MAIAS E ASTECAS: povos da
Mesoamérica
A Mesoamérica
Por Mesoamérica entende-se a região onde se
desenvolveram as primeiras sociedades complexas do continente americano. Ela
engloba territórios da América Central e também do extremo sul da América do
Norte. Para os estudiosos, a importância da Mesoamérica está ligada mais aos
aspectos histórico-culturais do que aos geográficos. Como veremos mais adiante,
foi aí que viveram dois povos de culturas extremamente ricas e complexas: os
maias e os astecas.
Pedra do Sol asteca |
2. Olmecas
e teotihuacanos
Uma
das primeiras sociedades complexas de que se tem notícia na Mesoamérica foi a
dos olmecas, surgida 3 mil anos atrás. Eles ocupavam as regiões que
correspondem hoje ao México e à Costa Rica. Dotados de uma cultura bastante
rica, os olmecas desenvolveram um sistema próprio de escrita, construíram as
primeiras cidades do território e ergueram várias pirâmides. Por volta de 400
a.C., depois de sofrer sucessivas invasões de outros povos, a sociedade olmeca
entrou em processo de desintegração.
Entre 700 e
600 a.C., floresceu também na região a sociedade teotihuacana, assim chamada porque
se formou em torno da cidade de Teotihuacán, que significa cidade dos deuses.
Os teotihuacanos tornaram-se conhecidos por construir pirâmides enormes,
como a do Sol e a da Lua (com 65 e 43 metros de altura, respectivamente).
Também se notabilizaram por erguer muitos templos dedicados a diversos deuses,
como Quetzalcoatl (serpente de plumas), símbolo da fecundidade da terra.
3. Os
maias
Em
700 a.C., aproximadamente, outra importante sociedade surgiria na Península de
Iucatã, situada entre a América do Norte e a América Central: a dos maias.
Durante o período de sua formação, essa sociedade herdou vários elementos das
culturas dos povos que habitavam a região, como os olmecas. Por volta de 317 de
nossa era, os maias já ocupavam extensas regiões do que conhecemos hoje como
México, Honduras e Guatemala.
A
sociedade maia destacou-se, entre outros aspectos, por sua forma de organização
política: ela se desenvolveu em torno de centros urbanos autônomos, ligados por
uma relativa unidade cultural, sem no entanto constituir um império
centralizado. Com o tempo, os maias ergueriam numerosas cidades, como Palenque,
Maiapán, Uxmal, Chichén Itzá, Uaxactún e Tikal, entre outras.
O
período áureo dessa sociedade ocorreu entre 1000 e 1400. Nessa fase, o centro
da Península de Iucatã foi ocupado por outro povo, os toltecas, que aí
fundou a cidade de Chichén Itzá. Essa ocupação acabou resultando na fusão das
culturas maia e tolteca.
A
partir de 1441, em decorrência de sucessivas guerras entre suas cidades, a
sociedade maia começou a se desintegrar. A isso se somou uma série de flagelos
naturais (furacões, pestes, estiagens) que culminou com uma epidemia de
varicela, em 1511, causada pelo contato com os europeus.
Um governante com
muitos poderes
Extremamente
religiosos, os maias construíam suas cidades em volta de núcleos formados por templos,
pirâmides e palácios. Nas proximidades desses núcleos, ficavam as casas das
pessoas mais poderosas.
Cada cidade
era gerida por um halac vinic, que governava em nome de um dos deuses da
religião maia, constituindo uma teocracia. A sucessão ocorria em uma mesma
família, com o poder passando de pai para filho, segundo o direito de
primogenitura. O halac vinic concentrava todos os poderes – religioso,
militar e civil. Era ele quem escolhia, entre os membros da aristocracia, os funcionários
que o auxiliavam na administração da cidade. Esses homens de confiança
comandavam os soldados, presidiam o conselho local, aplicavam a justiça e
controlavam a arrecadação de impostos. Além dessas atribuições, também cuidavam
do cultivo dos campos nas épocas indicadas pelos sacerdotes.
Temidos e
respeitados, os sacerdotes, por sua vez, desempenhavam funções particularmente sociedade.
Entre eles havia astrônomos, matemáticos, adivinhos e administradores.
Agricultura e
comércio
Os
maias desenvolveram uma economia diversificada, de base agrícola – o milho era
sua principal fonte de subsistência –, dotada de uma extensa rede de trocas
comerciais. Fazendo permuta com seus produtos minerais, agrícolas e artesanais,
eles adquiriam de outras regiões os bens de que necessitavam, como blocos de
pedra, sílex para fabricar armas e ferramentas, pigmentos minerais – destinados
principalmente à pintura e à cerâmica –, e outros. Nas trocas comerciais
utilizavam, muitas vezes, sementes de cacau como moeda.
No
campo da metalurgia, dominavam a técnica de obtenção e manipulação do cobre e
do ouro, mas só empregavam esses metais para fins ornamentais.
Indiscutivelmente,
os maias foram notáveis em diversos campos do saber, mas dois aspectos chamam a
atenção ao estudarmos essa sociedade: eles não utilizavam nenhum animal para tração
ou montaria (por isso os meios de transporte e os trabalhos pesados dependiam
da força humana) e desconheciam a roda e o torno (o que restringia sua ação
sobre a natureza). Essa limitação, contudo, não impediu que construíssem uma
das mais avançadas sociedades da América pré-colombiana.
4. A
sociedade asteca
Os
astecas viviam originalmente no noroeste do México atual, em uma região
conhecida como Aztlán, da qual derivou seu nome. No século XIV de nossa era,
provavelmente por terem sido expulsos de seu território por povos inimigos,
eles foram obrigados a se deslocar para o planalto entral do México. No novo
espaço, tornaram-se agricultores, sem perder os hábitos guerreiros, pois se
viam constantemente envolvidos em disputas com as populações vizinhas pelas
reservas de água potável e pelas áreas de cultivo.
Sob
a influência de outras culturas existentes na Mesoamérica, os astecas
desenvolveram técnicas próprias para o
plantio do milho, a escrita, a arte e as práticas religiosas. Em 1325, eles passaram
a ocupar o conjunto de ilhotas do Lago Texcoco e construíram em uma delas sua
principal cidade: Tenochtitlán (atual Cidade do México). Com o tempo,
Tenochtitlán passou a contar com um amplo sistema de ruas, pontes e canais.
As
disputas com outros povos pela posse do território e a necessidade de realizar
obras para a prática da agricultura, como a drenagem dos pântanos, conduziram,
aos poucos, à concentração do poder em três das principais cidades da região:
Texcoco, Tlacopán e Tenochtitlán.
Essas
cidades controlavam diversos povos que habitavam as áreas situadas entre o
Golfo do México e o Oceano Pacífico e recebiam tributos das populações
subjugadas. Por volta de 1440, quando teve início o governo de Montezuma I em
Tenochtitlán, estima-se que esse verdadeiro império somava cerca de 15 milhões de
habitantes.
Organização social
Entre
os astecas, a autoridade máxima era exercida por um soberano. Os militares também
poderosos, por causa das guerras constantes. Ocupavam posição de destaque na
hierarquia social.
Vejamos
a seguir como se compunha a sociedade asteca.
Os
escravos ocupavam o plano mais baixo da escala social. Eram geralmente
prisioneiros de guerra, criminosos condenados pela justiça ou pessoas que não
conseguiam pagar suas dívidas. Curiosamente, eles podiam ser donos de terras e
possuir outros bens, até mesmo outros escravos. Também não era proibido que se
casassem com pessoas livres e tivessem filhos livres. Durante sua vida, os escravos
tinham muitas oportunidades de conquistar a liberdade.
Acima
dos escravos estava o maceualli, que era o membro do clã (calpulli).
A ele cabia prestar o serviço militar, assim como trabalhar em obras coletivas,
como a construção e a conservação de estradas e canais. Com o casamento, o maceualli
conquistava o direito a um lote de terra e começava a participar da vida
religiosa.
Em
plano superior aos maceualli encontravam-se os artesãos e os comerciantes.
A sociedade asteca tinha grande respeito pelo trabalho do artífice, que se
dedicava aos ofícios de ourivesaria, joalheria e lapidação, entre outros. Os artesãos
agrupavam-se em corporações extremamente fechadas, moravam em bairros especiais
e tinham festas, ritos e deuses próprios. Seu ofício era transmitido de geração
em geração, dentro da mesma família.
A
atividade do comerciante, assim como a do artesão, era hereditária e exclusiva
das corporações. Os pochtecas – grandes negociantes – cuidavam do
comércio com regiões distantes. Com o tempo, eles se transformaram em um grupo
poderoso e em ascensão na sociedade asteca. Seus filhos passaram a ter direito
a frequentar o calmecac, uma espécie de escola reservada à aristocracia.
No
topo da organização social ficavam os sacerdotes e os altos funcionários civis
e militares. Eles formavam a aristocracia.
Os sacerdotes, por exemplo, presidiam os cultos religiosos e tinham sob sua
responsabilidade a educação dos filhos dos dignitários nos calmecac, a
direção dos hospitais, a guarda dos livros sagrados e dos manuscritos
históricos. Graças às doações recebidas dos soberanos e de particulares, não
raro eles acumulavam grandes riquezas. Além do prestígio social de que
desfrutavam, não pagavam impostos e, às vezes, integravam voluntariamente o
exército.
O
soberano era escolhido sempre em uma mesma família. A escolha era feita por um
conselho de cem membros controlado por militares e sacerdotes. Atribuía-se a
ele origem divina e esperava-se que prestasse homenagem aos deuses e protegesse
a população, orientando-a moralmente – por exemplo, contra a embriaguez e o
roubo. O soberano era auxiliado por uma espécie de chefe de governo e por uma
hierarquia de funcionários.
Como viviam os
astecas
Os
astecas criaram um sistema de numeração e calendários com características
semelhantes aos dos maias. Desenvolveram também uma escrita figurativa, cujos
símbolos representavam objetos estilizados. Quando os espanhóis chegaram ao
continente, observaram ainda o emprego de uma escrita fonética rudimentar que
recorria a imagens ou objetos para representar certas sílabas. Os livros tinham
grande importância para os astecas. Confeccionados com material obtido de
fibras vegetais ou da pele de cervo, muitos deles eram ornados com ricas
iluminuras. Nas cidades, havia bibliotecas cujo acervo incluía obras de temas
religiosos, históricos, de adivinhação e de interpretação de sonhos. Quase
todos os livros, porém, foram destruídos durante a conquista espanhola.
Os
astecas eram bons tecelões. Produziam panos de algodão e de fibra de agave. A
pele de coelho era usada na confecção de cobertores e mantas de inverno. Os
homens vestiam-se com tangas e capas; as mulheres usavam camisas compridas e
saias. A qualidade da roupa e dos ornamentos com que os astecas se enfeitavam
era determinada pela posição social. Em geral, os homens andavam descalços e
apenas os funcionários mais graduados usavam sandálias de fibra ou de couro.
Os
astecas costumavam preencher as horas de lazer participando de jogos. Um deles,
o tlachtli, era disputado por duas equipes. Além do milho, consumido em
forma de massa sobre a qual se aplicava uma pasta de feijão e pimenta, os astecas alimentavam-se de
abóbora, batata e inhame. Faziam uso do tabaco sob a forma de charuto ou
cachimbo e, em certas ocasiões, ingeriam o octli, um líquido fermentado
à base de suco de agave. Também cultivavam o cacaueiro, de cujos frutos extraíam
uma bebida chamada xocoatl, que daria origem ao chocolate como o
conhecemos hoje. Assim como ocorria na sociedade maia, entre os astecas o uso
de sementes de cacau como moeda era
relativamente comum.
Sacrifícios humanos
Como
os demais povos pré-colombianos, os astecas também eram politeístas. Seus
deuses principais consistiam em forças da natureza, geralmente identificadas
com os astros. A divindade maior, inspirada no Sol, era Huitzilopochtli,
deus da guerra e deus-guia. Em sua homenagem, os astecas construíram a
principal pirâmide de Tenochtitlán, e em sua honra faziam numerosos sacrifícios
humanos. A segunda em importância era a deusa Texcatlipoca. Protetora
dos guerreiros e dos escravos, acreditava-se que ela inspirava os eleitores do
grande conselho na escolha do soberano e castigava ou perdoava as faltas.
Outros deuses cultuados eram Tlaloc, divindade da água e da chuva, e o
misterioso Quetzalcoatl, deus do vento, a quem se atribuía a invenção da
escrita, do calendário e das artes. Além das próprias divindades, os astecas
adotavam também as de povos dominados.
Os
astecas acreditavam no mito de que, sem o sangue humano (a “água preciosa”)
oferecido ao Sol, a engrenagem do mundo deixaria de funcionar. Por isso,
procuravam manter um “estoque” de prisioneiros destinados aos sacrifícios.
Essa
era uma de suas justificativas para a guerra. Eles entendiam que, depois de
morto, o sacrificado ia morar no céu, nas vastas salas da Casa do Sol, para
onde também eram conduzidos os guerreiros mortos em combate.
De
igual modo, foi a crença na volta de certos deuses que fez com que os astecas
vissem sem desconfiança a chegada dos espanhóis, um povo que, recebido com
cordialidade, acabaria destruindo seu império.
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