ORIENTE MÉDIO: RAÍZES DOS CONFLITOS
ATUAIS
No passado, a região que designamos hoje por
Oriente Médio foi o berço da civilização. Foi lá, de acordo com os estudiosos,
que a humanidade conheceu a agricultura, o uso de metais, a urbanização, a
escrita e tantos outros elementos que fazem parte do nosso modo de vida. Entre
esses outros elementos se encontram a religião monoteísta e o Estado
organizado.
Situado
entre três continentes, o Oriente Médio foi o ponto de encontro entre Oriente e
Ocidente e sede de grandes impérios na Antiguidade (Bizantino), na Idade Média
(Islâmico) e nos tempos modernos (Otomano).
Região rica
em petróleo, o Oriente Médio tem sido palco de muitos conflitos após a Primeira
Guerra Mundial, quando desapareceu o Império Otomano. A situação ficou ainda
mais grave depois da Segunda Guerra. Em 1947, mesmo ano em que teve início a
Guerra Fria, a ONU realizou a partilha da Palestina, evento que está na origem do mais antigo e mais duradouro dos
conflitos que assolaram a região. Seus protagonistas são os israelenses, de um
lado, e os árabes (entre eles, os palestinos), de outro. Os conflitos, no
entanto, estendem-se entre os próprios árabes, envolvendo questões econômicas,
políticas e religiosas.
1.
A presença dos
imperialismos britânico e francês
Uma das consequências da Primeira Guerra Mundial foi o desaparecimento
do Império Otomano, constituído pelos turcos mais de seis séculos antes. Com
isso, a Sociedade das Nações, surgida em 1920, colocou sob a autoridade da
França e da Grã-Bretanha amplas áreas do Oriente Médio, até então governadas
por esse império. Esse arranjo ficou conhecido como sistema de mandatos. As duas potências
europeias ficaram também encarregadas de preparar os respectivos povos para se
tornarem Estados independentes em um futuro próximo.
Por esse
sistema, a França ficou responsável pelos territórios da Síria e do Líbano,
enquanto a Grã-Bretanha assumiu a responsabilidade pela Mesopotâmia e pela
Palestina.
1.1. Os
mandatos franceses
Na Síria,
com o fim do domínio otomano, Damasco foi ocupada por tropas comandadas por
Faisal, que seria depois coroado rei do Iraque. Mas seu reinado durou pouco,
pois a Síria havia passado para o mandato francês. Em 1925, em meio a uma
insurreição contra o domínio francês, Damasco foi submetida a um bombardeio que
deixou um saldo de 5 mil vítimas. O movimento rebelde continuou nos anos
seguintes, bem como os bombardeios.
O domínio
francês encontrou forte resistência popular na Síria, resultando em muitos atos
de violência. Em 1936, o governo francês concordou em negociar um tratado de
independência, mas o tratado não chegou a ser colocado em prática. Em 1944, a
independência da Síria foi reconhecida pelas novas potências mundiais, a União
Soviética e os EUA, mas a França continuava resistindo. Finalmente em 1946, sob
pressão, os franceses tiveram de retirar suas tropas, ficando a Síria sob um
governo republicano.
No caso do
Líbano, os franceses promoveram, em 1926, uma Constituição que instituiu uma
república parlamentarista. As cadeiras do Parlamento foram divididas
basicamente de acordo com um critério religioso. A diversidade religiosa era
grande, com destaque para os drusos, cuja religião reúne elementos do
islamismo, judaísmo e cristianismo; os muçulmanos, divididos entre sunitas e
xiitas; cristãos, igualmente divididos em diversos grupos, sendo os maronitas
os mais numerosos e principais aliados dos franceses (e beneficiados na divisão
das cadeiras do parlamento). A independência do Líbano foi proclamada em 1943,
mas as tropas francesas somente se retiraram quatro anos depois.
1.2. O
mandato britânico sobre o Iraque
Durante a
Primeira Guerra, forças britânicas haviam invadido o Iraque e ocupado Bagdá. O
controle dessa região havia se tornado importante para os britânicos, desde que
tinham começado a explorar petróleo no vizinho Irã alguns anos
antes.
Em busca de ajuda contra os turcos otomanos, nessa ocasião o governo da
Grã-Bretanha prometeu apoiar o estabelecimento de governos árabes independentes
após a guerra. A promessa não foi cumprida, muito pelo contrário. A Sociedade
das Nações converteu o Iraque num mandato britânico. O descontentamento causado
por essa decisão provocou uma grande revolta popular, o que obrigou os
britânicos a conceder certa autonomia ao país. O Iraque se tornou uma
monarquia, e o trono foi entregue ao emir Faisal (da dinastia hachemita). Ele ganhou
esse benefício por ser filho do prefeito de Meca que fora aliado dos britânicos
contra os turcos otomanos.
Em 1932, o
Iraque foi admitido na Sociedade das Nações e conquistou a independência com algumas
condições. O governo iraquiano assinou um tratado de “aliança permanente”, pelo
qual a Grã-Bretanha conservava o direito de participar de todas as questões de
política externa do país; utilizar estradas de ferro, rios, portos, campos de
aviação e meios de transportes; e ocupar militarmente alguns aeroportos.
1.3. O
mandato britânico sobre a Palestina
Outro
mandato britânico era a Palestina, nome que nessa época se aplicava a uma ampla
região que incluía os territórios correspondentes atualmente a Israel,
Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jerusalém e Transjordânia (ou seja, a parte que
ficava a leste do rio Jordão).
Em 1921, a
Transjordânia foi separada da Palestina e concedida ao príncipe hachemita
Abdula. Alguns anos depois, converteu-se em Estado independente sob a tutela
britânica e, em 1941, assumiu o nome de Jordânia. Ao terminar oficialmente o
mandato britânico, Abdula fez-se coroar rei da Jordânia, em 1946. Portanto,
nos anos que se seguiram ao final da Primeira Guerra Mundial, os elementos de
uma combinação explosiva estavam dados no Oriente Médio:
- chegara ao fim o Império Otomano, que havia assegurado alguma unidade política até aquele momento e era substituído por novas potências hegemônicas, agora europeias – Grã-Bretanha e França;
- emergia o nacionalismo árabe, embora os projetos de formação de nações fossem frustrados pelo sistema de mandatos que repartia e subordinava os territórios ao controle dos novos impérios;
- entrava em cena outro nacionalismo, o judeu, tendo como objetivo a fundação de um Estado na Palestina, contando com o apoio britânico;
- começava a ser explorado o petróleo, que se tornou, posteriormente, a matéria-prima mais comercializada do mundo.
2.
A
questão de Israel e dos palestinos
Desde a segunda metade do século XIX, era cada vez maior
a imigração de judeus para a Palestina, estimulada pela Sociedade dos Amigos de Sion (Sion é o nome de uma das colinas de Jerusalém). O objetivo dessa
entidade era a formação de um Estado judeu (ou judaico).
O sionismo era um movimento nacionalista, como
tantos outros que atuavam na Europa naquela época – final do século XIX. Os
judeus não tinham um Estado próprio nem um território. E esta passou a ser a
principal meta do sionismo desde a realização de seu primeiro congresso, na
Suíça, em 1897.
O jornalista e sociólogo
Cláudio Camargo relata que, após o Congresso sionista, alguns rabinos de Viena
enviaram dois mensageiros à Palestina para verificar a viabilidade da fundação
de um Estado judeu. Lá chegando, os emissários teriam remetido um telegrama, referindo-se
à presença da população árabe, com a mensagem: A noiva é bela, mas está casada com
outro homem (Camargo,
Cláudio. Guerras árabe-israelenses. In: Magnoli,
Demétrio (Org.). História das
guerras. São Paulo: Contexto, 2008. p. 427.).
A
imigração, porém, continuou, com a instalação de cerca de mil pessoas por ano
na Palestina. O movimento sionista intensificou a ida de judeus que compravam
terras pobres e não rentáveis, o que era favorecido pelos próprios árabes que
viam nisso um bom negócio. Em 1909, foi fundada a cidade de Telavive, que se tornaria
capital após a independência de Israel.
Durante
a Primeira Guerra, Londres tornou-se o principal centro do Sionismo. Em 1917,
James Balfour, ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, associou seu
nome àquela que ficaria conhecida como “Declaração Balfour”, segundo a qual o
governo britânico estava disposto a apoiar o estabelecimento de um Estado judeu
na Palestina.
Durante
a década de 1930, com a ascensão do nazismo na Alemanha e a perseguição aos
judeus, a imigração para a Palestina cresceu muito. Começaram a ocorrer, então,
rebeliões árabes reivindicando a limitação da entrada dos judeus e a interdição
da venda de terras árabes.
2.1. A
partilha da Palestina
No final da
Segunda Guerra, a Grã-Bretanha transferiu o problema da Palestina para a ONU.
Em 1947, a Comissão Especial da ONU para a Palestina recomendou, em seu relatório
final, a partilha do território em dois Estados: um judeu e um palestino,
ficando a cidade de Jerusalém e seus arredores sob controle internacional.
O Estado judeu
ficaria com 53,5% do território, sendo que sua população correspondia a 30% do
total, enquanto ao Estado palestino caberia 45,4% das terras para acomodar 70%
da população da região. Não era uma divisão justa, mas mesmo assim a proposta foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU,
em 29 de novembro de 1947 (presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha). A proposta
transformou-se na Resolução 181, que foi aceita pela Organização Sionista
Mundial, mas rejeitada pelos árabes por razões óbvias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário