podia passar de uma casta para outra. Pessoas de castas diferentes não podiam se casar. Assim, as famílias de uma casta não se misturavam com as de outra.
Essa divisão da sociedade em castas era justificada pela própria religião. Acreditava-se que as castas nada mais eram do que partes diferenciadas de um corpo divino. Assim, os brâmanes teriam nascido da cabeça de Brama e os xátrias, dos braços. Eram, pois, as castas consideradas nobres. Das pernas saíram os vaixás e dos pés, os sudras. Os párias não tinham ligação com Brama. Não podiam entrar nos templos nem ler os textos sagrados, nem podiam banhar-se no Rio Ganges, cujas águas eram consideradas sagradas e capazes de purificar as pessoas.

Novas ideias desafiam o bramanismo
Entretanto, nem todos estavam de acordo com o hinduísmo bramânico. A ideia de que o conhecimento dos Vedas fosse indispensável para a prática religiosa (como queriam os sacerdotes brâmanes), a natureza mecânica da religião, a formalidade dos rituais, o regime de castas e o  sacrifício de animais eram motivos de discordância.
Ideias como essas deram origem a alguns movimentos religiosos e filosóficos. Um movimento que ganhou grande repercussão foi o budismo. Seu fundador, Sidarta Gautama (c. 563 a.C.-483 a.C.), não deixou nada escrito e quase tudo o que se sabe a respeito de sua vida e de sua doutrina religiosa se baseia nos registros dos seguidores desse movimento.
De acordo com eles, Gautama era um príncipe e tinha sido educado para um dia se tornar rei, mas, insatisfeito, decidiu mudar radicalmente sua vida. Um pouco antes de completar 30 anos, Gautama deixou para trás sua família e seus palácios. Por vários anos levou uma vida errante, entregando-se a longos períodos de jejum e meditação. Buscava respostas para as dúvidas que o atormentavam e que diziam respeito ao sofrimento causado pela dor, pela velhice e pela morte.
Muitos anos depois, quando se achava debaixo de uma figueira, ele julgou ter finalmente encontrado as respostas que procurava. E experimentou uma sensação de plena felicidade, à qual denominou nirvana.
Segundo os budistas, foi então que Sidarta tornou--se Buda, que em sânscrito significa o despertado ou o iluminado. Desde aquele momento, e até sua morte (aos 80 anos, segundo a tradição budista), Buda percorreu o norte da Índia pregando as verdades que havia descoberto e fazendo discípulos (responsáveis pelo registro dos ensinamentos de Buda).
O budismo teve grande aceitação e, por vários séculos, foi a crença religiosa dominante na Índia. Porém, no início, não foi percebido como uma nova religião, mas como uma nova visão religiosa dentro do hinduísmo.

Os ensinamentos de Buda
Sua pregação era bem diferente do que ensinava o hinduísmo bramânico. Buda falava em misericórdia, igualdade entre os homens, não violência (não fazer mal a nenhuma criatura) e na crença de que a felicidade depende do esforço de cada um e não dos deuses.
Ele dizia que, para se libertar do sofrimento e alcançar o nirvana, era preciso seguir a doutrina das “quatro nobres verdades”:
1) o sofrimento faz parte da existência;
2) o sofrimento nasce do desejo sempre impossível de ser satisfeito;
3) para eliminar o sofrimento é preciso suprimir o desejo;
4) o caminho que leva à superação do sofrimento é o caminho do meio, da moderação, evitando--se, de um lado, a vida de sacrifícios excessivos e, de outro, a vida dos prazeres.

4. A Índia sob domínio muçulmano
No século VIII, chegou à Índia uma nova religião: o islamismo. Foi nessa época que o Vale do Indo começou a ser ocupado por guerreiros muçulmanos. Eles vinham de regiões fronteiriças, como a que hoje corresponde ao Afeganistão. Ao mesmo tempo em que o território era conquistado, missionários e comerciantes iam levando a nova fé para diversas partes da Península Indiana.
No século XII, a importante cidade de Délhi foi tomada por muçulmanos, que passaram a governar todo o norte da península. Aos poucos, o domínio islâmico foi avançando em direção ao sul e, no século XVI, a maior parte do território indiano já era governada por muçulmanos.
Muitos indianos se converteram ao islamismo. Quase todos os convertidos pertenciam às castas mais baixas. Para eles, fazer parte do islã era pertencer a uma comunidade na qual não havia castas. Mesmo assim, ainda hoje os muçulmanos representam pouco mais de 10% da população da Índia.

5. Chegam os europeus
No fim do século XV, os europeus também começaram a chegar à Índia, inaugurando a ligação por mar entre a Europa e o Oriente. Depois de vencer a resistência dos muçulmanos, os navegantes portugueses, chefiados por Vasco da Gama, conseguiram ter acesso à cidade indiana de Calicute, em 1498. Os portugueses estavam interessados em explorar o importante comércio das especiarias (cravo, canela, pimenta, noz-moscada etc.) e outros produtos de luxo.
Depois dos portugueses, chegaram holandeses, franceses e ingleses. Na disputa pelo domínio do comércio indiano, os ingleses acabaram prevalecendo. A Índia permaneceu sob o controle inglês até sua independência, em 1947.


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