domingo, 27 de setembro de 2015



 MARÍLIA  E  DIRCEU:  Uma história de amor na terra do ouro


Ela, Maria Dorotéa Joaquina de Seixas, era uma jovem de rara beleza, pertencente a uma rica família mineira. Na flor de seus 15 anos, conquistou arrebatadoramente o coração de um digno magistrado de trinta e oito anos de idade.
Ele, Tomás Antônio Gonzaga, havia nascido em Portugal, na cidade do Porto, em 1744, de pais brasileiros. Aos dezenove anos, tornou-se doutor em Direito pela Universidade de Coimbra e por algum tempo, exerceu a magistratura em Portugal antes de viajar para o Brasil. Em 1782, foi nomeado Ouvidor de Ouro Preto, uma espécie de Juiz de Direito da Vila. Logo ao chegar conheceu Maria Dorotéa e por ela foi tomado de súbita paixão, revelando-a em versos:

Mal vi o teu rosto,
Meu sangue gelou-se

E a língua prendeu-se;
Tremi, e mudou-se
Das faces a cor.

Chamou-a Marília, e Dirceu a si próprio. Dorotéa tornou-se conhecida como a Marília de Dirceu.  Ela era órfã e vivia com os tios em Ouro Preto. Costumava visitar uma tia, que era vizinha de Gonzaga, e ali passava longos dias. Gonzaga a espreitava de sua janela:
Quando apareces
Na madrugada,
Mal embrulhada
Na larga roupa,
E desgrenhada
Sem fita ou flor:
Ah que então brilha
A natureza:
Então se mostra
Tua beleza
Inda maior.

A família dela se opunha ao namoro. Mas o tempo e a persistência finalmente venceram as barreiras e o casamento foi marcado para 30 de maio de 1789.
Imagem idealizada de Maria Dorotéa.


Conforme o costume da época, ele borda o vestido da noiva. Usa fios de ouro.
Mas o casamento não chegou a realizar-se. Uma semana antes do dia longamente esperado, Gonzaga foi preso. Estava implicado na Inconfidência Mineira. Nunca mais voltaria a ver Dorotéa. Levado para o Rio de Janeiro, Gonzaga foi ali mantido incomunicável até o julgamento, que só se deu em 1792. Os juízes portugueses entenderam que ele devia ser punido. Sua pena: foi condenado ao exílio em Moçambique, colônia portuguesa na África.
Em Moçambique, esteve por algum tempo doente. Durante o período de enfermidade, recebeu os cuidados de uma jovem, Juliana de Souza Mascarenhas, e com ela se casou em 1793.
Dorotéa, fiel à lembrança do noivo ausente, nunca se casou. Foi viver na fazenda do pai, e lá permaneceu por muitos anos. Voltou para Vila Rica em 1815, onde viveu o restante de sua vida. Faleceu em 1853, aos oitenta e seis anos de idade. Foi enterrada na Matriz de Antônio Dias de Ouro Preto, a igreja que ela frequentava.

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