sábado, 26 de dezembro de 2015

A   UNIFICAÇÃO  DA  ITÁLIA


Apesar  de  “Itália”  ser  o nome pelo qual era conhecido o território correspondente à atual Itália, o país não existia antes de 1870.

Havia importantes diferenças culturais em cada região da Itália. Seus habitantes falavam (e ainda falam) dialetos bastante diferentes uns dos outros. Ainda hoje, alguém que mora em determinada região italiana pode não entender o dialeto falado em outra. Havia também grandes rivalidades entre os nascidos nas diferentes regiões. Contudo, grande parte dos habitantes da península italiana acreditavam fazer parte de um único povo, o italiano.

Os habitantes da Itália estavam distribuídos em vários Estados:

1. O Reino Lombardo-Veneziano, que pertencia ao imperador da Áustria.
2. Os ducados de Módena e Toscana, governados por príncipes Habsburgos.

Resultado de imagem para unificação da italia3. O Reino das Duas Sicílias, com capital em Nápoles e governado por um ramo da família Bourbon.
4. O ducado de Parma, também governado por um membro da família Bourbon.
5. Os Estados Pontifícios (incluindo Roma), subordinados ao papa.
6. O Reino do Piemonte-Sardenha, governado pelo rei Vítor Emanuel II, da dinastia de Savoia.


A Itália antes da unificação
Vimos que grandes agitações revolucionárias sacudiram boa parte da Europa na primeira metade do século XIX. Em 1820, 1830 e, principalmente, em 1848, já se havia tentado unificar a Itália. Um líder que se destacou nessa luta foi Giuseppe Mazzini, que dedicou a vida à causa da unificação da península italiana.

O lema de Mazzini era: “Nem papa nem rei. Somente Deus e o povo nos abrirão o caminho do futuro”. Ele acreditava que uma revolução popular iria derrubar os governantes estrangeiros e criar um Estado unificado, sob a forma de uma república democrática.

Mazzini e a unificação da Itália

Discurso de Mazzini durante a campanha pela unificação italiana:

“Somos um povo de 21 a 22 milhões de homens designados, há muito tempo, sob o nome de povo italiano, encerrados dentro dos limites naturais mais precisos que Deus já traçou: o mar e as montanhas mais altas da Europa. Falamos a mesma língua, temos as mesmas crenças, os mesmos costumes, os mesmos hábitos; orgulhamo-nos do mais glorioso passado político, científico, artístico conhecido na história europeia.
Não temos bandeira, nem nome político, nem posição entre as nações europeias. Estamos desmembrados em oito Estados, todos independentes uns dos outros, sem aliança, sem unidade de objetivos, sem ligação organizada entre si. Não existe liberdade de imprensa, nem de associação, nem de palavra, nem de petição coletiva, nem de introdução de livros estrangeiros, nem de educação: nada. Um desses Estados, que compreende um quarto da península, pertence à Áustria; os outros dela seguem, cegamente, a influência.” (MAZZINI, Giuseppe. A Itália, a Áustria e o papa. 1845)

Mas o sonho de Mazzini não se realizou. A unificação tinha dois fortes opositores: a Igreja, que dominava os Estados Pontifícios; e uma família real: os Habsburgos, que governavam vários territórios da Itália e à qual pertencia o imperador da Áustria.

O movimento pela unificação foi dirigido pelo Reino do Piemonte-Sardenha. Isto se deu porque, em primeiro lugar, este era o único Estado da península governado por uma dinastia genuinamente italiana. Essa condição dava mais legitimidade a seus governantes para falar em nome dos italianos. Em segundo lugar, porque possuía uma economia diversificada, comparando-se a outras regiões da Itália. Além da agricultura, da pecuária, do comércio e da produção artesanal, havia se iniciado um processo de industrialização na região. Essas atividades econômicas produziam bastante riqueza, que permitia ao Estado arrecadar um grande volume de impostos e se fortalecer.

O Reino do Piemonte-Sardenha era governado pelo rei Vítor Emanuel II, mas quem comandou o movimento de unificação foi seu primeiro-ministro, o conde Camilo di Cavour.

Contra um inimigo poderoso, aliados poderosos

Cavour concluiu que, para unificar a Itália, era preciso, em primeiro lugar, derrotar os austríacos. A explicação para isso é a seguinte: a Áustria era a sede de um grande império, governado pelos Habsburgos; essa família estendia seu poder a diversas regiões da Europa e incluía territórios também na Itália; além do Reino Lombardo-Veneziano, diretamente subordinado ao imperador da Áustria, os Habsburgos governavam Módena e Toscana e mantinham forte influência no restante da Itália.

Com um inimigo tão poderoso para enfrentar, Cavour avaliou que precisaria de apoio externo. Entabulou negociações com Napoleão III, imperador da França, com quem fez um acordo secreto. A França daria ajuda ao Piemonte numa guerra contra a Áustria, em troca de alguns territórios.

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Cavour e Garibaldi, artífices da unificação italiana
Em 1859, Cavour e Napoleão deram início à guerra, que durou dois meses. Embora a luta tenha resultado numa vitória parcial para os dois aliados, foi suficiente para forçar a Áustria a ceder ao Piemonte a região da Lombardia e, à França, os territórios de Nice e Saboia (reveja o mapa).

A primeira vitória sobre a Áustria acabou sendo um estímulo para revoltas populares nos ducados de Parma, Módena e Toscana. Como resultado desses movimentos, os antigos governantes dessas regiões foram expulsos. Em seguida, por meio de plebiscitos, as três regiões foram unidas ao Piemonte.

Ainda em 1859, teve início uma revolta popular no Reino das Duas Sicílias. Imediatamente, o nacionalista italiano Giuseppe Garibaldi organizou um exército de voluntários, conhecido como os “Mil Camisas Vermelhas”. Partindo de Gênova, ele e seus homens desembarcaram na Sicília e, com o apoio da população local, conseguiram vencer o exército de Nápoles, a capital do reino. Por fim, com o auxílio do exército piemontês, que havia avançado pelo centro da Itália, Garibaldi tomou a cidade de Nápoles.

No início de 1861, com a reunião de todos esses territórios, formou-se o Reino da Itália, do qual Vítor Emanuel II foi proclamado rei. Cinco anos depois, o reino se ampliou, com a ocupação de Veneza, que até então estivera em poder dos Habsburgos.

Com a ocupação de Roma,  completa-se a unificação
Faltava, porém, incorporar a cidade de Roma. A tarefa era particularmente difícil por causa da resistência do papa. Desde a Idade Média, além de chefe da Igreja, o papa era também o governante de uma parte da Itália: os Estados Pontifícios, que tinham Roma como capital. O poder do papa, como governante, mantinha-se graças à proteção de um exército francês. O imperador francês, Napoleão III, protegia os Estados Pontifícios porque isso lhe trazia o apoio dos católicos da França.

Em 1870, porém, a situação dos Estados Pontifícios sofreu uma brusca mudança. Travou-se uma guerra entre a França e a Prússia, e o imperador francês, precisando reforçar seu exército, teve de retirar seus soldados de Roma. Aproveitando-se do fato, o rei italiano ordenou a ocupação da cidade, que passou a ser a capital do Reino da Itália.

A ocupação de Roma criou um sério problema nas relações entre o Estado italiano e o papa, que se considerava prisioneiro do rei da Itália. O problema seria solucionado apenas em 1929, quando foi negociado um acordo entre a Igreja e o Estado italiano, que resultou na criação do Estado do Vaticano.

O Norte industrial e o Sul dos latifúndios
A unificação eliminou as barreiras internas e favoreceu a industrialização, mas acentuou as diferenças regionais na Itália. A região Norte contava com uma agricultura intensiva e começou a se industrializar; a região Sul permanecia arcaica, apoiada em latifúndios de agricultura extensiva, longe das fontes de energia e dos grandes eixos econômicos.


A situação da população que vivia no Sul, já bastante difícil, agravava-se pelo crescimento da população juntamente com o aumento do desemprego. Para muitos italianos, a saída era a emigração em busca de melhores condições de vida. Foi assim que, a partir de 1870, os italianos, em número crescente, emigraram para a América. Muitos tomaram o rumo do Brasil, numa época em que o número de escravos existentes no país era insuficiente para as necessidades das fazendas de café.

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