quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

A REFORMA PROTESTANTE


Durante a Idade Média, a vida espiritual na Europa ocidental foi dominada pela Igreja Católica. Não se admitiam divergências sobre esse monopólio da crença. Os rebeldes e dissidentes, considerados hereges, ou se calavam ou eram simplesmente eliminados. Muitos foram queimados vivos nas fogueiras que o Tribunal do Santo Ofício, ou Inquisição, acendeu por todo o continente.

Nessa época, o poder dos reis era praticamente o mesmo que o dos senhores feudais e o Estado moderno ainda estava por ser criado. Na falta de um poder político centralizador, vigorava o conceito de Cristandade, que designava o conjunto de países católicos em oposição ao mundo muçulmano e às regiões orientais não cristianizadas.

No Ocidente, ser cristão significava ser católico, obedecer às regras e aos princípios da Igreja de Roma. Como veremos, essa unidade católica sofreria profundas transformações a partir de 1517, com a Reforma Protestante iniciada por Martinho Lutero.

A crítica à Igreja

Num período de tantas transformações, como as que se verificaram na passagem da Idade Média para a Idade Moderna, era previsível que também ocorressem mudanças nas esferas ideológica e espiritual.
No decorrer do século XV, alguns humanistas apontavam deturpações cometidas pela Igreja e criticavam a corrupção reinante em sua alta hierarquia.

Os abusos cometidos pelo clero disseminavam--se por todas as categorias eclesiásticas. Assim, desde a venda de relíquias sagradas (como pretensos pedaços da cruz em que Cristo foi crucificado), efetuada pelo baixo clero, até a intervenção política em problemas internos dos reinos pelos papas, tudo contribuía para justificar as críticas dos intelectuais humanistas.

De acordo com um desses intelectuais, Erasmo de Roterdã, era preciso que a Igreja assumisse uma posição mais humilde e desvinculada da vida material, conforme pro­punham os ensinamentos dos Evangelhos.
Nesse contexto surgiu Martinho Lutero, que propunha mudanças na Igreja de Roma. Suas propostas provocariam um intenso movimento de transformação religiosa em toda a Europa ocidental, que ficou conhecido como Reforma Protestante.

Lutero e a Reforma Protestante

Martinho Lutero (1483-1546) era de origem germânica. Note que, aqui, não seria correto falar que era alemão, pois a Alemanha não existia naquele tempo. Lutero era monge e teólogo católico. Em 1517, estava ensinando na universidade de Wittenberg, no Sacro Império, quando apareceu por ali um religioso vendendo indulgências, isto é, a absolvição dos pecados. Naquele tempo, as autoridades da Igreja difundiam a ideia de que a compra de indulgências era condição para garantir a salvação dos fiéis.
31 de outubro de 1517. Martinho Lutero divulga as 95 teses, afixando-as na porta da Igreja do Castelo
de Wittenberg, propondo uma reforma na igreja no Século XVI.

Contrário a essa prática, Lutero afixou na porta da igreja da cidade um texto conhecido como 95 teses, no qual discordava em pontos importantes dessa e de outras práticas da Igreja romana católica. Seguiu-se enorme polêmica que culminou com a excomunhão do monge pelo papa.
A situação se parecia com a de João Huss, ocorrida um século antes.

João Huss: herege ou precursor?

A situação se parecia com a de João Huss, ocorrida um século antes. Muito tempo antes de Lutero, alguns reformadores já haviam tentado renovar a doutrina e as práticas da Igreja. Foi o caso, entre outros, de João Huss, que se converteu em líder de uma revolta ocorrida no início do século XV, na Boêmia (hoje, República Tcheca).
A região fazia parte do Sacro Império, no qual a maior parte dos altos cargos da Igreja era ocupada por religiosos alemães. Professor da Universidade de Praga, João Huss pregava a reforma da Igreja, negava o dogma da infalibilidade do papa e lutava contra o predomínio dos prelados alemães.
João Huss foi preso e intimado a negar seus pontos de vista durante o Concílio de Constança. Como se recusasse, foi queimado na fogueira em 6 de julho de 1415. Sua morte radicalizou o descontentamento religioso, que se transformou numa revolta popular e se espalhou por toda a região.

A Reforma de Lutero

Diferentemente de João Huss, Lutero recebeu o apoio de um número muito grande de nobres e integrantes da burguesia. Graças a esse apoio, ele pôde enfrentar a reação da Igreja. 

Com suas propostas reformistas divulgadas rapidamente, graças à imprensa, por todo o Sacro Império, Lutero conquistava a adesão de parcela cada vez maior da população. Muitos dos príncipes germânicos, convertidos às novas doutrinas, passaram a empreender o con­fisco de terras da Igreja. Após alguns anos, as ideias de Lutero levaram os nobres a reivindicar a autonomia religiosa dos principados germânicos em relação a Roma.
Diante dos conflitos que se disseminavam pelo Império, Carlos V, imperador católico, convocou uma assem­bleia para decidir sobre as propostas de Lutero. A assembleia decla­rou que a nova doutrina poderia ser seguida apenas em alguns principados, mantendo-se a hegemonia da Igreja Católica na maior parte do território. Revoltados, nobres e burgueses protestaram violentamente contra essa decisão. A partir desse acontecimento, os se­guidores da Reforma Luterana passaram a ser chamados de protestantes
O conflito se prolongou até 1555, quando foi celebrada a Paz de Augsburgo, concedendo a cada príncipe o direito de escolher a religião de seu principado.
Ainda em 1530, auxiliado por Philip Melanchthon, Lutero redigiu a Confissão de Augs­burgo, que constituiu a doutrina da Igreja Luterana. Entre seus princípios estavam:

        a teoria do sacerdócio universal, segundo a qual qualquer pessoa pode interpretar os textos sagrados e ser “sacerdote de si mesma”, sem necessidade de um representante para intermediar sua relação com Deus;
·       a tese da salvação pela fé, que rejeita a crença católica da salvação pelas obras, especialmente as “falsas boas obras”, pagas com dinheiro;
·         a abolição do celibato dos sacerdotes;
·       a eliminação dos sacramentos, isto é, das cerimônias de bênção aos fiéis, com exceção do batismo e da eucaristia;
·      a substituição do latim pelalíngua germânica nas cerimônias religiosas;
·         a rejeição da hierarquia do clero católico (padre, bispo, arcebispo, cardeal e papa);
·         aceitação da Bíblia (ou Sagradas Escrituras) como única fonte de autoridade infalível.

Ao desenvolver seus próprios preceitos e criar uma nova prática religiosa, Lutero dividiu a cristandade, quebrando o monopólio da Igreja Católica.

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