A GRANDE NAÇÃO
TUPI
Os
primeiros habitantes avistados pelos portugueses ao desembarcar em terras
americanas adotaram, em geral, uma atitude amistosa em relação aos
estrangeiros. A esses grupos que falavam entre si línguas parecidas e tinham
certos hábitos semelhantes, os portugueses chamaram tupis.
Os
portugueses não sabiam, no entanto, que os tupis não eram um só grupo, mas
englobavam numerosos povos, com grande diversidade cultural e religiosa.
Foi
exatamente com esses indígenas do litoral que os portugueses mantiveram maior
contato e aprenderam as primeiras regras de sobrevivência no continente que então
começavam a explorar.
No
interior do território viviam também diversos outros povos, chamados pelos
conquistadores de tapuias.
Estes
eram mais hostis, falavam uma língua difícil de ser compreendida e rejeitavam
qualquer tipo de aproximação. Por isso, o contato que os portugueses mantiveram
com eles foi bem menor.
2. As
origens
Existem
diferentes explicações para a procedência dos tupis que povoavam extensas
regiões da América conquistada pelos portugueses. No início do primeiro milênio
a.C., provavelmente eles habitavam o sudoeste da Amazônia, entre os atuais
territórios de Rondônia, do Amazonas no Brasil e da Bolívia. Daí, teriam
iniciado um lento movimento migratório em várias direções.
Outra
versão dos estudiosos sugere que os tupis eram, possivelmente, originários dos
contrafortes dos Andes ou do planalto do trecho médio dos rios Paraguai e
Paraná, de onde se deslocaram para o litoral atlântico, seguindo para o norte.
Sabe-se,
porém, que eles englobavam vários povos, como tupinambás, tamoios, tabajaras,
carijós, potiguaras e guaranis, estes nas regiões meridionais.
3. Divisão
do trabalho
Os
tupis se organizavam grupos formados por unidades menores, as aldeias, que
mantinham entre si interesses comuns. Nas aldeias havia normalmente de 500 a
600 pessoas, que viviam em grandes habitações (ou malocas) coletivas, cuja
estrutura de madeira recebia uma cobertura de folhas de palmeira. Em geral, o
número de habitações variava por aldeia de 4 a 7, cada uma abrigando um grande
grupo familiar. A poligamia era prática comum entre os chefes e os guerreiros mais
destacados.
A
divisão do trabalho era feita de acordo com o sexo e a idade. As mulheres, além
dos afazeres domésticos, ocupavam-se da agricultura e da coleta e colaboravam
na pesca. Encarregavam-se da preparação do cauim – bebida fermentada à
base de mandioca – e de muitas atividades artesanais, como tecer redes, trançar
cestos, fazer tapetes etc.
Além
da derrubada da mata e da preparação da terra para o plantio, os homens
ocupavam-se da caça, da pesca e do fabrico de canoas, armas de guerra e
instrumentos de trabalho. Deviam erguer as habitações, defender a aldeia, tomar
parte na guerra e executar os prisioneiros, se sua tribo praticava a
antropofagia. Também eram os homens que exerciam a função de curandeiros.
As
crianças ajudavam os pais em algumas atividades e realizavam tarefas
compatíveis à sua idade, como cuidar dos irmãos menores ou espantar os pássaros
das plantações no período que antecedia a colheita.
4. Uma
agricultura rudimentar
Os
tupis viviam da coleta, da caça e da pesca, dominavam a cerâmica e
praticavam uma agricultura rudimentar. Essas atividades implicavam na
exploração dos recursos do meio ocupado por eles até o esgotamento. Por isso,
de tempos em tempos (geralmente de três a cinco anos), os grupos indígenas eram
forçados a se deslocar para outra região em busca de melhores condições de
vida.
A
agricultura era uma atividade predominantemente feminina, excetuando-se a
derrubada das árvores e a preparação da terra para o plantio, que cabiam aos
homens da tribo. A limpeza do terreno era feita por meio da queimada, prática
denominada coivara, mais tarde adotada pelos colonizadores. Os
principais produtos da lavoura indígena eram a mandioca, o milho e a batata-doce.
Mas sua dieta alimentar, variando de uma região para outra, incluía feijão,
amendoim, pimenta, caju, banana e outros vegetais.
Os
tupis não conheciam os metais. Em certas atividades, usavam machados de pedra e
utensílios de madeira, de dentes, conchas etc. Suas armas de guerra eram arcos,
flechas, lanças e escudos feitos de madeira. Alguns povos faziam uso da
zarabatana, um tubo longo por meio do qual disparavam dardos envenenados. Para
obter fogo, friccionavam uma peça de madeira dura contra outra, mais macia.
Construíam suas canoas com troncos ou cascas de árvores e não utilizavam nenhum
animal para transporte ou tração.
5. Morubixaba:
o chefe de aldeia
Segundo
o historiador Julio Cezar Melatti, a maior unidade política entre os tupis
consistia na aldeia. Cada aldeia era politicamente independente, reconhecendo
apenas a autoridade de seu chefe. Por isso, às vezes, ocorriam conflitos
armados entre as aldeias de um mesmo grupo.
Toda
aldeia tinha um chefe, geralmente chamado de morubixaba. Para desempenhar
essa função, os membros da comunidade escolhiam, entre outras qualidades quem
tivesse uma grande parentela e revelasse coragem, ponderação e dotes oratórios.
Nos períodos de normalidade, o chefe tinha poucas atribuições, mas durante as
guerras esperava-se que demonstrasse valentia e capacidade de comando, sob pena
de ser afastado da função.
No
entanto, o poder político não estava concentrado no morubixaba. Na verdade, a
instituição política mais importante entre os tupis consistia no “conselho dos
principais”, formado pelos chefes das grandes famílias e pelos homens mais
respeitados da aldeia, como os guerreiros. Esse conselho tomava as principais
decisões, como a mudança de seu povo para outro território, as estratégias
empregadas em caso de guerra e a definição de alianças com outros grupos.
O
processo de escolha do chefe e a determinação de suas obrigações variavam de um
grupo para outro. Mas um aspecto era comum às diversas sociedades indígenas: a
condição de chefe não conferia privilégios ao escolhido.
Do
ponto de vista religioso, os tupis tinham crenças que combinavam traços do
animismo e do politeísmo. Acreditavam, por exemplo, que, além do ser humano,
todos os outros seres da natureza – como árvores, animais etc. – também eram
dotados de alma (animismo). Adoravam alguns deuses (politeísmo), como tupã,
identificado com o raio e com o trovão, e acreditavam na existência da vida
após a morte e na reencarnação; temiam os gênios, os demônios e os espíritos dos
mortos, causadores de catástrofes, que precisavam ser apaziguados por meio de
oferendas.
O
pajé, ou xamã, espécie de mago e sacerdote, presidia as
cerimônias religiosas e era capaz de entrar em contato com forças invisíveis,
adivinhar o futuro e curar as doenças.
É
impossível saber hoje, com precisão, quantos indígenas havia no Brasil por
ocasião da chegada dos portugueses. As estimativas variam de 1 milhão a 10
milhões. Uma coisa, porém, é certa: seja qual for esse número, ele baixou
continuamente até chegar a cerca de 70 ou 80 mil, em 1957, conforme cálculos do
antropólogo Darcy Ribeiro. Mas, nas últimas décadas do século XX, graças a uma
política pública de proteção, a população indígena voltou a crescer. De acordo
com o Censo Demográfico 2010, a população indígena residente no Brasil era de
quase 900 mil pessoas.
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