ABELARDO E HELOÍSA.
Amor e paixão na Idade Média
Esta história aconteceu há muito tempo, num país muito
distante. Mais exatamente no século 12, na França.
O nosso herói, Pedro Abelardo, pertencia a uma família nobre
e estava destinado, como seus irmãos, seguir a carreira das armas. Mas desde
cedo preferiu estudar filosofia, teologia e seguir a carreira de professor.
A educação, naquela época, era controlada pela
Igreja católica. E as normas eram rígidas, tanto para professores como para os
estudantes. Uma das regras era que os professores nunca poderiam envolver-se
com seus alunos. O não cumprimento dessa regra era considerado crime grave e severamente
punido.
Abelardo era um mestre de muito prestígio,
reconhecido por seus alunos. Antes dos 30 anos, já era um brilhante
professor de teologia na Catedral de Notre Dame de Paris. Não era um fiel
seguidor das ideias tradicionais. Ao contrário. Questionava as ideias aceitas
pela tradição e demonstrava admiração pelos filósofos não cristãos, tais como
Aristóteles e Platão – uma postura inovadora para a época.
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Catedral de Notre Dame de Paris |
Falemos agora de Heloísa. A heroína da
nossa história nasceu em berço de ouro, no ano final do século 11. Tornou-se
uma bela moça, estudiosa e educada. Para continuar os estudos, ela passou a
morar em Paris, ficando sob os cuidados de seu tio Fulbert, um homem muito
rico. Ela teve vários professores, até que ouviu falar de Abelardo e de suas teorias
polêmicas. Ela, então, dispensou seus professores e, por conta própria, começou
a estudar os autores clássicos gregos e romanos.
Atraído por
esse interesse de Heloísa, Abelardo procurou tornar-se amigo de Fulbert.
Conhecendo o prestígio intelectual de Abelardo, o tio o contratou como o novo
professor de sua sobrinha. Ela
tinha, então, 17 anos, e ele 28. Em troca dos ensinamentos à sobrinha, Fulbert
ofereceu hospedagem a Abelardo em sua própria residência.
O convívio entre o charmoso mestre e a
bela aluna não demorou muito para fazer brotar entre os dois uma simpatia, que
logo se transformou em um sentimento para além da simples amizade. Era
inicialmente um sentimento platônico (que quer dizer, um sentimento puro, desprovido de paixões). Com o passar do tempo, entretanto, o sentimento entre os dois
foi do amor platônico a uma incontida paixão. Heloísa ficou grávida.
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Representação idealizada de Abelardo e Heloísa |
Para impedir um escândalo, os dois amantes
decidiram deixar Paris e buscar refúgio na aldeia de Pallet, situada no interior da
França. Ali, Abelardo deixou Heloísa aos cuidados de sua irmã e voltou a Paris.
Não querendo ficar distante da amada, resolveu falar com Fulbert, para pedir
seu perdão e a mão de Heloísa em casamento.
Surpreendentemente, o tio da jovem perdoou
Abelardo e aceitou que eles se casassem. Graças ao perdão de Fulbert, Heloísa
deixou o filho com uma irmã de Abelardo e retornou a Paris. Os dois amantes
se casaram numa cerimônia discreta, à noite, em uma pequena ala da Catedral
Notre Dame.
O sigilo do casamento, entretanto, durou pouco. Logo, a
sociedade altamente repressora da época ficou sabendo do casamento e começou a
difamar Fulbert por não ter sabido cuidar de sua sobrinha. Nesse momento,
começou o inferno para Abelardo e, por extensão, também para Heloísa. Fulbert
ficou enfurecido com as críticas que recebia e reagiu da pior maneira para o
casal. Primeiro, denunciou Abelardo à Igreja por não ter cumprido a regra de
não se envolver com alunos. Depois, Fulbert contratou dois homens para
executarem a castração de Abelardo. A mutilação ocorreu durante uma invasão
noturna à residência do casal.
Depois desses trágicos acontecimentos, os
dois se separaram para sempre. Abelardo buscou
abrigo na Abadia de Saint Denis. Tornou-se monge e passou a dedicar sua vida
aos estudos filosóficos. Heloísa, por sua vez, ingressou no mosteiro de
Paraclet, tornando-se monja e depois abadessa desse convento.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHd5THdw4mrwImr6Yr48jlXDwsq53Ck6KKfUO0TcnG9UQeSRE3L2jjpg5tIpeF2gKeHcEiqmKZREYzzF_YJUXz6CCG7W6v2AOcwuU84deLVXh8SlfO1Mf5puKkmCfhGczwXXn2VGk8GDI/s320/Tumulo.jpg)
Abelardo morreu em 1142 e Heloísa 22 anos
depois. Hoje, os restos mortais do casal estão sepultados num elegante jazigo no
cemitério Père Lachaise, em Paris.
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