INCAS,
uma civilização nos Andes
A primeira sociedade complexa a florescer no
território do atual Peru, por volta do ano 1000 a.C., ficou conhecida como chavin,
denominação dada por historiadores e arqueólogos que estudam a região. Dela,
sabe-se que era uma sociedade agrícola –cuja principal atividade econômica
consistia no cultivo do milho – e que dominava também a técnica de construção
de templos, pirâmides e canais de irrigação.
Ruínas
de Machu Picchu, cidade construída
pelos incas no século XV, no topo de
uma
montanha, a 2400 metros de altitude,
no atual Peru.
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No
primeiro milênio de nossa era, a sociedade chavin deu lugar a outras
sociedades. Ao longo desse período, a região conheceu muitas melhorias. Por
exemplo: a ampliação dos canais de irrigação até as terras áridas próximas do
litoral e a expansão das áreas cultivadas nas encostas da cordilheira. Essa
melhoria era obtida por meio da construção de terraços, degraus formados
por pedras na vertical e terra na parte horizontal.
A
partir do século VIII, dois centros de difusão cultural ganharam destaque. O
mais importante deles foi a cidade de Tiauhanaco, nas margens do Lago Titicaca;
o outro, a cidade de Houari, localizada mais ao norte. Ambas se tornaram centros
de grandes sociedades, que desapareceram no século XII por razões ainda
desconhecidas. Sua cultura seria herdada pelos impérios Chimu e Inca, que se
formaram em seguida. Os chimus estabeleceram-se na costa setentrional, onde desenvolveram
a agricultura irrigada por meio de canais e aquedutos. Deram início, no século
XIV, a um processo de expansão que os levou ao controle de longa área do
litoral andino. Em meados do século seguinte, no entanto, foram absorvidos pelo
Império Inca e perderam sua independência.
2. Um
império florescente
Quando,
em 1532, os espanhóis iniciaram a conquista da região onde hoje se encontra o
Peru, os incas constituíam um império grandioso, cujo centro era a cidade de
Cuzco. Acredita-se que, nessa época, dentro de suas fronteiras viviam, cerca de
10 milhões de pessoas. Uma das características interessantes dessa sociedade é
que, ao dominar os diversos povos andinos, os incas fizeram a síntese das tradições
culturais da região.
Primeiras conquistas
Os
incas apareceram tardiamente na história dos povos andinos. Não há consenso
entre os historiadores quanto às suas origens. É possível que eles fossem um
dos grupos que compunham o povo quíchua, cujo idioma era falado numa
ampla região dos Andes. Mas admite-se que, no século XIII, eles viviam ao redor
de Cuzco.
A
partir de certo momento, os incas começaram a dominar diversas cidades da
região, dando início à sua expansão. Depois de 1463, subjugaram a sociedade chimu,
que controlava o litoral. Em seguida, incorporaram os caras (no
território que hoje corresponde ao Equador) e os aimarás, nas margens do
Lago Titicaca, bem como as regiões do norte da Argentina e do Chile atuais.
A
sucessão de conquistas resultou, em algumas décadas, na formação do Império. A
tradição inca atribuía a um de seus ancestrais, Manco Capac, o papel de
fundador do Império. Ele e seus sucessores passaram a adotar o título de inca,
nome de uma antiga divindade andina.
Um
de seus governantes mais importantes foi Tupa Yupanqui, que criou um serviço de
mensageiros que ligava as diversas partes do Império e estruturou uma
burocracia e um exército capazes de manter o controle inca sobre grande parte
dos Andes. Yupanqui morreu em 1493.
Seu
filho e sucessor, Huaina Capac, governou até 1528. Durante mais de trinta anos
de governo, Huaina enfrentou prolongadas guerras nas fronteiras do norte. Ao
morrer, o trono passou a ser disputado por Huáscar e Atahualpa, dois de seus
filhos. Essa divisão facilitaria a conquista do Império pelos espanhóis quatro
anos mais tarde.
Os filhos do Sol
Os
incas tinham um governo forte e centralizado. A sucessão no poder se dava na
família do governante, mas o herdeiro não era necessariamente filho do Inca, e
sim o parente considerado mais capaz para assumir o cargo. Por isso, ao final
de cada governo, havia grande disputa entre os herdeiros. Uma vez vitorioso, o
novo Inca comparecia ao Templo do Sol, onde era entronizado. Investido de
poderes exclusivos, ninguém podia encará-lo.
No
início, os incas eram vistos como filhos do Sol. Mas Huaina Capac, por exemplo,
se fez reconhecer como a própria encarnação do Sol e foi adorado como deus
vivo. O Estado inca constituía, portanto, uma teocracia, como havia sido o
Egito na Antiguidade.
O
território do Império era dividido em quatro partes por duas linhas imaginárias
que se cruzavam no centro da capital, Cuzco, a qual – acreditavam – era o
“umbigo do mundo”. Cada uma dessas partes se subdividia, para fins
administrativos, em frações decimais, nas quais a população era agrupada em
unidades de 10 mil, mil, cem e, por fim, dez famílias. Havia um funcionário que
se encarregava de cada
uma das quatro unidades. As unidades inferiores também eram dirigidas por
burocratas. Todos esses funcionários formavam uma pirâmide administrativa em
cujo topo ficava o Inca.
Lavradores, pastores
e artesãos
A
agricultura, principal atividade econômica, dependia em boa parte dos terraços
construídos nas encostas da cordilheira e de um sistema de canais para
transportar água de fontes localizadas, muitas vezes, a quilômetros de
distância. Os incas cultivavam mais de quarenta espécies vegetais, entre elas,
abóbora, vagem, algodão, milho, batata, batata-doce, mandioca, amendoim e
abacate.
A
maioria da população era formada por camponeses, agrupados em comunidades
chamadas ayllu – a célula básica da sociedade inca. O ayllu reunia
pessoas ligadas por laços de parentesco e pela crença de descender de um mesmo antepassado
mítico, simbolizado por um totem. Cada comunidade tinha seu chefe, o curaca,
responsável pela distribuição da terra, pela organização dos trabalhos
coletivos e pela resolução de conflitos.
Os
integrantes do ayllu recebiam lotes de terra em diversas partes do
Império, o que tornava possível explorar as diferentes condições de clima e de
solo para obter grande variedade de produtos.
A
terra era propriedade do Inca, que, por meio dos curacas, a entregava às
famílias para cultivo: cada casal, ao se constituir, recebia um lote. As terras
destinadas ao pastoreio, por sua vez, eram usadas coletivamente. Nelas
criavam-se a alpaca, que fornecia lã, e o lhama, utilizado como meio de
transporte. A domesticação desses animais fez dos Andes a única região da
América pré-colombiana onde se praticou o pastoreio. Explorando, ao mesmo
tempo, a agricultura, o pastoreio e o artesanato, as comunidades incas eram
praticamente autossuficientes. Não havia moedas.
Os servos do Inca
A
escravização não era praticada entre os incas, mas havia os chamados
“dependentes perpétuos” (yana), ligados aos curacas e ao Inca.
Eles não podiam ser trocados ou vendidos, como os escravos, e tinham
importância econômica secundária. Paralelamente, havia a mita, antiga
obrigação de prestar trabalho ao curaca e aos deuses locais, revestida
de caráter religioso. Depois da formação do Império Inca, essa obrigação passou
a ser prestada também ao Inca, o filho do Sol.
A mita recaía
sobre todas as pessoas casadas, que deveriam cuidar das terras e dos rebanhos do
Inca e ainda desempenhar as funções que lhes fossem designadas: no exército,
nas oficinas de trabalhos artesanais, na construção e manutenção de estradas,
pontes e edifícios.
Tudo isso
exigia rigoroso controle da população, para se chegar com precisão à real
quantidade de mão de obra disponível. Em virtude dessa necessidade, era comum
proceder-se a recenseamentos minuciosos, realizados periodicamente por funcionários
especializados. Para garantir os resultados dos censos, esses funcionários
empregavam um sistema numérico decimal e registravam os dados em um instrumento
denominado quipo, formado por cordinhas de diferentes cores e com vários
tipos de nós.
Em algumas
áreas do Império havia armazéns apropriados para guardar os produtos obtidos
pela mita. Os estoques acumulados destinavam-se ao abastecimento do
exército ou ao auxílio da população, em caso de desastres naturais. Nessa eventualidade,
os mais velhos, as viúvas e os órfãos eram os primeiros a se beneficiar da
distribuição alimentos e de roupas.
Cultura e técnica
Entre
os incas, a tradição cultural era transmitida oralmente, tarefa reservada aos
chamados amawta, cujos relatos serviram de matéria-prima para as
crônicas registradas depois que os espanhóis introduziram a escrita entre eles.
Conhecimentos
técnicos dos incas
O calendário inca dividia o ano em doze meses. No
entanto, apresentava uma curiosa particularidade: enquanto o ano era solar, os
meses eram lunares, o que ocasionava a diferença de alguns dias entre as duas
contagens.
Os incas dominavam perfeitamente a técnica de obtenção do
bronze (uma liga de cobre e estanho) e da platina e sabiam trabalhar o ouro e a
prata. Não conheciam o ferro, a roda e o torno. Para o fabrico de armas e
ferramentas utilizavam a pedra.
Com esse arsenal técnico, a sociedade inca construiu um
império dotado de cidades, palácios, templos, estradas e estrutura
administrativa, que provocou a admiração dos espanhóis, estimulando sua cobiça
por metais preciosos.
Diferentemente dos povos da Mesoamérica, os incas não
criaram uma escrita formal. O quipo desenvolvido por eles era eficiente, mas
tratava-se de um sistema de contabilidade. Certamente o grau de complexidade
alcançada pela sociedade inca iria exigir, em mais ou menos tempo, registros
escritos, e os incas acabariam tendo a própria escrita. Mas esse
desenvolvimento foi interrompido pela chegada dos conquistadores europeus.
O
Império destruído
Apesar
da grandiosidade de seu império, a sociedade inca acabou revelando-se bastante
frágil diante do invasor espanhol. Para isso contribuíram:
•
o cavalo e as armas de fogo e de ferro usadas pelos espanhóis;
•
o descontentamento dos povos subjugados pelo Império que acabaram se aliando
aos invasores;
• a disputa pelo poder entre os irmãos Huáscar e Atahualpa depois
da morte do Inca Huaina Capac, em 1528, pois a luta entre os dois príncipes
prosseguia em 1532, quando os espanhóis, chefiados
por Francisco Pizarro, chegaram à região.
A
resistência inca durou quarenta anos e só foi vencida em 1572, com o
assassinato de seu último governante, Tupac Amaru. Porém, desde 1543, o
território do Império já tinha sido incorporado pela administração colonial
espanhola, constituindo o Vice-Reino do Peru.
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