sexta-feira, 24 de julho de 2015

 IMPÉRIO  DE  CARLOS  MAGNO

      Após  a  queda  do  Império  Romano  no  Ocidente, os germanos fundaram vários reinos. Entre eles, o dos francos merece destaque especial, pois teve grande influência na Europa no início da chamada Idade Média, o período que agora vamos começar a estudar.
O reino franco abrangia a Gália (onde hoje se encontra a França) e parte do território que hoje pertence à Alemanha. O nome França veio do nome desse povo. Até pouco tempo, a moeda francesa era o franco, que acabou sendo substituído pelo euro – a moeda dos países que hoje fazem parte da União Europeia.
     Os francos anteriormente se dividiam em diversos reinos, que foram unificados por um chefe guerreiro que se tornou rei chamado Clóvis. Ele deu início à dinastia merovíngia (palavra derivada de Meroveu, personagem citado por um antigo texto do século VI como antepassado de Clóvis). Clóvis recompensava seus chefes militares com doação de terras, um hábito comum na época. Com isso, ele favoreceu a formação de uma nobreza entre os francos.
     Carlos Magno, outro rei franco, expandiu ao máximo o território sob seu domínio. Sua intenção era criar um grande império, abrangendo diversos povos.

No reino dos francos, a Igreja e o Estado se unem: uma conversão vantajosa para ambas as partes

     Um dos acontecimentos mais importantes do reinado de Clóvis foi a conversão do próprio rei ao cristianismo. Não se sabe a data exata em que esse fato ocorreu; provavelmente entre 496 e 506. Seus guerreiros também se converteram. Ao adotar o cristianismo, o monarca teve seu poder político fortalecido, pois tornava-se “rei pela graça de Deus” e passava a contar com o apoio da Igreja. Também para a Igreja essa conversão era importante. De um lado, isso fornecia um poderoso impulso para que se ampliasse a população cristã. De outro, a Igreja passava a contar com o apoio do rei.
     O resultado foi que, nesse aspecto, as coisas voltaram a ficar como eram nos últimos anos do Império Romano. Isto é, restabeleceu-se a antiga aliança entre o poder religioso da Igreja e o poder político-militar do Estado.

Surge o Império Carolíngio: Um representante de Deus na Terra?

     Em 751, o último rei merovíngio foi destronado, e a coroa do reino dos francos foi parar nas mãos de Pepino, o Breve, que até então administrava o reino exercendo o cargo de “prefeito do palácio”. Com ele, teve  início outra dinastia, chamada de carolíngia. Essa dinastia ganhou esse nome por causa de seu mais importante monarca: Carlos Magno (771-814), filho de Pepino. Vitorioso em inúmeras campanhas militares, Carlos Magno fez com que o reino franco chegasse até sua extensão máxima. (Merovíngio: relativo à dinastia dos reis francos iniciada por Meroveu.)
     No ano 800, Carlos Magno estava na Itália em combate contra os adversários do papa, o líder supremo da Igreja católica. No Natal daquele ano, enquanto o rei franco rezava na igreja de São Pedro, em Roma, o papa colocou sobre a cabeça dele a coroa imperial, aclamando-o “Augusto, coroado por Deus, grande e pacífico imperador dos romanos”.

Mapa do Império de Carlos Magno


“Imperador dos romanos”? Como, se o Império Romano já tinha acabado havia mais de trezentos anos?

     É que muitos governantes europeus da Idade Média ainda esperavam construir um império mundial. A Igreja era a primeira a alimentar essa ideia. Ela desejava que todos os povos estivessem unidos debaixo de um mesmo governo, fazendo parte da mesma religião — a cristã. 
     Depois que recebeu a coroa imperial das mãos do papa, Carlos Magno passou a ser visto como o representante de Deus na Terra. Seus deveres passaram a ser: manter a paz e a justiça, proteger os fracos, defender a Igreja e contribuir para que a fé católica se espalhasse pelo mundo.

Poema: A canção de Rolando

     Carlos Magno aparece como herói em muitas histórias que chegaram a nós, verdadeiras ou lendárias. Uma dessas histórias é A canção de Rolando (de autor desconhecido).
     Trata-se de um grande poema épico carolíngio, um dos mais antigos da língua francesa. Os fatos nele citados são fruto da imaginação do autor; porém, têm alguma relação com fatos que realmente aconteceram. Por exemplo, o ponto alto do poema é uma batalha entre os francos, comandados por     Carlos Magno, e os sarracenos (como eram chamados os muçulmanos que viviam na Espanha).
     Segundo o poema, essa batalha foi travada no desfiladeiro de Roncesvalles, localizado nos Pireneus, e dela participou o guerreiro franco Rolando. De acordo com documentos históricos, as tropas de Carlos Magno foram de fato surpreendidas por inimigos nesse lugar, no ano de 778, e tiveram de combater, não os sarracenos, e sim os bascos. É verdade também que, nesse combate, morreu um chefe guerreiro chamado Rolando.
     Ainda de acordo com a história contada no poema, Carlos Magno havia conquistado quase toda a Espanha, que estava sob domínio dos muçulmanos. Faltava apenas a cidade de Saragoça.
No retorno de uma batalha, Rolando, que comandava a retaguarda do exército, caiu em uma armadilha. Cercado pelo inimigo, negou-se a soar a trompa para pedir auxílio a Carlos Magno. Parecia-lhe pouco digno de um valoroso cavaleiro pedir ajuda para o combate. Para ele, era uma honra morrer pela França e pelo imperador.
     Rolando lutou bravamente com seus companheiros, atingindo o limite de suas forças. Quando praticamente todos os guerreiros franceses já haviam morrido na batalha, ele decidiu soar sua trompa, para avisar Carlos Magno de que os inimigos tinham levado a melhor.
     Ferido, o cavaleiro ainda caminhou um pouco, mas acabou caindo, desfalecido. Um valente guerreiro muçulmano que se fingia de morto ali perto admirou-se com a espada de Rolando e tentou pegá-la de sua mão. Rolando acordou e o matou. Ele sentiu a morte aproximar-se e, para que ninguém mais lhe levasse a espada (que tinha um nome: Durendal), tentou quebrá-la, golpeando-a contra uma rocha.
Mas a espada não se partiu. Rolando atirou-a então em um rio envenenado.
     Ao chegar para socorrê-los, Carlos Magno só encontrou os cadáveres de seu exército. Marchou, então, contra o inimigo e tomou Saragoça. Ao voltar para a França, falou da morte de Rolando para Alda, a noiva do bravo cavaleiro. Ela não suportou a dor e morreu.


Delegar para governar

     Como fazer para governar um território tão grande como o Império Carolíngio? A solução encontrada por Carlos Magno foi dividir seu império em partes menores, chamadas de ducados e condados. Quando se localizavam nas fronteiras, essas unidades recebiam o nome de marcas. Por estarem nas fronteiras, essas unidades eram bem fortificadas e tinham a função de proteger o território do império contra invasores. Para o governo dessas unidades, eram nomeados duques, condes e marqueses, escolhidos entre as pessoas de maior confiança do imperador. Eles ficavam encarregados de aplicar leis, arrecadar impostos etc. Rolando, por exemplo, que participou da batalha de 778, era um conde.

Educando o clero e a nobreza: o imperador apoia as escolas

       Ao reorganizar seu Império, Carlos Magno percebeu a necessidade de elevar o nível de instrução do clero e da nobreza, para contar com representantes mais qualificados. Por isso, durante seu reinado, procurou apoiar a educação, oferecendo vantagens para os sábios que fossem ensinar os nobres de sua corte.
     Foi por isso que intelectuais de distantes regiões da Europa (Itália, Espanha e Inglaterra) migraram para o território franco. Carlos Magno deu apoio às poucas escolas que já existiam, as quais eram comandadas pelo clero. Com a ajuda do monge inglês Alcuíno, fundou a Escola Palatina, assim chamada porque funcionava no palácio do imperador. Considerada a primeira universidade medieval, lá estudavam os filhos de nobres que tinham algum interesse pelas letras. Isso também não era nada comum, pois os nobres preferiam dedicar-se a outro tipo de atividades, como caçadas e combates.
     Durante o reinado de Carlos Magno, textos da Antiguidade greco-romana foram traduzidos e copiados pelos monges copistas. Esses religiosos eram chamados assim porque tinham a função de fazer cópias manuscritas. Naquela época, o único meio de reproduzir um texto era copiando-o à mão.
      Naquela época, os livros eram considerados mais objetos de luxo do que obras para serem lidas. O material usado na sua confecção era o pergaminho. Eram ricamente decorados com iluminuras (como aquela que aparece na imagem de abertura do capítulo). Por isso, eram muito valiosos. Chegavam a fazer parte do tesouro real, do tesouro das igrejas e também da riqueza dos nobres. Contudo, não fossem essas cópias, vários textos antigos talvez não fossem conhecidos na atualidade, já que muitos dos manuscritos originais da Antiguidade se perderam ao longo da História. Portanto, o trabalho dos monges copistas foi importantíssimo. (Monge: religioso cristão que vive em mosteiro.)

O fim do Império Carolíngio: Os herdeiros disputam o território

     Em 813, Carlos Magno coroou seu único herdeiro, Luís I, o Piedoso, que se tornou coimperador ao lado de seu pai. Em 814, morreu Carlos Magno, e o Império passou totalmente às mãos de seu filho, queconseguiu manter o Império unido.
Divisão do Império de Carlos Magno
Mas, quando Luís I morreu, em 840, o poder foi disputado por seus três filhos. Depois de muitas lutas, em 843 eles assinaram o Tratado de Verdun, que selava a paz e dividia o território carolíngio em três partes. Logo depois, com a morte de um dos herdeiros, essa divisão foi substituída por outra, em que seriam apenas duas as partes do Império. Foram essas duas partes que deram origem aos reinos da França e da Germânia.



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