quarta-feira, 18 de novembro de 2015

ORIENTE  MÉDIO:  RAÍZES  DOS  CONFLITOS  ATUAIS


 No passado, a região que designamos hoje por Oriente Médio foi o berço da civilização. Foi lá, de acordo com os estudiosos, que a humanidade conheceu a agricultura, o uso de metais, a urbanização, a escrita e tantos outros elementos que fazem parte do nosso modo de vida. Entre esses outros elementos se encontram a religião monoteísta e o Estado organizado.

Situado entre três continentes, o Oriente Médio foi o ponto de encontro entre Oriente e Ocidente e sede de grandes impérios na Antiguidade (Bizantino), na Idade Média (Islâmico) e nos tempos modernos (Otomano).

Região rica em petróleo, o Oriente Médio tem sido palco de muitos conflitos após a Primeira Guerra Mundial, quando desapareceu o Império Otomano. A situação ficou ainda mais grave depois da Segunda Guerra. Em 1947, mesmo ano em que teve início a Guerra Fria, a ONU realizou a partilha da Palestina, evento que está na origem do mais antigo e mais duradouro dos conflitos que assolaram a região. Seus protagonistas são os israelenses, de um lado, e os árabes (entre eles, os palestinos), de outro. Os conflitos, no entanto, estendem-se entre os próprios árabes, envolvendo questões econômicas, políticas e religiosas.

1. A presença dos imperialismos britânico e francês

Uma das consequências da Primeira Guerra Mundial foi o desaparecimento do Império Otomano, constituído pelos turcos mais de seis séculos antes. Com isso, a Sociedade das Nações, surgida em 1920, colocou sob a autoridade da França e da Grã-Bretanha amplas áreas do Oriente Médio, até então governadas por esse império. Esse arranjo ficou conhecido como sistema de mandatos. As duas potências europeias ficaram também encarregadas de preparar os respectivos povos para se tornarem Estados independentes em um futuro próximo.

Por esse sistema, a França ficou responsável pelos territórios da Síria e do Líbano, enquanto a Grã-Bretanha assumiu a responsabilidade pela Mesopotâmia e pela Palestina.


1.1. Os mandatos franceses

Na Síria, com o fim do domínio otomano, Damasco foi ocupada por tropas comandadas por Faisal, que seria depois coroado rei do Iraque. Mas seu reinado durou pouco, pois a Síria havia passado para o mandato francês. Em 1925, em meio a uma insurreição contra o domínio francês, Damasco foi submetida a um bombardeio que deixou um saldo de 5 mil vítimas. O movimento rebelde continuou nos anos seguintes, bem como os bombardeios.

O domínio francês encontrou forte resistência popular na Síria, resultando em muitos atos de violência. Em 1936, o governo francês concordou em negociar um tratado de independência, mas o tratado não chegou a ser colocado em prática. Em 1944, a independência da Síria foi reconhecida pelas novas potências mundiais, a União Soviética e os EUA, mas a França continuava resistindo. Finalmente em 1946, sob pressão, os franceses tiveram de retirar suas tropas, ficando a Síria sob um governo republicano.

No caso do Líbano, os franceses promoveram, em 1926, uma Constituição que instituiu uma república parlamentarista. As cadeiras do Parlamento foram divididas basicamente de acordo com um critério religioso. A diversidade religiosa era grande, com destaque para os drusos, cuja religião reúne elementos do islamismo, judaísmo e cristianismo; os muçulmanos, divididos entre sunitas e xiitas; cristãos, igualmente divididos em diversos grupos, sendo os maronitas os mais numerosos e principais aliados dos franceses (e beneficiados na divisão das cadeiras do parlamento). A independência do Líbano foi proclamada em 1943, mas as tropas francesas somente se retiraram quatro anos depois.

1.2. O mandato britânico sobre o Iraque

Durante a Primeira Guerra, forças britânicas haviam invadido o Iraque e ocupado Bagdá. O controle dessa região havia se tornado importante para os britânicos, desde que tinham começado a explorar petróleo no vizinho Irã alguns anos antes.

Em busca de ajuda contra os turcos otomanos, nessa ocasião o governo da Grã-Bretanha prometeu apoiar o estabelecimento de governos árabes independentes após a guerra. A promessa não foi cumprida, muito pelo contrário. A Sociedade das Nações converteu o Iraque num mandato britânico. O descontentamento causado por essa decisão provocou uma grande revolta popular, o que obrigou os britânicos a conceder certa autonomia ao país. O Iraque se tornou uma monarquia, e o trono foi entregue ao emir Faisal (da dinastia hachemita). Ele ganhou esse benefício por ser filho do prefeito de Meca que fora aliado dos britânicos contra os turcos otomanos.

Em 1932, o Iraque foi admitido na Sociedade das Nações e conquistou a independência com algumas condições. O governo iraquiano assinou um tratado de “aliança permanente”, pelo qual a Grã-Bretanha conservava o direito de participar de todas as questões de política externa do país; utilizar estradas de ferro, rios, portos, campos de aviação e meios de transportes; e ocupar militarmente alguns aeroportos.

1.3. O mandato britânico sobre a Palestina

Outro mandato britânico era a Palestina, nome que nessa época se aplicava a uma ampla região que incluía os territórios correspondentes atualmente a Israel, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jerusalém e Transjordânia (ou seja, a parte que ficava a leste do rio Jordão).

Em 1921, a Transjordânia foi separada da Palestina e concedida ao príncipe hachemita Abdula. Alguns anos depois, converteu-se em Estado independente sob a tutela britânica e, em 1941, assumiu o nome de Jordânia. Ao terminar oficialmente o mandato britânico, Abdula fez-se coroar rei da Jordânia, em 1946. Portanto, nos anos que se seguiram ao final da Primeira Guerra Mundial, os elementos de uma combinação explosiva estavam dados no Oriente Médio:
  • chegara ao fim o Império Otomano, que havia assegurado alguma unidade política até aquele momento e era substituído por novas potências hegemônicas, agora europeias – Grã-Bretanha e França;
  • emergia o nacionalismo árabe, embora os projetos de formação de nações fossem frustrados pelo sistema de mandatos que repartia e subordinava os territórios ao controle dos novos impérios;
  • entrava em cena outro nacionalismo, o judeu, tendo como objetivo a fundação de um Estado na Palestina, contando com o apoio britânico;
  • começava a ser explorado o petróleo, que se tornou, posteriormente, a matéria-prima mais comercializada do mundo.

2. A questão de Israel e dos palestinos

Desde a segunda metade do século XIX, era cada vez maior a imigração de judeus para a Palestina, estimulada pela Sociedade dos Amigos de Sion (Sion é o nome de uma das colinas de Jerusalém). O objetivo dessa entidade era a formação de um Estado judeu (ou judaico).

O sionismo era um movimento nacionalista, como tantos outros que atuavam na Europa naquela época – final do século XIX. Os judeus não tinham um Estado próprio nem um território. E esta passou a ser a principal meta do sionismo desde a realização de seu primeiro congresso, na Suíça, em 1897.

O jornalista e sociólogo Cláudio Camargo relata que, após o Congresso sionista, alguns rabinos de Viena enviaram dois mensageiros à Palestina para verificar a viabilidade da fundação de um Estado judeu. Lá chegando, os emissários teriam remetido um telegrama, referindo-se à presença da população árabe, com a mensagem: A noiva é bela, mas está casada com outro homem (Camargo, Cláudio. Guerras árabe-israelenses. In: Magnoli, Demétrio (Org.). História das guerras. São Paulo: Contexto, 2008. p. 427.).

A imigração, porém, continuou, com a instalação de cerca de mil pessoas por ano na Palestina. O movimento sionista intensificou a ida de judeus que compravam terras pobres e não rentáveis, o que era favorecido pelos próprios árabes que viam nisso um bom negócio. Em 1909, foi fundada a cidade de Telavive, que se tornaria capital após a independência de Israel.

Durante a Primeira Guerra, Londres tornou-se o principal centro do Sionismo. Em 1917, James Balfour, ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, associou seu nome àquela que ficaria conhecida como “Declaração Balfour”, segundo a qual o governo britânico estava disposto a apoiar o estabelecimento de um Estado judeu na Palestina.

Durante a década de 1930, com a ascensão do nazismo na Alemanha e a perseguição aos judeus, a imigração para a Palestina cresceu muito. Começaram a ocorrer, então, rebeliões árabes reivindicando a limitação da entrada dos judeus e a interdição da venda de terras árabes.

2.1. A partilha da Palestina

No final da Segunda Guerra, a Grã-Bretanha transferiu o problema da Palestina para a ONU. Em 1947, a Comissão Especial da ONU para a Palestina recomendou, em seu relatório final, a partilha do território em dois Estados: um judeu e um palestino, ficando a cidade de Jerusalém e seus arredores sob controle internacional.



O Estado judeu ficaria com 53,5% do território, sendo que sua população correspondia a 30% do total, enquanto ao Estado palestino caberia 45,4% das terras para acomodar 70% da população da região. Não era uma divisão justa, mas mesmo assim a proposta foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU, em 29 de novembro de 1947 (presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha). A proposta transformou-se na Resolução 181, que foi aceita pela Organização Sionista Mundial, mas rejeitada pelos árabes por razões óbvias.



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