O BARROCO E O BARROCO MINEIRO
Antes de falar do Barroco
Mineiro, é preciso adiantar alguns esclarecimentos a respeito do Barroco, do
qual ele se origina.
Barroco é o estilo artístico que
surgiu na Itália, no final do século XVI e prevaleceu nas duas centúrias seguintes.
Da Itália, difundiu-se para vários países da Europa e foi levado por missionários
religiosos para a América e Ásia.
Quando o Barroco surgiu, a Europa
passava por muitas mudanças.
Uma era de natureza religiosa.
Tratava-se da Reforma Protestante, iniciada por Martinho Lutero, em 1517, e que
deu origem ao protestantismo. A religião reformada se espalhou com muita rapidez
por vários países europeus, refletindo o descontentamento de muitos cristãos
com a Igreja de Roma.
A Reforma representou um duro
golpe no domínio absoluto que a Igreja Católica havia exercido, até aquele
momento, sobre todos os cristãos da Europa. Mas a Igreja, diante disso, não
permaneceu de braços cruzados. Pelo contrário.
Reagiu com muita disposição,
declarando guerra aos hereges e iniciando a Contrarreforma,
um movimento para renovar e fortalecer a fé católica. Um esforço enorme foi
desenvolvido para impedir que mais católicos se tornassem protestantes e,
ainda, para tentar trazer de volta aqueles que se haviam desgarrado do rebanho.
Nesse esforço, todos os meios foram empregados, sendo o mais eficiente a atuação
dos Jesuítas. Outro meio importante, e que diz respeito ao tema deste trabalho,
foi a utilização da arte.
A Igreja Católica atribuiu um
papel especial à arte, ao contrário dos protestantes, que aboliram imagens e
pinturas de seus templos. A Igreja considerou que a representação de uma história
através da arte seria mais eficaz e faria mais pela devoção do que o simples
relato dessa história.
Para que a arte cumprisse seu
papel nesse processo foi preciso, porém, que também ela passasse por uma
profunda mudança. Isto porque os estilos artísticos que estavam em vigor
naquele momento eram estáticos, rígidos, pagãos ou muito neutros, incapazes, enfim, de transmitir
as novas características que a Igreja queria dar ao catolicismo. Era preciso
que a arte contribuísse para despertar nos fiéis uma religiosidade mais
intensa.
A Igreja encontrou o estilo artístico
adequado aos seus objetivos ao se utilizar de tendências que já vinham se
manifestando na arte e que consistiam na livre interpretação das formas clássicas
do Renascimento.
Em função disso, modificou-se o
interior das igrejas: a ornamentação tornou-se mais rica, mais colorida e mais
movimentada. As imagens da Virgem, de Jesus Cristo e dos santos ganharam um
novo aspecto, expressando um especial acento de dramaticidade e devoção.
A Igreja converteu a arte num
meio de propaganda, transmitindo emoção para, através dela, chegar à mente das
pessoas. Como escreveu um importante estudioso do tema: “A arte foi utilizada para propagandear em suas imagens as ideias
religiosas revitalizadas e concebidas segundo o novo espírito e para transmitir
sentimentos e estados de ânimo às massas devotas”.
Foi nessas condições que surgiu o
Barroco. Não se quer dizer que a
Igreja tenha inventado o novo estilo, e sim que ela se aproveitou de tendências
que já vinham em desenvolvimento e as direcionou no sentido que lhe
interessava. O Barroco pode, assim, ser considerado como a arte da Contrarreforma
e como uma expressão do pensamento do Concílio de Trento.
No início, o novo estilo ainda não
se chamava Barroco - aliás, não tinha nome algum. Só muito mais tarde, recebeu
esse nome, atribuído por aqueles que se mantiveram fiéis ao Classicismo. Na
opinião destes, o Barroco era uma arte exagerada,
extravagante. De fato, a palavra barroco tinha, na época, um sentido
depreciativo: na língua portuguesa, era empregada para designar uma pérola de formato irregular; na língua
italiana, designava um raciocínio
defeituoso, tortuoso. Apenas no final do século XIX, a palavra barroco
assumiu um sentido neutro, designando um estilo artístico que finalmente foi
aceito como tal.
Apesar das críticas que recebeu,
o novo estilo se impôs. Esse triunfo se deveu a uma conjunção de fatores. Além
do interesse imediato da Igreja, certamente o Barroco correspondeu a anseios
muito generalizados e, por isso, passou a caracterizar toda uma época - a época Barroca. E mais, com seu apelo à emoção e à devoção, a nova arte reforçava os princípios da autoridade e da
hierarquia e, portanto, convinha não apenas à Igreja Católica mas também aos monarcas
absolutistas e à nobreza - ou seja, aos setores socialmente dominantes da época.
A época Barroca vigorou por cerca de duzentos anos, estendendo-se até o final
do século XVIII.
O estilo barroco foi empregado na
construção de palácios e na decoração de seus interiores, na estatuária, nos
chafarizes etc., não apenas nas artes plásticas, mas em todas as formas de
manifestação artística, incluindo o teatro, a música e a literatura. Mas foi,
certamente, na construção religiosa que a arte barroca se realizou de forma
mais completa.
Na construção de igrejas
aplicou-se um dos princípios básicos do Barroco, que consistia na interação da
arquitetura, da escultura e da pintura. Os três ramos da arte plástica se
fundiram para criar um ambiente em que o envolvimento emocional do observador
seja completo. Houve preocupação maior com o interior do que com o exterior. De
fato, foi no interior da igreja que o artista empregou todo seu talento
criativo, usando em profusão de materiais ricamente coloridos. Os recursos da
policromia foram empregados para realçar as expressões das imagens sagradas. De
ouro se recobriram folhas de acanto, rosas, girassóis, pelicanos, fênix, cachos
de uva e outras representações de animais e plantas. Figuras retiradas da
mitologia greco-romana passaram a ser largamente empregadas e ganharam novos
significados. O Barroco converteu ornatos decorativos em símbolos religiosos.
Arte e religião se fundiram e se complementaram. O propósito era deliberado:
realçar a grandeza da fé Católica, envolver o observador e leva-lo a um estado
de encantamento.
O Barroco é, aliás, uma arte
ilusionista por excelência. Não é outro o efeito que tinham as majestosas
colunas retorcidas dos altares. O movimento ascendente, contínuo, simbolizado
pela coluna retorcida, era uma das ideias mais fortes da arte barroca. O
movimento também estava presente nas roupagens dos santos talhados em madeira
ou pedra, que passam a impressão de estar sendo batidas pelo vento. O artista
barroco se esmerou nas expressões das imagens, trabalhadas para transmitir uma
determinada emoção - de agonia, de devoção ou de êxtase - e nos gestos teatrais,
de que é um exemplo significativo a coreografia dos Profetas criada pelo
Aleijadinho que ainda podemos ver em Congonhas (MG). O teto das igrejas passou
a ser cuidadosamente aproveitado pelo artista, na perspectiva da arquitetura
ilusionista, para simbolizar o movimento de ascensão. É essa a sensação que
experimentamos, por exemplo, quando entramos na Igreja de São Francisco de
Assis, em Ouro Preto, e contemplamos seu magnífico teto pintado por Manuel da
Costa Ataíde. É uma representação grandiosa da Virgem rodeada de anjos. Fisicamente,
o teto está ali, a alguns metros, mas se tem a ilusão de que ele se projeta para o infinito, como se fora o próprio
Céu.
Outro aspecto interessante da
ornamentação barroca é o seu caráter didático, de extraordinária importância,
num tempo em que quase toda a população era analfabeta. Ao usar imagens e pinturas
reproduzindo passagens da Bíblia e da vida dos santos, a Igreja utilizava-se de
recurso poderoso para educar seus fiéis. O Barroco é uma arte de fácil
entendimento e assimilação. diferentemente do Classicismo, excessivamente
intelectualizado.
Todo estilo artístico tem sua época
após a qual tende naturalmente a desaparecer. O Barroco correspondeu a um
determinado momento histórico, agitado por lutas religiosas intensas. Era, sobretudo,
uma arte engajada, a serviço da fé Católica, então em luta contra o Protestantismo.
Mas, com o passar do tempo, os antagonismos religiosos amainaram. A
sensibilidade estética muda e a arte se adapta aos novos tempos e às novas
necessidades. Isso também aconteceu com o Barroco.
O Barroco abandona o velho espírito
combativo para assumir uma nova fisionomia: surgiu, assim, o Rococó, uma arte
controvertida, algumas vezes considerada um novo estilo, outras vezes tomada
como a última fase do Barroco, uma espécie de Neobarroco.
Segundo Michael Keatson, o Rococó
surgiu quando o rei da França, Luis XIV, pediu uma decoração para os aposentos
da jovem duquesa de Borgonha, de treze anos de idade, noiva de seu neto mais
velho. “Deve haver uma atmosfera de
meninice por toda a parte”, sugeriu o rei. Quando o arquiteto apresentou o
resultado, todos gostaram.
“Os desenhos mostram-nos que o teto era coberto de desenhos em arabescos
mais caprichosos do que quaisquer exemplos anteriores e revelando um toque
quase caligráfico. Os motivos consistiam em elos e gavinhas de folhas de
acanto, grinaldas de flores, fitas, setas e arcos rústicos estilizados, tudo
desfiado como trabalho de filigrana, com cães de casa, pássaros e figuras de
donzelas suspensos entre as folhas e os ramos”
A menção ao Rococó é necessária
porque ele se fez presente no Barroco Mineiro, que assumiu muitas de suas características,
em sua terceira fase. Em muitas das igrejas setecentistas de Minas, os artistas
empregaram, num mesmo espaço, as ornamentações barroca e Rococó,
simultaneamente. E nem por isso o conjunto perdeu a unidade. Contudo, é
perfeitamente possível identificar o que pertence a cada um dos estilos.
O Rococó - palavra derivada do
francês “rocaille”, rocalha - teve, em sua época, largo emprego como arte
decorativa. Na arquitetura, foi utilizado principalmente na ornamentação de
interiores, fazendo uso de arabescos, volutas, reprodução estilizada das letras
C e S e outros elementos ornamentais. Sua marca é a suavização das formas,
dando-lhes leveza e elegância. Seu desejo é alcançar o deleite visual. É,
portanto, uma arte que não tem preocupações intelectuais ou didáticas - é
intuitiva e amoral. Revelou um acentuado gosto pelo exótico que se revelou, por
exemplo, no uso de elementos decorativos orientais.
Os jesuítas, citados
anteriormente, eram membros da Companhia de Jesus, criada em 1534 e
oficializada em 1540. Seu fundador foi Inácio de Loyola, um nobre espanhol, que
servia no Exército. Enquanto convalescia de um grave ferimento, passou por uma
transformação radical, convertendo-se num católico fanático. Trocou, então, o serviço
das armas pelo estudo de Teologia e consagrou-se à luta contra os hereges.
A Companhia de Jesus foi a
instituição católica que mais se bateu em defesa da Contrarreforma. E não só na
Europa. Colocaram-se na linha de frente da colonização portuguesa e espanhola e
levaram a fé Católica aos nativos da Ásia e da América. Chegaram ao Brasil, em
1549, e aqui permaneceram até 1759, quando foram expulsos pela Coroa
portuguesa, temerosa de seu poder.
Durante o tempo em que aqui
permaneceram, os padres da Companhia exerceram grande influência. Aliando os
trabalhos de catequese e de educação, ergueram colégios e capelas por toda parte.
Adotaram na arquitetura religiosa o estilo Barroco, que nascia nesse momento.
Efetivamente, antes do final do século XVI, os jesuítas já haviam construído,
segundo o novo estilo, igrejas em Roma e Lisboa que foram adotadas como padrão
para suas construções em todo o mundo.
Não quer isto dizer que tivessem o monopólio do estilo nos domínios
portugueses, mas dada a predominância cultural por eles exercida, tanto em
Portugal como no Brasil, a expressão “estilo jesuítico” passou a ser tomada
como sinônimo de Barroco.
Os jesuítas não atuaram
diretamente na região das minas. As ordens religiosas foram ali proibidas. Nada
de frades e monges; nada de conventos e mosteiros. A Coroa queria com essa
proibição evitar o desvio de ouro que os religiosos faziam através dos “santos
de pau-oco”.
Somente as Ordens Terceiras, formadas de leigos, e o clero secular,
formado de padres e bispos, tinham permissão para trabalhar na região de mineração.
A ausência dos jesuítas teve influência
no desenvolvimento da arte barroca na região das minas, como veremos mais
adiante.
A igreja que se tornou padrão se
constitui de um edifício, cuja planta baixa apresenta forma de um retângulo,
sugerindo uma cruz, a chamada “cruz latina”. No seu interior, encontramos os
seguintes elementos:
a) a nave, ocupando a maior parte
do retângulo, é o local onde os fiéis permanecem durante os serviços
religiosos; dotada de altares laterais, ela serviu também, por muito tempo, de
local de sepultamento;
b) a capela-mor, ao fundo,
separada da nave pelo arco-cruzeiro; nela se localizam o altar principal e o
respectivo retábulo, ambos à vista dos fiéis;
c) a sacristia, ao lado ou atrás
da capela-mor, local onde o padre se prepara para o serviço religioso; possui
sempre um grande arcaz, usado para guardar vestes e objetos sagrados;
d) os púlpitos, na nave da
igreja, num plano elevado, de onde os sacerdotes faziam as pregações
dirigindo-se diretamente aos fiéis. São dois, simetricamente dispostos: do lado
direito dos fiéis, o das Epístolas (porque ali são lidas as epístolas), e, do
lado oposto, o dos Evangelhos (porque são lidos os evangelhos durante a missa).
e) o coro, também na nave, sobre um mezanino situado logo à entrada da
igreja.
Do ponto de vista dos objetivos
da religião, é uma planta extremamente funcional. Ela sugere um afunilamento, a
partir da entrada. Uma vez no interior, o olhar do observador passeia pelos altares
laterais e se encaminha naturalmente para o altar-mor, onde resplandece a
imagem principal no alto do trono.
Exteriormente, predomina a
simplicidade. Em geral, a parte frontal da igreja é dominada por ampla fachada.
A torre sineira, que anteriormente ficava em local afastado, foi colocada junto
do edifício ainda que do lado de fora. E não apenas uma, mas duas, para
garantir o equilíbrio da composição. No alto da fachada, entre as torres, fica frontão
sobre o qual se eleva a cruz.
Uma das características marcantes
da igreja barroca é a diferença de tratamento dado ao interior, relativamente
ao exterior. De fato, desde o século XVI, prevaleceu a norma de fazer-se o
interior mais rico do que o exterior, segundo a concepção de que “o interior de
uma igreja, por simbolizar o espírito de Deus, simboliza seu corpo”.
Em Minas, no final do período,
sob influência do Rococó, esse princípio sofreu uma inversão. Houve uma simplificação
paulatina do interior, com uma redução cada vez mais acentuada da talha dourada
e da decoração e, paralelamente, cuidou-se mais do exterior, que passou a
merecer belos frontões, portadas finamente esculpidas e outros ornamentos
embelezadores.
Sem abandonar a forma ideal da “cruz
latina”, a construção das igrejas mineiras passou, no espaço de poucas décadas,
por três fases, ou gerações,
consecutivas, apresentando diferenças de uma para a outra. Essas diferenças
podem ser notadas no tamanho, no material empregado e na decoração.
A primeira geração foi a das capelinhas, construídas pelos primeiros
mineradores. O fervor religioso dos bandeirantes fazia com que, em suas andanças,
sempre levassem um pequeno oratório, com a imagem do santo preferido. Tão logo
se estabeleciam, levantavam uma tosca capelinha, de pau-a-pique, coberta de
palha, onde o pequeno oratório era transformado em altar.
Em torno dessa igrejinha logo
erguiam-se casas, dando origem a um arraial. À medida que o arraial se
consolidava, a capelinha primitiva era substituída por uma construção maior e
definitiva. Com essa mudança, tinha, então, início a segunda geração, que perdurou até meados do século. É aquela das
grandes igrejas matrizes, que chegaram até os nossos dias. No início,
apresentavam uma fachada muito simples, como ainda podemos ver na Matriz de Sabará.
Posteriormente, a maioria dessas fachadas sofreu reformas embelezadoras,
perdendo um pouco da simplicidade primitiva. Mas, desde o começo, mereceram um
interior ricamente enfeitado, obedecendo ao gosto artístico da época, muito próximas
do estilo jesuítico. Em sua construção, empregava-se, de ordinário, o tijolo de
adobe e a taipa de pilão.
Segundo Fritz Teixeira de Sales, o que ocorreu foi oo seguinte:
Os primeiros povoadores organizavam, reunindo os ´homens
bons´ da terra, a irmandade do Santíssimo Sacramento, que se encarregava da
construção da matriz. Depois iam surgindo novos agrupamentos sociais que
criavam novas irmandades. Eram então erguidos os altares laterais da igreja.
Com o desenvolvimento do processo de aglutinação desses grupos, surgiram
conflitos e antagonismos constantes; em consequência desses choques, as
irmandades abandonam as matrizes, construindo seus próprios templos, que são
capelas filiais espalhadas em todas as direções.
Com essas capelas, teve início, a
partir da década de 1760, a construção de igrejas da terceira geração, patrocinadas pelas Ordens Terceiras, com o
emprego da pedra e cal. Inaugurava-se aquele que tem sido chamado “estilo
Aleijadinho”: portadas monumentais, embelezamento do exterior e simplificação
do interior, ornamentação Rococó, predomínio do branco sobre a talha dourada.
Em resumo: a construção das
igrejas, implicando o tamanho, o material empregado e a decoração, passou por
três gerações, que vale a pena repetir: as capelinhas, as igrejas matrizes e as
capelas das ordens terceiras. O leitor deve prevenir-se para não confundir a evolução
na construção das igrejas com a evolução
do estilo artístico em Minas.
Em Minas, a ausência dos jesuítas
e o relativo isolamento da região resultaram na incorporação de características
locais, o que deu ao Barroco uma fisionomia própria. O artista mineiro, menos
sujeito ao rigor dos padrões, misturou, com rara habilidade, elementos de
diferentes fases e estilos. Exagerou no uso da talha dourada. Na falta do mármore
empregou a pedra sabão. Sentiu-se à vontade para dar traços mulatos na
representação das figuras sagradas. Empregou, já no fim do período, as formas
arredondadas. Com estas e outras inovações, o estilo regionalizou-se,
resultando no chamado Barroco Mineiro, que muitos consideram a primeira manifestação
de uma arte genuinamente nacional.
A versão mineira do Barroco
passou por mudanças e na sua evolução podemos identificar três fases:
· A primeira, denominada
Nacional-Português, predominou do início do século XVII até 1740,
aproximadamente;
· A segunda fase, denominada Dom
João V, estendeu-se pelos vinte anos seguintes;
· A terceira fase, chamada Rococó, desenvolveu-se
a partir dos anos 1760.
Características de cada fase
1)
As igrejas
da primeira fase do Barroco Mineiro caracterizam-se pela presença dos arcos concêntricos
no retábulo do altar-mor, pela riqueza da talha dourada e pela exuberância da
ornamentação, empregando-se, em profusão, elementos inspirados na flora e na
fauna.
2)
Na segunda
fase, aparecem o dossel no alto do retábulo do altar-mor, uma maior presença de
anjos e um espaçamento maior entre as colunas do retábulo, para a colocação de
imagens de santos.
3)
Na terceira
fase, desaparece o dossel, há pouco emprego da talha dourada e predominância
dos fundos brancos.
Mas nem sempre a identificação é
tão simples, uma vez que raramente se encontram tipos puros. O que se nota, com
mais frequência, é que numa mesma igreja os altares são diferentes entre si, correspondendo
a mais de uma fase do Barroco Mineiro. Isso se deveu, em grande parte, ao fato
de que a construção dessas igrejas era demorada, contratando-se com diferentes
artistas a execução de cada uma de suas partes.
Estas entidades tiveram sua
origem na Europa, durante a Idade Média. O iniciador do movimento foi São Bento
(em latim, Benedictus) que fundou na Itália,
no século VI, o primeiro convento e criou para seus monges uma regra (do latim regulare, daí o nome regular
dado a esse tipo de clero). Essa foi a Ordem dos Beneditinos. Depois vieram
franciscanos, dominicanos, carmelitas e outros. Inicialmente eram formadas
apenas por homens - os monges e os frades - e constituíram a Ordem Primeira.
Depois veio a versão feminina - as monjas e as freiras - e constituíram a Ordem
Segunda. Por último, apareceu a Ordem Terceira, formadas por leigos.
Com o inicio da colonização,
essas entidades foram criadas também no Brasil.
Em Minas Gerais, onde a Coroa,
como foi dito anteriormente, proibiu a atuação do clero regular, ganhou grande importância
a atuação das Ordens Terceiras. Organizavam-se para realizar festas religiosas,
construir igrejas, cemitérios, em benefício dos sócios, devotos do santo
padroeiro da irmandade.
Geralmente, elas se organizavam
de acordo com critérios raciais e de riqueza. Havia igrejas de brancos, de
negros, de mulatos, de ricos e de pobres. Entre as mais ricas, estavam as de São
Francisco e do Carmo. Eram extremamente fechadas.
A Ordem Terceira de São
Francisco, de Vila Rica, por exemplo, proibia a entrada de mulatos, judeus,
mouros, hereges e seus descendentes até a quarta geração.
A Irmandade do Carmo de Vila
Rica, por sua vez, admitia somente pessoas de "sangue limpo, boa vida e
costumes, e capazes de pagar sua subscrição".
Essas entidades acumulavam grande
riqueza e eram responsáveis pelos eventos sociais que ocorriam na cidade: procissões,
cerimônias reais, festas dos padroeiros. Emprestavam dinheiro, construíam
igrejas, cemitérios e, até, hospitais. Havia grande concorrência entre elas.
Cada qual queria erguer uma igreja maior e mais bonita, o que explica a existência
de tantas igrejas nas cidades mineiras. E as pessoas, conforme sua cor ou
riqueza, filiavam-se a uma ou a outra dessas ordens.
São Francisco e Nossa Senhora doCarmo tornaram-se os principais santos padroeiros das igrejas mineiras. É justo
que dediquemos algumas linhas sobre essas duas devoções tão populares em Minas
Gerais.
São Francisco de Assis, o mais querido
dos santos católicos, nasceu em Assis, na Itália, em 1182. Seu pai estava na
França quando ele nasceu e, ao retornar, encontra-o já batizado; recebera o
nome de Giovanni (João). O nome Francisco surgiu depois. Conta a tradição que
seu pai, tendo voltado encantado com as coisas da França, teria passado a
chamar o filho de “Francesco” (Francês,
em italiano). Há uma outra versão, segundo a qual o nome viria da paixão do
jovem João pela literatura francesa. De uma forma ou de outra, o apelido
Francesco, “Francês”, pegou e ele ficou sendo a primeira pessoa a se chamar
Francisco em toda história.
Sua família, os Bernardone,
reunia ricos comerciantes no ramo de tecidos. Também nesta atividade estava
Francisco, quando em 1202 participou das lutas entre Assis e Perugia e foi
feito prisioneiro. Libertado cerca de um ano depois, adoeceu e, ao
recuperar-se, teve uma visão de Cristo, que mudou sua vida. Abriu mão da
riqueza da família e passou a dedicar-se inteiramente ao serviço de Deus,
vivendo como eremita, em constante oração. Apesar de leigo, dedicou-se até a
morte à pregação e catequese.
Aos poucos, cercou-se de muitos discípulos
que faziam, como ele, voto de pobreza. Foi o fundador da Ordem dos Frades
Menores, dos Irmãos e Irmãs da Penitência, das Clarissas (esta juntamente com
Santa Clara). Dentre os elementos de sua teologia encontramos sua concepção de
que a natureza é um espelho de Deus, e que se deve considerar todas as criaturas
ou elementos da natureza como irmãos - irmão sol, irmã morte, irmão passarinho,
etc.
Em 1224, no Monte Alverne
(Itália), recebeu, numa visão, os estigmas ou os cinco sinais de Cristo. Morreu
em 1226 e foi canonizado apenas dois anos depois, em 1228, pelo Papa Gregório
IX. Em torno de sua figura surgiram varias histórias fantásticas e lendas,
como, por exemplo, a de que falava com animais; a de que, ao cruzar um dia com
um leproso, lutou contra a repulsa inicial que a pessoa lhe causava e chegou
mesmo a beijá-la, passando a partir daí a conviver assiduamente com leprosos;
ou ainda que, indo ao oriente, entrou em campo muçulmano e depois de pregar ao sultão
conseguiu dele permissão para visitar os lugares santos da Palestina.
Nas igrejas barrocas mineiras, as
representações de São Francisco costumam vir acompanhadas de alguns símbolos característicos,
aparecendo com mais frequência as cinco chagas, o sol, uma caveira ou uma
ampulheta.
É festejado no dia 4 de outubro.
Os carmelitas tiram seu nome do
Monte Carmelo, localizado na Palestina, onde nos tempos bíblicos o profeta
Elias teria fundado uma comunidade. Muito tempo depois, os membros dessa
comunidade se converteram ao Cristianismo ao ouvirem as pregações de São Pedro
em Jerusalém, e ergueram uma capela em homenagem à Virgem Maria.
A origem histórica da ordem dos
carmelitas pode ser atribuída a Bertoldo, que no tempo das Cruzadas,
encontrando-se no Oriente, retirou-se com um pequeno grupo para o Monte
Carmelo, adotando uma rigorosa regra de vida eremítica, aprovada em 1226 pelo
Papa Honório III. Com o fracasso das Cruzadas, os carmelitas migraram para o
Ocidente. Em 1247, abandonaram a austera disciplina da vida monástica,
espalhando-se pelo Ocidente e se tornando uma das mais populares ordens
mendicantes. Como de praxe, constituíram as três ordens: a primeira para os
homens, a segunda para as mulheres e a terceira para os leigos.
Uma reforma completa da ordem
carmelita foi realizada por Tereza de Ávila (1515-582) que fundou, na Espanha,
um pequeno convento e restabeleceu, com a ajuda de São João da Cruz, a antiga
disciplina.
A devoção a Nossa Senhora do
Carmo está intimamente ligada à prática do escapulário. Consta que a Virgem
teria aparecido a São João Stock, Superior Geral dos Carmelitas, a quem
apresentou o escapulário, uma faixa de lã marrom que se coloca no ombro e
atravessa o peito e as costas; entre os favores que o escapulário acarreta
estaria retirar a alma do portador do purgatório no primeiro sábado após morte.
Os carmelitas chegaram ao Brasil
praticamente no começo da colonização e fundaram, em Recife, seu primeiro
convento.
As
decisões da Contrarreforma foram tomadas no Concílio de Trento (1545-63). O concílio
é uma reuni
no de altos dignitários da Igreja em que se
tratam assuntos dogmáticos, doutrinários ou disciplinares. Via de regra, o concílio
leva o nome da cidade onde se reúne.
Werner
Weisbach -
El barroco, arte de la
contrarreforma. p. 58.
Roland
Mousnier -
O sJculo
XVII. In: Os s
Jculos XVI e XVII; os progressos da civiliza
Hno
europ
Jia. p. 205.
Michael
Keatson -
O Barroco. In: O mundo da
arte. p. 124.
A igreja construída em Roma pelos jesuítas foi
a Igreja de Jeus, com projeto de Vignola, de 1568; em Lisboa, a Igreja de São
Vicente de Fora, com projeto do italiano Filippo Terzi, iniciada em 1582.
Segundo J. Bury, as fachadas das igrejas jesuíticas, no mundo português, podem
ser identificadas como misturas mais ou menos bem sucedidas dessas duas
igrejas. John Bury -
Arquitetura e Arte
Colonial no Brasil. p. 51.
Santo
de pau-oco era uma imagem de madeira utilizada para o contrabando do ouro,
escondido em seu interior.
Do
latim
seculare, referente a século.
Diz-se do clero que vive no sé
culo,
no
mundo, em oposição àqueles que
pertencem às ordens religiosas, e se dedicam a uma vida de reclusão
.
John Bury - Op. Cit,. p. 52.
Fritz
Teixeira de Salles-
Vila Rica do Pilar,
p. 46.