ABOLIÇÃO
DA ESCRAVIDÃO NO
BRASIL
Desde o início da colonização, o Brasil se
tornara totalmente dependente do uso da mão de obra escravizada de origem
africana. A sociedade brasileira estava acomodada a essa situação. As elites
agrárias brasileiras não tinham a menor intenção mudar esse estado de coisas no
país, e a escravidão podia se manter por conta do tráfico negreiro. Para se ter
uma ideia, na década de 1830, entrava no Brasil uma média de 35 mil africanos
escravizados por ano.
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Comemoração da Lei Áurea |
Diante dessa pressão, a elite brasileira teve de pensar numa
estratégia abolicionista, tomando o cuidado para que isso se desse da maneira
mais lenta possível.
Lei Eusébio de Queirós
Começou em 1850, quando o Parlamento aprovou a primeira lei
abolicionista no Brasil. O projeto dessa lei partiu do então ministro da
Justiça Eusébio de Queirós e por isso ela ficou conhecida com seu nome. Ela proibiu
definitivamente o desembarque de escravos no país. A partir de então, tornava-se
claro que, sem poder ser alimentada pelo tráfico, a própria escravidão estava
condenada.
Com isso, criava-se um problema para a economia do país, pois a lavoura
cafeeira estava em expansão, necessitando cada vez mais de mão-de-obra. Se não
podia mais contar com trabalhadores escravizados da África, estava claro que
era preciso pensar numa alternativa, que somente poderia ser o trabalhador
livre europeu.
Efetivamente, desde 1847, já haviam começado a chegar ao Brasil os
primeiros trabalhadores livres, trazidos por iniciativa de fazendeiros
paulistas. Porém, a vinda de novos trabalhadores livres encontrava um fator
desestimulante no próprio trabalho escravo.
Essa contradição possibilitou o início do questionamento dessa secular
instituição. O debate, tímido a princípio, cresceu e ganhou vulto depois de
1860. Entretanto, o começo da guerra contra o Paraguai, em 1864, fez com que as
atenções se voltassem para a guerra, colocando o debate da escravidão em
segundo plano.
Mas a própria guerra mostrou a inconveniência da escravidão. O
problema era como formar um exército numeroso num país onde havia tantos
escravos. Foi preciso libertar escravos para alistá-los como soldados!
A guerra terminou em 1870. Com o final da guerra, a questão
escravidão entrou decisivamente em debate. Havia os queriam a abolição pura e
simples da escravidão. Os proprietários, por sua vez, alegavam que sem o
trabalho escravo a lavoura entraria em crise por falta de mão-de-obra.
Lei do Ventre Livre
Essa contradição ficou mais grave em virtude do isolamento internacional
do Brasil. Depois da abolição nos Estados Unidos, em 1865, o Brasil ficou sendo
o único país do Ocidente a admitir a escravidão (a escravidão também se
mantinha em Cuba, mas Cuba ainda era colônia da Espanha).
Houve inclusive um apelo feito em 1865 pela Junta Francesa de Emancipação,
assinado por alguns escritores famosos, cuja amizade era muito apreciada pelo
imperador D. Pedro II.
Diante da pressão interna e externa, o governo procurou uma
solução que agradasse os abolicionistas e fosse aceita pelos proprietários de
escravos. A saída encontrada foi dar liberdade para os nascituros. O próprio
governo imperial enviou para a Câmara um projeto que, uma vez aprovado, se
converteu na chamada Lei do Ventre Livre, de 28 de setembro de 1871. Nela se
declarava livres os filhos de escravos nascidos daquela data em diante.
Mas havia uma restrição importante: a lei determinava que as
crianças permanecessem em poder dos senhores das mães, que eram obrigados a
criá-los até os oito anos de idade. Após isso, os senhores poderiam entregar o
menor ao governo, com direito a uma indenização de
600 mil réis, ou utilizar seus serviços até os 21 anos. Quer dizer, o
filho de mãe escrava era livre, mas não o era... antes dos 21 anos!
A lei foi assinada pela princesa Isabel, que ocupava o trono no lugar
do pai, D. Pedro II, que viajara para o exterior.
O artigo terceiro dessa lei previa a criação de
um fundo que deveria financiar a liberdade de tantos escravos quantos
correspondessem ao valor disponível no referido fundo.
Como é fácil entender, a lei não deu resultados
visíveis a curto prazo; serviu apenas para amenizar a intensidade
da campanha abolicionista, que permaneceu em fogo brando por cerca de dez anos.
Mas seu ressurgimento era uma questão de tempo, o que efetivamente aconteceu a
partir de 1880.
O problema central da economia continuava: de um lado, a rápida
expansão da lavoura cafeeira; de outro, a escassez cada vez maior de
mão-de-obra.
Lei dos Sexagenários
A gradual diminuição da população escrava, que há trinta anos
deixara de ser alimentada pelo tráfico africano, tornara urgente o problema do
fornecimento de braços para a lavoura. Diante dessa pressão, os fazendeiros
durante algum tempo trataram de trazer escravos das províncias do Nordeste,
onde eles eram menos indispensáveis em virtude da estagnação econômica e,
portanto, custavam menos. Mas essa solução não pôde ter continuidade, porque os
governos nordestinos adotaram medidas para dificultar a saída de escravos
daquela região.
Ao
mesmo tempo, intensificava-se a campanha abolicionista. O movimento extrapolou
o Parlamento e foi para as ruas. O povo, particularmente no Rio de Janeiro,
começou a participar ativamente das agitações. Entre os ativistas,
destacavam-se intelectuais ilustres, como
Joaquim Nabuco e Rui Barbosa. E também negros livres, que, nessa época, já eram
uma parcela significante da população. Alguns abolicionistas influentes eram
negros, como José do Patrocínio, Luís Gama e André Rebouças e até o escritor
Machado de Assis.
Organizaram-se duas sociedades: a Sociedade Brasileira contra a
Escravidão e a Associação Central Emancipacionista. Também jornais e revistas vieram
reforçar o movimento, que da capital se espalhou pelas províncias. Em 1883,
organizou-se a Confederação Abolicionista, que reuniu em seu seio todas as
sociedades e agrupamentos antiescravistas do país.
Os próprios escravos deixaram de ser apenas expectadores, como
tinham estado até então, e se tornam participantes da luta pela abolição. As
fugas coletivas e abandono em massa das fazendas tornam-se cada vez mais
frequentes. Nesse contexto, um papel destacado coube a um movimento
libertador, surgido em São Paulo, conhecido como Caifazes, liderado por Antônio Bento de Souza.
Lei Áurea
A província do Ceará se antecipou e aboliu a escravidão em
1884.
Em vista disso, o grupo social dominante, mais uma vez, sentiu que
precisava fazer novas concessões, numa tentativa desesperada para manter a
escravidão. Daí resultou a lei de 28 de setembro de 1885, apelidada de “lei dos
sexagenários”. Aprovada pelo Parlamento, ela concedeu liberdade aos escravos
com 60 anos ou mais. Também nesta, havia uma restrição importante: a lei exigia
que, a titulo de indenização pela alforria, os escravos libertos
ficavam obrigados a prestar serviços a seus ex-senhores por mais três anos.
A escravidão se
tornava cada dia mais impopular, e o próprio Exército se recusou a cumprir a
ordem para capturar escravos fugidos.
Diante da pressão popular, os próprios interessados diretos na
escravidão desistiram de sua defesa.
No dia 13 de maio de 1888, o Parlamento aprovou a lei que aboliu
definitivamente a escravidão no Brasil. A lei foi aprovada na Câmara dos Deputados (onde recebeu 83
votos favoráveis de um total de 92) e no Senado (com apenas um voto contrário).
Depois de aprovada, seguiu para a sanção da princesa Isabel, pois D. Pedro
realizava sua terceira viagem ao exterior.
Conhecida como “Lei Áurea”, essa lei continha apenas dois artigos:
Artigo 1. É declarada extinta a escravidão no Brasil.
Artigo 2. Revogam-se as disposições em contrário.
Depois da Abolição
A extinção da escravidão não provocou a ruína da agricultura, como
apregoavam os fazendeiros. Isso se deveu principalmente à entrada de imigrantes
que já vinha se acelerando nos últimos anos. Tendo atingido pouco mais de 30 mil
indivíduos 1886, saltou no ano seguinte para 55 mil, e no próprio ano da
abolição subiu para o dobro deste número, ou seja 133 mil.
Após a abolição, a vida dos ex-escravos brasileiros continuou muito
difícil. Tinham dificuldade para conseguir trabalho em virtude da concorrência
da mão-de-obra europeia. E também porque o Estado brasileiro devia ter-lhes
oferecido um lote de terra, como muitas vezes foi reivindicado pelos
abolicionistas, para que os ex-escravos pudessem ter uma garantia de trabalho e
moradia, mas isso não foi feito.
Como se pode ver pelo texto da lei, a libertação dos escravos se fez sem
indenização aos proprietários. Para muitos fazendeiros, sobretudo do Vale do
Paraíba, isso significou a falência. Arruinados, esses senhores ficaram
descontentes com a Monarquia e muitos deles passaram a apoiar a campanha
republicana, que triunfou em 15 de novembro de 1889, apenas um ano após a
Abolição.
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